Dwight Lyman Moody
(1837 - 1899)
Autoria Desconhecida
Pr. José
Antônio Corrêa
Tudo
aconteceu durante uma das famosas campanhas de Moody e Sankey para salvar
almas. A noite de uma segunda-feira tinha sido reservada para um discurso dirigido
aos materialistas. Carlos Bradlaugh, campeão do ceticismo, então no zênite da
fama, ordenou que todos os membros dos clubes que fundara assistissem à
reunião. Assim, cerca de 5.000 homens, resolvidos a dominar o culto, entraram e
ocuparam todos os bancos.
Moody
pregou sobre o texto: "A
rocha deles não é como a nossa Rocha, sendo os nossos próprios inimigos os juízes"
(Deuteronômio 32: 31).
"Com
uma rajada de incidentes pertinentes e comoventes das suas experiências com
pessoas presas ao leito de morte, Moody deixou que os homens julgassem por si
mesmo quem tinha melhor alicerce sobre o qual deviam basear sua fé e esperança.
Sem querer, muitos dos assistentes tinham lágrimas nos olhos. A grande massa de
homens demonstrando o mais negro e determinado desafio a Deus estampado nos
seus rostos, encarou o contínuo ataque de Moody aos pontos mais vulneráveis,
isto é, o coração e o lar.
"Ao
findar, Moody disse: 'Levantemo-nos
para cantar: Oh! vinde vós aflitos! e, enquanto o fazemos, os porteiros abram
todas as portas para que possam sair todos os que quiserem. Depois faremos o
culto, como de costume, para aqueles que desejam aceitar o Salvador'.
Uma das pessoas que assistiu a esse culto, disse: 'Eu esperava que todos saíssem
imediatamente, deixando o prédio vazio. Mas a grande massa de cinco mil homens
se levantou, cantou e assentou-se de novo; nenhum deles deixou seu assento!'"
"Moody,
então disse: 'Quero
explicar quatro palavras: Recebei, crede, confiai, aceitai'. Um
grande sorriso passou de um a outro em todo aquele mar de rostos. Depois de
falar um pouco sobre a palavra recebei,
fez um apelo: 'Quem quer
recebê-lo? É somente dizer: 'Quero'. Cerca de cinquenta dos que
estavam em pé e encostado às paredes, responderam: 'Quero', mas nenhum dos
que estavam sentados. Um homem exclamou: 'Não posso'. Moody então replicou: 'Falou bem e com razão, amigo; foi bom
ter falado. Escute e depois poderá dizer: 'Eu posso'. Moody
então explicou o sentido da palavra crer
e fez o segundo apelo: 'Quem
dirá: Quero crer nele?' De novo alguns dos homens que estavam
em pé responderam, aceitando, mas um dos chefes dirigente dum clube, bradou: 'Eu não quero!' Moody,
vencido pela ternura e compaixão, respondeu com voz quebrantada: 'Todos os homens que estão aqui esta
noite têm de dizer: Eu quero ou Eu não quero'".
"Então,
levou todos a considerarem a história do Filho
Pródigo, dizendo: 'A
batalha é sobre o querer - só sobre o querer. Quando o Filho Pródigo disse:
Levantar-me-ei a luta foi ganha, porque alcançara o domínio sobre a sua própria
vontade. É com referência a este ponto que depende de tudo hoje. Senhores,
tendes aí em vosso meio o vosso campeão, o amigo que disse: Eu não quero.
Desejo que todos aqui, que acreditam que esse campeão tem razão, levantem-se e
sigam o seu exemplo, dizendo: Eu não quero'. Todos ficaram
quietos e houve silêncio até que, por fim, Moody interrompeu, dizendo: 'Graças a Deus! Ninguém disse: Eu não
quero. Agora quem dirá: Eu quero? Instantaneamente parece que o
Espírito Santo tomou conta do grande auditório de inimigos de Jesus Cristo, e
cerca de quinhentos homens puseram-se de pé, as lágrimas rolando pelas faces e
gritando: 'Eu quero! Eu
quero!' Clamando até que todo o ambiente se transformou. A
batalha foi ganha".
"O
culto terminou sem demora, para que se começasse a obra entre aqueles que
estavam desejosos de salvação. Em oito dias, cerca de dois mil foram
transferidos das fileiras do inimigo para o exército do Senhor, pela rendição
da vontade. Os anos que se seguiram provaram a firmeza da obra, pois os clubes
nunca mais se ergueram. Deus, na sua misericórdia e poder, os aniquilou por seu
Evangelho".
