PRIMEIRO CAMINHO - VÔO DA ÁGUIA NO
CÉU
PV 30.18-19
Pr. José Antônio Corrêa
Texto: "18 Há três coisas que são maravilhosas
demais para mim, sim, há quatro que não conheço: 19 o caminho da águia no ar, o
caminho da cobra na penha, o caminho do navio no meio do mar, e o caminho do
homem com uma virgem".
INTRODUÇÃO:
1.
Todos nós admiramos a águia, ave notável "...pelo seu tamanho, força,
figura imponente, agudeza de vista e voo poderoso" (Dic. Michelas–UOL).
Devido ao seu vigor e imponência, ela pode designar pessoas de grande
engenhosidade e perspicácia. Lembramo-nos aqui, do grande estadista brasileiro
Rui Barbosa, que em razão de sua privilegiada inteligência demonstrada na
Segunda Conferência de Paz em Haia (1907), recebeu a alcunha de "Águia de
Haia".
2.
Em razão destas qualidades a águia pode ser um símbolo significativo do cristão
verdadeiro. Certamente, já ouvimos muitos sermões envolvendo comparações entre
a maneira de ser da águia e a maneira de ser daquele que serve a Deus. Neste
primeiro capítulo, queremos enfocar o "vôo da águia", fato
deslumbrante para o escritor de Provérbios.
3.
Vejamos quais são as características do vôo deslumbrante da águia, que podem
se aplicar figurativamente a cada um de nós como filhos de Deus:
I – O VÔO DA ÁGUIA NOS SUGERE QUE O
VERDADEIRO FILHO DE DEUS DEVE TER UMA MENTE VOLTADA PARA COISAS ELEVADAS
1.
Sabemos que a águia vive nas alturas e constrói seu ninho nos mais altos picos!
2.
Embora sejamos crentes, não podemos perder de vista que estamos inseridos neste
mundo. Quer queiramos, ou não, somos do mundo e fazemos parte dele. Quando
Jesus orou a "oração sacerdotal", fez a seguinte observação acerca de
seus discípulos: "E eu já não estou mais no mundo, mas eles estão no
mundo...", Jo 17.11. Observe a expressão "eles estão no
mundo". O mundo é nosso campo de vida e ação!
3.
Porém, embora pertençamos a este mundo não precisamos e nem podemos nos
envolver com suas práticas pecaminosas. Na mesma oração Jesus disse ao Pai:
"Não peço que os tires do mundo, mas que os livres do mal", Jo
17.15. Esta palavra de Jesus nos relembra o fato de que somos cidadãos dos
céus e por esta razão não podemos permitir que o mal nos domine, e ainda
devemos lutar para que nossas mentes sejam voltadas para o alto, para os
valores mais elevados, para aquilo que é eterno.
4.
Com certeza, a Palavra de Deus nos adverte quando ao fato de pensarmos nas
coisas elevadas:
a)
As "coisas do alto", devem ser objeto de nossa constante busca,
"PORTANTO, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de
cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus", Cl 3.1. Observe
que Paulo está falando da ressurreição de Cristo, dizendo que todos aqueles que
se tornaram filhos de Deus pela fé, dela participaram espiritualmente.
Ressurretos com Cristo através do "novo nascimento", nossa busca
agora não deve ser concentrada em valores terrenos, mundanos, mas de valores
celestiais.
b)
Hoje podemos pensar nas coisas do alto, porque recebemos através do Espírito
Santo a "mente de Cristo", "Porque, quem conheceu a mente do
Senhor, para que possa instruí-lo? Mas nós temos a mente de Cristo", 1
Co 2.16. Devemos considerar nossa maneira antiga de pensar como algo
devidamente ultrapassado. Paulo nos adverte de maneira clara o que agora deve
ocupar nossos pensamentos: "Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é
verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o
que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum
louvor, nisso pensai", Cl 4.8.
c)
Porém, para manter nossa mente voltada para os valores do reino, ela precisa
ser constantemente renovada, transformada, "E não sede conformados com
este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para
que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus",
Rm 12.1. Somente experimentaremos a perfeita vontade de Deus, permitindo
que nossos pensamentos sejam devidamente transformados pela ação do Espírito
Santo em nós.
