Irineu (130-200)
por: Vania DaSilva
Fonte: http://www.sepoang.org
José Antônio Correa
Introdução
Bispo
de Lyon e Polemista Anti-Gnóstico - Diferentemente dos Apologistas do
segundo século que procuraram fazer uma explanação e uma
justificação racional do Cristianismo para as autoridades, os
Polemistas empenharam-se por responder ao desafio dos falsos ensinos dos
heréticos, condenando veemente esses ensinos e seus mestres. Apesar da
maioria dos Apologistas viverem no Oriente, os grandes Polemistas vieram do
Ocidente, sendo Irineu um dos primeiros.
Enquanto
os do Oriente usavam uma teologia especulativa dando mais atenção
aos problemas metafísicos, os do Ocidente preocupavam-se mais com os
desvios administrativos da Igreja, empenhando-se em formular uma resposta para
os problemas desta esfera.
Os
apologistas convertidos do paganismo, preocupavam-se com a ameaça
à segurança da Igreja, especialmente com a
perseguição. Os polemistas que tinham uma formação
cultural cristã, preocupavam-se com a heresia e suas ameaças no
seio da Igreja.
Seu Crescimento e Influência
Nascido
em Esmirna, na Ásia Menor (Turquia), no ano 130, em uma família
cristã, Irineu era grego e foi influenciado pela pregação
de Policarpo, bispo de Esmirna. Anos depois, Irineu mudou-se para Gália
(atual sul da França), para a cidade de Lyon, onde foi um
presbítero em substituição do bispo que havia sido
martirizado em 177.
Irineu
também recebeu influência de Justino. Ele foi uma ponte entre a
teologia grega e a latina, a qual iniciou com um de seus contemporâneos,
Tertuliano. Enquanto Justino era primariamente um apologista, Irineu contribuiu
na refutação contra heresias e exposição do Cristianismo
Apostólico. Sua obra maior se desenvolveu no campo da literatura
polêmica contra o gnosticismo.
Os Ensinos Heréticos do Gnosticismo
O
gnosticismo, a maior das ameaças filosóficas, chegou ao
máximo de sua influência ao redor do ano 150. Suas raízes
estão fincadas nos tempos do Novo Testamento. Paulo parece ter
enfrentado uma forma incipiente de gnosticismo em sua carta aos Colossenses. A
tradição cristã associou a origem do gnosticismo com
Simão, o mago, a quem Pedro teve que repreender duramente (At
8.9-24).
Irineu
tornou-se o mais expoente escritor e defensor das Escrituras contra as Heresias
Gnósticas na sua era. A palavra gnosticismo é um termo moderno
que cobre uma variedade de seitas do segundo século que propagavam
alguns erros em comum. O Gnosticismo era radicalmente diferente e
contrário ao Cristianismo Ortodoxo. Cada grupo tinha seus
próprios escritos. Alguns desses ensinamentos falsos eram:
Crença em um Deus supremo o qual era totalmente remoto deste
mundo
Crença
que o Deus supremo não tinha parte na criação, mas que
este trabalho imperfeito foi realizado por uma deidade inferior a ele,
identificando como o Deus do Velho Testamento.
Crença que a matéria era má, por isso o Deus
supremo sendo espiritual e bom, não poderia criá-la
Crença
que entre o reino das trevas e o Deus supremo, existe uma hierarquia de seres divinos.
Crença que o nosso corpo, sendo físico, é parte deste
mundo, ele é mal; nossa alma é uma faísca divina que
está presa ao corpo, ela é divina.
Crença que a salvação é o escape da alma
deste corpo para o reino celestial
Crença
que para alcançar o Deus supremo é necessário que a alma
ultrapasse o reino acima de nós, o qual é controlado pelas
estrelas e pelos planetas.
