O VÉU

ÊX 26.31-37

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

INTRODUÇÃO:

 

Como vimos, no estudo anterior, o Altar do Incenso era o lugar onde o sacerdote queimava uma especiaria aromática, cuja fórmula foi dada pelo Senhor, e somente podia ser usada para este fim específico. Se alguém copiasse a fórmula para uso pessoal seria extirpado do meio do povo de Deus! Se ainda alguém não credenciado queimasse o incenso, seria morto! Este serviço somente podia ser realizado apenas pelos sacerdotes, devidamente instituídos através da casa de Arão. Isto nos mostra que as coisas santas não podem ser misturadas com as mundanas. O que é separado para Deus, deve ser usado somente para Ele. O incenso representa as orações dos filhos de Deus que sobem até Ele em cheiro suave. Hoje queremos ver o Véu.

 

I. O VÉU

 

1. O Véu "tkrp - poreketh", foi construído para fazer a separação entre o Lugar Santo e o Lugar Santíssimo, Hb 9.3, "mas depois do segundo véu estava a tenda que se chama o santo dos santos". "O santuário interno, o lugar santíssimo (34), no qual estava colocada a arca, era separado do santuário frontal, por uma cortina entrelaçada em uma só peca, semelhante à coberta mais interna do tabernáculo".(1) Um comentário importante sobre o véu nos faz Cole:

 

"O véu separava um terço da área do Tabernáculo. A tenda era pequena (digamos 15 metros por 5 metros) comparada a qualquer templo moderno. Além disso, não possuía aberturas para ventilação e era escura, a não ser pela luz do candelabro de ouro e a pouca luz que acidentalmente ali penetrava quando o reposteiro que ficava sobre a porta da tenda era levantado para permitir a entrada dos sacerdotes. O candelabro ficava no "santo lugar’’: o santo dos santos ficava absolutamente às escuras, por detrás do espesso véu. Todavia, a escuridão e o frescor do interior do Tabernáculo seriam um grande alívio depois do ofuscante calor do deserto (observe quantas vezes a "sombra" de YHWH é mencionada como um símbolo de refrigério e salvação, por exemplo, Sl 17:8) e sua extrema escuridão, a partir do Sinai, passou a ser um símbolo apropriado para Deus (1 Rs 8:12).(2)

 

2. Esta cortina deveria confeccionada em linho fino torcido, nas cores azul, purpura e carmesim, v. 31, "Farás também um véu de azul, púrpura, carmesim, e linho fino torcido; com querubins, obra de artífice, se fará". Era sustentado por quatro colunas de madeira, apoiadas em bases de ouro. Era prendido por colchetes também de ouro, com bases de prata, v. 32, "e o suspenderás sobre quatro colunas de madeira de acácia, cobertas de ouro; seus colchetes serão de ouro, sobre quatro bases de prata".

3. Em relação às dimensões desta cortina interior que dividia o Lugar Santo do Lugar Santíssimo, não podemos precisar com exatidão. É possível que "...no tabernáculo o Véu tinha apenas 4,6 metros de altura".(3)

 

II. SIMBOLISMOS

 

1. Certamente o primeiro símbolo que podemos destacar aqui é o fato de Deus não pode conviver com o pecado do homem. Observe que somente o sumo-sacerdote (um tipo de Cristo) podia romper para além do Véu e adentrar o Lugar Santíssimo, e isso somente uma vez por ano, no dia da expiação quando ele oferecia o sacrifício por si mesmo e pelos pecados do povo, Hb 9.7, "...mas na segunda só o sumo sacerdote, uma vez por ano, não sem sangue, o qual ele oferece por si mesmo e pelos erros do povo". Sobre isto comenta Barrow:

 

"A entrada era proibida para todos, exceto para um, o sumo sacerdote, e o seu acesso não era livre, pois ele só poderia entrar uma vez por ano, no Dia da Expiação, quando ele trazia o sangue do bode sacrificado para espargir sobre a tampa (o Propiciatório) da Arca da Aliança".(4)

 

Com certeza podemos afirmar que por causa do pecado, o homem comum não podia aproximar-se de Deus, a não ser através de um intercessor devidamente credenciado e isto devido ao Seu caráter santo!

