O "Adorno" da Mulher
Cristã: proibição ou privilégio?
Por Elizabeth Zekveld Portela*
Pr. José
Antônio Corrêa
É
certo uma mulher cristã se enfeitar? Na maioria das igrejas contemporâneas são raros
os pastores que sobem ao púlpito para dizer que não. Reconhecemos, porém, que
existem algumas comunidades cristãs que sinceramente consideram que as mulheres
devem evitar o uso de jóias, maquiagem e roupas vistosas e que controlam até o
corte e o penteado dos seus cabelos. Qual a legitimidade dos adornos
femininos?1 Qual a expressão real da modéstia cristã? E o que isso tem a
ver com a percepção daquilo que a Bíblia realmente ensina sobre a natureza, o
propósito e especialmente o valor das mulheres cristãs — tanto as do passado
quanto as do presente? Ao pesquisarmos, verificamos que a interpretação dos
textos pertinentes ao assunto tem sido, muitas vezes, afetada por pontos de
vista preconcebidos, tanto pelos que aceitam quanto pelos que rejeitam adornos
externos nas mulheres.
Será
que é possível uma mulher usar adornos externos ou um pastor temente a Deus
permitir que as senhoras e moças da sua igreja se enfeitem sem ir de encontro
às duas passagens bíblicas citadas para proibir o uso de todos ou certos
adornos? Elas parecem ser tão claras e específicas!
1 Timóteo 2.9-10 diz:
... que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom
senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário
dispendioso, porém com boas obras (como é próprio às mulheres que professam
ser piedosas).
1 Pedro 3.3-6
declara: Não seja o adorno das esposas o que é exterior, como frisado de
cabelos, adereços de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem
interior do coração, unido ao incorruptível de um espírito manso e tranqüilo,
que é de grande valor diante de Deus. Pois foi assim, também, que a si mesmas
se ataviaram, outrora, as santas mulheres que esperavam em Deus, estando
submissas a seus próprio maridos, como fazia Sara, que obedeceu a Abraão,
chamando-lhe senhor, da qual vós vos tornastes filhas, praticando o bem e não
temendo perturbação alguma.
Quantos
dos pastores que acatam os adornos femininos nos cultos podem dar uma
explicação clara sobre essa atitude às suas igrejas? Quantos de nós têm certeza
absoluta daquilo que estamos "aprovando," implicitamente, pelo uso?
Ou estamos abrigando "dúvidas" e ainda assim procedendo por causa de
comodidade ou vaidade? A Bíblia é clara quando diz que a falta de certeza sobre
o nosso comportamento indica que estamos pecando, embora estejamos fazendo algo
que talvez não seja pecaminoso em si (Rm 14.12, 22-23).
Existem
centenas e milhares de mulheres no Brasil e pelo mundo afora, que amam a Deus
de todo o coração, mas que sentem uma fisgada de desconforto e culpa quando
lêem essas passagens. Perguntam a si mesmas se estão sendo carnais, se estão
falhando na sua espiritualidade. Numa era em que seus maridos ou namorados
estão cercados de mulheres que combatem a celulite, a gordura, as rugas e os cabelos
brancos como inimigos mortais e na qual a humanidade valoriza intensamente a
aparência física, elas não conseguem evitar arrepios ao pensar nas possíveis
conseqüências de deixar de lado os próprios esforços em prol de uma aparência
agradável. A maioria chega à conclusão que ficariam sem condições emocionais e
sociais para continuar convivendo e trabalhando adequadamente nas esferas onde
Deus as colocou. Ao olhar ao redor de si, notam que nenhum líder na sua igreja
está advogando a abstenção dos adornos e cosméticos. Concluem que essas pessoas
devem ter entendimento mais apurado do assunto e continuam como estão. Mas o
sentimento de culpa continua, especialmente quando alguém lhes aponta esses
versículos e lhes conclama a uma autodefesa.
Enquanto
isso, há outras tantas mulheres que realmente praticam a abstinência de
qualquer enfeite externo (dentro dos limites estipulados por suas igrejas).
Tendo entregado a vida a Deus, conseguem conviver relativamente bem com essa
situação, especialmente porque encontram um sistema de apoio mútuo dentro dos
seus círculos eclesiásticos. As suas vidas se entrelaçam quase inteiramente com
o seu lar e com a sua igreja e as atividades desta. Sofrem muito, entretanto,
quando tentam passar essas mesmas proibições às suas filhas que têm que
conviver diariamente com um mundo que se nega a dar-lhes valor e que ri da sua
falta de adornos e das suas roupas diferentes, nas escolas e nos empregos.
