UMA IGREJA EM MISSÃO

AT 1.6-8

Extraído do “Caderno do Pastor” da Junta de Missões Nacionais, 1998, pags. 30-31. Artigo de Carlos Marcelo Assis de Souza, com nota acréscimos e supressões pelo Pr. José Antônio Corrêa

 

 

José Antônio Corrêa

 

 

TEXTO: “6 Aqueles, pois, que se haviam reunido perguntaram-lhe, dizendo: Senhor, restaurarás tu neste tempo o reino a Israel? 7 E disse-lhes: Não vos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo seu próprio poder. 8 Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra”.

 

 

INTRODUÇÃO:

 

 

1. A pergunta feita pelos discípulos, Vs. 6, revela que eles ainda aguardavam uma intervenção de Jesus na história, uma vez que tinham a convicção de que o Messias, seria uma figura política e que iria resgatar Israel do jugo romano. Jesus, por sua vez, mostra-lhes que ao invés de esperarem passivamente pelo final dos tempos, ou ansiarem por mudanças políticas, Vs. 7, tinham uma missão a cumprir como Igreja de Deus na terra, Vs. 8.

 

2. Enquanto discípulos de Jesus, não podemos esperar comodamente sua volta. Como Igreja de Cristo, temos uma missão a cumprir até o seu retorno. Nas palavras de Jesus dentro do texto visto, encontramos alguns referenciais que caracterizam uma Igreja em missão.

 

3. Ao comemorarem o aniversário da Igreja neste mês, é necessário que vocês meditem na missão da Igreja de Cristo na terra, e como a Igreja Batista do Jardim Progresso tem realizado o propósito de Deus em sua vida diária. Cumpre-nos pensar nesta noite “QUAIS SÃO OS ASPECTOS QUE CARACTERIZAM UMA IGREJA EM MISSÃO”, aplicando tais aspectos em nossas vidas:

 

 

I - O PRIMEIRO ASPECTO QUE CARACTERIZA UMA IGREJA EM MISSÃO É A SUA DEPENDÊNCIA DO ESPÍRITO SANTO

 

Vs. 8, “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra”.

 

1. Logo após sua ressurreição e antes de subir para o céu, Jesus orientou seus discípulos no sentido de que precisavam receber a capacitação do Espírito Santo, para continuarem a obra de Deus iniciada por ele:

 

a) Lc 24.49, “E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder”.

 

b) At 1.4-5, “4 E, estando com eles, determinou-lhes que não se ausentassem de Jerusalém, mas que esperassem a promessa do Pai, que (disse ele) de mim ouvistes. 5 Porque, na verdade, João batizou com água, mas vós sereis batizados com o Espírito Santo, não muito depois destes dias”.

 

c) Observando atentamente o texto de Lucas e o de Atos, notamos preocupação do Senhor no sentido de que os discípulos fossem capacitados para a continuação de sua obra na terra. A palavra “poder” que aparece em Lucas, e que seria outorgado pelo Espírito Santo vem do termo grego “dunamiv (dumanis)”, donde se originou a palavra “dinamite” em português. Seu significado é “poder de força”, “habilidade”, “poder para executar milagres”, “virtude”, etc. Esta era a capacitação que Jesus queria que tivessem. Sem ela eles seriam inaptos, incapazes para operarem a obra de Deus. Esta foi a razão porque o Senhor disse-lhes que não saíssem de Jerusalém antes de revestimento do poder do alto.

 

2. Não resta dúvida de que os discípulos obedeceram às instruções do Senhor! Vejamos o desencadear dos fatos no livro de Atos:

 

a) At 2.1-4, “1 Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; 2  de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados. 3  E apareceram, distribuídas entre eles, línguas, como de fogo, e pousou uma sobre cada um deles. 4  Todos ficaram cheios do Espírito Santo e passaram a falar em outras línguas, segundo o Espírito lhes concedia que falassem”. Este episódio deu-se numa reunião em Jerusalém, provavelmente no cenáculo – o mesmo lugar onde Jesus lhes disse que esperassem a promessa do Espírito Santo. Esta primeira manifestação do Espírito Santo, ocorreu durante as festividades de Pentecostes, ou “Festa das Semanas”, festa esta que ocorria sete semanas após a festa mais importante dos judeus, a Páscoa.

