Não bebo! Não fumo! Não uso drogas!
Bento Souto*
Pr. José Antônio Corrêa
"Não
bebo! Não fumo! Não uso drogas! Morri!" Estava estampado em letras
garrafais, na frente da camiseta do jovem. E na parte de trás da camiseta, a
conclusão: "Morri para o mundo! Nasci para Cristo!" Ao ver aquelas
palavras, me perguntei: Será que não beber, não fumar e não usar drogas
significa "morrer para o mundo"? Conheço várias pessoas que não fazem
isso, praticam exercícios físicos regularmente, e ainda fazem trabalhos
voluntários. Também atuam numa ONG (Organização Não Governamental) que luta
para preservar espécies de animais ameaçados e ainda ensinam Informática para
as crianças da favela. Que dizer dessas pessoas? "Morreram para o mundo e
nasceram para Cristo?" O problema é que a maioria delas não é cristã e
algumas são até atéias. Será que elas não foram mais longe do que o nosso jovem
com sua camiseta, que só "não bebe, não fuma e não usa drogas"?
Bem,
não estou dizendo que essas coisas não devam ser estimuladas. Pelo contrário,
creio que quanto mais jovens estiverem engajados na preservação do
meio-ambiente (fauna, flora e ambiente social) e longe do consumo de drogas de
qualquer espécie, maior será a nossa expectativa de vida. Então, qual é o problema
com a camiseta do jovem?
O
problema é que nesses meus 40 anos de vida vi a juventude ir de um extremo ao
outro, e muitos cristãos serem levados no embalo, sem perceberem. Nas décadas
de 60 e 70, o movimento "hippie" dominou boa parte dos nossos jovens.
Ele trazia alguns valores cristãos em seu bojo. O desapego às coisas materiais.
A simplicidade de vida e vestuário. Uma grande dose de fraternidade, com seus
membros dividindo entre eles o pouco que possuíam. Só que esse movimento trouxe
também a cultura das drogas, o esoterismo e o sexo livre. Quanto menor fosse o
matulão (sacola de pôr nas costas), o que significava poucas posses, mais
considerado era o "hippie", pois demonstrava não haver nenhum apego
material.
Apesar
do sucesso que teve o movimento hippie acabou sendo substituído por um outro, o
movimento yuppie. Se os hippies tinham uma sacola pequena, os yuppies têm uma
bem grande. Um yuppie de verdade tem é "uma mansão" cheia de
eletrodomésticos e "brinquedos eletrônicos", um "carrão"
(se possível conversível e importado), roupas de grife, e um corpo
"sarado" e livre de drogas. Enfim, exatamente o oposto do hippie. Mas
será que tudo é diferente, mesmo?
Tanto
os hippies quanto os yuppies têm as mesmas influências religiosas orientais. Ambos
preferem a companhia de um monge tibetano (daí o sucesso do Dalai Lama!) do que
a de um pregador cristão. A cultura yuppie também valoriza o sexo livre, com um
agravante, o endosso escancarado ao homossexualismo.
Em
resumo, hippies e yuppies são irmãos e não inimigos. Ambos têm apenas um
propósito na vida, e apenas por ele julgam a validade dos seus atos! Qual é?
Sentir prazer! Se alguém se "sente bem" fazendo o que faz, não
importa o que seja, isso é bom para aquela pessoa. Tanto hippies quanto yuppies
relativizam o Bem e o Mal e tornam o Prazer o único absoluto.
Nesse
ponto, cabe uma pergunta: qual é o mais importante propósito do ser humano?
"O principal e mais elevado propósito do homem é glorificar a Deus (1Co
10.31, Rm 11.36) e desfrutar dEle para sempre" (Sl 73.24-28, Jo 17.21-23),
responde-nos o velho Catecismo de Westminster.
Se
alguém que é rico doar toda a sua riqueza e for morar na favela apenas para
"ficar bem na foto", segundo a Bíblia, isso é idolatria. Da mesma
forma, se alguém que era pobre lutar e ficar rico, apenas para "sair bem
na foto", também é idolatria. Ações são resultado de motivações, por isso
Deus julga os motivos e não apenas as ações.
Portanto,
alguém realmente "morre para o mundo e nasce para Cristo", não porque
deixou de fumar, de beber e se drogar, mas quando passa a ter todas as suas
ações motivadas para glória de Deus, sejam elas tão simples quanto "comer
e beber"! Se eu escrevo isso para que vejam minha inteligência, cometo
idolatria. Se você lê isso para parecer "intelectual", também comete
idolatria. Nós, cristãos, precisamos resgatar esse ensino de "fazer tudo
para glória de Deus", e ficar alertas aos movimentos do "mundo".
* Membro da Igreja Batista Emanuel em Boa
Viagem, Recife, PE
O Jornal Batista
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