Filhas que sofrem e olham para outras mulheres cristãs que não se abstêm e
perguntam — "Porque elas podem, e eu não?" — e que são prontamente
admoestadas por sua falta de amor a Deus e exortadas com frases do tipo
"Enganosa é a graça e vã a formosura, mas a mulher que teme ao Senhor,
essa será louvada" (Pv 31.30) ou "Nós não queremos que a nossa filha
seja confundida com uma Jezabel!"2
É,
portanto, urgente que haja uma verificação mais aprofundada do significado e da
importância dos textos principais que se referem a esse assunto. É extremamente
relevante também porque o texto de 1 Timóteo está enraizado nas orientações
específicas de Paulo a respeito do comportamento de homens e mulheres nas
igrejas, especialmente na área de liderança. A outra determinação se encontra
em meio aos conselhos de Pedro, a ambos os sexos, sobre a vida no lar. Trata-se
de áreas extremamente polêmicas nas igrejas e no mundo em que vivemos porque
muitos têm chegado à conclusão de que esses versos eram condicionados a um
tempo que já passou e portanto não se aplicam aos dias de hoje.3 Como
evitar o desprezo de parte de uma passagem se nós mesmos não conseguimos
explicar a razão pela qual seguimos ou não seguimos a aparente instrução da
outra parte?
Existe
muita confusão a respeito da autoridade masculina na igreja e no lar porque a
liderança masculina nas igrejas tem, vezes demais, se mostrado indiferente ao
valor, sentimentos e dons das mulheres com que convivem, deixando pouco ou
nenhum espaço para a sua expressão, inclusive na área dos adornos. Começando
pelos Pais da Igreja, passando por expoentes da Reforma e por grande número de
teólogos e comentaristas de renome, verificamos negligência e omissão em
algumas áreas do seu lidar com a metade feminina do povo de Deus.4 Em
muitas ocasiões, a legítima liderança amorosa masculina se deteriorou num
domínio arrogante e agressivo, baseado em pressuposições errôneas de
superioridade.5 Se tivessem sido mais compreensivos e dado igual atenção
nos seus sermões e escritos ao exemplo de Jesus quando lidava com as mulheres e
às orientações de Pedro (e de Paulo também – Ef 5.25-33; Cl 3.19) para os
homens,6 a situação atual talvez fosse bem diferente.
A. A Tendência Judaica
Os
Pais da Igreja não se desviaram da opinião judaica a respeito de mulheres,
prevalecente no período apostólico. Filo de Alexandria, um contemporâneo de
Paulo e Pedro, declarou:
…a fêmea é
imperfeita, sujeita, vista mais como o parceiro passivo do que o ativo. E já
que os elementos dos quais consistem a nossa alma são dois – a parte racional e
a parte irracional – a parte racional pertence ao sexo masculino, sendo a
herança de intelecto e razão; mas a parte irracional pertence ao sexo
feminino, e também os sentidos externos. E a mente é em cada respeito
superior ao sentido externo, como é o homem à mulher."7
Na
compilação das tradições orais preservadas pelos judeus, os homens eram
encorajados a agradecer a Deus diariamente por não tê-los feito "nem
gentio, nem mulher, nem escravo."8 No templo em Jerusalém as senhoras
não podiam passar do átrio das mulheres,9 um isolamento até considerado
natural pela maioria dos comentaristas, mas que, na realidade, não existia no
plano divino para o tabernáculo (1Sm 1.9-10) e nem no primeiro templo (1Cr
28.11,19; 1Rs 5-8), refletindo tão somente o preconceito do judaísmo.
Paradoxalmente, os adornos parecem ter sido amplamente utilizados nesse
período.10
B. A Tendência Patrística
Não
existe registro de como os lideres das igrejas que receberam as cartas de Paulo
e Pedro interpretaram e aplicaram as suas palavras nos textos já mencionados.
Mas os Pais da Igreja dos séculos subseqüentes tornaram-se totalmente
contrários ao uso do adorno feminino. Tertuliano (160-220 DC) reclamou sobre as
mocinhas: "Elas consultam o espelho para ajudar a sua beleza, gastam a
pele do rosto de tanto lavar, tentando tornar o mesmo sedutor com cosméticos,
arrogantemente jogam uma capa por cima dos ombros, colocam seus apertados
sapatinhos multiformes e levam bem mais acessórios quando vão ao banho."11 Cipriano
(c. 250 DC) ensinou que "os adornos e as roupas vistosas e as seduções da
beleza pertencem apenas a prostitutas e mulheres desenvergonhadas, e a
vestimenta mais cara acompanha aquela cuja modéstia é a mais
barata."12 Jerônimo (340-420 DC) perguntou: "Qual o lugar de
ruge e chumbo branco no rosto de uma senhora crista?… Servem apenas para
inflamar as paixões dos homens jovens, para estimular a lascívia e para indicar
uma mente impura."13 Eram homens de peso na história da igreja cristã
— mas quase todos com tendências ascéticas.
C. Nosso Propósito
Neste
ensaio, tentaremos estabelecer que Paulo e Pedro não estavam proibindo
o uso de adornos pelas mulheres, mas que, ao contrário, eles estavam contrastando
o legítimo adorno externo com algo bem mais valioso – o adorno
interno. Verificaremos de forma resumida e geral o que a igreja tem
ensinado a respeito disso durante os dois milênios que se passaram.
Examinaremos os versos nos seus contextos histórico, bíblico, teológico e
textual. Ao mesmo tempo, procuraremos conhecer um pouco melhor tanto as
intenções dos apóstolos quanto a natureza das mulheres da época, para podermos
nos aproximar mais da sua realidade e então compará-la à nossa situação atual.
