A UNIDADE ENTRE O CASAL
Luciano Subirá
Pr. José
Antônio Corrêa
INTRODUÇÃO:
Muitos
casais cristãos estão vivendo hoje fora daquilo que Deus idealizou. Brigas
constantes, desrespeito mútuo e distância entre o casal, são vistos em muitos
lares. E além da infelicidade que isto produz em seus corações, ainda há a
questão do mal testemunho dado. Penso que este é um assunto que merece nossa
atenção, pois o princípio de viver em unidade é algo que não apenas produzirá
maior realização emocional no relacionamento, como também liberará sobre o
casal as bênçãos de Deus.
I. COMPREENDENDO A UNIDADE
É
importante que consigamos visualizar o que a unidade do casal pode produzir em
suas vidas, e então seremos desafiados a preservá-la. Também entenderemos
porque o diabo, o adversário de nossas almas, luta tanto contra ela. Jesus nos
ensinou que a unidade e concordância permite Deus agir em nossas vidas:
"Ainda vos digo mais: Se dois de vós na terra concordarem acerca de
qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos
céus. Pois onde se acham dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio
deles", Mateus 18:19,20.
Por
outro lado, a falta de unidade impede Deus de agir. A palavra de Deus nos
mostra de modo bem claro que quando o marido "briga" com sua mulher,
algo acontece também na dimensão espiritual: "Igualmente vós, maridos,
vivei com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais frágil, e
como sendo elas herdeiras convosco da graça da vida, para que não sejam
impedidas as vossas orações", 1 Pedro 3:7
Ao
deixar de honrar a mulher como vaso mais frágil e maltratá-la (ainda que só
verbalmente), o marido está trazendo um sério problema sobre a vida espiritual
do casal. A Bíblia diz que as orações serão impedidas. É lógico que isto também
vale para a mulher, embora quem mais facilmente tropece nisto sejam os homens.
O texto bíblico revela que depois de desonrar a mulher na condição de vaso mais
frágil (com asperezas), o homem, mesmo que clame ao Senhor, terá sua oração
impedida, pois um princípio foi violado.
Deus
não age em um ambiente de desarmonia e discordância. Isto é um fato. Quando
tentaram construir a torre de Babel, as Escrituras dizem que Deus desceu para
ver o que os homens faziam. E Deus mesmo, ao vê-los trabalhando em harmonia e
concordância de propósito declarou: "Eis que o povo é um e todos têm uma
só língua; e isto é o que começam a fazer; agora não haverá restrição para tudo
o que eles intentarem fazer. Eia, desçamos, e confundamos ali a sua linguagem,
para que não entenda um a língua do outro." (Gn.11:6,7). O que vemos aqui
é que a unidade remove limites. Quando o casal se torna um e fala uma só língua
(sem discordância) eles removem os limites diante de si! Deus pode agir
livremente num ambiente destes, mas basta perder a capacidade de falar a mesma
língua que tudo se perde! No reino de Deus, quando dois se unem, o efeito não é
de soma, mas de multiplicação. Moisés cantou acerca do exército de Israel: um deles
faria fugir a mil de seus inimigos, mas dois deles faria fugir dez mil!
(Dt.32:30).
A
unidade ainda traz consigo outras virtudes. Podemos ver isto numa das figuras
bíblicas do Tabernáculo. O propiciatório da arca da aliança figura este
princípio. O Senhor disse que ali Ele viria para falar com Moisés. O
propiciatório (ou tampa da arca) era o lugar onde a glória e a presença de
divina se manifestava. E nas instruções para a confecção desta peça, vemos o
simbolismo da unidade. Deus disse que os dois querubins deveriam ser uma só
peça de ouro batido; com isto falava simbolicamente de unidade entre seus
adoradores (Ex.25:17-19). Os querubins deviam estar com as asas estendidas um
para o outro (Ex.25:20), o que fala de cobertura recíproca. A falta de unidade nos
leva a agir com o espírito de Caim que disse ao Senhor: "Acaso sou eu
guardador de meu irmão?" (Gn.4:9). Mas quando estamos em unidade com
alguém, cobrimos e protegemos esta pessoa! Esta é uma virtude que acompanha a
unidade.
