SANTIDADE DE DEUS A
Extraído da
Revista "Jovens e Adultos", 3Tm de 1982, Juerp
Pr. José Antônio Corrêa
Texto Bíblico: Êxodo 1-3; Habacuque
1-3; 1; Pedro 1:13-2:10; Texto Básico: Êxodo 3:1-6; Habacuque 1:12, 13;
Isaías 6:1-7; 1 Pedro 1:15, 16; Texto Áureo: Salmos 99:9
ÊXODO 3:1-6: "1
Ora, Moisés estava apascentando o rebanho de Jetro, seu sogro, sacerdote de
Midiã; e levou o rebanho para trás do deserto, e chegou a Horebe, o monte de
Deus. 2 E apareceu-lhe o anjo do Senhor em uma chama de fogo do meio duma
sarça. Moisés olhou, e eis que a sarça ardia no fogo, e a sarça não se
consumia; 3 pelo que disse: Agora me virarei para lá e verei esta maravilha, e
por que a sarça não se queima. 4 E vendo o Senhor que ele se virara para ver,
chamou-o do meio da sarça, e disse: Moisés, Moisés! Respondeu ele: Eis-me aqui.
5 Prosseguiu Deus: Não te chegues para cá; tira os sapatos dos pés; porque o
lugar em que tu estás é terra santa. 6 Disse mais: Eu sou o Deus de teu pai, o
Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. E Moisés escondeu o rosto,
porque temeu olhar para Deus.
HABACUQUE 1.12-13:
"12 Não és tu desde a eternidade, ó Senhor meu Deus, meu Santo? Nós não
morreremos. O Senhor, para juízo puseste este povo; e tu, ó Rocha, o
estabeleceste para correção. 13 Tu que és tão puro de olhos que não podes ver o
mal, e que não podes contemplar a perversidade, por que olhas para os que
procedem aleivosamente, e te calas enquanto o ímpio devora aquele que é mais
justo do que ele?"
ISAÍAS 6.1-7: "1
No ano em que morreu o rei Uzias, eu vi o Senhor assentado sobre um alto e
sublime trono, e as orlas do seu manto enchiam o templo. 2 Ao seu redor havia
serafins; cada um tinha seis asas; com duas cobria o rosto, e com duas cobria
os pés e com duas voava. 3 E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo,
santo, santo é o Senhor dos exércitos; a terra toda está cheia da sua glória. 4 E as bases dos limiares moveram-se à voz do
que clamava, e a casa se enchia de fumaça. 5 Então disse eu: Ai de mim! pois
estou perdido; porque sou homem de lábios impuros, e habito no meio dum povo de
lábios impuros; e os meus olhos viram o rei, o Senhor dos exércitos! 6 Então
voou para mim um dos serafins, trazendo na mão uma brasa viva, que tirara do
altar com uma tenaz; 7 e com a brasa tocou-me a boca, e disse: Eis que isto
tocou os teus lábios; e a tua iniqüidade foi tirada, e perdoado o teu
pecado".
1 PEDRO 1.15-16:
"15 Mas, como é santo aquele que vos chamou, sede vós também santos em
todo o vosso procedimento; 16 porquanto está escrito: Sereis santos, porque eu
sou santo".
INTRODUÇÃO:
O termo "SANTIDADE" denota
a transcendência de Deus, sua separação do mundo e de todas as coisas criadas.
Consiste na qualidade divina de estar distinguido (separado) das coisas criadas
e finitas. O termo, ao longo da história, nunca perdeu o seu sentido de
transcendência ou separação do mundo. O termo em si não representava
necessariamente uma importância ética, o que se demonstra pelo fato de que as
coisas de uso secular eram consideradas santas quando separadas e consagradas
ao serviço de Jeová — tais como o templo, o sacrifício, o sábado. Qualquer
coisa relacionada diretamente com o culto ou presença de Jeová era considerada
santa — Jerusalém era a Cidade Santa porque ali habitava Jeová e manifestava-se
a seu povo.
É evidente que a idéia de santidade
não é primariamente ética em si, mas o sentido bíblico conferido ao conceito de
"santo" é proeminentemente ético. Nos Salmos, Profetas e no Novo
Testamento, a idéia de transcendência está presente, porém uma transcendência
ética — Deus é uma pessoa, e seus caminhos e pensamentos transcendem aos do
homem; Deus transcende ao homem em bondade, e isto é um aspecto ético.