Um
total de quinhentas mil preciosas almas ganhas para Cristo, é o cálculo da
colheita que Deus fez por intermédio de seu humilde servo, Dwight Lyman Moody.
R. A. Torrey, que o conheceu intimamente, considerava-o, com razão, o maior
homem do século XIX, isto é, o homem mais usado por Deus para ganhar almas.
Que
ninguém julgue, contudo, que D. L. Moody era grande em si mesmo ou que tinha
oportunidades que os demais não têm. Seus antepassados eram apenas lavradores
que viveram por sete gerações, ou duzentos anos, no vale do Connecticut, nos
Estados Unidos. Dwight nasceu a 5 de fevereiro de 1837, de pais pobres, o sexto
entre nove filhos. Quando era ainda pequeno, seu pai faleceu e os credores
tomaram conta do que ficou, deixando a família destituída de tudo, até da lenha
para aquecer a casa em tempo de intenso frio.
Não
há história que comova e inspire tanto quanto a daqueles anos de luta da viúva,
mãe de Dwight. Poucos meses depois da morte de seu marido, nasceram-lhe gêmeos
e o filho mais velho tinha apenas doze anos. O conselho de todos os parentes
foi que ela entregasse os filhos para outros criarem. Mas com invencível
coragem e santa dedicação a seus filhos, ela conseguiu criar todos os nove
filhos no próprio lar. Guarda-se ainda, como tesouro precioso, sua Bíblia com
as palavras de Jeremias 49:11 sublinhadas: "Deixa os teus órfãos, eu os
conservarei em vida; e confiem em mim tuas viúvas".
-
"Pode-se esperar outra coisa a não ser que os filhos ficassem ligados à
mãe e que crescessem para se tornarem homens e mulheres que conhecessem o mesmo
Deus que ela conhecia?"- Assim se expressou Dwight, ao lado do ataúde
quando ela faleceu com a idade de noventa anos: - "Se posso conter-me, quero dizer
algumas palavras. É grande honra ser filho de uma mãe como ela. Já viajei
muito, mas nunca encontrei alguém como ela. Ligava a si seus filhos de tal
maneira que representava um grande sacrifício para qualquer deles afastar-se do
lar. Durante o primeiro ano depois que o meu pai faleceu, ela adormecia todas
as noites chorando. Contudo, estava sempre alegre e animada na presença dos
filhos. As saudades serviam para chegá-la mais perto de Deus. Muitas vezes eu
me acordava e ela estava orando, às vezes, chorando. Não posso expressar a
metade do que desejo dizer. Aquele rosto, como é querido! Durante cinquenta
anos não senti gozo maior do que o gozo de voltar a casa. Quando estava ainda a
setenta e cinco quilômetros de distância, já me sentia tão inquieto e desejoso
de chegar que me levantava do assento para passear pelo carro até o trem chegar
à estação... Se chegava depois de anoitecer, sempre olhava para ver a luz na
janela da minha mãe. Senti-me tão feliz esta vez por chegar a tempo de ela
ainda me reconhecer! Perguntei-lhe: - 'Mãe, me reconhece? Ela respondeu: -
'Ora, se eu te reconheço! 'Aqui está a sua Bíblia, assim gasta, porque é a
Bíblia do lar; tudo que ela tinha de bom veio deste Livro e foi dele que nos
ensinou. Se minha mãe foi uma bênção para o mundo é porque bebia desta fonte. A
luz da viúva brilhou do outeiro durante cinquenta anos. Que Deus a abençoe,
mãe; ainda a amamos! Adeus, por um pouco, mãe!"
Todos
os filhos da viúva Moody assistiam aos cultos nos domingos; levavam merenda
para passar o dia inteiro na igreja. Tinham de ouvir dois prolongados sermões
e, no intervalo, assistir à Escola Dominical. Dwight, depois de trabalhar a
semana inteira, achava que sua mãe exigia demais obrigando-o a assistir aos
sermões, os quais não compreendia. Mas, por fim, chegou a ser agradecido a essa
boa mãe pela dedicação nesse sentido.
Com
a idade de dezessete anos, Moody saiu de casa para trabalhar na cidade de
Boston, onde achou emprego na sapataria de um tio seu. Continuou a assistir aos
cultos, mas ainda não era salvo.
