OS PERIGOS DA OCIOSIDADE
2 SM 11.1-18
Pr. José Antônio Corrêa
"1
Decorrido um ano, no tempo em que os reis costumam sair para a guerra, enviou
Davi a Joabe, e seus servos, com ele, e a todo o Israel, que destruíram os
filhos de Amom e sitiaram Rabá; porém Davi ficou em Jerusalém. 2 Uma tarde,
levantou-se Davi do seu leito e andava passeando no terraço da casa real; daí
viu uma mulher que estava tomando banho; era ela mui formosa. 3 Davi mandou
perguntar quem era. Disseram-lhe: É Bate-Seba, filha de Eliã e mulher de Urias,
o heteu. 4 Então, enviou Davi mensageiros que a trouxessem; ela veio, e ele se
deitou com ela. Tendo-se ela purificado da sua imundícia, voltou para sua casa.
INTRODUÇÃO:
2.
Tal relato nos mostra que precisamos como servos de Deus, estar atentos,
vigilantes, para não sermos vítimas de nosso adversário, colhendo
posteriormente os resultados nada favoráveis, como Davi pode colher em sua vida
familiar e em seu Reino. Sabemos que a vida do rei, depois deste episódio,
nunca mais foi a mesma. Ele entrou num vale de lágrimas e sofrimento pelo resto
de sua vida, em razão de seu pecado contra Deus.
3.
Certamente que, o que provocou a avalanche de pecados sobre suas costas, foi a
sua ociosidade, um tipo de comportamento que muitas vezes não é levado em
conta, mas que pode nos envolver, assim como envolveu Davi numa escalada
altamente perigosa. Queremos ver nesta noite:
"OS PERIGOS A QUE ESTAMOS
SUJEITO EM RAZÃO DE NOSSA OCIOSIDADE":
I – PERIGO DE PECAR
1.
Notem que o texto bíblico nos diz que era o "tempo em que os reis
costumavam sair para a guerra", Vs. 1. Ao invés de Davi acompanhar
seu exército na frente de batalha, que era sua responsabilidade, preferiu ficar
no palácio real, dando lugar à ociosidade. Foi esta ociosidade que o levou a
passear no terraço da casa real de onde pode observar Bate-Seba, mulher de
Urias que tomava banho, sentindo-se atraído por ela, consumando a prática do
adultério. Dois pecados foram cometidos por Davi, numa sequência lógica, no
sentido de que um leva ao outro. Vejamos:
a)
Cobiça. A cobiça é o portão de entrada para diversos pecados, como
adultério, roubo, fraude, etc. Este pecado consta da lista dos 10 mandamentos:
"Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu
próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento,
nem coisa alguma que pertença ao teu próximo", Êx 20.17. Temos aqui
o verbo hebraico "dmx" – chamad e significa "desejar",
"se encantar", "desejar ardentemente".
b)
Adultério. Normalmente o adultério é subsequente à cobiça. Foi esta a
colocação que fez o Senhor: "Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para
uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela", Mt
5.28. Notem que Jesus fala do olhar que leva à cobiça e consequentemente ao
adultério. A expressão "intenção impura", vem do termo grego "epiyumew"
– epithumeo e significa "desejo ou propensão para coisas proibidas".
O adultério é também um pecado que consta dos 10 mandamentos: "não
adulterarás", Êx 20.14.
c)
Um terceiro pecado foi cometido, mas não queremos fazer menção dele agora, que
foi o assassinato de Urias.
2.
Queridos irmãos, precisamos ter o cuidado de não vivermos na ociosidade, para
não sermos levados à prática do pecado. Um provérbio muito comum que poderíamos
citar é aquele que diz: "mente desocupada é oficina de Satanás".
Certamente nosso inimigo gosta de atingir aqueles que andam de maneira ociosa.
A Palavra de Deus nos alerta sobre as artimanhas do diabo para
"pegar" aqueles que não são cuidadosos de sua vida espiritual:
a)
1Pe 5.8, "Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário,
anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar".
Notem que Pedro usa aqui duas palavras importantes para nos alertar a viver a
vida cristã de maneira cuidadosa:
a1)
A palavra "sóbrio", que vem do grego "nhfw" – nepho, que
significa "temperado", "ponderado", "espírito tranquilo".
