ORAÇÃO DE JESUS NO GETSÊMANI
Mt 26.36-45
Pr. José Antônio Corrêa
INTRODUÇÃO: Getsêmani era
um pequeno jardim nas proximidades de Jerusalém, para onde Jesus inúmeras vezes
se retraia para fugir da agitação das multidões. Ali, na solidão da noite,
buscava intimidade com o Pai em preciosos momentos de meditação e oração.
“Neste recanto solitário, havia recebido coragem e energias espirituais para
enfrentar as lutas tremendas que lhe sobrevieram em seu santo ministério” (Notas
e Comentários à Harmonia dos Evangelhos, Egídio Gioia, Editora Juerp, 1969,
Vol. I, pág. 344). Getsêmani significa literalmente “lagar do óleo”. O lagar
era o lugar onde as uvas eram pisadas, para a extração do suco. Vejamos alguns
pontos de destaque na experiência do Senhor no Jardim do Getsêmani:
I. JESUS MANIFESTOU PROFUNDA TRISTEZA
1. V. 37, “começou a
entristecer-se e a angustiar-se”. Entristecer-se – “tornar triste, afetar com tristeza, causar aflição,
magoar, afligir, ofender tornar alguém preocupado, fazê-lo receoso”; Angustiar-se
- “estar ansioso, em grande aflição ou angústia,
deprimido”.
2.
V. 38, “a
minha alma está profundamente triste até à morte”. Observe, não apenas
“triste”, mas “profundamente triste”. Ou seja, “dominado com pesar a ponto da
tristeza causar a própria morte”.
3. A essência desta
“profunda tristeza” do Senhor estava relacionada ao seu horror pelo pecado, não
dEle próprio, mas de toda a humanidade que iria LHE cair sobre o seu corpo na
cruz. Nas palavras de Pedro temos: “carregando ele mesmo
em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os
pecados, vivamos para a justiça; por suas chagas, fostes sarados”, 1Pe 2.24.
4. Ele podia sentir a
realidade da maldição da cruz. Seria “maldito pela justíssima lei de Deus” (Notas
e Comentários à Harmonia dos Evangelhos, Egídio Gioia, Editora Juerp, 1969,
Vol. I, pág. 344). Paulo escrevendo aos gálatas pode dizer: “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele
próprio maldição em nosso lugar (porque está escrito: Maldito todo aquele que
for pendurado em madeiro)”, Gl 3.13.
II. JESUS SE SENTIU PROFUNDAMENTE SÓ
1.
V. 36, “Jesus
com eles a um lugar chamado Getsêmani”. O Senhor levou consigo os discípulos
mais chegados – “a Pedro e aos dois filhos de Zebedeu”, v. 37, pois
precisava de apoio num dos momentos mais importantes de todo o seu ministério
terreno.
2.
V. 38, “ficai
aqui e vigiai comigo”. Aqui o Senhor reiterou sua carência de companhia.
3. V. 40, “nem uma hora pudestes vós vigiar
comigo?”. Manifestou sua decepção.
4. Ao falar desta solidão
do Senhor, e sua necessidade de apoio e companhia, Lucas menciona a vinda de um
anjo para assisti-LO, uma providência do Pai: “Então,
lhe apareceu um anjo do céu que o confortava”, Lc 22.43.
III. JESUS ESTAVA LIMITADO ÀS FRAGILIDADES
HUMANAS
1.
V. 41, “vigiai e orai, para que não entreis em
tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca”. Embora
o Senhor esteja admoestando seus discípulos, ao expressar que a “carne é
fraca”, estava também referindo à sua própria carne a qual estava sendo
colocada à prova naquele momento.
2. V. 43, “E,
voltando, achou-os outra vez dormindo; porque os seus olhos estavam pesados”.
Sobre esta experiência Lucas afirma que os discípulos estavam “dormindo de
tristeza”, Lc 22.45.
IV. JESUS ENTREGOU-SE À VONTADE DO PAI
1. V. 42, “Meu Pai, se
não é possível passar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua
vontade”. A palavra “cálice” pode significar “porção ou experiência de
alguém, seja prazenteira ou adversa”.
2. V.
45, “Eis que é chegada a hora, e o Filho
do Homem está sendo entregue nas mãos de pecadores”. Sem perceber, Judas Escariotes
cumpre seu papel na traição de Jesus, mas somente pode concretizar seu plano em
razão da auto entrega do Senhor. “assim como o Pai me conhece a mim, e eu
conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas”, Jo 10.15. Paulo
afirma: “o qual se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos
desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de nosso Deus e Pai”, Gl
1.4.
CONCLUSÃO: Lucas 22.44, “E, estando em agonia,
orava mais intensamente. E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de
sangue caindo sobre a terra”. Temos aqui um fenômeno denominado pela ciência
médica de “diapédesi”. Assim como as uvas eram moídas no lagar
(Getsêmani – “lagar do óleo”) para a extração de seu suco, Cristo foi moído em
sua alma a ponto dEle serem extraídas “gotas de sangue”.