As
passagens polêmicas fazem parte integral de duas cartas escritas pelos
apóstolos Paulo e Pedro no início dos anos 60 D.C.14 Paulo endereçou a sua
carta ao seu filho na fé Timóteo, que se encontrava na cidade de Éfeso
supervisionando as igrejas da Ásia,15 enquanto que os eleitos
… forasteiros da Dispersão, no Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia receberam
os conselhos e admoestações de Pedro (1 Pe 1.1), quase ao mesmo tempo. Em
circulação entre essas pessoas provavelmente já estavam as cartas de Paulo aos
Gálatas, Efésios, Colossenses e a Filemom, como também a carta de Tiago "às
doze tribos que se encontram na Dispersão" (Tg 1.1).
A. O Império Romano
Nesse
período, na cidade de Roma (onde Paulo esteve e Pedro estava), o desequilibrado
imperador Nero (37-68 DC) manipulava o Império Romano. Existia uma sensação de
instabilidade muito grande.16 Apesar da existência de leis e de um sistema
de justiça tão bom que formou a base de muitos códigos civis da nossa
atualidade, sabia-se que a vida de um ser humano valia muito pouco para os
conquistadores.17 Outra evidência da degradação humana reinante podia ser
vista nos divertimentos oferecidos nas principais cidades do império, onde os
romanos haviam construído anfiteatros ou estádios. Eram violentos e brutais.
Nos combates entre feras, milhares de animais morriam anualmente. Mas o gosto
pelo derramamento de sangue se satisfazia mais terrivelmente ainda com a luta
entre gladiadores, onde prisioneiros de guerra, escravos e criminosos eram
armados e forçados a lutar até o fim. O vencido era morto.18
Em
64 DC, haveria um incêndio enorme em Roma. Muitos responsabilizariam Nero. Ele,
por sua vez, acusaria os cristãos da cidade. Assim, a mando de Nero, apenas
dois ou três anos depois de Paulo e Pedro terem escrito essas cartas, muitos cristãos
seriam lançados às feras ou colocados, desarmados, para enfrentar gladiadores
diante de milhares de espectadores nos anfiteatros de Roma.19 Seria o início de
perseguições esporádicas pelo governo romano que durariam dois séculos e meio.
Diz a tradição que os dois apóstolos foram mortos durante as perseguições
neronianas.20
Na
sociedade romana sob a influência de Nero (e dos seus antecessores), havia uma
constante procura por excelência na qualidade e na estética, como também um
interesse por novidades. Sendo grande amante das artes, Nero dava grande valor
às coisas e pessoas bonitas. Nunca usava a mesma roupa duas vezes.21 Assim, a
alta sociedade da época se preocupava com a sua aparência ainda mais que as
gerações anteriores , e isto ocorria não somente na cidade de Roma mas em todo
o império. Os gostos e costumes das mulheres romanas tornaram-se
"chiques." Conhecer e satisfazer as tendências e as preferências
romanas era vital para todos aqueles na Ásia Menor que trabalhavam com o comércio
e também para aqueles que se destacavam na alta sociedade.
B. Ásia Menor
A
província romana da Ásia se encontrava na enorme península denominada
subseqüentemente como Ásia Menor, hoje conhecida como Turquia. Ponto,
Galácia, Capadócia e Bitínia eram outras províncias romanas nessa mesma
península. Juntamente com a Ásia, abrangiam a quase totalidade da Ásia Menor,
excetuando a área costeira do sul.22
O
fato pode surpreender, mas a província da Ásia foi a parte mais próspera do
Império Romano durante os dois primeiros séculos da era cristã. Era a maior
fonte da riqueza de Roma e várias rotas de caravanas que traziam os tesouros do
Oriente (como algodão e seda) findavam na sua capital, Éfeso, centro político,
comercial e cultural da área.23 Militares e governantes eram enviados de Roma
até lá regularmente para manter as leis e a ordem, e também para supervisionar
o comércio. Alguns traziam as suas famílias.
Tanto
a Ásia quanto grande parte da Ásia Menor daquele período (especialmente no
litoral) gozavam de um passado e presente cultural do mais alto nível. Para
dizer a verdade, esse não seria igualado novamente no mundo ocidental até a
renascença européia dos séculos XV e XVI.24 Apesar de já estar sob domínio
romano por quase dois séculos (desde
Já
que ambas as missivas se destinaram primariamente a cristãos da Ásia Menor,
cabe analisarmos as mulheres dessa área, citadas nominalmente nos escritos
neo-testamentários, como representantes daquelas que estavam sendo instruídas
pelos dois apóstolos. Dentre essas, encontramos Eunice, Priscila, Lídia, Áfia e
Ninfa. Todas tinham ligações concretas com as igrejas ou províncias que
receberam as instruções originais sobre o verdadeiro adorno feminino.
Provenientes das quatro principais culturas que já estavam convivendo lado a
lado na Ásia Menor por dois séculos ou mais, eram de ascendência romana, grega,
judaica ou autóctone, com variado grau de integração com as culturas nas quais
viviam. Um exame mais aproximado fará com que elas e as suas irmãs em Cristo
possam tornar-se mais reais e relevantes para nós.
