O LUGAR SANTO
A MESA E OS PÃES
ÊX 25.26-30
Pr. José Antônio Corrêa
INTRODUÇÃO:
Como
já vimos no primeiro estudo, o "Lugar Santo", ou "Primeiro
Tabernáculo", era o local onde os sacerdotes oficiavam na presença de
Deus. Ali ofereciam os sacrifícios em prol do povo. Neste primeiro Tabernáculo
acontecia todo ritual de ofertas e sacrifícios, Hb 9.6, "Ora,
estando estas coisas assim preparadas, entram continuamente na primeira tenda
os sacerdotes, celebrando os serviços sagrados". No Lugar Santo, estavam
os seguintes utensílios: a "Mesa com os Pães; o Castiçal; o
Altar de Incenso; o Véu que separava o Lugar Santo da sala mais
interna". Vamos estudar agora a Mesa com os Pães e sua simbologia para nós
como filhos de Deus:
I. MESA
1. DESCRIÇÃO:
A
Mesa - Nxlv (shulchan) com os Pães - Mxl (lechem) era colocada no lado direito
da porta para entrada no Lugar Santo. Sabemos que quase todos os santuários
antigos possuíam uma mesa para ofertas em seus utensílios. O santuário de
Israel não seria exceção. A instrução para a confecção da Mesa está em Êx
25.23, "Também farás uma mesa de madeira de acácia; o seu comprimento
será de dois côvados, a sua largura de um côvado e a sua altura de um côvado e
meio". Observe que a madeira seria a "acácia" (hjv - shittah), a
mesma madeira também usada para a construção das paredes do Tabernáculo.
a)
Suas dimensões seriam: comprimento – dois côvados; largura – um côvado; altura
– um côvado e meio. Para calcularmos o tamanho exato devemos tomar a medida da
distância entre o cotovelo e a ponta dos dedos, ou seja cerca de
b)
Quatro argolas deveriam ser colocadas nos quatro cantos da Mesa para facilitar
o seu transporte por meio dos varais, Êx 25.26-27, "26 Também lhe
farás quatro argolas de ouro; e porás as argolas nos quatro cantos, que estão
nos seus quatro pés. 27 Perto da moldura estarão as argolas, como lugares para
os varais, para se levar a mesa". Observe que estas argolas, como também o
revestimento da Mesa eram de ouro.
c)
Deveriam ainda construir dois varais, também de madeira de acácia, recobertos
de ouro, que seriam os instrumentos de transporte da Mesa. Os varais não
poderiam ser retirados das argolas, Êx 25.13-15, "13 Farás também
varais de madeira de acácia e os cobrirás de ouro; 14 meterás os varais nas
argolas aos lados da arca, para se levar por meio deles a arca. 15 Os varais
ficarão nas argolas da arca e não se tirarão dela".
1. SIMBOLISMOS
1.
Qual seria a tipologia envolvida na Mesa dos Pães? Temos inicialmente a
observação de Barrow:
"Ela foi feita de madeira de acácia
recoberta de ouro, similar às tábuas que formam as paredes do Santuário, que
fala das duas naturezas de Cristo, ou seja, Ele nasceu de Maria como genuíno
ser humano, mas foi concebido pelo Espírito Santo, sendo chamado Filho de Deus
(Lucas 1:35). Verdadeiramente homem, revestido de Deus.
No Pátio externo tudo simbolizava lavagem,
julgamento e morte, na Pia de bronze e no Altar de Holocausto. Aqui no Lugar
Santo, tudo simboliza vida, alimento, luz e incenso aromático. Portanto, no
Pátio Externo "Vemos ... aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que
os anjos, por causa da paixão da morte", mas na Mesa dos Pães (e no Altar
de Incenso) no Lugar Santo, nós vemos Jesus "coroado de glória e de
honra" (Hebreus 2:9)".(1)
2.