Notai
bem, os que vos dedicais à obra de ganhar almas: não foi num culto que Dwight
Moody foi levado ao Salvador. Seu professor da Escola Dominical, Eduardo
Kimball, conta: "Resolvi
falar-lhe acerca de Cristo e de sua alma. Vacilei um pouco em entrar na
sapataria, não queria embaraçar o moço durante as horas de serviço. Por fim,
entrei, resolvido a falar sem mais demora. Achei Moody nos fundos da loja,
embrulhando calçados. Aproximei-me logo dele e, colocando a mão sobre seu
ombro, fiz o que depois parecia ser um apelo fraco, um convite para aceitar a
Cristo. Não me lembro do que eu disse, nem mesmo Moody podia lembrar-se alguns
anos depois. Simplesmente falei do amor de Cristo para com ele, e o amor que
Cristo esperava dele, de volta. Parecia-me que o moço estava pronto para
receber a luz que o iluminou naquele momento e, lá nos fundos da sapataria,
entregou-se a Cristo".
Era
costume das igrejas daquela época, alugarem os assentos. Moody, logo depois da
sua conversão, transbordando de amor para com o seu Salvador, pagou aluguel de
um banco, percorrendo as ruas, hotéis e casas de pensão solicitando homens e
meninos para enchê-lo em todos os cultos. Depois alugou mais um, depois outro,
até conseguir encher quatro bancos, todos os domingos. Mas isso não era
suficiente para satisfazer o amor que sentia para com os perdidos. Certo
domingo visitou uma Escola Dominical em outra rua. Pediu permissão para ensinar
também uma classe. O dirigente respondeu: "Há doze professores e dezesseis alunos, porém o senhor
pode ensinar todos os alunos que conseguir trazer à escola".
Foi grande a surpresa de todos quando Moody, no domingo seguinte, entrou com
dezoito meninos da rua, sem chapéu, descalços e de roupa suja e esfarrapada,
mas, como ele disse: "Todos
com uma alma para ser salva". Continuou a levar cada vez
mais alunos à Escola até que, alguns domingos depois, no prédio não cabiam
mais; então resolveu abrir outra escola em outra parte da cidade. Moody não
ensinava, mas arranjava professores, providenciava o pagamento do aluguel e de
outras despesas. Em poucos meses essa escola
veio a ser a maior da cidade de Chicago. Não julgando conveniente pagar outros
para trabalhar no domingo, Moody, cedo, pela manhã, tirava as pipas de cerveja
(outros ocupavam o prédio durante a semana), varria e preparava tudo para o
funcionamento da escola. Depois, então, saía par convidar alunos. Às duas
horas, quando voltava de fazer os convites, achava o prédio repleto de alunos.
Depois
de findar a escola, ele visitava os ausentes e convidava todos para estarem a
pregação, à noite. No apelo, após o sermão, todos os interessados era
convidados a ficar para um culto especial, no qual tratavam individualmente com
todos. Moody também participava nessa colheita de almas.
Antes
de findar o ano, 600 alunos, em média, assistiam à Escola Dominical, divididos
em 80 classes. A seguir a assistência subia a 1.000 e, as às vezes, a 1.500.
Ao
mesmo tempo que Moody se aplicava à Escola Dominical com tais resultados,
esforçava-se, também, no comércio todos os dias. O grande alvo da sua vida era
vir a ser um dos principais comerciantes do mundo, um multimilionário. Não
tinha mais de 23 anos é já tinha ajuntado 7.000 dólares! Mas seu Salvador tinha
um plano ainda mais nobre para seu servo.
Certo
dia, um dos professores da Escola Dominical entrou na sapataria onde Moody
negociava. Informou-o de que estava tuberculoso e que, desenganado pelos
médicos, resolvera voltar para Nova Iorque e aguardar a morte. Confessou-se
muito perturbado, não porque tinha de morrer, mas porque até então não
conseguira levar ao Salvador nenhuma das moças da sua classe da Escola
Dominical. Moody, profundamente comovido, sugeriu que visitassem juntos as
moças em suas casas, uma por uma. Visitaram uma, o professor falou-lhe
seriamente acerca da salvação da sua alma. A moça deixou seu espírito leviano e
começou a chorar, entregando-se ao seu Salvador. Todas as outras moças que
foram visitadas naquele dia fizeram o mesmo.
Passados
dez dias, o professor foi novamente à sapataria. Com grande gozo informou a
Moody que todas as moças se haviam entregado a Cristo. Resolveram então
convidar todas para um culto de oração e despedida na véspera da partida do
professor para Nova Iorque. Todos se ajoelharam e Moody, depois de fazer uma
oração, estava para se levantar quando uma das moças começou, também, a orar.
Todos oraram suplicando a Deus em favor do professor. Ao sair Moody suplicou:
"Ó Deus, permite-me
morrer antes de perder a bênção que recebi hoje aqui!"
