A JUVENTUDE E AS DROGAS

Por José L. Duarte

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

Introdução

 

O trabalho atual pretende enfocar o problema das drogas sob o ângulo teológico e moral. Partiremos de um breve histórico das drogas, as quais existem há muitos anos e muito se discute nesses últimos tempos. Suas implicações atingem o mundo e por isso é necessário repensar o problema e tomar uma posição clara diante dele. O mundo, a sociedade exige de cada um sua resposta.

A toxicomania tem muitas definições. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a "toxicomania é um estado de intoxicação periódica prejudicial ao indivíduo e à sociedade, determinado pelo consumo repetido de uma droga natural ou sintética, em que há um invencível desejo de consumi-la numa dependência psíquica e às vezes física, no sentido de eliminar suas dores". Tóxicos são substâncias que, postas em contato com o organismo humano são capazes de provocar determinados tipos de sensações e alucinações. Droga é tudo aquilo que fala essencialmente da dependência da sensibilidade das pessoas.

 

1. BREVE HISTÓRICO SOBRE O MUNDO DAS DROGAS

 

Sabemos perfeitamente que as drogas sempre existiram e, em si, nunca fizeram mal algum, até o momento em que o homem passou a usá-las como fuga e meio fácil de se conseguir o que quiser. Sua história é tão longa quanto a do homem. A droga, para a moral, só interessa quando tem a ver com o homem. É por causa do homem, da juventude que estamos apresentando esse trabalho.

Há documentos que remontam há mais de 3.000 anos e se referem ao uso de drogas. Na Suméria ( pelos anos de 1800 A.C.) foram encontradas taboinhas cujas inscrições falam de uma substância capaz de libertar o homem da angústia. O código de Hamurabi (1200 A.C.) nos fala de pessoas que usavam certas ervas entorpecentes e dos preceitos contra tais usos. Na Grécia antiga, Homero, na sua obra prima Odisseia, mostra Helena servindo aos convidados uma bebida capaz de mitigar as dores e angústias do espírito. Heródoto faz uma descrição do haxixe. Na África antiga, o faraó Menótia era viciado em ópio. Os japoneses usaram o ópio como material bélico. Na civilização asteca a Coca era atribuída aos deuses e tinha a capacidade de tirar o cansaço, libertar o indivíduo da fome, da miséria e da tristeza.

O problema das drogas e suas proibições é muito antigo. Mas nem por isso devemos nos conformar.

 

2. POR QUE OS JOVENS SE ATIRAM ÀS DROGAS

 

O mundo está cada vez mais competitivo e exige um preparo intelectual cada vez maior. A globalização por sua vez também sufoca quem foge dela. O jovem se vê imaturo e despreparado para decidir e encarar as exigências provenientes da globalização. Hoje a infância e a adolescência estão sendo abreviadas. Se exige de uma criança e de um jovem uma responsabilidade muito grande. Por outro lado, o jovem encontra o conflito de 3 gerações: os avós, os pais e os filhos. Gerações distintas: a primeira paternalista, autoritária, machista; a segunda liberal e pais dedicados ao trabalho para o sustento da família; a terceira, jovens solitários, sem conhecer a dimensão de família, dedicados a malhação, culto pelo corpo e aos mil cursos ou muitas vezes dedicados a "faço o que quero, quando quero, onde quero", sem nenhum objetivo mas se sentindo donos do mundo quando reunidos em suas gangs.

Muitos recorrem a droga como forma de resolver conflitos internos ou como forma de fugir de conflitos pessoais, sociais e sobretudo familiares. Ou mesmo para relaxarem diante de tanta exigência social. Daí para uma primeira vez é fácil, mas para um última vez é difícil. É como um labirinto: fácil de entrar, mas difícil de sair.

 

2.1. Causa hiatrogênica

Trata-se do vício fruto das receitas médicas obrigados, por motivos de doença grave e prolongada (câncer, dores violentas, depressão, etc.) a prescrever analgésicos e barbitúricos e outros medicamentos. Pacientes que utilizam tais medicamentos por tempo prolongado acabam dependentes deles.

