por Oswaldo
Prado, missionário da Sepal, coordenador geral do Projeto Brasil 2010,
vice-presidente
do Centro Global de Missões Dr. Paulo Pierson
e membro da
Comissão de Missões da Aliança Evangélica mundial –
Extraído
da revista “Liderança”, Sepal
Pr.
José Antônio Corrêa
“Tudo indica que perdemos aquela ‘santa
ingenuidade’ de promotores do Evangelho até os confins da terra”
Lembro-me perfeitamente daquele dia.
Estava sentado numa das poltronas do Palácio das Convenções do Anhembi, em São
Paulo, ao lado de outros 3 mil congressistas, quando o preletor disse: “Hoje, a
América Latina deixa de ser campo missionário, para tornar-se celeiro de
missões para todo o mundo”.
Confesso que aquela
frase me impactou profundamente. Estava se desenrolando o Congresso Missionário
Ibero-Americano (Comibam), que iria trazer nos anos vindouros um grande impacto
em muitos setores da igreja evangélica brasileira e latino-americana. Mas isso
já faz quase vinte anos...
A partir de então,
pude ser testemunha ocular de um despertamento missionário brasileiro
inusitado. Começaram a espocar conferências missionárias por todo canto do
País. Vocações foram despertadas, jovens e casais foram treinados e enviados
para várias nações. Até mesmo recursos financeiros passaram a ser destinados no
sustento desses missionários tupiniquins.
O que se viu, em
muitos casos, foi uma mudança profunda na agenda da Igreja, que passou a
cumprir a sua missão, participando na expansão do Reino de Deus entre os povos
da terra. Mais do que isso, essa missão assumiu um caráter de integralidade,
fazendo com que profissionais da área da saúde, educação, esporte, etc.
pudessem ser enviados para os povos não alcançados mais resistentes.
Ainda hoje vivo o
dia-a-dia das tensões do movimento missionário brasileiro. Mas, agora, com um
sentimento de profunda perplexidade.
Esses últimos tempos
têm mostrado um forte descompasso entre a Igreja e a Missão. Tudo indica que
perdemos aquela “santa ingenuidade” de promotores do Evangelho até os confins
da terra e nos tornamos muito mais “profissionais” de uma igreja que parece
buscar cada vez mais seus próprios interesses.
Em outras palavras,
deixamos de ser igreja-missão para nos tornar igreja-culto. Uma igreja
intramuros.
Confesso que não
tenho todas as respostas para esse contra fluxo da tarefa missionária
brasileira, depois de quase duas décadas de franco desenvolvimento. Em minha
mente, levantam-se algumas questões imperiosas que precisariam ser refletidas,
se desejamos realmente retomar o antigo caminho de vislumbrarmos igrejas
missionárias em nosso meio:
• Porventura o preço
da busca desenfreada do crescimento de nossas igrejas tem provocado o
recrudescimento da missão da evangelização mundial?
• Estamos conscientes
de que alguns modelos de crescimento estão privilegiando a nossa Jerusalém
—repetindo a síndrome de Pedro — em detrimento do alcance da Judéia, Samaria e
os confins da terra?
• Qual tem sido nossa
atitude em relação aos missionários brasileiros que hoje servem em outras
culturas, e que, aparentemente estão desamparados, desmotivados (muitos deles
já retornaram às suas igrejas de origem)? O que faremos com as novas vocações
reprimidas, mas presentes em nossas igrejas?
• Até quando
continuaremos com as portas escancaradas para receber as teologias da “contra
missão”, que têm privilegiado tantas vezes uma adoração sem missão, uma espiritualidade
etérea e introspectiva e a busca de avanço econômico-patrimonial sem visão do
Reino?
Hoje,
nossos olhos parecem estar sendo colocados em outros campos... Cabe a nós,
pastores e líderes, com humildade e arrependimento, resgatarmos aquele binômio
que sempre dará certo: igreja-missão.