Moody,
mais tarde, confessou: "Eu
não sabia o preço que tinha de pagar, como resultado de haver participado na
evangelização individual das moças. Perdi todo o jeito de negociar; não tinha
mais interesse no comércio. Experimentara um outro mundo e não mais queria
ganhar dinheiro...Oh! delícia, a de levar uma alma das trevas desde mundo à
gloriosa luz e liberdade do Evangelho!"
Então,
não muito depois de casar-se, com a idade de vinte e quatro anos, Moody deixou
um bom emprego com salário de cinco mil dólares por ano, um salário fabuloso
naquele tempo, para trabalhar todos os dias no serviço de Cristo, sem ter
promessa de receber um único cêntimo. Depois de tomar essa resolução,
apressou-se em ir à firma B. F. Jacobs & Cia., onde, muito comovido,
anunciou: - "Já
resolvi empregar todo o meu tempo no serviço de Deus!" -
"Como vai manter-se?"
- "Ora, Deus me
suprirá de tudo se Ele quiser que eu continue; e continuarei até ser obrigado a
desistir".
A
parte da biografia de D. L. Moody que trata dos primeiros anos do seu
ministério está repleta de proezas feitas na carne. Mencionamos aqui apenas
uma, isto é, o fato de Moody fazer 200 visitas em um só dia. Ele mesmo mais
tarde se referia àqueles anos como uma manifestação do "zelo de Deus, mas sem entendimento",
acrescentando: "Há,
contudo muito mais esperança para o homem com zelo e sem entendimento do que
para o homem de entendimento sem zelo".
Rompeu
a tremenda Guerra Civil e Moody chegou com os primeiros soldados ao acampamento
militar onde armou uma grande tenda para os cultos. Depois ajuntou dinheiro e
levantou um templo onde dirigiu 1.500 cultos durante a guerra. Uma pessoa que o
conhecia assim comentou sua ação: "Moody
precisava estar constantemente em todos os lugares, dia e noite, nos domingos e
todos os dias da semana; orando, exortando, tratando com os soldados acerca das
suas almas, regozijando-se nas oportunidades abundantes de trabalhar no grande
fruto ao seu alcance por causa da guerra".
Depois
de findar a guerra, dirigiu uma campanha para levantar em Chicago um prédio
para os cultos, com capacidade para três mil pessoas. Quando, mais tarde esse
edifício foi destruído por um incêndio, ele e dois outros iniciaram outra
campanha, antes de os escombros haverem esfriados, para levantar novo edifício.
Trata-se do Farwell Hall
II, que se tornou um grande centro religioso em Chicago. O
segredo desse êxito foram os cultos de oração que se realizavam diariamente, ao
meio-dia, precedidos por uma hora de oração de Moody, escondido no vão debaixo
da escada .
No
meio desses grandes esforços, Moody resolveu, inesperadamente, fazer uma visita
à Inglaterra.
Em
Londres, antes de tudo, foi ouvir Spurgeon pregar no Metropolitan Tabernacle.
Já tinha lido muito do que "o
príncipe dos pregadores" escrevera, mas ali pôde verificar
que a grande obra não era de Spurgeon, mas de Deus, e saiu de lá com uma outra
visão.
Visitou
Jorge Müller e o orfanato em Bristol. Desde aquele tempo a Autobiografia de
Müller exerceu tanta influência sobre ele como já o tinha feito "O Peregrino", de
Bunyan.
Entretanto,
nessa viagem, o que levou Moody a buscar definitivamente uma experiência mais
profunda com Cristo, foram estas palavras proferidas por um grande ganhador de
almas de Dubim, Henrique Varley: "O
mundo ainda não viu o que Deus fará com, para, e pelo homem inteiramente a Ele
entregue". Moody disse consigo mesmo: "Ele não disse por um grande homem, nem
por um sábio, nem por um rico, nem por um eloquente, nem por um inteligente,
mas simplesmente por um homem. Eu sou um homem, e cabe ao homem mesmo resolver
se deseja ou não consagrar-se assim. Estou resolvido a fazer todo o possível
para ser esse homem". Apesar de tudo isso, Moody, depois
de voltar à América, continuava a se esforçar e a empregar métodos naturais.
Foi nessa época que a cidade de Chicago foi reduzida a cinzas no pavoroso
incêndio de 1871.
Na
noite do início do pavoroso incêndio, Moody pregou sobre este tema: - "Que farei, então de Jesus, chamado
Cristo? Ao concluir ser sermão, ele disse ao auditório, o maior
a que pregara em Chicago: "Quero
que leveis esse texto para casa e nele meditais bem durante a semana e no
domingo vindouro iremos ao Calvário e à cruz e resolveremos o que faremos de
Jesus de Nasaré".