 

2.2. O poder do exemplo

Muitos jovens são levados ao contato com as drogas através dos próprios colegas e outros por uma curiosidade inicial diante de comentários a respeito dos poderes afrodisíacos e fantásticos das drogas. Muitos outros para pertencerem a um determinado grupo são submetidos a um "batismo" na droga. Outros usam para provarem que são "machos", fortes e destemidos.

O ambiente pernicioso do bairro e de algumas escolas também são causas da iniciação de jovens no mundo das drogas.

 

2.3. Problemas afetivos

A criança e o jovem de hoje se sentem, muitas vezes abandonados afetivamente. O pai e a mãe trabalham. Os filhos raramente encontram os pais, ficando com babás, empregadas, professores e orientadores de atividades. Assim muitos jovens acabam buscando algo para preencher essa ausência ou para fugir dessa realidade. A droga acaba sendo uma alternativa de solução para eles.

Pesquisas e testes psicológicos mostraram que muitos jovens não se sentem amados pelas próprias famílias.

 

2.4. Ambiente familiar

Se percorrermos as famílias de muitos jovens viciados, vamos encontrar pais, cuja mentalidade é oposta à dos filhos e suas aspirações e esse modo familiar acaba gerando desentendimentos e inseguranças. Falta presença paterna e materna na vida dos filhos; falta afeto e carinho. Por outro lado encontramos pais rígidos e mães excessivamente protetoras. Outras famílias carecem de princípios morais, religiosos e humanos claros.

Muitas famílias parecem mais um grupo de pessoas quase que estranhas vivendo sob o mesmo teto. Não há compartilhamento de sonhos, de problemas, de alegrias.

 

2.5. Máquinas industrializadoras de drogas

Se há máquinas que fabricam drogas supõe-se que há um grande número de consumidores e por isso o tráfico cresce sempre mais e sem controle. O tráfico movimenta milhões de dólares no mundo todo. É fonte de poder para cartéis. Como também é fonte de renda para milhares de famílias na América Latina (Bolívia, Peru e Colômbia sobretudo) que produzem cocaína e maconha e para outras tantas na Ásia que produzem o ópio, cultivam a matéria prima da heroína. Do Afeganistão vem o Haxixe e Marijuana. Os traficantes assaltam laboratórios em busca de barbitúricos e anfetaminas ou criam verdadeiros laboratórios para produzirem verdadeiros coquetéis da morte.

Para o tráfico todos são potencialmente consumidores de droga. Para mudarem de lado basta saber a hora de atacar com uma propaganda direta ou fornecendo a solução para os problemas que afligem o consumidor potencial no momento em que ele está mais vulnerável.

Muitas vezes a contrapropaganda e a política repressiva consumidor final são devastadoras, não educativas e maléficas, contribuindo muito mais como propaganda a favor das drogas do que contra elas. A política corretiva e repressiva deve ser aplicada ao tráfico e traficante, mas ao jovem deve apresentar uma educação transparente, preventiva, conscientizadora e contínua baseada não numa filosofia educacional meramente personalista, como é propagada hoje. A família e a escola precisam ser mais presença atuante na vida do jovem.

 

2.6. Fatores predisponentes

A guerra provoca ‘stress’ e os soldados procuram a droga para se aliviar. Da guerra do Vietnã muitos soldados voltaram viciados em tóxicos. O progresso também apresenta-se como outro fator predisponente: o homem constrói uma cidade sideral e permanece meses no espaço; o projeto genoma e da clonagem de células e animais como meio de se eternizar; a Internet é uma realidade de comunicação sem fronteiras e sem controle onde trafega informações educativas e científicas mas também há o tráfico de verdadeiras drogas intelectuais e imorais e até tráfico de drogas. O mundo virtual da Internet é atraente por ser livre de qualquer norma moral, política ou religiosa. Muitos jovens navegam horas e horas por ambientes virtuais depravados, violentos e acabam transformando o virtual em real e o real em virtual. Na Internet cada um constrói sua realidade.