A santidade de Deus se define mais
corretamente como sendo a perfeição moral de seu caráter. Essa perfeição moral
do caráter divino inclui três aspectos básicos:
2. O Elemento de Severidade ou Justiça em Deus — Deus tem que
condenar a impureza, o fracasso ético e o pecado no homem. A natureza da
perfeita bondade de Deus se opõe naturalmente a tudo que represente ou leve
consigo algo de mal.
Apesar
de a santidade divina incluir a idéia de transcendência ética, não quer isto
dizer que não possa ser imitada pelo homem. A santidade de Deus é a razão pela
qual o homem deveria ser santo, e também é o modelo da santidade para o homem (Lv
11:44; 1Pe 1:16). A bondade perfeita de Deus é o modelo de bondade
para o homem. Esta verdade foi encarnada por aquele que é o Varão Perfeito, o
modelo de vida e conduta para o homem — Jesus Cristo.
O DEUS SANTO SE REVELA E CUIDA DOS
SEUS
Antes do surgimento do povo de Israel,
Deus se revelara a pessoas distintamente, preservando aqueles que lhe eram
fiéis, como Abraão, Isaque e Jacó. Mais tarde, quando o povo assumia forma
definida durante o cativeiro egípcio, Moisés (criado na corte faraônica),
tomando consciência de sua origem, assumiu a defesa dos seus. Por causa desta
posição, teve que fugir para o deserto, onde passou a viver com seu sogro
Jetro. Durante este período, teve uma visão e encontro com Deus, que o orientou
para o livramento de Israel, que passava a ser o povo eleito de Deus.
Este
encontro de Moisés com Deus nos mostra alguns aspectos da ação divina: O lugar
em que Deus se manifesta é santo, porque Deus o separou para este fim. O verso
5 expressa instruções de Deus com relação à conduta no lugar que Deus mesmo
declara santo (separado para o fim ao qual foi destinado). A santidade de Deus
é demonstrada na atitude de Moisés, pois só um Deus santo poderia declarar um
lugar santo, e Moisés esconde seu olhar, temendo — o que quer dizer,
respeitando e reconhecendo o seu estado de pecado. Deus separa Moisés para uma
missão especial com relação ao povo escolhido (povo santo). Deus é um ser vivo,
e se interessa pelos que lhe pertencem.
A
partir deste encontro, torna-se mais clara a orientação de que tudo o que for
separado (santificado) para o serviço de culto a Deus deve ser considerado
santo (separado). Deste ponto-de-vista, podemos entender porque o crente é
santo — não porque é perfeito, uma vez que não o é, mas porque Deus habita no
crente, e este é separado para uma obra especial, conforme o plano divino para
cada um de nós, obra que será realizada não por nós mas por Deus, através de
nós.
O DEUS
SANTO DO LIVRAMENTO
Habacuque
profetizou durante o meio da carreira do profeta Jeremias. O profeta tem a mais
elevada concepção de Jeová, cuja preeminência é universal. Habacuque reconhece
a suprema santidade de Deus, o que é demonstrado no verso 12, quando chama Deus
de "meu Santo". Para o profeta Deus é puro, e por isso não pode
conviver, nem mesmo ver, o mal nem a iniqüidade.
O
povo de Deus realmente naqueles dias estava pecando grandemente, e conforme o
verso 3 vemos que constava contra o povo a iniqüidade, a opressão, a
destruição, a violência, as contendas, o litígio, o afrouxamento da lei e a
perversão da justiça. Habacuque aprendera que Deus é santo, e que tais coisas
não podiam permanecer existentes no povo que Deus escolhera para seus santos e
eternos propósitos. Como então Deus permitia a continuidade desses atos, e mais
estranhamente, para o profeta, Deus permitia que fosse feita justiça através de
um povo caracteristicamente mais ímpio ainda? O profeta reconhecia que a
iniqüidade do povo não podia continuar, e que a santidade de Deus estava oposta
àqueles costumes; mas ver Deus castigar o seu povo escolhido com um povo em
piores condições morais não podia ser entendido pelo profeta — não seria
próprio da santidade divina, de acordo com os padrões de Habacuque. É por esta
razão o que o profeta clama a Deus, e pede uma resposta às suas dúvidas.