-
"Como errei!"
Disse Moody, depois. – "Não me atrevo mais a conceder uma semana de prazo
ao perdido para decidir sobre a salvação. Se se perderem serão capazes de se
levantar contra mim no juízo. Lembro-me bem de como Sankey cantou e como sua
voz soou quando chegou a estrofe de apelo: "O Salvador chama para o refúgio. Rompe
a tempestade e breve vem a morte".
"Nunca mais vi aquele auditório. Ainda
hoje desejo chorar... Prefiro ter a mão direita decepada, a conceder ao
auditório uma semana para decidir o que fará de Jesus. Muitos me censuram
dizendo: - "Moody, o senhor quer que o povo se decida imediatamente. Por
que não lhe dá tempo para consultar?"
"Tenho pedido a Deus muitas vezes que
me perdoe por ter dito naquela noite que podiam passar oito dias para
considerar, e se Ele poupar minha vida não farei de novo".
O
grande incêndio rugiu e ameaçou durante quatro dias; consumindo Farwell Hall, o
templo de Moody e a sua própria residência. Os membros da igreja foram todos
dispersos. Moody reconheceu que a mão de Deus o castigara para o ensinar, e
isso tornou-se para ele motivo de grande regozijo.
Foi
a Nova Iorque, a fim de granjear dinheiro para os flagelados do grande
incêndio. Acerca do que se passou, ele mesmo escreveu: "Não sentia o desejo no coração de
solicitar dinheiro. Todo o tempo eu clamava a Deus pedindo que me enchesse do
seu Espírito. Então, certo dia, na cidade de Nova Iorque - Ah! que dia! Não
posso descrevê-lo, nem quero falar no assunto; é experiência quase sagrada
demais para ser mencionada. O apóstolo Paulo teve uma experiência acerca da
qual não falou por catorze anos. Posso apenas dizer que Deus se revelou a mim e
tive uma experiência tão grande do seu amor que tive de rogar-lhe que retirasse
de mim sua mão. Não quero voltar para viver de novo como vivi outrora nem que
eu pudesse possuir o mundo inteiro".
Acerca
dessa experiência, um de seus biógrafos acrescentou: "O Moody que andava na rua parecia
outro. Nunca jamais bebera mosto, mas então conhecia a
diferença entre o júbilo que Deus dá e o falso júbilo de Satanás. Enquanto andava,
parecia-lhe que um pé dizia a cada passo, 'Glória!' e o outro respondia,
'Aleluia!'. O pregador rompeu em soluços, balbuciando: 'Ó Deus, constrange-nos andar perto de
ti para todo o sempre'".
O
Senhor supriu dinheiro para Moody construir um edifício provisório para
realizar os cultos em Chicago. Era de madeira rústica, forrada de papel grosso
para evitar o frio; o teto era sustentado por fileiras de estacas colocadas no
centro. Nessa templo provisório realizaram-se os cultos durante três anos, no
meio dum deserto de cinzas. A maior parte do trabalho de construção fora feita
pelos membros que moravam em ranchos ou mesmos em lugares escavados por debaixo
das calçadas das ruas. Ao primeiro culto assistiram mais de mil crianças com
seus respectivos pais !
Esse
templo provisório serviu de morada para Moody e Sankey, seu evangelista-cantor;
eram tão pobres como os outros em redor, mas tão cheios de esperança e gozo que
conseguiram levar muitos a Cristo e se tornaram ricos, apesar de nada
possuírem. Onda após onda de avivamento passou sobre o povo. Os cultos
continuavam dia e noite, quase sem cessar, durante alguns meses. Multidões
choravam seus pecados, às vezes dias inteiros e no dia seguinte, perdoados,
clamavam e louvavam em gratidão a Deus. Homens e mulheres até então desanimados
participavam do gozo transbordante de Moody, transformado pelo batismo com o Espírito Santo.
Não
muito depois de haver construído o templo permanente (com assentos para 2.000
pessoas - e sem endividar-se), Moody fez a sua segunda viagem à Inglaterra. Nos
seus primeiros cultos nesse país, encontrou igrejas frias, com pouca
assistência e o povo sem interesse nas suas mensagens. Mas a unção do Espírito,
que Moody recebera nas ruas de Nova Iorque, ainda permanecia na sua alma e Deus
o usou como seu instrumento para um avivamento mundial .