A
outra, é a transparência. Os querubins deveriam estar um de frente para o outro
(Ex.25:20). Isto fala alegoricamente de poder encarar outro adorador "olho
no olho". Fala de não ter nada escondido, de não ter pendências. Ninguém
consegue olhar (espontaneamente) no olho de outra pessoa quando as coisas não
estão bem. Quando Jacó fala para sua família que as coisas já não estavam bem
entre ele e Labão, seu sogro, a expressão que ele usa é: "vejo que o
semblante de vosso pai já não é mais o mesmo para comigo" (Gn.31:5). Jesus
disse que os olhos são a candeia do corpo. Eles refletem o que está dentro de
nós. E a unidade é a capacidade de olhar olho no olho e estar bem.
Particularmente, eu não posso concordar com casais que escondem coisas um do
outro, seja no que diz respeito à sua vida passada (erros e pecados) ou
presente (como nas questões financeiras, por exemplo).
Acredito
que a unidade verdadeira exige que haja remoção ou acerto de
"pendências" (Pv.28:13). Às vezes fingimos um comportamento só para
agradar (ou não desagradar) ao outro, o que diverge do ensino bíblico. Este
teatro não produzirá unidade verdadeira. Temos que aprender a ser francos, como
está escrito: "Melhor é a repreensão franca do que o amor encoberto"
(Pv.27:5). Paulo censurou este tipo de comportamento dúbio quando escreveu aos
gálatas. Ele falou sobre como o apóstolo Pedro em certa ocasião agiu assim para
ser "diplomático" e que esta atitude conseguiu atrair até mesmo o
próprio Barnabé, companheiro de Paulo, e ele os censurou publicamente
(Gl.2:11-14). Contudo, quero ressaltar que ser franco não significa ser
grosseiro, pois a Bíblia nos ensina a falar a verdade em amor. O conselho dado
a Timóteo na hora de corrigir os que opunham, foi o de usar de mansidão (2
Tm.2:25). A unidade manifesta a verdade (dolorosa às vezes) de forma bem mansa.
II. O PRINCÍPIO DO ACORDO
A
Bíblia nos ensina também que o acordo é indispensável num relacionamento:
"Como andarão dois juntos, se não estiverem de acordo?" Amós 3:3
A
ausência de acordo é uma porta aberta para o diabo. Quando Paulo escreveu aos
efésios e falou sobre não dar lugar ao diabo, o fez dentro de um contexto, que
é o de pecados que acontecem nos relacionamentos: "Irai-vos, e não
pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo", Efésios
4:26,27.
Tiago
escreveu sobre o mesmo princípio. Ele disse: "Pois onde há inveja e
sentimento faccioso, aí há confusão e toda espécie de cousas ruins", Tiago
3:16.
Já
mencionamos anteriormente que o acordo é uma porta aberta para ação de Deus
(Mt.18:19). Mas quando chegamos ao ponto de dissipa-lo de nosso relacionamento,
estamos comprometendo não só a qualidade da satisfação na esfera emocional, mas
também a esfera espiritual de nosso lar. Não é fácil ajustar-se
satisfatoriamente na relação conjugal. As diferenças são muitas; na formação de
cada um, na personalidade, temperamento, e acrescente a isto as diferenças
entre homem e mulher. Contudo, quando aprendemos a ter como denominador comum o
caráter e os ensinos de Cristo, então conseguimos o ajuste por meio de ceder,
perdoar, recomeçar, etc. Mesmo um casal que parecia perfeitamente ajustado em
seu período de namoro e noivado descobrirá a necessidade de mais ajustes à
medida que os anos de casamento vão passando. Não é uma tarefa tão fácil, mas
não é impossível! Se não estivesse ao nosso alcance, Deus estaria sendo injusto
ao cobrar isto de nós... mas o fato é que não só é algo possível, como também é
uma chave poderosa na vida cristã!