2. Como esta aproximação somente era possível através dos sacrifícios de animais e mediante um intercessor, Deus instituiu o sacerdócio através da família de Arão. Os sacerdotes passaram a ser então, os representantes do povo diante de Deus. Porém através do sacrifício de Cristo, os sacerdotes da velha aliança, foram destituídos. Na Nova Aliança, mediante o sacrifício único do Filho de Deus, todo homem nascido de novo, regenerado, pode adentrar o Lugar Santíssimo, Hb 10.19-20, "19 Tendo pois, irmãos, ousadia para entrarmos no santíssimo lugar, pelo sangue de Jesus, 20 pelo caminho que ele nos inaugurou, caminho novo e vivo, através do véu, isto é, da sua carne". Veja o comentário de Barrow:

 

"O Véu nos faz lembrar de que estamos excluídos porque "todos pecarem e destituídos estão da glória de Deus" (Romanos 3:23). Entretanto, como o Cordeiro Pascal foi morto para a redenção dos filhos de Israel no Egito, e o bode era morto a fim de que seu sangue pudesse obter o perdão de Deus para os Israelitas no Dia da Expiação, assim Jesus levou "em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1 Pedro 2:24). Enquanto Jesus foi estava pendurado na cruz, Deus "fez cair sobre Ele as iniqüidades (os erros) de nós todos"(Isaías 53:6). O sofrimento final da morte veio quando Jesus clamou: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" (Mateus 27:46). Logo depois, "Jesus, clamando outra vez com grande voz, rendeu o espírito" (Mateus 27:50). Ele disse "Está consumado!" (João 19:30). Ele morreu".(5)

 

3. Algo que nos chama a atenção é que por ocasião da morte de Cristo, ocorreram alguns fatos dignos de nota: A terra tremeu, as pedras se fenderam, sepulcros foram abertos e pasmem! "...o véu se rompeu de alto a baixo", Mt 27.51-53, "51 E eis que o véu do santuário se rasgou em dois, de alto a baixo; a terra tremeu, as pedras se fenderam, 52 os sepulcros se abriram, e muitos corpos de santos que tinham dormido foram ressuscitados; 53 e, saindo dos sepulcros, depois da ressurreição dele, entraram na cidade santa, e apareceram a muitos". Como ele foi rompido "de alto a baixo", isso nos sugere que foi Deus quem o rompeu, e somente um poder miraculoso poderia ter atuado para que tal fato acontecesse. Sobre o rompimento do véu nos lembra Champlin:

 

"Se confiamos em Deus e cremos em seu poder, por que haveríamos de duvidar de determinadas ocorrências físicas, havidas quando da morte de Cristo? Ele era Filho de Deus em sentido todo especial. A natureza protestou contra a iniqüidade dos homens, e esse protesto chegou até o interior do próprio templo. O véu do templo era extremamente espesso e resistente. Tinha a largura de uma mão de espessura, tecido com setenta e duas dobras torcidas, cada dobra feita com vinte e dois fios. Media cerca de dezoito metros de altura por nove de largura. Seria mister uma força poderosíssima para conseguir tal prodígio".(6)

 

4. A palavra de Deus nos mostra que junto à cruz do Senhor estava um centurião romano que pode testemunhar a ruptura do Véu, Mt 27.54, "...ora, o centurião e os que com ele guardavam Jesus, vendo o terremoto e as coisas que aconteciam, tiveram grande temor, e disseram: Verdadeiramente este era filho de Deus". Tal fato nos sugere que agora também não somente o povo judeu tinha acesso à graça de Deus, mas também os gentios, foram beneficiados. "Isto mostra que esse pecador gentio também podia olhar diretamente no Santo dos Santos. Este quadro demonstra que agora é possível, baseado na fé na morte de Jesus pelos nossos pecados, entrar na presença de Deus como pessoas justificadas e perdoadas (Romanos 5:1-2)".(7) Como a maioria dos judeus rejeitou o Filho de Deus, tal fato alargou ainda mais o porta para entrada dos gentios. No dizer de João, "11 Veio para o que era seu, e os seus não o receberam. 12 Mas, a todos quantos o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus", Jo 1.11-12. Diante da rejeição judaica, note o que apóstolo Paulo disse certa ocasião em Corinto: "Como estes, porém, se opusessem e proferissem injúrias, sacudiu ele as vestes e disse-lhes: O vosso sangue seja sobre a vossa cabeça; eu estou limpo, e desde agora vou para os gentios", At 18.6.