Não
desejava métodos sensacionais, mas usou os mesmos métodos humildes até o fim da
vida: sermão dirigido direto aos ouvintes; aplicação prática da mensagem do
Evangelho à necessidade individual; solos cantados sob a unção do Espírito;
apelo para que o perdido se entregasse imediatamente; uma sala no lado aonde
levava os que se achavam em "dificuldades" em aceitar a Cristo; a
obra que depois os salvos faziam entre os "interessados" e recém-convertidos; diariamente
uma hora de oração ao meio-dia, e cultos que duravam dias inteiros.
Na
Inglaterra, as cidades de York, Senderland, Bishop, Auckland, Carlisle e
Newcastle foram vivificadas como nos dias de Whitefield e Wesley. Na Escócia,
em Edimburgh, os cultos se realizaram no maior edifício e "a cidade inteira ficou comovida".
Em Glasgow, a obra começou com uma reunião de professores da Escola Dominical,
a que assistiram mais de 3.000. O culto de noite foi anunciado para às 6:30,
mas muito antes da hora marcada, o grande edifício ficou repleto e a multidão
que não pôde entrar foi levado para as quatro igrejas mais próximas. Essa série
de cultos transformou radicalmente a vida diária do povo. Na última noite
Sankey cantou para 7.000 pessoas que estavam dentro do edifício, e Moody, sem
poder entrar no auditório, subiu numa carruagem e pregou a 20 mil pessoas que
se achavam congregadas do lado de fora. O coral cantou os hinos de cima dum
galpão. Em um só dia mais de 2.000 pessoas responderam ao apelo para se entregarem
definitivamente a Cristo.
Na
Irlanda, Moody pregou nos maiores centros com os mesmos resultados, como na
Inglaterra e Escócia. Os cultos em Belfast continuaram durante quarenta dias. O
último culto foi reservado para os recém-convertidos, que só podiam ter
ingresso por meio de bilhetes, concedidos gratuitamente. Assistiram 2.300
pessoas. Belfast fora o centro de vários avivamentos, mas todos concordam em
que nunca houvera um avivamento antes desse, de resultados tão permanentes.
Depois
da campanha na Irlanda, Moody e Sankey voltaram à Inglaterra e dirigiram cultos
inesquecíveis em Shefield, Manchester, Birgmingham e Liverpool. Durante muitos
meses, os maiores edifícios dessas cidades ficaram superlotados de multidões
desejosas de ouvirem a apresentação clara e ousada do Evangelho por um homem
livre de todo o interesse e ostentação. O poder do Espírito se manifestou em
todos os cultos produzindo resultados que permanecem até hoje.
O
itinerário de Moody e Sankey na Europa, findou-se após quatro meses de cultos
em Londres. Moody pregava alternadamente em quatro centros. Os seguintes
algarismos nos servem para compreender algo da grandeza dessa obra durante os
quatro meses: Realizaram-se 60 cultos em Agricultural Hall, aos quais um total
de 720.000 pessoas assistiram; em Bow Road Hall, 60 cultos, aos quais 600.000
pessoas assistiram; em Camberwell Hall, 60 cultos, com assistência de 480.000;
Haymarket Opera House, 60 cultos, 330.000; Vitória Hall, 45 cultos, 400.000
assistentes.
Quando
Moody saiu dos Estados Unidos em 1873, era conhecido apenas em alguns Estados e
tinha fama, apenas como obreiro da Escola Dominical e da Associação Cristã de
Moços. Mas quando voltou da campanha na Inglaterra em 1875, era conhecido como
o mais famoso pregador do mundo. Contudo continuou o mesmo humilde servo de
Deus. Foi assim que uma pessoa que o conhecia intimamente descreve sua
personalidade: "Creio
que era a pessoa mais humilde que jamais conheci... Ele não fingia humildade.
No íntimo do seu coração rebaixava-se a si mesmo e superestimava os outros. Ele
engrandecia outros homens, e, sempre que possível arranjava para que eles
pregassem. Fazia tudo para não aparecer".
Ao
chegar novamente aos Estados Unidos, Moody recebeu convites, para pregar, de
todas as partes do País. Sua primeira campanha (em Brooklyn) foi um modelo para
todas as outras. As denominações cooperavam; alugaram um prédio que comportava
3.000 pessoas. O resultado foi uma grande e permanente obra.
Nas
suas campanhas havia ocasiões que eram realmente dramáticas. Em Chicago, o
Circo Forepaugh, com uma tenda de lona que tinha assentos para 10.000 pessoas e
lugares para outras 10.000 em pé, anunciou representações para dois domingos.