A. Mulheres Diversas com Personalidades Marcantes
Eunice (mãe de Timóteo) era uma mulher judia
instruída e inteligente, com uma fé exemplar, casada com um incrédulo grego,
de classe alta, que morava numa colônia romana da Ásia Menor e
convivia com pessoas simples do interior (os licaônios) (At 16.1; 2 Tm
1.5, 3.15).28
Priscila representa uma mulher romana ou judia,
de classe média ou alta, forte, inteligente e corajosa, provavelmente poliglota
e instruída, bem casada com um judeu da Ásia Menor que,
por causa da sua fé, enfrentou perseguições e aprendeu a viver bem em Roma,
na Grécia e na Ásia Menor, absorvendo e refletindo aspectos
significativos das três culturas (At 18.1-26; Rm 16.3-5; 1 Co 16.19; 2
Tm 4.19).29
Lídia (At 16.12-40) era uma mulher grega proveniente da
cidade de Tiatira, na Ásia Menor. Ela vivia numa colônia romana e
seguia a religião judaica. A sua profissão era ligada ao vestuário
dispendioso (a venda de púrpura). Quando converteu-se à religião cristã,
ela aparentemente conservou a sua profissão e atividades.
Deduzimos
que Ninfa (de Laodiceia – Cl 4.15) e Áfia (de Colossos – Fm 1.2)
eram mulheres ricas pois tinham casas suficientemente grandes para hospedarem
igrejas. Conviviam com escravos cristãos (Cl 3.22-4.1). Provavelmente,
eram de origem local (Frígia – já bem aculturadas) ou grega.30
Observamos
que todas essas cinco senhoras foram mencionadas com carinho e admiração por
Paulo ou Lucas. Outros tipos de mulheres também se faziam presentes nas igrejas
citadas. Além das esposas de homens descrentes ou infiéis (especificamente
endereçadas nas instruções de Pedro) também estavam as filhas, mães ou irmãs
destes. E não devemos supor que todas as mulheres participantes dos cultos eram
convertidas, pois poderiam estar ali por convite das amigas, por obrigação (em
submissão aos pais ou maridos) ou até terem sido batizadas após a conversão do
homem da casa). Realmente não eram tão diferentes das senhoras e moças da
atualidade, como pode nos parecer à primeira vista.
B. A Moda Romana
Ao
nosso ver, as técnicas e produtos daqueles dias podem parecer muito artesanais
e simples, comparados aos atuais. Mas as mulheres da Ásia Menor estavam vivendo
num clima de crescente criatividade e desenvolvimento cultural. Este duraria
até o declínio do império romano e não voltaria por mais mil anos.31 O
exército romano mantinha a paz – a famosa Pax Romana – na maior parte do
império. Produtos e pessoas cruzavam terra e mares com maior facilidade. O
mercado para os tecidos e corantes asiáticos crescia e os comerciantes e os
fabricantes tinham que inovar e melhorar para continuar garantindo o seu espaço
no mercado mundial. Nota: A cidade de Laodiceia era famosa por sua lã negra e
lustrosa, proveniente de ovelhas negras. Colossos era conhecida pela lã
peculiarmente arroxeada. Tiatira era especializada em tinturaria.32 O nome para
bordador em Roma era phrygio, de tão famoso que eram os bordadores da área de
Frígia.33 Também era importante o controle dos produtos que chegavam mais e mais
de países distantes (Pérsia, Índia, China) pelas caravanas. Ao mesmo tempo, as
mulheres romanas tinham mais e melhores condições para acompanharem os seus
maridos, trazendo consigo as últimas novidades.34 O conhecimento da última
moda romana chegava constantemente a todas as principais cidades do império
através das esposas e filhas dos governantes e militares de cada província e
país. Como lavadeiras, costureiras, escravas, empregadas domésticas ou artesãs,
como esposas ou filhas de comerciantes e artesãos, ou como parte da alta
sociedade local, a maioria das mulheres tinha contato direto ou indireto com os
costumes romanos.
Em
meio a todas elas estavam muitas mulheres cujos maridos certamente eram
fabricantes, comerciantes ou transportadores de roupas e produtos de beleza há
anos. A renda da família poderia depender tanto dos produtos locais quanto
daqueles que passavam pelas rotas das caravanas ao longo das quais estavam
localizadas quase todas as cidades visitadas por Paulo. Considerando que o
mercado principal era o romano, grande parte das mulheres locais já havia se
adaptado ao domínio e às práticas romanas (com a exceção provável de umas
poucas judias recém-imigradas35 e algumas mulheres nas áreas mais
afastadas). O intercâmbio cultural era intenso e se não chegavam a seguir todas
as tendências, pelo menos sabiam delas e muitas vezes viviam delas. Assim
sendo, podemos imaginar a filha de um comerciante de tecidos tentando convencer
o pai de que precisava de alguns metros do linho fino importado, ou a de uma
costureira deslizando os dedos sobre uma seda macia enquanto sonha com o olhar
apaixonado de um belo rapaz. Enquanto isso, as escravas das mulheres ricas ou
aspirantes receberiam ordens para descobrir os segredos da "beleza"
das romanas. Nas reuniões e festas, status e aceitação poderiam depender
da sua aproximação aos valores ditados pela moda romana. Lídia e Priscila e as
nossas outras três mulheres sempre haviam convivido com essa situação. Paulo
também a conhecia.
