ALGUMAS EXIGÊNCIAS DE DEUS PARA SEUS FILHOS

MQ 6.8

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

Texto: "Ele te declarou, ó homem, o que é bom; e que é o que o Senhor requer de ti, senão que pratiques a justiça, e ames a benevolência, e andes humildemente com o teu Deus?”.

 

INTRODUÇÃO:

1. Miquéias escreveu seu livro provavelmente entre os anos 739-686 a.C., e suas profecias ocorreram nos reinados de Jotão (739-731 a.C.), Acaz (731-715 a.C.) e Ezequias (715-731 a.C.), reis de Judá. Isto nos sugere que sua palavra profética ressoou antes do cativeiro assírio sobre Israel, que aconteceu no ano 722 a.C.. A cidade natal de Miquéias foi Moresete-Gate (1.14), cidade esta, que ficava cerca de 40 quilômetros a sudoeste de Jerusalém, perto da fronteira de Judá com a Filístia.

2. O profeta era do interior, mas sua família e ocupação não nos são conhecidas. Como a cidade de Moresete ficava numa região predominantemente agrícola, é possível que ele fosse um trabalhador do campo. Sua chamada para o ministério profético parece clara em 3.8, quando diz: "Quanto a mim, estou cheio do poder do Espírito do Senhor, assim como de justiça e de coragem, para declarar a Jacó a sua transgressão e a Israel o seu pecado".

3. Observando atentamente o conteúdo do livro de Miquéias, podemos ver que na primeira parte, a pregação profética expõe os pecados do povo; na segunda, o profeta retrata o juízo de Deus que é iminente, está prestes a vir; já na última parte, seus escritos anunciam a esperança de uma restauração, isto evidentemente, depois de concluído o período da disciplina divina. Na verdade de fôssemos escolher uma expressão chave para o livro, teríamos que escolher a seguinte: "o julgamento e a restauração de Judá" (Bíblia de Estudo das Profecias).

4. É no livro de Miquéias que temos uma das mais brilhantes profecias, que prediz o local exato do nascimento de Jesus Cristo – 5.2, "Mas tu, Belém Efrata, posto que pequena para estar entre os milhares de Judá, de ti é que me sairá aquele que há de reinar em Israel, e cujas saídas são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade". Ao analisarmos o texto de Mt 2.5-6, iremos ver que os líderes religiosos judaicos dos dias de Jesus, parafrasearam esta profecia: "5 Responderam-lhe eles: Em Belém da Judéia; pois assim está escrito pelo profeta: 6 E tu, Belém, terra de Judá, de modo nenhum és a menor entre as principais cidades de Judá; porque de ti sairá o Guia que há de apascentar o meu povo de Israel".

5. O versículo escolhido para nosso estudo retrata algumas exigências de Deus para o povo de Judá, que de certa forma, são também exigências que cabem como luva para os filhos de Deus de nosso tempo, já que vivemos numa sociedade tão desumana e corrompida, assim como a sociedade corrompida e desumana dos dias de Miquéias.

 

VEJAMOS QUAIS SÃO ELAS:

 

I. A PRÁTICA DA JUSTIÇA

1. A palavra "justiça" vem do termo hebraico "jpvm – mishpat", e significa "julgamento", "ordenação", "ato de decidir um caso". No Dicionário Michaelis – UOL, temos as seguintes definições: "virtude que consiste em dar ou deixar a cada um o que por direito lhe pertence", "conformidade com o direito", "direito, razão fundada nas leis", "estado de graça; retidão da alma que a graça vivifica; inocência primitiva, antes do pecado do primeiro homem". Em contra partida, o oposto de justiça – a "injustiça", significa perverter o direito, lesar, defraudar, etc.

2. Ao olharmos com atenção para o conteúdo do livro de Miquéias, podemos perceber claramente que os dias do profeta foram caracterizados por uma onda devastadora de injustiça social. Um dos trechos que retratam o terrível quadro social vivenciado pelo profeta de Deus, e que traduz a realidade daqueles dias é 2.1-2: "1 Ai daqueles que nas suas camas maquinam a iniqüidade e planejam o mal! quando raia o dia, põem-no por obra, pois está no poder da sua mão. 2 E cobiçam campos, e os arrebatam, e casas, e as tomam; assim fazem violência a um homem e à sua casa, a uma pessoa e à sua herança".

