ESMÍRNA

AP 2.8-11

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

"8 Ao anjo da igreja em Esmírna escreve: Estas coisas diz o primeiro e o último, que esteve morto e tornou a viver: 9 Conheço a tua tribulação, a tua pobreza (mas tu és rico) e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus e não são, sendo, antes, sinagoga de Satanás. 10 Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. 11 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O vencedor de nenhum modo sofrerá dano da segunda morte".

INTRODUÇÃO:

1. A cidade de Esmírna na antiguidade foi por muitos anos uma cidade muito rica, antes de ser destruída totalmente no século VI a.C.. Mais tarde, por volta do ano 300 a.C., foi reconstruída por Alexandre, o grande. Daí para frente tornou-se uma das cidades mais importantes e prósperas da Ásia Menor, devido a alguns fatores:

a) Ali foi erigido um templo à deusa Roma, uma vez que a cidade era aliada e fiel à Roma. Era também o porto natural de antiga rota comercial que atravessava o vale do Hermo, e seu interior era muito fértil. Atualmente a cidade chama-se Izmir, e é a maior cidade da Turquia Asiática.

b) O nome da cidade, Esmírna, significa "mirra", substância extraída de uma planta por esmagamento. Esta substância era usada na fabricação de perfumes e embalsamento de corpos. Um ponto importante a destacar é que os crentes de Esmírna foram literalmente esmagados, tornando-se um cheiro de perfume suave para Deus. A história da Igreja narrada por Eusébio em sua obra denominada "História Eclesiástica", nos conta que foi em Esmírna que Policarpo, um discípulo do Apóstolo João, e principal pastor da Igreja, foi martirizado no ano de 159 d.C., sendo queimado vivo numa fogueira, porque recusava chamar os seus irmãos em Cristo de hereges.

4. O Evangelho provavelmente chegou a Esmírna, desde data bem recuada, presumivelmente tendo vindo de Éfeso, quando Paulo lá esteve por dois anos, conforme nos registra At 19.10: "Durou isto por espaço de dois anos, dando ensejo a que todos os habitantes da Ásia ouvissem a palavra do Senhor, tanto judeus como gregos". Vejamos a carta que Cristo endereçou a esta Igreja.

I - IDENTIFICAÇÃO

VS. 2.8

"Ao anjo da igreja em Esmírna escreve: Estas coisas diz o primeiro e o último, que esteve morto e tornou a viver"

1. O Senhor se apresenta como sendo "o primeiro e o último, o que foi morto e agora vive".

a. Como "Primeiro e último", Cristo é a origem de todas as coisas. Para Ele não existe passado, presente e futuro. Ele é o dono da eternidade, Ap 1.8, "Eu sou o Alfa e Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso".

b. Como "morto que agora vive", Cristo passou a ser a esperança dos mortos. Esta frase alude à ressurreição do Senhor, que é o tema central do cristianismo , 1 Co 15.12-19, "12 Ora, se é corrente pregar-se que Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que não há ressurreição de mortos? 13 E, se não há ressurreição de mortos, então, Cristo não ressuscitou. 14 E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé; 15 e somos tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus que ele ressuscitou a Cristo, ao qual ele não ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam. 16 Porque, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. 17 E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. 18 E ainda mais: os que dormiram em Cristo pereceram. 19 Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens".

Cristo prometeu à sua Igreja, na qualidade de quem vive, e que foi a "primícia" da vitoriosa ressurreição dos santos, que todos aqueles que ressuscitarem segundo à sua imagem, irão participar de sua natureza e de seus atributos na eternidade. Nossos corpos serão "incorruptíveis", 1 Co 15.53-57, "53 Porque é necessário que este corpo corruptível se revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade. 54 E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está escrita: Tragada foi a morte pela vitória. 55 Onde está, ó morte, a tua vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? 56 O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a lei. 57 Graças a Deus, que nos dá a vitória por intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo".

2. Cristo está ciente do sofrimento da Igreja, e está perfeitamente qualificado para confortá-los e lhes trazer conhecimento certo de primeira mão.

II - LOUVOR E CONFORTO

VS. 2.9-10a.

"9 Conheço a tua tribulação, a tua pobreza (mas tu és rico) e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus e não são, sendo, antes, sinagoga de Satanás. 10 Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias...".

1. Cristo conhece a tribulação deles. A palavra "tribulação", vem do grego "yliqiv" – thlipsis e significa "pressão", "aperto", "aflição", "pressão vinda de fora para dentro e que ameaça destruir". Nas páginas do Novo Testamento, a palavra tem o sentido de "perseguição", onde aqueles que nos odeiam procuram nos atingir. Um exemplo disto temos em At 13.49-52: "49 E divulgava-se a palavra do Senhor por toda aquela região. 50 Mas os judeus instigaram as mulheres piedosas de alta posição e os principais da cidade e levantaram perseguição contra Paulo e Barnabé, expulsando-os do seu território. 51 E estes, sacudindo contra aqueles o pó dos pés, partiram para Icônio. 52 Os discípulos, porém, transbordavam de alegria e do Espírito Santo". A Igreja de Esmírna vivia uma grande perseguição movida por Domiciano, que pela sua crueldade contra os cristãos, foi chamado de "Segundo Nero".

