A PRÁTICA DO PERDÃO

 

 

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

 

1. Como servos de Deus, devemos aprender a arte de perdoar! Muitos de nossos desentendimentos, frustrações, seriam menos dolorosos se praticássemos o que nos ensina a Palavra do Senhor nesta área tão importante e significativa para a vida da Igreja de Cristo na terra. A falta de perdão nos leva a uma vida vazia, e a perder o melhor de Deus para nós. Sem a liberação do perdão àquele irmão que julgamos nos ter ofendido, machucado, nossa comunhão com o Senhor fica obstruída, e Suas bênçãos não poderão chegar até nós. Também, ao alimentarmos o “não perdão”, podemos dar lugar à raiz de amargura que nos trará grandes perturbações, além de nos privar da graça de Deus e contribuir com a contaminação de outros irmãos de fé. Assim se posicionou o escritor da Carta aos Hebreus: “...tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se contaminem”, Hb 12.15.

 

2. Dada a importância da prática do perdão, cumpre-nos exercê-la, sabendo que estaremos agradando ao Senhor que não que não olhou para nossas imperfeições, mas demonstrou seu grande amor ao nos conceder perdão, quando éramos ainda pecadores, “Mas Deus dá prova do seu amor para conosco, em que, quando éramos ainda pecadores, Cristo morreu por nós”, Rm 5.8. Precisamos agir tendo o amor de Deus como exemplo, o que nos impulsionará à prática do amor e perdão sem limites!  Queremos analisar “Alguns Aspectos Relacionados ao Perdão”:

 

 

PRECISAMOS PERDOAR SE QUISERMOS GOZAR O PERDÃO DE DEUS

 

 

Mt 6.12, 14-15, “12 e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós também temos perdoado aos nossos devedores. 14 Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós; 15 se, porém, não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai perdoará vossas ofensas”.

 

- Observe a instrução do Senhor na Oração Modelo – o Pai Nosso, onde o Ele nos orienta a orar pedindo perdão a Deus, “assim como temos perdoado (veja o tempo do verbo – passado, mas que também expressa uma ação contínua) nossos devedores”. Tal posicionamento nos leva a pensar que antes de rogarmos o perdão de Deus pelos nossos pecados, já devemos ter liberado o perdão ao nosso ofensor. Subentende-se que, ao buscarmos o perdão divino, em nosso coração não poderá haver qualquer sentimento de amargura, rancor, tristeza, ódio, etc., contra alguém! A não observância deste princípio nos tornará impossibilitados de pedir e receber o perdão de Deus – “...se, porém, não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai perdoará vossas ofensas”. Não precisamos dizer que ao agirmos desta maneira, nosso relacionamento com Deus fica truncado!  

 

Mt 18.23-35, “23 Por isso o reino dos céus é comparado a um rei que quis tomar contas a seus servos; 24 e, tendo começado a tomá-las, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos; 25 mas não tendo ele com que pagar, ordenou seu senhor que fossem vendidos, ele, sua mulher, seus filhos, e tudo o que tinha, e que se pagasse a dívida. 26 Então aquele servo, prostrando-se, o reverenciava, dizendo: Senhor, tem paciência comigo, que tudo te pagarei. 27 O senhor daquele servo, pois, movido de compaixão, soltou-o, e perdoou-lhe a dívida. 28 Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus conservos, que lhe devia cem denários; e, segurando-o, o sufocava, dizendo: Paga o que me deves. 29 Então o seu companheiro, caindo-lhe aos pés, rogava-lhe, dizendo: Tem paciência comigo, que te pagarei. 30 Ele, porém, não quis; antes foi encerrá-lo na prisão, até que pagasse a dívida. 31 Vendo, pois, os seus conservos o que acontecera, contristaram-se grandemente, e foram revelar tudo isso ao seu senhor. 32 Então o seu senhor, chamando-o á sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela dívida, porque me suplicaste; 33 não devias tu também ter compaixão do teu companheiro, assim como eu tive compaixão de ti? 34 E, indignado, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que pagasse tudo o que lhe devia. 35 Assim vos fará meu Pai celestial, se de coração não perdoardes, cada um a seu irmão”.

 

- Ao analisarmos a presente parábola, notamos a incoerência do primeiro devedor, que sob “rogos contundentes” obteve o perdão do rei, mas que em contrapartida, não teve misericórdia de seu “conservo”, que lhe devia uma quantia ínfima, se comparada à sua dívida com o rei. A indignação do rei ao verificar a postura daquele servo, é comparada à indignação do Senhor, que não poderá nos conceder perdão, quando mantivermos uma atitude incoerente de não perdoar nosso ofensor, cuja dívida em nosso favor sempre será insignificantemente menor se comparada à nossa dívida com Deus! Não esqueçamos da incisiva final: “Assim vos fará meu Pai celestial, se de coração não perdoardes, cada um a seu irmão”.

 

 

PRECISAMOS PRATICAR O PERDÃO SEM LIMITES

 

 

Mt 18.21-22, “21 Então Pedro, aproximando-se dele, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu hei de perdoar? Até sete? 22 Respondeu-lhe Jesus: Não te digo que até sete; mas até setenta vezes sete”.