3. O clamor do profeta por justiça se justifica ao se defrontar com atitudes de homens malignos que em seu leito, maquinam e planejam o mal contra o seu próximo. Para consumar seus planos opressores, tais homens promoviam uma onda de violência, onde casas, campos, e outros bens familiares, eram tomados à força, arrancados, sob a égide de uma cobiça sem limites! Somente a ação divina poderia inibir tais práticas abusivas, violentas, desumanas e cruéis!

4. Deus exige de seu povo a prática de uma justiça verdadeira. Olhando para a Palavra de Deus, podemos encontrar subsídios importantes que nos alertam e conclamam para uma justiça não pervertida e agradável ao Senhor:

a) Como filhos de Deus, somos considerados como "servos da justiça", "e libertos do pecado, fostes feitos servos da justiça", Rm 6.18.

b) Devemos apresentar nossos membros com instrumentos da justiça divina, "nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado como instrumentos de iniqüidade; mas apresentai-vos a Deus, como redivivos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça", Rm 6.13.

c) Somos aconselhados a "acordar para a justiça", "Acordai para a justiça e não pequeis mais; porque alguns ainda não têm conhecimento de Deus; digo-o para vergonha vossa", 1 Co 15.34.

d) Para termos uma vida pautada pela justiça divina, devemos usar a "couraça da justiça" como parte de nossa armadura espiritual, "Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça", Ef 6.14.

e) Devemos ainda, apresentar o "fruto de justiça", "cheios do fruto de justiça, que vem por meio de Jesus Cristo, para glória e louvor de Deus", Fp 1.11.

5. Diante dos textos acima, não nos podem ficar quaisquer dúvidas de que a vida de um servo de Deus deve ser permeada pela justiça de Deus. Nossos atos devem expressar de uma maneira clara, o verdadeiro "censo de justiça". Deus exige de nós a prática da justiça!

 

II. O AMOR À MISERICÓRDIA

1. Começamos por definir misericórdia: A palavra vem do hebraico "dox – checed", e significa "clemência", "bondade", "compaixão". No Dicionário Michaelis UOL, temos: "pena causada pela miséria alheia; comiseração", "graça ou perdão". Em outras palavras significa o ato de exercermos compaixão para com aquelas pessoas que estão numa situação de miséria, desgraça, carecendo de nossa ajuda.

2. O profeta Miquéias vivia inconformado, até mesmo transtornado, com as atitudes mesquinhas de seu povo, onde os mais ricos e abastados, ao invés de exercerem misericórdia, pisoteavam os empobrecidos, os miseráveis, que eram atingidos por uma avalanche de atos desumanos e cruéis, que os levavam ao desespero! A injustiça social caminhava a passos largos! Veja o lastimo do profeta: "1 E disse eu: Ouvi, peço-vos, ó chefes de Jacó, e vós, ó príncipes da casa de Israel: não é a vós que pertence saber a justiça? 2 A vós que aborreceis o bem, e amais o mal, que arrancais a pele de cima deles, e a carne de cima dos seus ossos, 3 os que também comeis a carne do meu povo e lhes arrancais a pele, e lhes esmiuçais os ossos, e os repartis em pedaços como para a panela e como carne dentro do caldeirão", 3.1-3.

3. Quando nos deixamos envolver pela influência materialista de nossa sociedade consumista, perderemos o censo de compaixão em relação àqueles que estão abaixo de nós, e que carecem de atos de bondade de nossa parte. Não podemos nos esquecer de que, se somos o que somos, devemos à misericórdia de Deus, que a cada dia nos envolve com seu manto protetor! Ao negligenciarmos a prática da misericórdia, podemos perder o favor da misericórdia divina. Observe a palavra de Jesus na parábola do Credor Incompassivo: "não devias tu também ter compaixão do teu companheiro, assim como eu tive compaixão de ti?", Mt 18.33.

4. Podemos ver ainda outros textos da Palavra de Deus sobre a prática da misericórdia:

a) É no exercício da misericórdia que alcançamos a misericórdia divina, "Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia", Mt 5.7.

b) Pedro nos aconselha a sermos misericordiosos e humildes, "Finalmente, sede todos de um mesmo sentimento, compassivos, cheios de amor fraternal, misericordiosos, humildes", 1 Pe 3.8.

c) Judas nos alerta a praticarmos uma misericórdia com temor, "22 E apiedai-vos de alguns que estão na dúvida, 23e salvai-os, arrebatando-os do fogo; e de outros tende misericórdia com temor, abominação até a túnica manchada pela carne", Jd 22-23.