É evidente que a colocação de Barrow é feita apenas em caráter tipológico,
porém como já vimos anteriormente nada do que foi ordenado pelo Senhor, o foi
por acaso. O escritor da Carta aos Hebreus nos fala que estas coisas eram
sombras de verdades celestiais a serem reveladas futuramente, Hb 8.5,
"...os quais ministram em figura e sombra das coisas celestes, assim como
foi Moisés divinamente instruído, quando estava para construir o tabernáculo;
pois diz ele: Vê que faças todas as coisas de acordo com o modelo que te foi
mostrado no monte".
II. PÃES
1. DESCRIÇÃO
Em
cima da Mesa eram colocados os Pães da Proposição, Êx 25.30, "Porás
sobre a mesa os pães da proposição diante de mim perpetuamente". Um
detalhe importante é que estes pães deveriam ser em número de doze, um para
cada tribo de Israel. "Doze bolos achatados (como grandes bolachas),
dispostos em duas fileiras (Lv 24.6), eram ali colocados, frescos, a cada manhã,
e removidos a cada anoitecer, para serem comidos apenas pelos sacerdotes em
circunstâncias normais (1Sm 21.6)"(2), Lv 24.5-9,
"5 Também tomarás flor de farinha, e dela cozerás doze pães; cada pão será
de dois décimos de efa. 6 E pô-los-ás perante o Senhor, em duas fileiras, seis
em cada fileira, sobre a mesa de ouro puro. 7 Sobre cada fileira porás incenso
puro, para que seja sobre os pães como memorial, isto é, como oferta queimada
ao Senhor; 8 em cada dia de sábado, isso se porá em ordem perante o Senhor
continuamente; e, a favor dos filhos de Israel, um pacto perpétuo. 9
Pertencerão os pães a Arão e a seus filhos, que os comerão em lugar santo, por
serem coisa santíssima para eles, das ofertas queimadas ao Senhor por estatuto
perpétuo".
2. SIMBOLISMOS
1.
O que significa estes pães? Teriam eles, algum simbolismo especial? Vejamos:
a)
Na verdade, pão significa "suprimento", "alimentação".
Devemos lembrar que "pão" no Velho Testamento, sempre foi símbolo de
suprimento alimentar, Gn 28.20, "Fez também Jacó um voto, dizendo:
Se Deus for comigo e me guardar neste caminho que vou seguindo, e me der pão
para comer e vestes para vestir". Ver ainda Gn 47.12; Dt 8.9; Sl 132.15.
Foi por esta razão que Jesus ordenou a seus discípulos que orassem pedindo, não
somente refeições diárias, mas o "pão-nosso" de cada dia, Mt 6.11,
"o pão nosso de cada dia nos dá hoje".
b)
Outro detalhe envolvido nos pães está no fato de que eles precisavam ser
continuamente frescos, ou seja trocados freqüentemente, 1 Sm 21.6,
"Então o sacerdote lhe deu o pão sagrado; porquanto não havia ali outro
pão senão os pães da proposição, que se haviam tirado de diante do Senhor no
dia em que se tiravam para se pôr ali pão quente". A expressão "pão
quente", nos mostra como os pães da cesta eram substituídos a cada dia na
presença do Senhor. Barrow afirma que os pães eram trocados apenas nos sábados:
"Na Mesa dos Pães eram colocados doze pães sem fermento, um para cada dos
doze tribos de Israel. Estes eram repostos todos
os sábados por outros pães frescos (Levítico 24:5-9)"(3). Já
Cole afirma que eram trocados a cada manhã: "... eram ali colocados,
frescos, a cada manhã, e removidos a cada anoitecer...".(4)
Pelo texto de Levítico 24.5-9, nos parece que de fato Barrow tem razão,
e que os pães eram substituídos apenas aos sábados. Porém, deixando a polêmica
de lado e as divergências entre os estudiosos quanto à periodicidade em que os
pães devessem ser trocados, algo nos fica bem claro: eles em trocados! Este fato
nos mostra que Deus não dá para os seus filhos suprimentos velhos,
deteriorados, ou em decomposição. O suprimento de hoje é "fresco",
como também será "fresco" o suprimento de amanhã, e assim
sucessivamente. Deus tem o melhor para os seus filhos e não pão amanhecido,
duro!