III. O CASAL DEVE DECIDIR JUNTO
Há
uma ordem de governo e autoridade estabelecida por Deus no lar. O marido é
chamado o cabeça (Ef.5:22-24), e entendemos que como tal tem direito à palavra
final. Porém, isto não quer dizer que o homem esteja sempre certo ou que não
deva ouvir sua mulher. Encontramos no Velho Testamento uma ocasião em que o
próprio Senhor diz a Abraão, seu servo: "Ouve Sara, tua mulher, em tudo o
que ela te disser" (Gn.21:12). No Novo Testamento vemos Pôncio Pilatos
desprezando o conselho de sua mulher e se dando mal com isto (Mt.27:19).
Precisamos
considerar ainda que ser líder não significa ser autoritário. Quando o apóstolo
Pedro escreveu aos presbíteros (que compõem o governo da Igreja Local), disse
em sua epístola que eles não deveriam ser "dominadores do povo" (1
Pe.5:3). Isto mostra que autoridade e autoritarismo são duas coisas distintas.
Vejo muitos maridos dizerem que suas esposas TÊM que obedecê-los! Mas ao dizer
que as esposas devem ser submissas, Deus não estava instituindo o autoritarismo
no lar. Vale ainda lembrar que Jesus declarou que "aquele a quem muito foi
dado, muito lhe será exigido" (Lc.12:48). Os homens precisam se lembrar de
que em matéria de responsabilidade do lar, terão que responder a Deus numa
medida maior que as mulheres. Mas não é preciso que o homem carregue o peso
desta responsabilidade sozinho.
É
importante que o casal dialogue e tome decisões juntos. Desde que casamos,
minha esposa e eu sabemos quem é o cabeça do lar, mas foram muitas raras as
vezes em que tomei uma decisão por mim mesmo. Sempre conversamos e discutimos
sobre nossas decisões. Às vezes já estamos de acordo no início da conversa, e
às vezes precisamos de muita conversa para amadurecer bem o que estamos
discutindo. Mas sabemos a bênção de caminhar em acordo e cultivamos isto entre
nós. Entendo que se a mulher é chamada de "auxiliadora" na Bíblia, é
porque o homem precisa de sua ajuda. E a ajuda da mulher não está limitada à
atividades domésticas. A Bíblia fala com esta figura, que deve haver uma
relação de companheirismo. Creio que como auxiliadora, a mulher deve ajudar a
tomar decisões.
Este
é um processo que exige ajuste. Na hora de discutir alguma decisão, ou mesmo a
forma de ser e se comportar de cada cônjuge, vemos o quanto é difícil ouvir ao
outro. Mas devemos atentar para o ensino bíblico sobre isto: "Responder
antes de ouvir é estultícia e vergonha" (Pv.18:13). Tiago nos adverte o
seguinte: "Sabeis estas cousas, meus amados irmãos. Todo homem, pois, seja
pronto para ouvir, tardio para falar, tardio para se irar", Tiago 1:19.
A
verdade é que normalmente somos prontos para falar e irar-se um contra o outro,
mas tardios para dar ouvidos ao que o outro tem a dizer. E isto precisa ser
mudado em nós! Para que haja acordo, precisamos aprender a ouvir.
IV. TRATANDO COM DESENTENDIMENTOS
Os
desentendimentos ocorrem, mesmo entre os crentes mais dedicados, mas devem ser
tratados logo. Lemos que alguém pode se irar e não pecar, pois é uma reação
emocional espontânea. Mas o que cada um faz com o sentimento que teve pode se
tornar pecado. Paulo aconselhou os irmãos de Éfeso a que não deixassem o sol se
pôr sobre sua ira (Ef.4:26,27). Em outras palavras, que deveria haver acerto,
perdão, e que nenhuma pendência ficasse para trás. Precisamos aprender a tratar
com os desentendimentos no lar. Preservar a unidade não significa nunca se
desentender, mas saber dar a manutenção devida no relacionamento quando isto
ocorrer.