5. A ausência de misericórdia em nossos relacionamentos pessoais, nos torna frios, calculistas, insensíveis, apáticos! Cumpre-nos, resgatar o censo de compaixão pelas vidas que estão vivendo no limiar da miséria, muitas vezes vítimas de uma sociedade injusta que premia cada vez mais os ricos e abastados, e tira o pão da boca dos miseráveis! Não podemos nos esquecer que "as misericórdias do Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não têm fim; renovam-se a cada manhã", Lm 3.22-23.

 

III. O ANDAR HUMILDE

1. A palavra "humildemente" que aparece no texto, vem do termo hebraico "enu - tsana", e nos traz a idéia de "simplicidade", "modéstia". No Dicionário Michaelis UOL, temos: "virtude que nos dá o sentimento de nossa fraqueza", "modéstia", "demonstração de respeito, de submissão". Diante destas definições podemos perceber que a humildade é uma questão de comportamento e caráter! Quando nosso caráter é devidamente trabalhado e moldado pelo Senhor, certamente desenvolveremos um espírito de humildade, de respeito e comiseração para nossos semelhantes. Quando Deus nos molda certamente nosso comportamento é alterado, não para o mal, mas para o bem! Somos ensinados a respeitar aqueles com os quais nos relacionamos!

2. Não nos ficam dúvidas sobre o fato de Miquéias notar que a tendência de povo de Judá para a violência e consequentemente para o desrespeito com o próximo, não poderia ser proveniente de vidas humildes. Quase sempre a violência, as ações desumanas, estão atreladas ao pecado do orgulho. Atos de crueldade são predicativos de pessoas orgulhosas, soberbas! Geralmente o que produz o orgulho no coração do homem é a sensação de autossuficiência, de dono-do-próprio-nariz. Esta tendência é que nos leva à petulância, à rebeldia e ao destrato para com aqueles que estão a nosso redor, e que muitas vezes dependem de nós, até mesmo para sua sobrevivência.

3. O verdadeiro servo de Deus permitirá que o Espírito Santo em seu íntimo, molde seu comportamento e suas ações, criando nele um sentimento profundo de verdadeira humildade, característico daqueles que levam uma vida em Deus. A Palavra de Deus nos fala sobre as bênçãos de possuir um espírito humilde, mas ao mesmo tempo nos adverte sobre os perigos de uma vida recheada de orgulho. Senão, vejamos:

a) O Senhor atenta para os humildes, porém não se relaciona com os orgulhosos, "Ainda que o Senhor é excelso, contudo atenta para o humilde; mas ao soberbo, conhece-o de longe", Sl 138.6. Ver ainda Is 57.15, "Porque assim diz o Alto e o Excelso, que habita na eternidade e cujo nome é santo: Num alto e santo lugar habito, e também com o contrito e humilde de espírito, para vivificar o espírito dos humildes, e para vivificar o coração dos contritos".

b) Ser soberbo é viver na desonra, ser humilde é mergulhar na sabedoria, "Quando vem a soberba, então vem a desonra; mas com os humildes está a sabedoria", Pv 11.2.

c) O orgulhoso é abatido, o humilde obterá honra, "A soberba do homem o abaterá; mas o humilde de espírito obterá honra", Pv 29.23.

d) Veja ainda outros textos:

- Lc 1.51-52, "51 Com o seu braço manifestou poder; dissipou os que eram soberbos nos pensamentos de seus corações; 52 depôs dos tronos os poderosos, e elevou os humildes".

- Tg 4.6, "Todavia, dá maior graça. Portanto diz: Deus resiste aos soberbos; dá, porém, graça aos humildes".

- Mt 5.3, "Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus". Ver ainda: "Portanto, quem se tornar humilde como esta criança, esse é o maior no reino dos céus", Mt 18.4.

4. Precisamos aprender a bênção da humildade! Nosso maior exemplo e aprendizado nos vem do próprio Senhor. Observe o que Ele disse aos seus discípulos: "Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para as vossas almas", Mt 11.29.

 

CONCLUSÃO:

1. Para desfrutarmos do melhor de Deus para nossas vidas, não podemos permitir que a injustiça, a falta de amor e o orgulho tenham permanência em nossos corações. Para sermos abençoados, precisamos praticar a justiça, amar os menos favorecidos, e nunca permitir que o orgulho se acomode em nosso íntimo. Muitos crentes estão sofrendo e perdendo o melhor de Deus, por levarem uma vida contrária aos princípios divinos. É preciso fazer uma correção de comportamento e estar disposto a mudar.

2. Desta maneira teremos o iremos desfrutar da vida abundante, juntamente com nossos irmãos de fé!