Na
continuidade do texto do profeta, demonstra-se que ele entende que Deus usa
meios às vezes paradoxais aos nossos olhos, porém sempre tendo em vista a
correção daqueles que lhe são queridos. O profeta, no final do texto, mostra-se
confiante, reafirmando sua fé em Deus, na firme esperança de que somente de
Deus pode vir o socorro certo e o livramento para o povo. Deus, que é santo,
deseja a santidade do seu povo, e para tanto é obrigado a castigar, para corrigir;
mas ao fazer isto, provê também a salvação necessária, não abandonando o seu
povo. Deus corrige, mas também ampara com amor.
O DEUS
SANTO PURIFICADOR
Como em outras ocasiões relatadas no
Velho Testamento, também aqui em Isaías 6 vemos que ao se ver colocado diante
de Deus, a santidade e soberania divinas são de tal modo majestosas, que a
reação do ser humano é de imediato temor e reconhecimento do seu estado
pecaminoso (v. 5).
Em
todas estas ocasiões, no entanto, era Deus se revelando ao homem, aproximando-se
dele, para dar-lhe oportunidade de vencer o pecado, não por meios próprios, mas
com o auxílio do soberano Senhor de todos os tempos. Como não tolera a iniquidade
(Hc 1:13), e não faz concessões ao pecado, Deus toma a iniciativa
purificadora do homem, toda vez que vê sinceridade e autenticidade no seu
coração (Is 6:5, 7).
Outro
elemento importante no texto em questão é a extensão da soberania divina —
"A terra toda está cheia de sua glória" (Is 6:3) — Deus é
soberano de todo o mundo, queiram ou não os homens. A Bíblia nos revela um Deus
santo e senhor soberano sobre toda a criação, e mais cedo ou mais tarde todos
hão de reconhecer a sua santa soberania.
No
caráter de Deus como santo, tal qual o vê Isaías, havia evidentemente o
elemento de severidade. Isaías é imediatamente ferido com o sentimento de
convicção e condenação; ele se confessa pecador e indigno. Ele vê toda ordem
moral de coisas, de que ele é parte, como corrompida. Todos são imundos de
lábios. Não obstante, surge ao mesmo tempo o elemento de misericórdia nesta
santidade — a brasa do altar lhe remove o pecado. Existe poder curador bem como
poder condenatório na visão da santidade de Deus. A santidade de Deus,
portanto, inclui o elemento de misericórdia ou graça bem como o elemento de severidade
ou justiça.
O DEUS SANTO CONVIDA A SANTIDADE
No
decorrer do nosso estudo, vimos que a santidade de Deus repudia tudo aquilo que
se opõe à perfeição divina. Como conseqüência deste entendimento, Pedro (1
Pe 1:15,16) apela aos crentes para assumirem uma atividade definitiva de
repúdio às concupiscências características de suas vidas antes do encontro
decisivo com Jesus Cristo.
Neste
apelo de Pedro, o argumento principal se constitui na declaração de Deus quando
diz: "Sereis santos, porque eu sou santo." Deus nos convida a
participar de sua santidade, e toma a iniciativa para tornar isto possível. A
única coisa que o crente tem que fazer é imitar a santidade divina, fazer como
Jesus mostrou que devêssemos fazer — esta é a vontade de Deus.
Para
que possa haver real comunhão entre Deus e os homens, que se tornaram seus
filhos em Jesus Cristo, Deus quer que seus servos sejam igualmente santos. Mas
este não é apenas o desejo ou a vontade de Deus, pois Deus convida e promete
que verdadeiramente alcançaremos a santidade, porque ele é santo.
CARACTERÍSTICAS DISTINTIVAS DA
SANTIDADE DE DEUS O DEUS SANTO:
1. Revela-se ao homem. Para que o homem possa
conhecer a Deus, é necessário que ele se revele, e revelando sua santidade nos
revela os seus padrões morais, que devem nortear nossa conduta moral.
2. Não tolera a iniqüidade. Esta característica
faz com que Deus permita o castigo, com finalidades corretivas, oferecendo ao
mesmo tempo graça e misericórdia de perdão.
3. É soberano universal. A Bíblia nos revela
um soberano Senhor de todo o mundo, e que escolheu um povo para ser o caminho
de sua revelação a todo este mundo.
4. Perdoa o pecador. Por meio do perdão,
Deus purifica o pecador, tornando-o apto a receber sua revelação, e dá-lhe
oportunidade de usar sua vida como instrumento de testemunho da graça o do amor
de Deus.
5. Convida à santidade. Deus faz com que
aqueles que participam, por meio da fé em Jesus Cristo, na herança eterna do
trono da graça, sejam santos como ele, tornando assim possível a íntima
comunhão entre o Criador — Senhor de todo o mundo — e os homens.