Moody alugou a tenda para os cultos de manhã, os donos resolveram não fazer
sessão no segundo domingo. Entretanto, o culto realizou-se sob a lona no
segundo domingo, o calor era tanto que dava a impressão de matar a todos, porém
18.000 pessoas ficaram em pé, banhados em suor e esquecidos do calor. No
silêncio que reinava durante a pregação de Moody, o poder desceu e centenas
foram salvos.
O
doutor Dale disse: "Acerca
do poder de Moody, acho difícil falar. É tão real e ao mesmo tempo tão
diferente do poder dos demais pregadores, que não sei descrevê-lo. Sua
realidade é inegável. Um homem que pode cativar o interesse de um auditório de
três a seis mil pessoas, por meia hora, de manhã, por quarenta minutos, de
novo, ao meio-dia e de um terceiro auditório, de
Acerca
desse poder maravilhoso, Torrey testificou: "Várias vezes tenho ouvido diversas
pessoas dizerem que viajaram grandes distâncias para ver e ouvir D. L. Moody, e
que ele, de fato, é um maravilhoso pregador. Sim, ele era em verdade o mais
maravilhoso que eu jamais ouvi; era grande o privilégio de ouvi-lo pregar, como
só ele sabia pregar. Contudo, conhecendo-o intimamente, quero testificar que
Moody era maior como intercessor do que como pregador. Enfrentando obstáculos
aparentemente invencíveis, ele sabia vencer todas as dificuldades. Sabia, e
cria no mais profundo de sua alma, que não havia nada demasiadamente difícil
para Deus fazer, e que a oração podia conseguir tudo que Deus pudesse realizar".
Apesar
de Moody não ter instrução acadêmica, reconhecia o grande valor da educação e
sempre aconselhava a mocidade a se preparar para manejar bem a Palavra de Deus.
Reconhecia a grande vantagem da instrução também para os que pregam no poder do
Espírito Santo. Ainda existem três grandes monumentos às suas convicções nesse
ponto - as três escolas que ele fundou: O Instituto Bíblico em Chicago, com 38
prédios e 16.000 matriculados nas aulas diurnas, noturnas e Cursos por
Correspondência; o Northfield Seminário, com 490 alunos, e a Escola do Monte
Hermon, com 500 alunos.
Entretanto,
ninguém se engane como alguns desses alunos e como diversos crentes entre nós,
pensando que o grande poder de Moody era mais intelectual do que espiritual.
Nesse ponto ele mesmo falava com ênfase: para maior clareza, citamos o seguinte
de seus "Short
Talks": "Não
conheço coisa mais importante que a América precise do que de homens e mulheres
inflamados como o fogo do Céu; nunca encontrei um homem (ou mulher) inflamado
com o Espírito de Deus que fracassasse. Creio que isso seja impossível; tais
pessoas nunca se sentem desanimadas. Avançam mais e mais e se animam mais e
mais. Amados, se não tendes essa iluminação, resolvei adquiri-la, e orai: 'Ó
Deus ilumina-me com o teu Espírito Santo'!"
No
que R. A. Torrey escreveu aparece o espírito dessas escolas que fundou:
"Moody costumava escrever-me antes de
iniciar uma nova campanha, dizendo: 'Pretendo dar início ao trabalho no lugar
tal e em tal dia; peço-lhe que convoque os estudantes para um dia de jejum e
oração'. Eu lia essas cartas aos estudantes e lhes dizia: Moody deseja que
tenhamos um dia de jejum e oração para pedir, primeiramente, as bênçãos divinas
sobre nossas próprias almas e nosso trabalho! Muitas vezes ficávamos ali na
sala das aulas até alta noite - ou mesmo até a madrugada - clamando a Deus,
porque Moody nos exortava a esperar até que recebêssemos a bênção".
"Até o dia da minha morte não poderei
esquecer-me de 8 de julho de 1894. Era o último dia da Assembleia dos
Estudantes de Northfield... Às 15 horas reunimo-nos em frente à casa da progenitora
de Moody... Havia 456 pessoas em nossa companhia... Depois de andarmos alguns
minutos, Moody achou que podíamos parar. Nós nos sentamos nos troncos de
árvores caídas, em pedras, ou no chão. Moody então franqueou a palavra, dando
licença para qualquer estudante expressar-se. Uns 75 deles, um após outro,
levantaram-se, dizendo: 'Eu não pude esperar até às 15 horas, mas tenho estado
sozinho com Deus desde o culto de manhã e creio que posso dizer que recebi o
batismo com o Espírito Santo'. Ouvindo o testemunho desses jovens, Moody sugeriu
o seguinte: 'Moços, por que não podemos ajoelhar-nos aqui, agora, e pedir que
Deus manifeste em nós o poder do seu Espírito de um modo especial, como fez aos
apóstolos no dia de Pentecostes?' E ali na montanha oramos".
