ADEUS BATALHÃO DAS DROGAS
Pr. José
Antônio Corrêa
Quem
poderia imaginar que Wellington Emanuel de Almeida, um adolescente cristão,
filho de pastor e educado em lar evangélico fosse descobrir as drogas na
juventude? E o mais chocante, que isso ocorreria ao cumprir o serviço militar.
Seus pais viam nas forças armadas mais uma escola de vida, pois elas são
conhecidas por disciplinar e formar caráter. Porém, quem desconfiaria que, por
trás daqueles uniformes militares, encontravam-se más influências que
conduziriam o jovem ao vício e à destruição?
Neste relato, Wellington, hoje com 27 anos, conta como foi o seu descaminho
pelo vício e a forma pela qual foi resgatado por Jesus. Ele também destaca a
importância dos centros de recuperação de viciados e da evangelização nesses
locais. Wellington é mais do que um caso de jovem liberto do vício; é alguém
que encontrou o Caminho, a Verdade e a Vida: o Senhor Jesus.
Fale um pouco sobre sua família
Fui
criado em um lar cristão. Minha família era exemplar. Meu pai, sempre correto e
dedicado a Deus, é pastor de outra denominação e me criou na Palavra, dentro da
comunidade cristã, tanto que, aos 16 anos, eu fazia parte da mocidade da igreja
onde ele pastoreava. Lembro-me de passar algumas noites no monte, orando com
ele e buscando ao Senhor. Ele sempre se esforçou para que eu pudesse concluir
meus estudos, porém, era uma pessoa muito dura, pouco flexível em relação à fé,
e religioso demais. Mesmo assim, sou-lhe grato e acho que ele foi guiado pelo
Espírito, porque, se tivesse "passado a mão" sobre minha cabeça,
minha vida teria sido pior... Para mim, ele foi rigoroso nos momentos certos.
Meu
pai tinha uma preocupação muito grande em me criar à luz da Palavra, a fim de
que eu não me desviasse. Fui muito cobrado por ser filho de reverendo, pois a
verdade é que a maioria das pessoas julga que filho de pastor é
"pastorzinho". Tudo isso gerou uma pressão sobre mim, a qual influiu
no meu afastamento. Sempre que os outros erravam, era admissível, entretanto,
quando eu errava, era motivo de espanto.
Acredita que era convertido de
fato?
Quando
criança, sentia a igreja como uma tarefa e, para uma criança, toda obrigação,
em princípio, é desagradável. Sabia que, durante o culto, tinha de ficar
sentado quieto, principalmente por ser filho de pastor. Por outro lado, achava
muito bonito quando o meu pai pregava e dizia que desejava ser como ele.
Mais
tarde, na adolescência, é bem provável que ainda não era convertido de fato.
Preocupava-me em saber se, algum dia seria escolhido para ser pastor a exemplo
de meu pai. Certa ocasião, alguém profetizou que eu continuaria o ministério
dele. Aceitei essa profecia e esforcei-me em prol disso, o que criou em mim uma
grande vontade de santificar-me. Contudo, o desejo de realizar as mesmas coisas
que outros jovens, significava um apelo forte para mim. Por isso, entrei em
conflito, parecido com o que diz Paulo em Romanos 7.15:
Porque
o que faço, não o aprovo, pois o que quero, isso não faço; mas o que aborreço,
isso faço ou em Romanos 7:20: Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço
eu, mas o pecado que habita em mim. Minha fé e a vida na igreja começaram a
"esfriar". Eu, que freqüentava a igreja cinco vezes por semana, comecei
a ir somente aos domingos. Na verdade, ainda não me tinha encontrado com o
Senhor Jesus.
Como começou a desviar-se?