VI.
O EFEITO DO CRISTIANISMO NAS MULHERES DA ÁSIA MENOR
Era
essa, pois, a situação em que se encontravam as mulheres cristãs da Ásia Menor.
Várias raças, diversas línguas, religiões e culturas, modernidade ao lado de
"atraso," e luxo e riqueza emparelhados com simplicidade ou pobreza.
Mulheres nascendo, casando, criando filhos, enviuvando, trabalhando, sonhando,
criando. Algumas haviam nascido em religiões variadas que não satisfaziam e que
pouco se preocupavam em prover-lhes felicidade e sentido para a vida,
especialmente por serem mulheres.36 Outras, como Eunice, já conheciam e
respeitavam o Deus verdadeiro desde pequenas. Mas até para ela, e talvez
principalmente para ela, a mensagem salvadora dos apóstolos significaria uma
imensa e maravilhosa transformação e alegria.
O
cristianismo estava tendo implicações enormes na estrutura das sociedades nas
quais entrava. A pregação dos apóstolos significava uma mudança de vida tão
radical que eles foram acusados de estarem transtornando o mundo,
enquanto estavam na Grécia (At 17.6). E era verdade! Pela primeira vez na
história humana, barreiras tradicionais que sempre haviam existido estavam
sendo abertamente derrubadas. Analfabetas, letradas, escravas, servas, donas de
casa, artesãs, esposas de comerciantes, "socialaites" e até ex-prostitutas
poderiam estar sentadas lado a lado para adorar ao mesmo Deus e para aprender
como agradá-lo. Maltratadas e bem-cuidadas, cansadas e animadas, ricas e
pobres, solteiras, casadas e viúvas – elas repentinamente faziam parte da mesma
família. Eram irmãs, filhas adotadas por um mesmo Pai da maneira como elas
eram. E não somente as barreiras sociais estavam sendo desfeitas: também as
culturais e nacionais haviam de ser esquecidas no convívio entre gregas,
judias, romanas e locais. Paulo resumiu tudo isso na sua carta aos Colossenses
(habitantes da província da Ásia), quando disse que na igreja "não importa
a nacionalidade, a raça, a educação ou a posição social de alguém: estas coisas
não significam nada. O que importa é se a pessoa tem Cristo ou não..." (Cl
3.11, Bíblia Viva)
Timóteo
e os outros pastores estavam confrontando situações jamais vistas antes. Com a
quebra dessas barreiras, um grande número de pessoas (e de senhoras) talvez
estivesse sem entender os limites da sua nova liberdade. As epistolas de Paulo,
Pedro e Tiago lidam com muitos dos problemas que surgiram. E um deles é o
assunto do qual estamos tratando — com Paulo e Pedro determinando qual deveria
ser o comportamento das mulheres nas igrejas e nos lares da Ásia Menor.
Antes
de voltarmos aos textos de 1 Timóteo e de 1 Pedro, interessa, em primeiro
lugar, verificar o que indicam algumas das muitas referências sobre jóias,
adornos e a beleza feminina constantes da revelação divina encontrada no
restante da Bíblia.
Abraão,
marido de Sara, aquela que Pedro elogia como exemplo de mulher santa,
enviou jóias e vestidos para a futura esposa do seu filho, Isaque. "Tomou
o homem um pendente de ouro de meio siclo de peso, e duas pulseiras para as
mãos dela, do peso de dez siclos de ouro…Tirou joias de ouro e de prata, e
vestidos, e os deu a Rebeca" (Gn 24.22,47,53). Deus abençoou todos os
passos para a realização desse matrimônio.
Deus
permitiu que os israelitas recebessem jóias e roupas do povo do Egito (Êx
12.35) e aceitou com agrado a contribuição voluntária de uma parte destas para
serem transformadas em utensílios e enfeites para o tabernáculo, o lugar em que
ele seria adorado (Êx 35.22, 23; 28.17-20). Moisés transmitiu a mensagem: "Tomai,
do que tendes, uma oferta para o Senhor; cada um, de coração disposto,
voluntariamente a trará por oferta ao Senhor: ouro, prata, bronze, estofo
azul, púrpura, carmesim, linho fino, pêlos de cabras, peles…, pedras de ônix e
pedras de engaste…(Êx 35.5-9). Êxodo
No
livro de Cantares de Salomão, que por muitos é considerado tanto um poema sobre
o amor humano quanto uma expressão do amor entre Deus e o seu povo, Salomão
falou à sua amada: "Formosas são as tuas faces entre os teus enfeites, o
teu pescoço com os colares" (Ct 1.10). Em Provérbios 11.9 e
Quando
Deus descreveu o seu amor para com o povo de Israel (Ez 16.8-14), ele disse:
Também te vesti de roupas
bordadas, e te calcei com peles de animais marinhos, e te cingi de linho
fino e te cobri de seda. Também te adornei com enfeites, e
te pus braceletes nas mãos e um colar a roda do teu pescoço. Coloquei-te
um pendente no nariz, arrecadas nas orelhas, e linda coroa na
cabeça. Assim foste ornada de ouro e prata; o teu vestido era de linho
fino, de seda, e de bordados;... eras formosa em extremo e chegaste
a ser rainha. Correu a tua fama entre as nações por causa da tua formosura, pois
era perfeita, por causa da minha glória que eu pusera em ti.