5. Finalmente, como já vimos, Hebreus 10.19-22 nos mostra que um novo caminho para Deus foi aberto com ruptura do Véu. Não há mais distinção entre o sumo-sacerdote e os demais homens! Não há mais intermediários! Todos agora, judeus, gentios, mulheres, etc., mediante o sangue derramado do Filho de Deus, podem chegar à presença do Todo-Poderoso e chamá-Lo de "Pai", sem quaisquer restrições. Pelo contrário o escritor da carta nos fala que podemos entrar na presença de Deus com ousadia, v. 19. Observe o comentário de Mesquita:

 

"Separando o lugar santíssimo do lugar santo, estava o véu de grande espessura de modo a não permitir que o sacerdote, oficiando durante o ano, olhasse para dentro do Santíssimo e morresse. Deus não pode ser visto pelos homens; portanto, o lugar em que Ele declarou que moraria não podia ser visto por ninguém. Era a sua casa. Foi este véu que se rasgou de alto a baixo quando Jesus morreu. Agora todos podiam olhar para dentro do véu, porque o sumo sacerdote, Cristo, tinha aberto o caminho e tornado possível o acesso a Deus para todos os pecadores".(8)

 

Ainda sobre esta ruptura do véu e o acesso direto à presença de Deus nos esclarece Barrow:

 

"Como Hebreus 10:19-22 mostra, o caminho para o Santo dos Santos foi aberto para nós através do Véu da carne de Jesus sendo rasgado na cruz. Há um "novo" (literalmente "recém morto") e "vivo" caminho pelo qual entrarmos. O Senhor Jesus Cristo não é apenas o nosso sacrifício "recém morto"; Ele é também Aquele que vive (Lucas 24:5; Apocalipse 1:18), que ressuscitou da morte e subiu ao céu, nosso Sumo Sacerdote, com os nossos nomes em Seu coração (o Peitoral) e ombros (as Pedras nos ombros), entrando no Santo dos Santos onde a presença de Deus está sobre a Arca da Aliança! Que encorajamento! Vamos nos aproximar a Deus no Santo dos Santos, com um coração purificado e com plena certeza de fé! Vamos falar a outras pessoas a respeito disso! (Hebreus 10:23)! Vamos nos estimular uns aos outros a amar o Senhor muito mais! (Hebreus 10:24)! Vamos nos reunir com corações cheios de louvor e alegria (Hebreus 10:25), enquanto Ele nos dirige nos hinos de louvor a Deus Pai (Hebreus 2:12), Seu Pai e nosso Pai! (João 20:17)".(9)

 

BIBLIOGRAFIA:

 

BARROW, Martyn. Artigo "O Véu". http://www.domini.org/tabern. martyn@domini.org. Tradução: Pastor Eduardo Alves Cadete (05/01). Revisão: Joy Ellaina Gardner (02/02). Calvin G. Gardner 03/02.

BÍBLIA ONLINE. Sociedade Bíblica do Brasil. Versão 2.01. 1999.

COLE, Alan, Ph.D. Êxodo, Introdução e Comentário. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova. São Paulo, 1963.

CHAMPLIN, Russel Norman. O Novo Testamento Interpretado. A Sociedade Religiosa A VOZ BÍBLICA. Guaratingetá-SP. Vol. I.

MESQUITA, Antônio Neves de, Dr. em Teologia. Estudo do Livro de Êxodo. Casa Publicadora Batista. Rio de Janeiro-RJ. 1971.

SHEED, Russel. O Novo Comentário da Bíblia. Edições Vida Nova. São Paulo. Vol. I, págs. 143-154.

SHEED, Russel. O Novo Dicionário da Bíblia. Edições Vida Nova. São Paulo. Vol. III, págs. 1553-1557.

 

NOTAS:

 

(1) SHEED, Russel. O Novo Comentário da Bíblia. Edições Vida Nova. São Paulo. Vol. I, pág. 145.

(2) COLE, Alan, Ph.D. Êxodo, Introdução e Comentário. Sociedade Religiosa Edições Vida Nova. São Paulo, 1963. Pág. 189.

(3) BARROW, Martyn. Artigo "O Véu". http://www.domini.org/tabern. martyn@domini.org. Tradução: Pastor Eduardo Alves Cadete (05/01). Revisão: Joy Ellaina Gardner (02/02). Calvin G. Gardner 03/02.

(4) Id. Ibid.

(5) Id. Ibid.

(6) CHAMPLIN, Russel Norman. O Novo Testamento Interpretado. A Sociedade Religiosa A VOZ BÍBLICA. Guaratingetá-SP. Vol. I, pág. 638.

(7) BARROW, Martyn. op. cit.

(8) MESQUITA, Antônio Neves de, Dr. em Teologia. Estudo do Livro de Êxodo. Casa Publicadora Batista. Rio de Janeiro-RJ. 1971. Págs. 260-261.

(9) BARROW, op. cit