Existem outros fatores que predispõem o jovem ao mundo das drogas como certas obras literárias , o cinema, a televisão, o teatro e o movimento hippie no passado, alguns movimentos funk e happ e apelo constante ao consumo

Na cabeça de muitos jovens ecoa as palavras de Camus: "nós não pedimos para nascer, nem para viver, portanto vamos banir tudo e todos, tudo o que a vida nos impõe, todos os preceitos que a vida nos impõe". O jovem se sentem o absoluto: eu sou o mundo, eu sou deus; eu sou o centro absoluto do universo.

 

3. DIANTE DO PROBLEMA, QUAL A POSIÇÃO A TOMAR?

 

Em primeiro lugar devemos sempre estar em defesa da vida em sua plenitude, isto é a vida em sua dimensão biológica, espiritual, moral e intelectual. Em segundo lugar defender a juventude como fonte renovadora da vida no mundo.

Esta batalha educativa deve ser contínua e todos os segmentos da sociedade devem participar de forma ativa e determinante, juntando as forças em prol de uma campanha permanente nos meios de comunicação, nas igrejas e comunidades, nas escolas, nas ruas, na internet.

Às autoridades competentes cabe manter a repressão aos fornecedores, traficantes e intermediários; utilização de satélites para mapear e descobrir plantações e laboratórios clandestinos; vigilância constante e monitorada por satélites de aeroportos e espaço aéreo; valorização, treinamento e remuneração da polícia para não ser subornada pelo tráfico. Criação de centros hospitalares modernos e investimentos na área de assistência aos dependentes que necessitam.

Outra terapia é procurar integrar os dependentes na sociedade que os rechaça, pois não basta isolá-los indiscriminadamente em prisões e hospitais.

G. Robles apresenta os seguintes passos como solução do problema:

- campanha contínua de esclarecimento;

- medidas repressivas aos reais culpáveis no nível da origem das drogas;

- trabalho de recuperação humana e reabilitação em todos os sentidos reintegrando o indivíduo na sociedade;

- um Instituto Nacional de Prevenção de Toxicomania mais eficaz;

 

CONCLUSÃO

 

O problema das drogas é complexo. Suas causas são muitas e precisam ser atacadas com decisão e objetividade. A CPI do narcotráfico apenas começou os trabalhos de definição dos verdadeiros e grandes causas do tráfico de drogas internacional que utiliza o Brasil como rota, mas não deve ficar apenas nesse levantamento. É preciso punir rigorosamente o segmento da sociedade que faz jogo duplo, isto é, em público defende a repressão ao mundo da droga e nas suas mansões e apartamentos de luxo comandam o tráfico se enriquecendo com a desgraça dos filhos dos próprios amigos.

A sociedade que reprime, muitas vezes é a mesma que cria o drogado. É um segmento parasita.

Para qualquer ação, antes de tudo devemos saber que o viciado é vítima. É consequência de uma escola despreocupada com os valores, de uma família sem diálogo, de uma internet sem controle, de meios de comunicação sem critérios morais, de um poder legislativo e executivo ineficiente e egoísta, de uma policia despreparada e subornada.

O viciado é vítima de sua angústia, de sua solidão num mundo de competitividade muito grande; é vítima de si próprio e da sociedade que o marginaliza. De um povo sem esperança, empobrecido, sem emprego, abandonado, vivendo da solidariedade.

O que fazer?

Não temos bola de cristal, mas a reflexão que fizemos nestas páginas nos dão pistas para sairmos de nossos casulos e tomarmos uma posição.

Como cristãos não podemos ficar alheios a situação, por isso, em primeiro lugar não podemos sumariamente condenar a vítima e absolver o criador dela; em segundo lugar a defesa da vida é o princípio de todo o processo educativo na família, na escola, no clube, na internet, etc.; em terceiro lugar não podemos fechar os olhos para a sociedade que condena o drogado criado por ela para se manter no poder político e econômico;

Assim creio ser fácil tomarmos decisões preventivas e corretivas em nossas famílias e nos ambientes que frequentamos. A conscientização é o primeiro passo para uma ação humana, social, justa, corresponsável e integrada.