c)
Outro ponto de observação é que estes pães somente podiam ser comidos pelos
sacerdotes e não por quaisquer outras pessoas, Lv 24.9,
"Pertencerão os pães a Arão e a seus filhos, que os comerão em lugar
santo...". Em todo o Velho Testamento há apenas uma exceção em que este
princípio não foi observado, 1 Sm 21.3-6, "3 Agora, pois, que tens
à mão? Dá-me cinco pães, ou o que se achar. 4 Ao que, respondendo o sacerdote a
Davi, disse: Não tenho pão comum à mão; há, porém, pão sagrado, se ao menos os
mancebos se têm abstido das mulheres. 5 E respondeu Davi ao sacerdote, e lhe
disse: Sim, em boa fé, as mulheres se nos vedaram há três dias; quando eu saí,
os vasos dos mancebos também eram santos, embora fosse para uma viagem comum;
quanto mais ainda hoje não serão santos os seus vasos? 6 Então o sacerdote lhe
deu o pão sagrado; porquanto não havia ali outro pão senão os pães da
proposição, que se haviam tirado de diante do Senhor no dia em que se tiravam
para se pôr ali pão quente". Devemos notar que esta exceção foi em caráter
excepcionalíssimo, uma vez que nesta ocasião nada havia para Davi se alimentar,
recorrendo ele então aos pães da proposição, como último recurso.
d)
Os pães eram feitos sem fermento, o que os preservavam da deterioração rápida.
Citando Sheed:
"A proibição acerca do fermento, como
também acerca do mel (Lv 2:11) possivelmente foi feita porque a fermentação
implica em desintegração e corrupção, e para os hebreus qualquer coisa em
estado de decomposição sugeria imundícia. Os escritores rabínicos
freqüentemente usavam o fermento como símbolo do mal e da corrupção hereditária
do homem"(5).
2.
O que os Pães da Proposição podem significar para nós, povo de Deus do Novo
Testamento? No Velho Testamento "... talvez fosse um reconhecimento
agradecido de que o pão cotidiano das doze tribos vinha de Deus".(6)
Para o Novo Testamento, vejamos alguns possíveis simbolismos:
a)
Estes pães nos lembram Jesus dizendo: "Declarou-lhes Jesus. Eu sou o pão
da vida; aquele que vem a mim, de modo algum terá fome, e quem crê em mim
jamais terá sede, Jo 6.35. Como "pão da vida", Jesus é o nosso
suprimento diário, o nosso tudo! Dependemos dEle para todas as nossas
necessidades, sejam elas físicas ou espirituais. É a ele que nos recorremos, é
nEle que nos saciamos, matamos a nossa fome! Citando Barrow: "Ele é o Pão
vivo que desceu do céu para nos dar Sua vida, vida EM nós (João 6:51, 53). Esta
vida é produzida em nós, primeiramente, pelo Espírito que dá vida (João 6:63) e
depois pela palavra de vida eterna (João 6:68)".(7)
b)
Não é por acaso que o Senhor ao instituir a sua Ceia, coloca como um dos
elementos, o pão, que simboliza o Seu corpo que foi partido na cruz, e que deve
ser ingerido por todos aqueles que foram regenerados pela sua graça, Mt 26.26,
"Enquanto comiam, Jesus tomou o pão e, abençoando-o, o partiu e o deu aos
discípulos, dizendo: Tomai, comei; isto é o meu corpo". Embora seja a Ceia
uma ordenança para manter a união e comunhão do povo de Deus, também nos fala
de alimento espiritual! É por esta razão que Jesus no Evangelho de João afirma
que a sua carne é "comida" e seu sangue é "bebida",
"55 Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue
verdadeiramente é bebida. 56 Quem come a minha carne e bebe o meu sangue
permanece em mim e eu nele. 57 Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo
pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim".