 

- Um dos pontos mais questionados está relacionado ao limite do perdão. Foi dentro desta ótica que Pedro se posicionou, quando perguntou: “Senhor, até quantas vezes pecará meu irmão contra mim, e eu hei de perdoar? Até sete?”. Não raramente certo irmão nos ofende por sucessivas vezes e a mesma questão levantada por Pedro ressurge em nossa mente: “Até quando?”. Observamos que a resposta de Jesus foi contundente: “Não te digo que até sete; mas até setenta vezes sete”. Isso nos leva a crer que o perdão deve ser praticado sem limites! Ou seja, deve-se perdoar quantas vezes forem necessárias! Imagine se Deus usasse conosco de uma medida diferente. Quantas vezes pecamos contra Deus durante apenas um dia? Sem levar em conta nossas imperfeições, Deus nos perdoará cada uma das vezes que nós O ofendermos. Basta confessarmos-LHE: “8 Se dissermos que não temos pecado nenhum, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. 9 Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça”, 1 Jo 1.8-9.

 

 

PRECISAMOS PRATICAR O PERDÃO, TENDO COMO BASE O PERDÃO DE CRISTO

 

 

Ef 4.32, “Antes sede bondosos uns para com os outros, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo”.

 

- Cristo é nosso exemplo máximo na questão do perdoar! Na cruz, mesmo sendo injuriado, esbofeteado, espancado, Ele pode orar: “Pai, perdoa-lhes; porque não sabem o que fazem”, Lc 23.34. Tal comportamento do Senhor somente pode ser observado em alguém que atingiu o mais alto grau na escala do perdão. A mesma atitude de Cristo, pode ser vista também em Estevão quando sofria a agonia da morte, durante seu martírio por apedrejamento: “E pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado”, At 7.60. Descrevendo a atitude de Cristo quando sofria as agressões impostas pelos seus inimigos, Pedro disse: “...sendo injuriado, não injuriava, e quando padecia não ameaçava, mas entregava-se àquele que julga justamente”, 1 Pe 2.23. Se quisermos se bem sucedidos na arte de perdoar, precisamos tomar o exemplo de nosso Supremo Mestre! Na fórmula de Paulo, encontramos a expressão “bondosos uns para com os outros, compassivos”. Sem praticarmos a bondade e a misericórdia jamais nos tornaremos aptos para perdoar quem quer que seja. O perdão somente poderá brotar num coração que olha para o irmão com amor de Jesus!         

 

Cl 3.13, “suportando-vos e perdoando-vos uns aos outros, se alguém tiver queixa contra outro; assim como o Senhor vos perdoou, assim fazei vós também”.

 

- Temos aqui um texto semelhante ao texto acima. Contudo precisamos destacar nele a palavra “suportando-vos”. Esta palavra vem do termo grego “anecomai (anechomai)” – “sustentar”, “carregar”, “levantar”. Em qualquer dicionário da língua portuguesa temos a seguinte definição para a mesma palavra: “sofrer”, “tolerar”, “resistir”, “agüentar”. Pela definição vista, “suportar”, é vivenciar com equilíbrio situações contrárias, e que estão até mesmo além de nossas forças. Significa, muitas vezes, ser muro de arrimo para o irmão mais fraco na fé (“Ora nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos”, Rm 15.1). Devemos ter o mesmo espírito de Paulo, quando no exercício de seu ministério sofria as afrontas de seus inimigos: “...somos injuriados, e bendizemos; somos perseguidos, e o suportamos”, 1 Co 4.12.   

 

 

CONCLUSÃO:

 

Exemplo de José, Gn 5.15-21, “15 Vendo os irmãos de José que seu pai estava morto, disseram: Porventura José nos odiará e nos retribuirá todo o mal que lhe fizemos. 16 Então mandaram dizer a José: Teu pai, antes da sua morte, nos ordenou: 17 Assim direis a José: Perdoa a transgressão de teus irmãos, e o seu pecado, porque te fizeram mal. Agora, pois, rogamos-te que perdoes a transgressão dos servos do Deus de teu pai. E José chorou quando eles lhe falavam. 18 Depois vieram também seus irmãos, prostraram-se diante dele e disseram: Eis que nós somos teus servos. 19 Respondeu-lhes José: Não temais; acaso estou eu em lugar de Deus? 20 Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; Deus, porém, o intentou para o bem, para fazer o que se vê neste dia, isto é, conservar muita gente com vida. 21 Agora, pois, não temais; eu vos sustentarei, a vós e a vossos filhinhos. Assim ele os consolou, e lhes falou ao coração”.

 

- Todos sabemos como foi difícil a vida de José ao ser perseguido pelos seus irmãos ao ponto de o venderem como escravo, banindo-o para longe da casa de seu pai e do seio de sua família. Sem nos deter nos pormenores desta história, podemos ver o coração perdoador de José quando mais tarde, gozando da posição de Vice Rei do Egito, teve oportunidade de se vingar de seus irmãos, pode praticar o perdão sem quaisquer constrangimentos. No presente texto, seu pai já havia morrido. Agora era sua chance! Porém, José fala de maneira bondosa e misericordiosa aos seus irmãos apreensivos: “Não temais; acaso estou eu em lugar de Deus? Vós, na verdade, intentastes o mal contra mim; Deus, porém, o intentou para o bem, para fazer o que se vê neste dia, isto é, conservar muita gente com vida”. Suas palavras não somente manifestam o caráter perdoador, mas também o caráter benfeitor: “Agora, pois, não temais; eu vos sustentarei, a vós e a vossos filhinhos. Assim ele os consolou, e lhes falou ao coração”. Eu gosto da expressão “lhes falou ao coração”. O verdadeiro espírito de perdão toca o coração daqueles que pretenciosamente, ou não nos prejudicam e querem o nosso mal. Vivamos o espírito de perdão!