Em
Isaías 61.10, a beleza da salvação foi comparada à da "noiva que se
enfeita com as suas jóias," enquanto que em Apocalipse
É
verdade que as citações acima são descritivas e não prescritivas. Deus, nessas
passagens, não fez nenhuma declaração específica aprovando ou encorajando os
adornos femininos. Mas é importante notar que ele também não os proibiu. Nas
passagens em que Deus castiga as mulheres do seu povo, tirando os seus adornos,
a razão dada é que elas os haviam usado de maneira imprópria (Ez 16). Não há
declaração de que esses sejam errados em si. No mesmo capítulo, a mulher que
representa Judá seria despida dos seus vestidos enquanto que as suas
finas jóias seriam tomadas por causa da sua lascívia e prostituição.
Não somente seus vestidos de luxo seriam tirados, mas toda a roupa, pois ela
ficaria completamente nua e descoberta (v. 39), e ninguém disputa a
propriedade de se usar roupa.
Também
em Isaías 3.16-24 "as filhas de Sião" estavam sendo altivas,
andando de pescoço emproado, de olhares impudentes, e de maneira
vergonhosa (como as de Sodoma). Deus então catalogou uma lista completa dos
objetos para embelezamento que ele iria tirar delas – uma lista que tem sido
usada por muitos comentaristas do passado para resumir tudo que pensam que Deus
não aprova (apesar de falar também de mantos, espelhos, bolsas e véus).
Mas basta reler o início de Ezequiel 16 para sentir como Deus estava validando
e se identificando com o profundo anseio das mulheres que ele mesmo imaginou e
criou de serem bonitas e admiradas. Observemos que é com os lindos objetos de adorno
que ele completa a perfeição da formosura dessa mulher
que representa o seu povo amado. Aquela mulher bonita (e adornada), entretanto,
não deveria se esquecer de que a sua beleza foi dada e permitida por Deus com o
propósito de ser usado para refletir a sua glória: "Correu a tua fama…
por causa da minha glória que eu pusera em ti" (v. 14). Foi
quando as mulheres se desviaram desse propósito e confiaram na sua
própria formosura que os adornos foram retirados.
As
passagens acima demonstram que se Deus tivesse aversão ao adorno externo
feminino, ele teria usado essas ocasiões, que seriam óbvias, para avisar ao seu
povo que ele não queria o uso desses enfeites. De fato, personagens bíblicas
deram, usaram e receberam jóias, enfeites e roupas bonitas sem recriminação da
sua parte. Ele embelezou o seu tabernáculo e os sacerdotes com jóias e adornos.
O maior exemplo do significado das sublimes bênçãos divinas, que ele mesmo mencionou,
é o do homem que procura satisfazer à sua amada, cobrindo-a de adornos por
inteiro. Ele conclui a sua revelação aos seus filhos descrevendo a beleza da
sua igreja e da futura Jerusalém, usando a noiva enfeitada como a ilustração
mais adequada.
Voltemos
agora aos textos da controvérsia. Paulo e Pedro, falando a senhoras e moças nas
igrejas recém-formadas, compararam dois tipos de "adornos."
Aparentemente, os dois condenaram o primeiro tipo, o "adorno exterior."
Mas olhemos, com muita atenção, algumas outras passagens da Bíblia (escolhidas
dentre muitas) em que também são feitas comparações ou contrastes.
A. Comparações em Outros Textos
No
Antigo Testamento, em Gênesis 45.8, José falou: "...não fostes vós que
me enviastes para cá, e, sim, Deus…" Assim, à primeira vista,
poderíamos concluir que os irmãos de José não o mandaram para Egito. Mas, um
pouquinho antes (no v. 4), José já havia dito: "Eu sou José, vosso irmão, a
quem vendestes para o Egito."
No
Salmo 51.16-17, o rei Davi expressa a sua imensa contrição pelos pecados de
adultério e de homicídio cometidos por ele e faz as seguintes declarações ao
seu Deus: "Pois não te comprazes em sacrifícios, do contrário eu tos
daria; e não te agradas de holocaustos. Sacrifícios agradáveis a Deus são o
espírito quebrantado; coração compungido e contrito não o desprezarás, ó
Deus."
No
Novo Testamento, podemos estranhar algumas declarações de Jesus. Em Lucas 14.12
ele ensina: "Quando deres um jantar ou uma ceia, não convides os teus
amigos... nem teus parentes... antes convida os pobres..." Depois, em
João 6.27, ele aconselha: "Trabalhai, não pela comida que perece, mas
pela que subsiste para a vida eterna..." Falando de Lázaro em João 11.4,
Jesus diz: "Esta enfermidade não é para morte, e sim para a glória
de Deus."