c)
Os pães também nos lembram da Palavra de Deus agindo em nossas vidas. Observe
que a Palavra de Deus deve ser também ingerida pelos filhos de Deus, Jr
15.16, "Acharam-se as tuas palavras, e eu as comi; e as tuas palavras
eram para mim o gozo e alegria do meu coração; pois levo o teu nome, ó Senhor
Deus dos exércitos". Embora Jeremias nos mostre o gozo e a alegria do
crente ao comer a Palavra, muitas vezes esta Palavra pode ser amarga em nosso
ventre, em virtude de seu poder corretivo, Ap 10.10, "Tomei o
livrinho da mão do anjo, e o comi; e na minha boca era doce como mel; mas
depois que o comi, o meu ventre ficou amargo". Observe o comentário de
Lockyer:
"Várias vezes na Escritura, a palavra de
Deus é comparada com alimento que deve ser assimilado. Ezequiel, como João,
experimentou uma profecia doce-amarga (Ezequiel 2:8; 3:1-3). Da mesma forma,
Jeremias teve de consumir a palavra divina (Jeremias 15:16). O primeiro efeito
da comunicação profética foi doce como o mel à boca, e trouxe deleite indizível
a João ao ver que as predições passadas estavam prestes a cumprir-se. Foi-lhe
doce ao paladar compreender que finalmente o domínio da terra passaria de
Satanás para Cristo, e que uma era perversa estava prestes a terminar e uma
nova era a começar.
Mas então o apóstolo meditou no efeito do
juízo sobre as multidões sem Deus, e pensou na ira final sob as sete taças e
nos terrores do Senhor que em breve sobreviriam aos ímpios. Ao meditar no
destino final dos perdidos, a angústia apertou-lhe o coração. O que lhe era
doce ao paladar teria um efeito amargo para os habitantes rebeldes da terra.
Sua comissão foi renovada e João teve de sair, profetizando para as multidões a
respeito do juízo vindouro.
O mesmo princípio está em vigor, nesta era da
graça, para todos os pregadores. Uma mensagem dada por Deus deve ser recebida e
absorvida em seu próprio ser. A verdade de segunda mão e não experimentada
nunca é dinâmica. Tanto a doçura como a amargura de um evangelho revelado por
Deus devem fazer parte do treinamento espiritual dos arautos. A verdade que
eles têm deleite em receber exige a morte da vida do ego e o sabor amargo das
durezas e desapontamentos de ser testemunhas verdadeiras".(8).
d)
O pão sem fermento nos mostra que como filhos de Deus precisamos nos preservar
das corrupções do mundo, Tg 1.27, "
BIBLIOGRAFIA:
BARROW, Martyn. Artigo "A Mesa dos Pães".
http://www.domini.org/tabern. martyn@domini.org. Tradução: Pastor Eduardo
Alves Cadete (05/01). Revisão: Joy Ellaina Gardner (02/02). Calvin G. Gardner
03/02.
BÍBLIA ONLINE. Sociedade Bíblica do Brasil. Versão 2.01.
1999.
COLE, Alan, Ph.D. Êxodo, Introdução e Comentário. Sociedade
Religiosa Edições Vida Nova. São Paulo, 1963.
LOCKYER, Herbert, Sir. Apocalipse, o Drama dos
Séculos. Tradução de João Barbosa Batista. Editora Vida, pág. 131. 1982.
SHEED, Russel. O Novo Dicionário da Bíblia. Edições Vida Nova.
São Paulo. Vol. II, págs. 613.
NOTAS:
(1) BARROW, Martyn. Artigo "A Mesa dos
Pães". http://www.domini.org/tabern.
martyn@domini.org. Tradução: Pastor
Eduardo Alves Cadete (05/01). Revisão: Joy Ellaina Gardner (02/02). Calvin G.
Gardner 03/02.
(2) COLE, Alan, Ph.D. Êxodo, Introdução e Comentário.
Sociedade Religiosa Edições Vida Nova. São Paulo, 1963. Pág. 186.
(3) BARROW, Martyn. Op. cit.
(4) COLE, Alan, Ph.D. Op. cit., pág. 186.
(5) id. ibid., pág. 186.
(6) BARROW, Martyn. Op. cit.
(7) LOCKYER, Herbert, Sir. Apocalipse, o Drama
dos Séculos. Tradução de João Barbosa Batista. Editora Vida, pág. 111. 1982.
(8) SHEED, Russel. O Novo Dicionário da Bíblia.
Edições Vida Nova. São Paulo. Vol. II, pág. 613.