POR UM DESPEDIR RESPONSÁVEL

por Mônica Mesquita, missionária da Agência Presbiteriana de Missões Transculturais (APMT).

Coordenadora da Equipe de Apoio da Sepal - monicagmesquita@uol.com.br

Extraído da revista “Liderança”, Sepal

 

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

 

Quando uma igreja local ou um órgão denominacional firma laços com um missionário, é imprescindível que algumas perguntas sejam feitas — e respondidas — para que o acordo estabelecido entre ambos logre êxito. O que a igreja espera do missionário? Quais as suas atribuições? Qual a sua responsabilidade? O seu dever? Os seus direitos? Da parte do missionário também se deve questionar. O que ele espera da igreja? Quais as suas obrigações diante dela? Quais os seus direitos?

 

Muitos relacionamentos missionário/igreja local se tornaram traumáticos pela falta de cuidado em enumerar e responder essas questões no momento em que se estabelece um vinculo qualquer entre ambos.

 

O Novo Testamento nos dá uma primorosa diretriz, no exemplo que a Igreja de Antioquia deixou, por ocasião do envio de Paulo e Barnabé. Antioquia era uma igreja que esperava no Senhor, que andava com o Senhor, que ouvia a voz de seu Senhor. Sabemos que ali surgiu o primeiro ato planejado e respaldado de missão estrangeira. Antioquia viu além. Queria que o Evangelho superasse barreiras raciais, sociais e geográficas de sua época. O texto sagrado registra, no versículo 3 de Atos 13: “Então, jejuando e orando, e impondo sobre e/es as mãos, os despediram” (tradução revista e atualizada). Quais poderiam ser as implicações e as deduções em cima da expressão “os despediram”?

 

Apélusan, o verbo grego traduzido por despediram, tem o sentido de libertar, soltar, mandar embora. A seqüência — jejuar, orar, impor as mãos, despedir — pressupõe um ambiente espiritual que envolvia a igreja em si e os que estavam sendo enviados. O ato de impor as mãos mostra que a igreja estava se associando com aqueles homens, estava recomendando-os à graça de Deus. É um símbolo de comunhão, um reconhecimento claro de que criam piamente que o próprio Deus os chamara. Paulo e Barnabé tinham uma história de serviço naquela comunidade e seu testemunho foi tão impactante que ela, com tranqüilidade, responsabilizou-se pelo envio de ambos. Percebemos, nessa associação, uma via de mão dupla. O missionário fazendo a sua parte e a igreja, a dela.

 

O texto bíblico em questão não esclarece os detalhes “logísticos” dessa empreitada: se a igreja se preocupou com as vestimentas, calçados; ou se entregou dinheiro ou uma pequena reserva de alimento para os missionários. No entanto, temos a certeza de que esse processo foi respaldado por um caráter de extrema comunhão e responsabilidade de ambos: os que iam e os que ficavam.

 

É esse o caráter que precisa fluir das igrejas brasileiras para com os seus comissionados. Ações espirituais, embasadas na vontade do Pai, que reflitam o pressuposto de santidade, maturidade cristã e espírito de serviço.

 

Chega de cartas enviadas aos campos informando que o sustento está sendo cortado. Chega de e-mails informando que por a igreja ter uma nova concepção e definição de campo, o dileto missionário não poderá mais contar com ela. Chega daqueles longos e intermináveis meses sem nenhuma linha sequer por parte da igreja, dando ao menos um “olá, como vai?”. Chega daquela antiga e redundante pergunta “quantas almas já se converteram?”, como se um ministério pudesse ser medido apenas por isso. Chega de tanto desserviço. Chega!

 

Vamos libertar nosso missionário, vamos soltá-­lo, vamos mandá-lo embora (na graça de Deus) e enquanto ele “lá” estiver, que a igreja fique aqui, de prontidão ante o falar de Deus, sobre o como sequenciar essa despedida.