5.
Assim como a águia voa alto, precisamos também viver acima dos padrões deste
mundo!
II - O VÔO DA ÁGUIA NOS SUGERE QUE
O VERDADEIRO FILHO DE DEUS DEVE TER UMA REAL VISÃO DOS VALORES DO REINO
1.
Outra característica da águia é sua visão privilegiada. Ela pode ver uma presa
de tamanho minúsculo numa terra arada, estando a três mil metros de altura.
2.
Como filhos de Deus, precisamos também aguçar nossa visão espiritual. Muitos
que se dizem cristãos apresentam uma visão míope dos valores do reino de Deus.
São crentes que não cresceram em sua vida cristã e apresentam deficiências
espirituais crônicas. Assim como o atleta olímpico tem uma visão clara de seu
objetivo, que é cruzar a linha de chegada em primeiro lugar, nós também devemos
ter um objetivo específico: "olhar para Jesus" – "Olhando para
Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto,
suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de
Deus", Hb 12.2.
3.
Dependendo de nossa conduta visionária, os valores do reino terão ou não a
primazia em nossa vida. Observemos alguns textos da Escritura que nos mostram o
valor de uma visão espiritual correta:
a)
Aquele que tem uma visão correta não olha para traz, Lc 9.62,
"E Jesus lhe disse: Ninguém, que lança mão do arado e olha para trás, é
apto para o reino de Deus". O arado, instrumento de lavrar a terra,
representa nosso trabalho e investimento no reino de Deus. O objetivo daquele
que manuseia o arado é trabalhar obedecendo a uma linha reta, num vai e vem constante,
até que toda gleba de terra esteja devidamente preparada ao plantio. Qualquer
descuido, qualquer desvio no olhar, pode comprometer o trabalho. Assim também
nós que militamos no reino precisamos ter uma visão clara dos valores
pertinentes ao serviço de Deus.
b)
Aquele que tem uma visão correta, não é apegado aos bens materiais, Mt
19.21, "Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende tudo o que
tens e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, e segue-me". O
contexto do presente versículo nos mostra um jovem fazendo uma pergunta
importante ao Senhor: "Que farei para conseguir a vida eterna"?
Depois de um importante diálogo, Jesus chegou à conclusão de que aquele jovem
era prisioneiro de seus bens materiais. Por esta razão sugeriu-lhe que vendesse
seus bens, distribuísse aos pobres, para ter a garantia de vida eterna. Não
querendo abandonar suas posses materiais, o moço foi embora muito triste, o que
ficou claro que ele tinha uma visão distorcida do reino de Deus. Muitos de nós,
agimos da mesma forma quando temos que fazer opção entre os valores do reino e
os valores mundanos, o que demonstra de maneira clara o tipo de visão que
temos.
c)
Aquele que tem uma visão correta sabe onde quer chegar, 2 Tm 1.12,
"Por cuja causa padeço também isto, mas não me envergonho; porque eu sei
em quem tenho crido, e estou certo de que é poderoso para guardar o meu
depósito até àquele dia". Temos em Paulo um exemplo significativo do que é
ter uma visão correta dos valores do reino. Observe como ele é contundente:
"eu sei em quem tenho crido"! Mesmo vivendo em intenso sofrimento e
vergonha em razão de seu amor a Jesus, Paulo mantinha uma conduta
irrepreensível, uma vez que havia nele uma visão clara do reino, que sobrepunha
qualquer valor mundano!
4)
Sem uma visão clara do que somos e queremos não vamos chegar a lugar algum.
Todo filho de Deus precisa saber para onde caminha. Assim como Paulo
prosseguimos "...para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em
Cristo Jesus", Fp 3.14.