"Na subida, tínhamos notado como se iam
acumulando nuvens pesadas; no momento em que começamos a orar, principiou a
chuva a cair sobre os grandes pinheiros e sobre nós. Porém houve uma outra
qualidade de nuvem que há dez dias estava se acumulando sobre a cidade de
Northfield - uma nuvem cheia da misericórdia, da graça e do poder divino, de
sorte que naquela hora parecia que nossas orações bombardeavam essas nuvens,
fazendo descer sobre nós, em grande poder, a virtude do Espírito Santo".
Que
Moody mesmo era um estudante incansável, vê-se no seguinte:
"Todos os dias da sua vida, até o fim,
segundo creio, ele se levantava muito cedo de manhã para meditar na Palavra de
Deus. Costumava deixar sua cama às quatro horas da madrugada, mais ou menos,
para estudar a Bíblia. Um dia ele me disse: 'Para estudar, preciso me levantar
antes que as outras pessoas acordem'. Ele se fechava num quarto afastado do
resto da família, sozinho com a sua Bíblia e com o seu Deus..."
"Pode-se falar em poder, porém, ai do
homem que negligenciar o único Livro dado por Deus, que serve de instrumento,
por meio do qual Ele dá e exercer seu poder. Um homem pode ler inúmeros livros
e assistir a grandes convenções; pode promover reuniões de oração que durem
noites inteiras, suplicando o poder do Espírito Santo, mas se tal homem não
permanecer em contato íntimo e constante com o único Livro, a Bíblia, não lhe
será concedido o poder. Se já tem alguma força não conseguirá mantê-la, senão
pelo estudo diário, sério e intenso desse Livro".
Tudo
no mundo tem de findar; chegou o tempo também para D. L. Moody findar o seu
ministério aqui na terra. Em 16 de novembro de 1899, no meio de sua campanha em
Kansas City, com auditórios de 15.000 pessoas, pregou seu último sermão. É
provável que soubesse que seria o último: certo é que seu apelo era ungido como
poder vindo do Alto e centenas de almas foram ganhas para Cristo.
Para
a nação, a sexta-feira, 22 de dezembro de 1899, foi o dia mais curto do ano,
mas para D. L. Moody, foi o dia que clareou, foi o começo do dia que nunca
findará. Às seis horas da manhã dormiu um ligeiro sono. Então os seus queridos
ouviram-no dizer em voz clara: "Se
isto é a morte, não há nenhum vale. Isto é glorioso. Entrei pelas portas e vi
as crianças! (Dois de seus netos que já tinham falecidos). A terra recua; o céu
se abre perante mim. Deus está me chamando! "Então
virou-se para a sua esposa, a quem ele queria mais do que a todas as pessoas, a
não ser Cristo, e disse: "Tu
tens sido para mim uma boa pessoa".
No
singelo culto fúnebre, Torrey, Scofield, Sankey e outros falaram à grande
multidão comovida que assistiu. Depois o ataúde foi levado pelos alunos da
Escola Bíblica de Monte Hermom a um lugar alto que ficava próximo, chamado
"Round Top". Três anos
depois, a fiel serva de Deus, Ema Moody, sua esposa, também dormiu em Cristo e
foi enterrada ao lado do marido, no mesmo alto, onde permanecerão até o
glorioso dia da ressurreição.
Contemplemos
de novo, por um momento, a vida extraordinária desse grande ganhador de almas.
Quando o jovem Moody chorava sob o poder do Alto na pregação do jovem Spurgeon,
foi inspirado a exclamar: "Se
Deus pode usar Spurgeon, Ele me pode usar também". A
biografia de Moody é a história de como ele vivia completamente submisso a
Deus, para esse fim . R.A. Torrey disse: "O primeiro fator por cujo motivo Moody foi instrumento
tão útil nas mãos de Deus é que ele era um homem inteiramente submisso à
vontade divina. Cada grama daquele corpo de 127 quilos pertencia ao Senhor;
tudo que ele era e tudo que tinha pertencia inteiramente a Deus...
Se nós, tu e eu, leitor, queremos ser usados por Deus, temos de nos submeter a
Ele absolutamente e sem reservas".
Leitor,
resolve agora, com a mesma determinação e pelo auxílio divino: "Se Deus podia usar Dhight Lyman Moody,
Ele me pode usar também!"
Que
assim seja! Amém!