 

b) At 4.31, “29  agora, Senhor, olha para as suas ameaças e concede aos teus servos que anunciem com toda a intrepidez a tua palavra, 30  enquanto estendes a mão para fazer curas, sinais e prodígios por intermédio do nome do teu santo Servo Jesus. 31  Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus”. Notamos que mesmo os discípulos tendo recebido o Espírito Santo no capítulo 2, aqui é mencionado uma nova unção sobre eles, o que nos mostra a realidade de que precisamos ser renovados pelo Espírito de Deus periodicamente, se quisermos ser produtivos no Reino.

 

3. Esta realidade de uma capacitação especial de Deus, mediante seu Espírito Santo é mostrada pelo Apóstolo Paulo em suas cartas às igrejas:

 

a) 1Co 2.4-5, “4 A minha palavra, e a minha pregação, não consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração de Espírito e de poder; 5 Para que a vossa fé não se apoiasse em sabedoria dos homens, mas no poder de Deus”. Esta consciência de que é o Espírito Santo quem opera através de nós deve ser uma realidade em nossas vidas como servos de Deus. Quando queremos fazer a obra de Deus com nossa capacitação própria, certamente fracassaremos.

 

b) Ef 5.18-21, “18 E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito; 19 Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração; 20 Dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo; 21 Sujeitando-vos uns aos outros no temor de Deus”. O apóstolo nos informa aqui o fato de que pesa sobre nós a responsabilidade de buscar a unção, a plenitude, o enchimento do Espírito Santo. Notem que o verbo está no “imperativo”. Cabe-nos buscar esta capacitação especial.

 

4. Tanto Jesus, como Paulo, deixaram bem claro aos discípulos que eles só poderiam cumprir sua missão depois de “receberem o poder” do Espírito Santo. Se quisermos cumprir nossa missão como Igreja, temos que depender do Espírito Santo, buscar sua unção, sua plenitude. Não podemos trabalhar para o Reino confiando apenas em nossa capacidade, que é limitada e influenciável pelo pecado. Pois, além de insuficiente, pode tornar-se incompatível com a natureza da missão.

 

 

II - O SEGUNDO ASPECTO QUE CARACTERIZA UMA IGREJA EM MISSÃO É ELA SER TESTEMUNHA DE CRISTO

 

Vs. 8, “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra”

 

1. Novamente vemos Jesus orientando seus discípulos sobre o fato de que quando chegasse o “Consolador”, fato que acorreu em Atos 2, como já vimos, Ele os capacitaria para que “testificassem” dele, Jo 15.26-27, “26 Mas, quando vier o Consolador, que eu da parte do Pai vos hei de enviar, aquele Espírito de verdade, que procede do Pai, ele testificará de mim. 27 E vós também testificareis, pois estivestes comigo desde o princípio. A palavra “testificar” que aparece no texto, vem do grego “marturew (martureo)”, que significa “ser uma testemunha”, “afirmar aquilo que viu, ouviu ou experimentou”, “dar um relatório correto”, “testemunhar um fato”, etc. Esta é a condição daqueles que se tornaram pela fé “filhos de Deus”. Devemos testemunhar o que Deus fez por nós.

 

2. No decorrer do Livro de Atos dos Apóstolos, podemos observar que de fato os discípulos se tornaram gigantes no testemunho, devido ao “poder” que receberam através Espírito Santo:

 

a) At 2.32, “Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas”. Aqui estavam testemunhando acerca da ressurreição do Senhor, fato negado pelos judeus incrédulos, mas afirmado com convicção por aqueles que viram o Senhor ressurreto.  Ver ainda At 3.15, “E matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas”.

 

b) At 5.32, “E nós somos testemunhas acerca destas palavras, nós e também o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que lhe obedecem”. Observando os versículos anteriores, entendemos que “testemunhas... destas palavras”, expressão que ocorre no texto, estava referindo ao fato de que os judeus haviam matado Jesus, porém Deus o ressuscitara, e agora estas verdades eram alvo do testemunho deles.