III - O VÔO DA ÁGUIA NOS SUGERE QUE
O VERDADEIRO FILHO DE DEUS, EMBORA TENHA SUA MENTE NOS CÉUS, SEUS OLHOS NÃO SE
AFASTAM DA TERRA
3.
Também nós como crentes, agora regenerados pela ação da Palavra e Espírito de
Deus, mesmo estando "ressuscitados com Cristo" (Colossenses 3.1) e
"assentados nas regiões celestiais" (Efésios 2.6), não podemos tirar
nossos olhos da terra, que é o nosso campo de ação. Nossa vida foi transformada
pelo poder de Deus para sermos usados como instrumentos na libertação e
salvação de vidas. Veja o que diz a Palavra de Deus:
a)
A visão de Abraão, "9 Pela fé habitou na terra da promessa, como em
terra alheia, morando em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma
promessa. 10 Porque esperava a cidade que tem fundamentos, da qual o artífice e
construtor é Deus", Hb 11.9-10. Mesmo tendo vivido num tempo
diferente do nosso, Abraão tinha consciência de que sua verdadeira pátria não
era Canaã – considerada a "terra da promessa", mas conforme o próprio
texto nos diz ele aguardava a "...cidade que tem fundamentos, da qual o
artífice e construtor é Deus". Tinha ele uma visão clara de sua postura
neste mundo, que era a de ser uma bênção, ou seja, representar Deus para os
povos de seus dias. Tinha certeza de que através dele seriam
"...abençoadas todas as famílias da terra", Gn 12.3.
b)
Somos embaixadores do reino, "De sorte que somos embaixadores da
parte de Cristo, como se Deus por nós rogasse. Rogamo-vos, pois, da parte de
Cristo, que vos reconcilieis com Deus", 2 Co 5.20. A função
principal do "embaixador" é representar sua nação numa outra nação
que não é a sua. Embora sejamos cidadãos dos céus pela graça de Deus, temos a
responsabilidade de representar os céus na terra! Vivemos na terra, mas não
pertencemos a ela! Nossa função é trazer o céu para a terra!
c)
Porém, um dia seremos tirados da terra para habitar em nossa verdadeira
pátria, "Porque eu já estou sendo oferecido por aspersão de sacrifício,
e o tempo da minha partida está próximo", 2 Tm 4.6. Observe a
expressão "...o tempo de minha partida está próximo". Paulo antevia
sua morte e o recebimento de sua herança na eternidade. Suas convicções são
descritas nos versículos seguintes: "7 Combati o bom combate, acabei a
carreira, guardei a fé. 8 Desde agora, a coroa da justiça me está guardada, a
qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele dia; e não somente a mim, mas também
a todos os que amarem a sua vinda" 2 Tm 4.7-8. Enquanto estamos
neste mundo, precisamos viver como cidadãos dos céus, como representantes
legítimos de nossa pátria celeste. Porém, quando chegar o tempo de nossa
partida, que possamos declarar como Paulo: "combati o bom combate,
completei a carreira, guardei a fé".
4.
Não nos esqueçamos: Vivemos neste mundo como em terra estranha, onde precisamos
representar Deus legitimamente! Que ao sermos transferidos para a eternidade,
tenhamos a consciência do dever cumprido!
CONCLUSÃO:
1.
Vimos neste capítulo como a águia pode ser uma figura do verdadeiro filho de
Deus, pois as características de seu vôo tem a ver com algumas características
daquele que serve ao Senhor. Assim como o vôo da águia ocorre nas alturas, nós
também devemos ter nossa mente fixada nas coisas celestiais; sua visão privilegiada
- capaz de enxergar um pequeno rato numa terra arada a três mil metros de
distância, aponta para o fato de que precisamos ter a real visão do reino, dos
valores eternos; seu olhar constante para a terra na busca de alimentos, nos
fala de nossa missão terrena, onde vivemos como representantes de nossa
verdadeira pátria, a cidade celestial.
2.
Que possamos viver como verdadeiros cidadãos dos céus, cumprindo nossa missão
de embaixadores do reino!