SEGUNDO CAMINHO – A PASSAGEM DA
COBRA PELA PENHA
PV 30.18-19
Pr. José Antônio Corrêa
Texto: "18 Há três coisas que são maravilhosas
demais para mim, sim, há quatro que não conheço: 19 o caminho da águia no ar, o
caminho da cobra na penha, o caminho do navio no meio do mar, e o caminho do
homem com uma virgem".
INTRODUÇÃO:
1.
No capítulo anterior, tivemos a oportunidade de ver a simbologia do vôo da
águia e sua aplicação àqueles que servem ao Deus Santo. Se pertencemos ao reino
de Deus, devemos "pensar" em coisas elevadas, procurando renovar
nossa mente pela ação da Palavra de Deus e do Espírito Santo; precisamos
também, ter uma visão privilegiada dos reais valores eternos, olhando sempre
para Jesus o "autor e consumador da nossa fé"; devemos ainda, ter a
consciência de que embora sejamos cidadãos dos céus, pertencentes à família de
Deus, nosso campo de ação é a terra. Nosso alvo principal, são os homens sem
Deus que carecem de nossa mensagem e testemunho. Eles dependem de nós, afim de
que suas vidas sejam arrancadas das mãos do diabo e do poder das trevas, sendo
assim transformados pelo poder de Deus.
2.
No presente capítulo, não queremos usar a principal simbologia da serpente nas
Escrituras, que é a figura do próprio diabo, tido como a "antiga
serpente" (Ap. 12.9; 20.2), mas nos ater ao comportamento deste
animal, quando vive em meio às rochas. Devemos lembrar que certa vez, Jesus
orientou seus discípulos a que fossem "...prudentes como as serpentes e
simples como as pombas", Mt 10.16. É sobre esta sagacidade,
prudência, esperteza deste animal que queremos falar.
3.
O Filho de Deus, vive num mundo cheio de situações de risco, de cuidados, em
que ele deve ser prudente e usar a sabedoria de Deus para sair vitorioso. O
objetivo do diabo é nos colocar em enrascadas, em becos sem saída, em situações
de risco, na tentativa de minar nossa fé cristã. Diante da sagacidade do diabo,
precisamos aprender a nos comportar, desarmando seus laços através do uso correto
das Escrituras. Foi assim que Jesus resistiu as artimanhas do inimigo ao ser
tentado por ele no deserto (Mt 4.1-11). A Palavra de Deus nos mostra que
a sabedoria e a prudência são capacitações que recebemos de Deus. No dizer de
Paulo, Deus "...fez abundar para conosco ... toda a sabedoria e
prudência", Ef 1.8.
4.
Vamos ver quais são as aplicações do comportamento da serpente em sua
passagem pela penha, que são aplicáveis à nossa vida em Deus:
I – A PASSAGEM DA COBRA PELA PENHA
NOS APONTA PARA A RETIDÃO DO FILHO DE DEUS – NÃO DEIXA MARCAS POR ONDE ELE
PASSA
1.
Certamente ao passar pela penha, a serpente não deixa quaisquer marcas ou
vestígios. A olho nu não podemos afirmar que por aquele local passou uma cobra.
2.
O comportamento deste animal pode ser aplicado simbolicamente ao comportamento
de retidão do filho de Deus que não pode deixar quaisquer vestígios de
imoralidade, mal caráter, desonestidade, etc., por onde ele passa. Pelo
contrário, devemos marcar o lugar que passarmos com uma vida cheia de Deus. É
necessário que o filho de Deus dê bom testemunho não somente entre os irmãos de
fé, mas também aos que "...estão de fora, para que não caia em afronta, e
no laço do diabo", 1 Tm 3.7.
3.
Olhemos para a Palavra de Deus como deve ser nossa vida no mundo:
a)
Como "sal da terra" e "luz do mundo", "13 Vós
sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar? Para
nada mais presta senão para se lançar fora, e ser pisado pelos homens. 14 Vós
sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edificada sobre um
monte", Mt 5.13-14. Assim como o sal dá sabor modificando o gosto
dos alimentos, para torná-los apetitivos, assim também a vida do crente deve
oferecer tempero agradável àqueles que não conhecem a graça de Deus; assim como
a luz desempenha o papel de dissipar as trevas, o cristão deve iluminar as
vidas ao seu redor. Devemos ser "...irrepreensíveis e sinceros, filhos de
Deus inculpáveis, no meio de uma geração corrompida e perversa, entre a qual
resplandecemos como astros no mundo", Fp 2.15.