Na língua portuguesa, segundo Aurélio, esta palavra tem origem na palavra
latina "sóbrio" e significa "aquele que é moderado no comer e
beber", "aquele que não está sobre o efeito do álcool".
a2)
A palavra "vigilante", que vem do grego "grhgorew" –
gregoreuo e significa "aquele que está desperto",
"atencioso", "cuidadoso", "ativo", "aquele
que está atento a tudo que ocorre à sua volta, para que nenhuma calamidade
destrutiva o apanhe de surpresa".
b)
Ef 4.25-27, "25 Por isso, deixando a mentira, fale cada um a
verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros. 26 Irai-vos e
não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, 27 nem deis lugar ao
diabo". Neste texto o apóstolo Paulo nos alerta sobre o fato de que nossa
vida cristã deve apresentar qualidades que abominem a mentira, um pecado comum
do homem; a ira, que leva ao ódio, uma vez que tais pecados abrem uma "brecha"
ao diabo para nos atacar com sucesso.
3.
Preocupado com seus discípulos Jesus mostrou o caminho para que deixemos a
ociosidade e possamos vencer Satanás, com seus ardis:
a)
Mt 6.13, "e não nos deixes cair em tentação; mas livra-nos do mal
pois teu é o reino, o poder e a glória para sempre. Amém!".
b)
Mt 26.41, "Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; o
espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca.
4.
Vejam também o conselho de Tiago: "Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas
resisti ao diabo, e ele fugirá de vós", Tg 4.7.
5.
Livre-se da ociosidade, pois ela é uma abertura tremenda para o diabo invadir
sua vida!
II – PERIGO DE DESERTAR-SE
1.
Outro ponto importante no texto é o fato de que Davi, deveria estar na frente
de batalha. Era sua obrigação, uma vez que o texto diz que "era tempo dos
reis irem para a guerra". A grande verdade é que esta omissão por parte do
rei, o transformou num desertor, alheio ao que estava acontecendo na guerra.
2.
Muitos crentes também têm-se tornado desertores, alheios à batalha que a Igreja
de Cristo tem enfrentado no dia a dia. São vidas desinteressadas,
descompromissadas. Não precisamos dizer que crentes que assim procedem são
presas fáceis do inimigo. Muitos deles já estão laçados, presos, cativos pelo
pecado e consequentemente instrumentos do inimigo.
3.
Irmãos, uma das coisas que observamos no procedimento da Igreja Primitiva é que
todos os crentes estavam envolvidos na obra de Deus, At 2.42-44,
"42 E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do
pão e nas orações. 43 Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais
eram feitos por intermédio dos apóstolos. 44 Todos os que creram estavam juntos
e tinham tudo em comum". Uma igreja, cujos membros estão envolvidos na
obra de Deus, será sempre uma igreja operosa em todas as áreas.
4.
Jesus nos alertou contra os perigos da deserção e do não compromisso: "57
Indo eles caminho fora, alguém lhe disse: Seguir-te-ei para onde quer que
fores. 58 Mas Jesus lhe respondeu: As raposas têm seus covis, e as aves do céu,
ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde reclinar a cabeça.
a)
No primeiro caso de nosso texto, encontramos alguém que gostaria de se
envolver, mas exigia uma compensação financeira. O Evangelho atual tem se
caracterizado por este perfil, onde vantagens são oferecidas àqueles que querem
abraçar a fé. Porém, Jesus alerta: "o Filho do Homem não tem onde reclinar
a cabeça". Você pode até obter vantagens quando se torna um servo de Deus,
mas, nenhuma vantagem lhe é oferecida no momento de você abraçar a fé, muito
pelo contrário você poderá até perder, "Mas o que, para mim, era lucro,
isto considerei perda por causa de Cristo", Fp 3.7.
b)
No segundo caso, encontramos alguém que também gostaria de se envolver com
Cristo e sua obra, mas não queria se desvincular de outros compromissos menos
importantes. São aqueles que querem servir a dois senhores: "Ninguém pode
servir a dois senhores; porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou
se devotará a um e desprezará ao outro...", Mt 6.24. Esta é uma
outra classe de crentes. São os chamados crentes nominais, que ainda permanecem
com um dos pés no mundo. A estes Jesus disse: "Deixa os mortos o sepultar
os seus próprios mortos". São aqueles que gostam de estar na Casa de Deus,
no meio dos irmãos, mas gostam também de participar daquilo que o mundo
oferece: bebidas, sexo errado, vícios, prazeres, etc..
c)
No terceiro caso, encontramos alguém que também gostaria de se envolver na obra
de Deus, mas é devagar. É aquele crente que caminha a passos lentos, em virtude
de seu olhar divagante, pois gosta de ficar olhando para traz. A este tipo de
crente Jesus disse: "Ninguém que lança a mão ao arado e olha para trás é
apto para o Reino de Deus". Existem muitos crentes que de tanto olhar para
traz, já perderam a visão do Reino. Existe um ditado usado na área de
alimentação que diz o seguinte: "Nós somos aquilo que comemos".