 

3. Em sua carta aos coríntios, Paulo menciona o fato de que usava suas palavras de maneira que eles pudessem entender claramente sua mensagem e testemunho do Senhor da glória, 1Co 2.1-2, “1 E eu, irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui com sublimidade de palavras ou de sabedoria. 2 Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado”.

 

4. Pelo fato de Jesus ter dito aos discípulos: “Sereis minhas testemunhas...”, devemos entender que este é o cerne da missão cristã. Cabe a nós como Igreja de Deus, essencialmente, testemunhar ao mundo acerca da encarnação, morte e ressurreição de Cristo. E devemos fazê-lo integralmente, entendendo todos os desdobramentos individuais e coletivos dessa mensagem. Qualquer ação da Igreja que não esteja fundamentada nisso, constitui-se num testemunho inautêntico, que prejudica o cumprimento da missão.

 

 

III - O TERCEIRO ASPECTO QUE CARACTERIZA UMA IGREJA EM MISSÃO É ELA TER UMA VISÃO GLOBAL

 

Vs. 8, “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra”

 

1. Jesus mostra aos discípulos que não era possível limitar o Evangelho à Judéia (aqui) ou Samaria (perto), mas que era preciso alcançar os “confins da terra”. A missão da Igreja é global. Não tem limitações geográficas e, consequentemente, raciais, culturais, religiosas, políticas ou econômicas.

 

2. Paulo escrevendo aos colossenses declarou: “24 Regozijo-me agora no que padeço por vós, e na minha carne cumpro o resto das aflições de Cristo, pelo seu corpo, que é a igreja; 25 Da qual eu estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida para convosco, para cumprir a palavra de Deus; 26 O mistério que esteve oculto desde todos os séculos, e em todas as gerações, e que agora foi manifesto aos seus santos; 27 Aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória; 28 A quem anunciamos, admoestando a todo o homem, e ensinando a todo o homem em toda a sabedoria; para que apresentemos todo o homem perfeito em Jesus Cristo”, Cl 1.24-28.

 

a) Observe os pontos significativos dentro do texto:

 

- Convicção da missão: “estou feito ministro segundo a dispensação de Deus, que me foi concedida...”.

- Desejo missionário de Deus: “Aos quais Deus quis fazer conhecer quais são as riquezas da glória deste mistério entre os gentios, que é Cristo em vós, esperança da glória”.

- Cumprindo a missão: “A quem anunciamos, e ensinando... para que apresentemos todo o homem perfeito em Jesus Cristo”.

 

b) A visão evangelística que Paulo tinha fez com que ele percorresse aproximadamente 10.000 quilômetros para levar a mensagem de Deus a praticamente todo o mundo conhecido de sua época. Somente em sua viagem a Roma, sua última viagem missionária, percorreu cerca de dois mil de duzentos quilômetros. Não devemos nos esquecer que naquele tempo não havia aviões, nem carros, sendo que os meios de locomoção eram apenas navios movidos a vento, andar a pé, e o transporte de animais.

 

c) Porque Paulo gastou grande parte de sua vida percorrendo cidades, vilas e aldeias? Qual era a sua motivação? O apóstolo captou em seu coração o desejo missionário de Deus que era alcançar todos os povos possíveis através da pregação da Palavra. Imagine você se Paulo vivesse hoje, utilizando o transporte de modernos aviões? A grande verdade é que havia no coração de Paulo o que precisa haver em nós - o amor pelas vidas carentes de Deus.

 

3. Portanto, se estamos dispostos a cumprir nossa missão, não podemos alcançar nossos parentes e amigos, enquanto esquecermos do mundo, ou fazer o contrário. A visão de nossa missão deve ser global. Temos como missão alcançar os de perto e os de longe, os ricos e os pobres, os religiosos e os não religiosos. Se a Igreja de Cristo perder esta visão, corre o risco de não cumprir integralmente sua missão.

 

 

CONCLUSÃO:

 

1. Precisamos estar conscientes de que somos uma Igreja em missão. E para que cumpramos nosso papel no mundo, temos:

 

a) Que depender o Espírito Santo;

 

b) E testemunhar de Cristo integralmente.

 

2. Isto, sem perder a visão de que nossa missão é global.