b)
Uma vida casta, "Considerando a vossa vida casta, em temor", 1
Pe 3.2. Temos no texto o termo grego "agnov - hagnos", que tem a
ver com um procedimento "respeitável", "santo",
"isento de sensualidade", "imaculado", "limpo". O
termo em apreço vem indicar que o cristão deve abster-se de quaisquer atos que
cheirem imoralidade ou comportamento sexual pecaminoso. Sabemos que uma parte
das obras da carne é composta por pecados desta natureza: "Porque as obras
da carne são manifestas, as quais são: adultério, prostituição, impureza,
lascívia", Gl 5.19.
c)
Irrepreensibilidade, "Como também nos elegeu nele antes da fundação
do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor",
Ef 1.4. A palavra irrepreensível vem do grego "amwmov - amomos",
que era uma palavra aplicada aos animais oferecidos em sacrifício, que deveriam
ser "sem mancha", "sem defeito". Assim deve ser o filho de
Deus diante do mundo! Não podemos ser expostos à repreensão. Devemos saber que
esta é uma característica exigida daqueles que vão participar do arrebatamento:
"E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e
alma, e corpo, sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de
nosso Senhor Jesus Cristo", 1 Ts 5.23.
4.
Assim como a serpente se esfrega pelas fendas da rocha sem deixar rastos ou
vestígios, assim deve ser a vida daquele que serve ao Deus Santo!
II - A PASSAGEM DA COBRA PELA PENHA
NOS INDICA QUE O FILHO DE DEUS DEVE FUGIR DO MAL
2.
Esta fuga rápida nos indica que o cristão deve estar atento aos perigos que o
mundo oferece. Quantos filhos de Deus incautos, são seduzidos pelos cuidados e
prazeres mundanos, que os sufocam a ponto de naufragarem na fé. Jesus alertou:
"E o que foi semeado entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os
cuidados deste mundo, e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e fica
infrutífera", Mt 13.22. Embora Jesus esteja falando de vidas que
não estão ainda devidamente convertidas, renascidas, podemos aplicar suas
palavras àqueles que coxeiam, manquitolam, entre a graça de Deus e o
mundanismo. São presas fáceis do diabo!
3.
Recorramos a alguns exemplos na Palavra de Deus:
a)
Devemos reagir inconformados com o mundanismo, "E não sede
conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso
entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita
vontade de Deus", Rm 12.2. Os padrões mundanos não se adaptam e nem
servem para os filhos de Deus. Qualquer semelhança não é mera coincidência!
Aquele que de fato serve a Deus, jamais se deixará levar pelas atrações e
insinuações mundanas. Nunca tomará a forma do mundo!
b)
Devemos reagir com indignação, "18 Porque muitos há, dos quais
muitas vezes vos disse, e agora também digo, chorando, que são inimigos da cruz
de Cristo, 19 Cujo fim é a perdição; cujo Deus é o ventre, e cuja glória é para
confusão deles, que só pensam nas coisas terrenas", Fp 3.18-19.
Olhando atentamente para o texto, iremos observar que o apóstolo Paulo
manifesta grande indignação contra certos falsos apóstolos que seduziam o povo
de Deus com bela linguagem e retórica impressionante. Porém suas vidas desordenadas
os denunciavam! Precisamos fugir de certos elementos que no dizer de Judas
"...convertem em dissolução a graça de Deus, e negam a Deus, único
dominador e Senhor nosso, Jesus Cristo", Jd 4. Tais elementos se
comportam aparentemente de maneira piedosa, mas seus frutos os denunciam,
"Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes
afasta-te", 2 Tm 3.5.
c)
Devemos reagir com inteligência, atentos à Palavra escrita, "MAS o
Espírito expressamente diz que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé,
dando ouvidos a espíritos enganadores, e a doutrinas de demônios", 1 Tm
4.1. Não somente precisamos observar a vida de certos elementos, que
pervertem a graça de Deus, mas também ficar atentos a seus ensinos distorcidos
e adulteradores da Palavra de Deus. Paulo fala de alguns que adulteravam a
palavra de Deus: "Porque nós não somos, como muitos, falsificadores da
palavra de Deus...", 2 Co 2.17. Hoje não é diferente! Tais
indivíduos, com fala eloqüente, exímios comunicadores, "brincam" com
a verdades de Deus, levando irmãos menos esclarecidos ao engano diabólico.