Por
que Davi falaria que Deus não se compraz com sacrifícios e holocaustos quando
todos nós sabemos que a "Bíblia" dele estava repleta de instruções
sobre como e quando oferecê-los?37 Podemos concluir que Jesus proibiu que
convidemos os nossos amigos para jantar em nossa casa quando ele mesmo
freqüente e alegremente aceitou convites para jantar (Lc 7.36; Jo 12.2) e
organizou a "última ceia" para celebrar a Páscoa com seus amigos mais
íntimos (Lc 22.7-23)? Se não devemos trabalhar pelo nosso sustento, Paulo
estaria contradizendo Jesus quando ele ordenou que aquele que não quisesse
trabalhar não deveria ser alimentado e exortou as pessoas preguiçosas a
trabalharem para comer (2 Ts 3.10-12)? Se Lázaro não morreu, como explicar a
revelação posterior de Jesus (Jo 11.14) quando afirmou claramente: "Lázaro
morreu"?
B. Expressões Idiomáticas nas Línguas Semíticas
A
resposta ao enigma aparente é simples. Acontece que estamos lidando com
expressões idiomáticas freqüentemente usadas pelos judeus.38 Em muitas
ocasiões, quando queriam comparar ou contrastar duas coisas, eles
deixavam de lado as palavras limitadoras e falavam coisas opostas para
enfatizarem o que queriam dizer. Muitas vezes diziam "não... mas" ou
"não... sim," quando o significado real era "nem
tanto... mas muito mais" ou "não primariamente (ou meramente
ou apenas)... mas especialmente (ou muito mais ou também)."39 Todo
mundo quase sempre entendia isso da maneira como deveria ser entendido. Mas a
nossa língua não funciona assim e quando a Bíblia foi traduzida para o
português (e para muitas outras línguas), os tradutores, nesses casos, deixaram
o entendimento para o nosso bom senso, em vez de adicionar palavras àquelas que
se encontravam no texto original.
1. Aplicação aos Outros Textos
Podemos
e devemos concluir que há uma expressão idiomática nessas passagens. Voltando
ao Salmo 51, lemos logo depois, no versículo 19: "Então te agradarás dos
sacrifícios de justiça, dos holocaustos e das ofertas queimadas; e sobre o teu
altar se oferecerão novilhos." Davi estava ciente de que, naquela hora,
"Deus não poderia se agradar de meros sacrifícios externos — das
ofertas de sangue em si, desacompanhadas da expressão de penitência
genuína."40 Eis a palavra chave com a qual o primeiro versículo pode
fazer sentido. Assim, podemos parafrasear o texto da seguinte maneira:
"Pois não te comprazes em meros sacrifícios, do contrário eu tos
daria; e não te agradas meramente de holocaustos. Sacrifícios muito
mais agradáveis a Deus são o espírito quebrantado; coração compungido e
contrito não o desprezarás, ó Deus."
Voltando
aos outros versículos, colocaremos as palavras que farão com que as declarações
tenham mais sentido em nossa língua:
"Assim
não fostes (apenas, meramente ou tanto) vós que me enviastes para
cá, mas muito mais (em primeiro lugar) Deus."
"Quando
deres um jantar... não convides (apenas ou sempre) os teus
amigos, ... mas convida especialmente os pobres."
"Trabalhai,
não (primariamente ou meramente) pela comida que perece, mas
especialmente pela que subsiste para a vida eterna."
"Esta
enfermidade não é (somente ou primariamente) para morte, mas
especialmente para a glória de Deus."
2. Aplicação aos Textos de 1 Timóteo e 1 Pedro
Seguindo
nessa mesma linha de raciocínio, os nossos versículos sobre o adorno poderiam
ser entendidos da seguinte maneira:
Da mesma sorte, que
as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não
tanto com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário
dispendioso, mas muito mais com boas obras...
Não seja o adorno das
esposas primariamente o que é exterior, como frisado de cabelos,
adereços de ouro, aparato de vestuário; mas muito (infinitamente!) mais o
homem interior do coração, unido ao incorruptível de um espírito manso e
tranqüilo, que é de grande valor diante de Deus...
Pode-se,
entretanto, argumentar que essas cartas foram escritas em grego e que, se isso
é uma expressão idiomática semítica, por que estaria presente nessa língua? É
preciso, porém, observar que existem outras passagens gregas no Novo Testamento
que chamam para si interpretações semelhantes, indicando que essa questão é
muito mais de estrutura de pensamento hebraica, que permanece inalterada mesmo
quando os autores se expressam em grego, do que uma questão linguística. O
apóstolo João em 1 João 3.18 declara: "Filhinhos, não amemos de
palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade." O mesmo ocorre com
a declaração de Paulo em 1 Coríntios 15.10.
Ao
examinarmos na Septuaginta (a tradução grega do Antigo Testamento usada nas
sinagogas da Ásia Menor) os textos anteriormente citados (Salmo 51 e Gênesis
45), verificamos que ela traslada para o grego, de forma semelhante e com os
mesmos negativos utilizados por Pedro, a expressão idiomática que está presente
no texto hebraico. Sabemos, também, que Paulo e Pedro não somente nasceram e
cresceram usando o hebraico/aramaico, mas que continuavam constantemente tendo
contato com pessoas que usavam e falavam esses idiomas.41 Resumindo, pois,
constatamos que (pelo menos à exceção dos textos em debate) não há proibição do
uso de adornos em nenhum lugar da Bíblia e que há ampla descrição da existência
e do uso desses entre o povo de Deus. Observamos, também, que a adição de
certas palavras tem sido necessária, às vezes, em várias porções da Palavra,
para que não haja distorções na mensagem de Deus. Provamos que existe a possibilidade
de que Paulo e Pedro42 tenham utilizado a maneira semítica usual para
enfatizar esse contraste entre o "adorno" físico e o espiritual.