2. O Senhor também conhece a pobreza deles. Eles eram pobres, não porque eram preguiçosos e não trabalhavam, mas porque seus bens haviam sido confiscados ou destruídos, pelas perseguições que sofriam. Muitos eram presos e a simples sobrevivência física tornou-se um problema, pela falta de alimentos. Em Hb 10.34, temos um exemplo de como os filhos de Deus podem sofrer a perda de seus bens por amor ao Senhor: "Porque não somente vos compadecestes dos encarcerados, como também aceitastes com alegria o espólio dos vossos bens, tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio superior e durável". Porém este tipo de pobreza nos torna ricos. É desta forma que Cristo nos vê, Pv 19.1, "Melhor é o pobre que anda na sua integridade do que o perverso de lábios e tolo".

3. Ele conhece a blasfêmia dos que se dizem Judeus, mas não o são, mas são "Sinagoga de Satanás". Aqui provavelmente há uma referência aos judeus que cederam às pressões do culto ao imperador, para não perderem seus bens. Ainda mais, aliavam-se aos romanos na perseguição contra os cristãos: Dois pontos em relação a estes judeus:

a) Tornaram-se blasfemadores do nome de Cristo e de seus discípulos;

b) Tornaram-se "Sinagoga de Satanás", sendo totalmente dominados pelo Diabo, para perseguir a Igreja de Deus. Não eram judeus no verdadeiro sentido da palavra, Rm 9.6-8, "6 E não pensemos que a palavra de Deus haja falhado, porque nem todos os de Israel são, de fato, israelitas; 7 nem por serem descendentes de Abraão são todos seus filhos; mas: Em Isaque será chamada a tua descendência. 8 Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da promessa".

4. É importante observarmos no v. 10, que Jesus não promete tirá-los das dificuldades e apertos, mas anuncia-lhes que está próximo um dilúvio de sofrimentos e tentações, que visará fazer com que eles neguem a fé. Serão tentados por uma forte pressão externa durante dez dias. Cristo não se oferece para livrá-los daquelas dificuldades, porque vencer dificuldades é o meio apropriado para construir e consolidar o caráter forte, Tg 1.2-4, "2 Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias provações, 3 sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz perseverança. 4 Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais perfeitos e íntegros, em nada deficientes".

III - PROMESSA

VS. 2.10a, 11b.

"Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. 11 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: O vencedor de nenhum modo sofrerá dano da segunda morte...".

1. A promessa de Cristo é dupla: "Sê fiel até à morte e eu te darei a Coroa da Vida" e "... O que vencer não receberá o dano da Segunda Morte".

a) Ainda que fossem mortos, a "Coroa da Vida", lhes estava preparada. Devemos lembrar que nome desta cidade, como vimos anteriormente, significa "mirra", uma substância usada na fabricação de perfumes e em embalsamentos. A mirra foi uma das substâncias usadas no sepultamento de Jesus, Jo 19.38-40, "38 Depois disto, José de Arimateia, que era discípulo de Jesus, ainda que ocultamente pelo receio que tinha dos judeus, rogou a Pilatos lhe permitisse tirar o corpo de Jesus. Pilatos lho permitiu. Então, foi José de Arimateia e retirou o corpo de Jesus. 39 E também Nicodemos, aquele que anteriormente viera ter com Jesus à noite, foi, levando cerca de cem libras de um composto de mirra e aloés. 40 Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram em lençóis com os aromas, como é de uso entre os judeus na preparação para o sepulcro". A morte dos mártires, é uma fragrância que toma conta da Casa Inteira de Deus. A morte por martírio traria para eles a "Coroa da Vida", prêmio especial para este tipo de sacrifício. Os corredores olímpicos vencedores, ganhavam a "Coroa de Louros"; Os mártires do Reino, também vencedores, ganham a "Coroa da Vida".

b. Não seriam alcançados pela "Segunda Morte". Os descrentes quando morrem, encontrarão uma segunda morte, Ap 20.14-15, "14 Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. 15 E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo". O crente quando morre, encontra a vida eterna, "E irão estes para o castigo eterno, porém os justos, para a vida eterna.", Mt 25.46.

Em Ap 21.1-7, a Palavra de Deus descreve como será a vida do justo na eternidade: "1 Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. 2 Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. 3 Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. 4 E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. 5 E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras. 6 Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida. 7 O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho".

IV - AVISO

VS. 2.11a.

"Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas...".

1. Aqui, como em outras cartas, o aviso é quanto ao perigo da "apatia espiritual", que ronda as Igrejas de Deus. É preciso ter os ouvidos espirituais bem sensíveis ao Espírito Santo de Deus.

CONCLUSÃO:

1. Cristo está atento às nossas dificuldades:

a. Ele conhece sua pobreza física e diz que tu és rico,

b. Ele conhece a tua tribulação e sofrimento,

c. Ele conhece teus inimigos, que muitas vezes são como a "Sinagoga de Satanás".

2. Ele te dá duas promessas:

a. Fidelidade até à morte - Coroa da Vida,

b. Quem vencer - Não será atingido pela "Segunda Morte".

Esboço extraído do Livro "A Mensagem do Apocalipse" de Ray Summers, com notas acréscimos e supressões pelo Pr. José Antônio Corrêa.