Observe que Paulo fala de "espíritos enganadores", e "doutrinas
de demônios". Qualquer perversão das Escrituras tem o dedo e a assinatura
do diabo e seus comandados!
4.
Além de fugir das contaminações mundanas, precisamos ter o cuidado de
detectá-las em certos indivíduos que, às vezes convivem conosco, não raramente
na mesma igreja, que na qualidade de "expositores" da Palavra de
Deus, têm contaminado a fé cristã, pervertendo o ensino bíblico. Reajamos com
veemência!
III - A PASSAGEM DA COBRA PELA
PENHA MOSTRA QUE FILHO DE DEUS DEVE REFUGIAR-SE NA VERDADEIRA ROCHA – CRISTO
1.
As fendas da rocha não somente facilitam a fuga da serpente quando está
ameaçada pelo predador, mas também serve de abrigo, de esconderijo, quando se
sente ameaçada.
2.
Todo aquele que professa o nome de Cristo, também está exposto a inúmeros
perigos. Sabemos que o inimigo de nossas almas "...anda em derredor,
bramando como leão, buscando a quem possa tragar", 1 Pe 5.8. Basta
uma brecha e ele nos ataca com ferocidade! Ele usa de situações, de momentos
difíceis, de pessoas amigas e inimigas, de irmãos de fé, para tentar nos
colocar na lona! Se dependermos exclusivamente de meios de defesa puramente humanos,
certamente seremos derrotados.
3.
Porém, ao nos sentirmos ameaçados, podemos contar com um abrigo seguro! Olhemos
para as Escrituras e iremos encontrar em Deus:
a)
Refúgio para o oprimido e angustiado, "O SENHOR será também um alto
refúgio para o oprimido; um alto refúgio em tempos de angústia", Sl 9.9.
Muitas são as situações que nos arrastam para a opressão e angústia, porém
tenhamos convicção de que o Senhor será sempre "...o nosso refúgio e
fortaleza, socorro bem presente na angústia", Sl 46.1. Lembre-se do
que Jesus disse: "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e
eu vos aliviarei", Mt 11.28. Na opressão e angústia, podemos contar
com o socorro e refúgio divinos!
b)
Refúgio e torre forte contra o inimigo, "Pois tens sido um refúgio
para mim, e uma torre forte contra o inimigo", Sl 61.3. As torres
eram lugares altos, fortalezas, que abrigavam os vigias que noite e dia
vigiavam a cidade contra invasões inimigas. Muitas destas torres serviam também
como suportes para instrumentos de guerra e contra-ataque aos inimigos:
"Também fez em Jerusalém máquinas da invenção de engenheiros, que
estivessem nas torres e nos cantos, para atirarem flechas e grandes pedras; e
propagou a sua fama até muito longe; porque foi maravilhosamente ajudado, até
que se fortificou", 2 Cr 26.15. Na torre, o guarda se sentia
protegido! Deus é nossa torre forte!
c)
Refúgio de geração em geração, "SENHOR, tu tens sido o nosso
refúgio, de geração em geração", Sl 90.1. Não somente a minha
geração, que inclui minha esposa e filhos são abençoados pelo Senhor, como
"refúgio", mas também minhas gerações futuras. A Palavra de Deus é
clara no sentido de nos mostrar que Deus "...guarda a aliança e a
misericórdia até mil gerações aos que o amam e guardam os seus
mandamentos", Dt 7.9. Quando nos mantemos obedientes ao Senhor
debaixo de sua aliança, nossos netos, bisnetos, tataranetos, etc., serão também
atingidos pela graça de Deus!
CONCLUSÃO:
1.
Vimos no presente capítulo, como o caminho da cobra pela penha pode simbolizar
verdades espirituais importantes. Certamente o maior símbolo bíblico da
serpente é o diabo que com sua astúcia, ludibria e engana aqueles que não
mantém uma comunhão viva com o Deus Vivo. Porém não podemos deixar de lembrar
que a serpente passa pela fenda da rocha sem deixar marcas e a usa como abrigo,
esconderijo, lugar para posição de ataque, etc.
2.
Simbolicamente, como filhos de Deus não podemos deixar por onde passamos,
marcas de um caráter deficiente. Pelo contrário, devemos marcar aqueles que
estão à nossa volta, vivendo uma vida de amor, irrepreensibilidade, com a
dignidade de verdadeiros cristãos. Sobretudo, assim como a cobra se vale da
fenda da rocha, como fuga, abrigo, esconderijo, posição de ataque, também nós,
temos o "abrigo e refúgio forte", que é o Deus Todo-Poderoso!