Crença que a salvação vinha pelo conhecimento;
gnosis (conhecimento)
A Grande Defesa do Teólogo Irineu
Em
sua primeira obra, Adversus Haereses (Contra Heresias) escrita entre os anos
182 e 188, em Lyon, ele descreve a teologia da fé cristã em
refutação aos ensinos heréticos gnósticos de
Valentino e Marcion através das Escrituras. De muitos argumentos feitos
por Irineu, três importantes podem ser ressaltadas:
A diferença do sistema gnóstico. Ele descreve a
natureza burlesca de muitas de suas crenças
Os
ensinamentos que os gnósticos diziam ter recebido secretamente dos
apóstolos, Irineu os desafiava argumentando que se os apóstolos
tivessem um ensinamento especial a declarar, eles o teriam confiado às
suas próprias igrejas, as quais fundaram. Ele mostrava como as igrejas
estabelecidas pelos apóstolos, e seus dirigentes, os quais eram
apontados pelos mesmos e seus sucessores, cresciam em todo o império, e
permaneciam até a data, ensinando a mesma doutrina.
Defesa
do Novo Testamento como canônico, em vista que o gnosticismo não
cria nele, e possuía outras escrituras. No tempo de Irineu, o Novo
Testamento era aceito cerca de como temos agora: os Evangelhos, Atos, Cartas de
Paulo e outras epístolas. A carta aos Hebreus, Apocalipse e algumas
epístolas compuseram o Novo Testamento alguns anos na frente.
A sua obra é composta de cinco volumes é são
assim caracterizadas:
Livro
I: Esboço histórico da seita gnóstica, apresentada em
conjunto com uma declaração da fé cristã. Este
volume é a melhor fonte de informação sobre os ensinos dos
gnósticos. Era uma polêmica filosófica contra Valentino, o
líder da corrente romana do gnosticismo.
Livro
II: Crítica filosófica sobre o Gnosticismo. Nele, Irineu insiste
na unidade de Deus em oposição a ideia herética da
existência de um demiurgo distinto de Deus.
Livro
III: Crítica bíblica sobre o Gnosticismo. Ele mostra como o
Gnosticismo é rejeitado pela Bíblia e pela tradição
mais significativa. Neste livro, Irineu dá ênfase à unidade
da Igreja através da sucessão apostólica de líderes
desde Cristo e de uma regra de fé.
Livro
IV: Respostas ao Gnosticismo através das palavras de Cristo. Neste,
Marcion, outro líder gnóstico, é condenado pela
citação das palavras de Cristo que se opõem às suas
propostas.
Livro
V: Vindicação da ressurreição contra os argumentos
gnósticos, os quais, segundo as ideias deles, reunia o corpo material
mau com o espírito.
A Contribuição de Irineu à Igreja
Foi
necessário a habilidade intelectual, a força espiritual deste
polemista e o desenvolvimento de uma regra de fé e um cânon da
Bíblia pela Igreja para superar a ameaça desse movimento ao
Cristianismo. Irineu através da sua defesa do Evangelho, foi o primeiro
a declarar os quatro Evangelhos como canônicos, ensinar acerca do reino
milenial de Cristo na terra, defender o episcopado (pastorado) e as
tradições teológicas da verdadeira Igreja Ortodoxa. Ele
também é chamado de “Pai dos Dogmas da Igreja”, por
formular os princípios da teologia cristã e
exposição do credo da Igreja.
Não
só Irineu, mas Polemistas como Tertuliano e Hipólito engajaram-se
na controvérsia literária para refutar ideias gnósticas.
Estes ensinos heréticos reapareceram, parcialmente, em doutrinas dos
Paulicianos do século VII, dos Bogomilos dos séculos XI e XII, e
dos Albingenses posteriores, no sul da França.
Irineu
em comparação com outros pais da igreja grega que lhe precederam,
era mais bíblico que filosófico. Ele foi o primeiro a escrever em
sentido teológico para a Igreja. Segundo a história, ele foi
martirizado em Lyon por volta do ano 200.