Poderíamos dizer em termos espirituais: "Nós somos aquilo em que fixamos
os nossos olhos". Vejam o que Jesus falou acerca dos olhos: "22 São
os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será
luminoso; 23 se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em
trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas
serão!"
5.
Na obra de Deus não há lugar para os indecisos, os descompromissados, os
alheios, etc. Ou nos envolvemos com todo nosso ser, ou seremos devedores a
Deus.
III – PERIGO DE PREJUDICAR OUTROS
1.
Quando Davi, cometeu o pecado com Bate-Seba, que ficou grávida, quis dar um
jeitinho para acomodar a situação, tentando encobrir sua culpa. O marido de
Bate-Seba estava no campo de batalha, cumprindo sua função de soldado
devidamente compromissado com seu exército. Davi manda chamá-lo de volta ao
palácio, no sentido de provocar um encontro íntimo de Urias com sua mulher, na
tentativa de disfarçar a gravidez pecaminosa de Bate-Seba. Davi queria que
todos pensassem, que o filho que nasceria fosse de Urias. Porém depois de
fracassadas as diversas tentativas para um encontro amoroso entre Urias e
Bate-Seba, Davi decidiu matá-lo, mandando-o para a frente de Batalha, para que
fosse ferido pelos seus inimigos, no que obteve total êxito.
2.
Notem a que ponto chega alguém que se mantém ocioso na obra de Deus. É isto que
o salmista denomina de "um abismo que chama outro abismo", Sl
42.7, "Um abismo chama outro abismo, ao fragor das tuas catadupas;
todas as tuas ondas e vagas passaram sobre mim". Quando não há
arrependimento em relação a determinado pecado cometido, outro pecado
certamente virá, numa proporção cada vez maior, afundando o pecador num lamaçal
sem tamanho. Foi o que aconteceu com Davi, e certamente acontecerá conosco se
não tratarmos o pecado com a seriedade devida, "Se confessarmos os nossos
pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda
injustiça", 1 Jo 1.9.
3.
Porém um fato que merece destaque aqui, é o fato de que Davi não somente estava
longe do exército em guerra, como também provocou a baixa de um de seus
melhores soldados. Ele conseguiu matar e tirar fora da batalha um dos seus
melhores soldados. Muitos crentes além de não fazerem nada na obra de Deus,
ainda acabam destruindo outras vidas que estão envolvidas no trabalho. Existes
alguns tipos de comportamento que podem causar "baixas" no meio do
povo de Deus:
a)
Mau uso da língua:
a1)
Pv 18.7-8, "
a2)
Tg 3.5-6, "5 Assim, também a língua, pequeno órgão, se gaba de
grandes coisas. Vede como uma fagulha põe em brasas tão grande selva! 6 Ora, a
língua é fogo; é mundo de iniquidade; a língua está situada entre os membros de
nosso corpo, e contamina o corpo inteiro, e não só põe em chamas toda a
carreira da existência humana, como também é posta ela mesma em chamas pelo
inferno". Aqui Tiago coloca o fogo como metáfora da língua; da mesma forma
que o fogo espalha terror e morte (fogo nos EUA), a língua quando usada para o
mal leva no seu bojo desavença, discórdia e morte.
a3)
Ef 4.29-30, "29 Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe, e sim
unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim,
transmita graça aos que ouvem. 30 E não entristeçais o Espírito de Deus, no
qual fostes selados para o dia da redenção". A palavra "torpe",
vem do termo grego "saprov" – sapros e significa "pobre",
"corrompida", "ruim", "impróprio para o uso",
"inútil".
b)
Crítica Destrutiva. Este tipo de crítica para mim acaba-se enquadrando
no mau uso da língua, com apenas com uma diferença: na maledicência fala-se às
escondidas, por traz e na crítica destrutiva, pode-se falar na frente do
criticado. Porém, tanto uma como outra, são condenadas pela Palavra de Deus, e
podem provocar baixas de irmãos valorosos no Reino de Deus.
5.
Que possamos trabalhar no sentido de arregimentar, ajuntar, equipar pessoas
para trabalhar no Reino de Deus, e nunca sermos instrumentos que provoquem
baixas, morte!
CONCLUSÃO:
1.
Não resta dúvida sobre o fato de que precisamos cuidar para que não sejamos
envolvidos pela ociosidade. Vimos como a ociosidade de Davi, o expôs a perigos
inevitáveis, tais como:
a.
Perigo
de pecar;
b.
Perigo
de se desertar;
c.
Perigo
de provocar baixas no povo de Deus.
2.
O crente que não se envolve de corpo e alma no trabalho de Deus, corre o risco
de manchar sua vida cristã com os mais vis pecados. Precisamos assumir uma
posição frente ao serviço de Deus, para não sermos envolvidos pelo Diabo em
suas armadilhas!