Quando
ingressei nas forças armadas, em 1993, afastei-me totalmente de Deus. Como diz
Jó 14.1, O homem, nascido da mulher, é de bem poucos dias e cheio de
inquietação. Foi essa ansiedade que me levou a realmente querer conhecer as
coisas do mundo. Senti fascínio pelo cigarro, pelo álcool, pelos bailes funk,
samba, prostituição e, finalmente, pelas drogas. Anteriormente, eu já ouvia
alguns grupos de samba, por isso, minha perdição começou ao envolver-me com uma
turma de pagode do quartel, a qual se reunia em bares. Nas rodas de samba ali
formadas, havia bebida, conversas pornográficas, cigarro e mulheres, conhecidas
dos soldados, ou simples freqüentadoras do local.
Bebia
perto de casa e a pressão da comunidade foi maior, porque meus erros, como
filho de pastor, ficavam em evidência. Sentia-me muito mal com isso e
duplamente culpado, porque meu pecado atingia o ministério de meu pai.
Quando passou a consumir drogas?
Em
1994, nas rodas de samba usávamos o lança-perfume e também a maconha, a
princípio como relaxante. Experimentei, mais não gostei, porém, notei que a
maconha já fazia parte daqueles encontros. Certa ocasião, um colega me chamou em
um canto e me ofereceu cocaína. Fiquei receoso, porque já ouvira falar muito
mal acerca dessa droga, mas, senti curiosidade de experimentá-la. Afinal, todos
ali cheiravam, com o pretexto de cortar o efeito do álcool. Viciei-me e, às
sextas-feiras, sequer voltava para casa: subia o morro e lá me drogava durante
todo o fim de semana. Nessas ocasiões, para os meus familiares, eu dizia que
estava em missão militar. Consumia todo o meu pagamento no vício e furtava
objetos em casa para comprar drogas. Roubei o vídeo, a TV, o telefone sem fio e
os aparelhos de som, além de tirar todo o dinheiro da conta bancária de meu pai
com o cartão magnético.
Como sua família reagiu quando
descobriu o seu vício?
Minha
mãe se desesperou. Meus irmãos esperavam o pior: a minha morte. Meu pai orou
por mim, ele me chamava e me exortava com a Palavra - Ela doía muito em meu
coração, mas eu não tinha força para livrar-me do vício. Certa vez, cheguei
muito drogado à minha casa, eu parecia uma caveira, de tanto cheirar. Então meu
pai me levou para a frente de um espelho e disse: "Olhe bem para seu
rosto. Veja o que está fazendo com a imagem e semelhança de Deus!". Jamais
me esqueci daquilo.
Muitas vezes, presenciei meu pai chorando, amargurado, acreditando que havia
esgotado todos os esforços. Em 1999, quando ele me expulsou de casa pela
primeira vez, disse-me: "Filho, eu usei todos os meus recursos. Agora, só
o que posso fazer é uma oração". Orou comigo e me mandou para a rua. Desse
modo, envolvi-me mais com o vício, chegando a consumir cinco gramas de cocaína
por noite.
As forças armadas tomaram
conhecimento de seu vício?
Sim,
a polícia secreta da força a qual eu pertencia descobriu que eu usava cocaína e
o comando ordenou minha baixa no início de 1998.
O
Espírito Santo me tocava e incomodava, já que a Palavra de Deus é viva e eficaz
(Hb 4.12). Sabia que estava errado e no caminho da morte, mas Deus me deu o
livramento real de tudo aquilo. Vários colegas daquele meio foram mortos ou
estão presos. Muitos precisaram ser presos para aceitar Jesus, mas eu só
precisei do centro de recuperação para chegar a conclusão de que Cristo é o
Caminho.
Como ocorreu a sua primeira
internação no centro de recuperação de viciados?
Quando
meu pai me expulsou de casa, morei em um abrigo de mendigos, em Nova Iguaçu,
RJ. Nesse abrigo, havia muitos idosos, por isso, eu não conseguia dormir,
devido aos seus gritos de dor. Isso me levou a uma reflexão da minha vida.
Então, pensei: "Estou destruído! Como cheguei a esse ponto tão rápido, com
apenas 25 anos?".