O
tempo não apaga as ofensas. Deve haver reconciliação. Jesus ensinou isto:
"Se, pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu
irmão tem alguma coisa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai
primeiro reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua
oferta", Mateus 5:23,24.
Alguns
acham que depois de um desentendimento é só deixar "para lá". Mas a
Bíblia nos ensina o princípio de reconciliação de maneira bem formal. Deve
haver pedido de desculpas, de perdão. Deve se conversar sobre o que aconteceu
(o quê machucou o íntimo de cada um e por que machucou). E não podemos perder
de vista que devemos lutar para viver sem brigas, e não só reconciliar quando
elas ocorrem (Ef.4:31).
Acredito,
ainda, que atenção especial deve ser dada à forma de falar. Talvez esta seja
uma das áreas que mais sensíveis sejam nos desentendimentos que surgem no
relacionamento, uma vez que a "comunicação" no lar não é só o que um
fala, mas também a forma que o outro entende! As conversas não devem ser
exaltadas ou em tom de briga. E quando um dos cônjuges se perde numa explosão
emocional, é importante notar que a Bíblia não nos ensina a "jogar o mesmo
jogo". O que lemos nas Escrituras é justamente o contrário: "A
resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira", Provérbios
15:1. "A vossa palavra seja sempre agradável, temperada com sal, para
saberdes como deveis responder a cada um", Colossenses 4:6.
Os
maridos devem ter cuidado redobrado, pois por natureza são mais racionais do
que emocionais e suas palavras tendem a ser mais duras e grosseiras. Por isto a
Bíblia nos adverte: "Maridos, amai a vossas esposas, e não as trateis com
aspereza", Colossenses 3:19. "Igualmente vós, maridos, vivei
com elas com entendimento, dando honra à mulher, como vaso mais frágil, e como
sendo elas herdeiras convosco da graça da vida, para que não sejam impedidas as
vossas orações", 1 Pedro 3:7.
Embora
seja verdadeiro e aplicável aqui o ditado de que "é melhor prevenir do que
remediar", precisamos reconhecer que muitas vezes falhamos permitindo
desentendimentos que poderiam facilmente ser evitados. Neste caso, devemos
aprender a consertar e tratar com estas situações. Mas não podemos esquecer
também que mesmo havendo perdão e reconciliação depois do erro, quando ele se
repete muito vai gerando desgaste e descrédito, e isto exige uma dimensão de
restauração maior depois.
As
intrigas no lar roubam o prazer de outras conquistas, como escreveu Salomão,
pela inspiração do Espírito Santo: "Melhor é um prato de hortaliça, onde
há amor, do que o boi cevado e com ele o ódio", Provérbios 15:17.
"Melhor é um bocado seco, e tranqüilidade, do que a casa farta de carnes,
e contenda", Provérbios 17:1."Melhor é morar no canto do
eirado do que junto com a mulher rixosa na mesma casa", Provérbios 21:9.
Há
casais que alcançaram tudo o que queriam financeiramente, mas não conseguem
viver bem juntos. Eles, melhor do que ninguém, podem afirmar quão verdadeiras
são estas declarações bíblicas. Não adianta ter outras realizações e deixar o
relacionamento conjugal se perder. Como alguém declarou: "Nenhum sucesso
compensa o fracasso do lar". Precisamos aprender a cultivar a unidade em
nosso relacionamento. E isto acontece quando aprendemos a lidar de forma
simples e prática nas questões do dia-a-dia.
Que
o Senhor nos ajude!
Luciano P. Subirá é um
dos pastores da Comunidade Vida, em Guarapuava/PR, sendo o responsável pela
área de treinamento de líderes. É também o responsável pela Maná Edições.
Casado com Kelly, tem dois filhos: Israel e Lissa.