Depois
daquela instituição, fui levado por uma assistente social a um centro de
recuperação de viciados secular, o qual encarava dependência química como
doença incurável, com tratamento apenas psicológico, não espiritual. Após dois
meses, obtive alta, mas tive uma recaída - hoje sei que precisava de
libertação, pois Cristo Jesus tomou sobre Si nossas enfermidades (Is 53:4).
Voltei para casa, mas também ao convívio dos comparsas de vício. Depois de dois
dias no morro, drogando-me, ao chegar à minha casa, encontrei minha mala
pronta. Meu pai me deu dez reais e me disse: "Vá embora e só nos procure
quando tiver realmente mudado".
Obedeci,
mas, dormi fortemente abraçado à Bíblia, na casa de máquinas do prédio onde
morava. Creio que, nesse momento, comecei a me reatar com Deus. Cheguei a
dormir em vagão de trem, marquise e ônibus, até que fui encontrado novamente
por aquela mesma assistente social.
O que de fato foi responsável pela
sua transformação?
Em
setembro
Em sua opinião, os jovens viciados
devem procurar somente tratamento espiritual, ou espiritual aliado ao
psicológico?
Sei
que algumas instituições unem os dois fatores, mas, no MOCRIVER, o tratamento é
só espiritual. Por isso, prefiro crer no que está na Bíblia: Conhecereis a
verdade, e a verdade vos libertará (Jo 8.32). Fui liberto pelo conhecimento da
Palavra e pela fé.
O que é mais importante a ser dito
para os jovens que convivem com as drogas?
O
diabo veio a roubar, matar e destruir (Jo 10.10). Ele mata mesmo, porque vi
muitos morrerem. Aconselho aos jovens envolvidos com drogas a refletir nesse
testemunho, pois tive a oportunidade de chegar ao centro de recuperação e
aceitar Jesus, mas muitos não a tiveram. Os jovens devem pensar sobre esse
problema, porque, no começo, tudo parece muito bom mas depois, os usuários de
drogas tornam-se dependentes e escravos de Satanás. Um escravo faz tudo o que
seu senhor manda: mata, rouba e destrói.
O que a família deve fazer ao
suspeitar que um membro pode estar drogando-se?
Vigiar
e orar, como a Bíblia diz. Isso consiste, no caso, em observar bem o
comportamento de seus filhos, ser realista e, se necessário, tomar atitudes
drásticas, mesmo que doa. Mais vale um "não" no momento certo do que
um "sim" que estrague uma vida, pois, não é prudente "passar a
mão pela cabeça" deles. Em alguns casos, é importante a internação.
Conte como você conheceu sua
esposa?
Tornei-me
ajudante de cozinha do centro de recuperação de viciados e conheci Angélica, na
época, obreira e secretária do pastor, o qual também ajudava na cozinha. Fui
promovido a cozinheiro chefe, quando comecei a trabalhar diretamente com ela.
Ao perceber que havia carinho entre nós, então, propus-lhe que orássemos sobre
o assunto. Assim, confirmamos nosso amor, e noivamos. Após sete meses,
casamos-nos no centro de recuperação, em cerimônia celebrada pelo meu pai.
Qual foi a importância de Carta
Viva no direcionamento de sua vida cristã?
Tive
contato com a Igreja Internacional da Graça de Deus por meio da Carta Viva, na
ocasião em que estava ainda internado no MOCRIVER, pois lá não é permitido
assistir à TV. Carta Viva foi o veículo que Deus usou para me chamar para a
obra. Assim como eu, muitos devem ter sido tocados por ela e muitos ainda
serão, com certeza. Graças a Deus, por meio dessa revista e da sede da Igreja
em Madureira (RJ), de onde sou obreiro e seminarista da Academia Teológica da
Graça de Deus (AGRADE), vou seguir o ministério de pregador. Farei mais cursos
para me capacitar cada vez mais no ministério da Palavra, transmitindo minha
experiência para as pessoas perdidas, principalmente jovens que estejam no
cativeiro do vício de Satanás. Ao saber de minhas intenções, meu pai continua
chorando muito, mas de alegria.
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