Vamos, agora, analisar outras interpretações desses textos, e observar o
contexto geral das Escrituras sobre as questões do legalismo e da beleza, para
concluirmos que o nosso entendimento da questão realmente se enquadra na
intenção dos autores.
A. Interpretações que Proíbem os Adornos Femininos
Os
dois escritores do Novo Testamento poderiam realmente estar transmitindo uma nova
orientação de Deus ou, talvez, uma orientação mais clara ou
abrangente. Consequentemente, uma das marcas das mulheres participantes da
Nova Aliança seria uma completa (ou quase completa) ausência de adornos e
enfeites. Assim, os termos decência e modéstia (1 Tm 2.9)
acabavam de ser mais bem definidos.
Como
já vimos, essa tem sido a conclusão de muitos teólogos e comentaristas desde os
primeiros séculos da era cristã até aos dias de hoje.43 Outros procuram
amenizar a aparente força das palavras de Paulo e Pedro observando que Paulo
estava falando primariamente sobre as mulheres no culto e Pedro sobre as
esposas, e assim sugerem que as diretrizes talvez se limitem aos dois ambientes
citados.44
Alguns
nutrem a noção de que Pedro e Paulo realmente estavam proibindo os adornos, mas
que essas instruções dos apóstolos tratavam de situações restritas àquele tempo
e portanto não são normativas para as mulheres cristãs dos séculos XX (e
XXI).45 Para concluir, existem ainda aqueles que questionam tanto a
própria autoria de Paulo e Pedro quanto a divina inspiração das suas cartas.
Para esses que desconsideram a autoridade eterna da Palavra, não existe nenhuma
dificuldade ou utilidade maior no texto além da avaliação do efeito
histórico.46
B. Interpretações que Permitem (ou Toleram) os Adornos
Femininos
Por
outro lado, temos Kistemaker e outros que concluem que Paulo e Pedro não tinham
a mínima intenção de fazer com que as mulheres se abstivessem do embelezamento
pessoal, ou que andassem fora da moda, mas que não explicam como então ler o
texto sem ignorá-lo. Ele escreve: "Pedro não diz que a mulher deve se
abster dos adornos. Ele não proíbe o uso de cosméticos, nem o uso de trajes
atraentes. A ênfase de Pedro não é na proibição mas num senso apropriado de
valores."47 Mas não explica! Hendriksen deixa um espaço aberto para os
adornos externos quando traduz o início de 1 Timóteo 2.9 "que as mulheres
se adornem com trajes de adorno com modéstia e bom senso…", e
completa: "É claro, portanto, que o apóstolo não condena o desejo da parte
de moças e mulheres – um desejo criado nas suas almas por seu Criador – de se
adornarem, de usarem de ‘bom gosto’."48 Mas não explica!
Com
relação à autoria e autoridade das epístolas, nos unimos àqueles que consideram
que os ensinamentos desses textos bíblicos procedem realmente de Paulo e Pedro,
sob a inspiração do Espírito Santo, e que continuam sendo normativos. Temos
certeza, porém, de que eles não estavam iniciando uma nova fase na qual
qualquer tipo de adorno era categoricamente proibido às mulheres tementes a
Deus. Cremos que, realmente, estamos lidando com uma expressão idiomática
semítica em ambos os textos, e que o adorno externo não estava sendo
proibido. A seguir, citamos algumas razões.
A. As Proibições não Condizem com os Outros Ensinamentos
de
Paulo e Pedro
A
proibição categórica contra os enfeites femininos não condiz com qualquer outro
ensino registrado dos dois apóstolos. Em nenhum outro lugar, Paulo e Pedro
proibiram ou exigiram qualquer ação ou atitude que não fosse ligada
especificamente à ordem da criação ou à lei moral de Deus.49 Na mesma
carta a Timóteo (4.1-5), Paulo já alertou contra aqueles que "proíbem o
casamento,50 exigem abstinência de alimentos, que Deus criou para
serem recebidos, com ações de graça, pelos fiéis e por quantos conhecem
plenamente a verdade; pois tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ações
de graça, nada é recusável, porque pela palavra de Deus, e pela oração, é
santificado." Chegou a dizer que as pessoas que ensinam a prática do
ascetismo terão apostatado da fé, por terem obedecido "a espíritos
enganadores e a ensinos de demônios" (v.1).
1. O Perigo do Ascetismo e do Legalismo
Sob
a orientação do Espírito (o Espírito afirma expressamente, 1 Tm 4.1),
Paulo estava preparando os novos crentes para não se perderem num novo
legalismo. Tanto os homens quanto as mulheres teriam que aprender a se
preocupar primariamente com o espírito da lei – a lei do amor a Deus e ao
próximo. Ele empreendeu uma campanha tremenda contra o legalismo dos
judaizantes e contra aqueles que pretendiam introduzir ou impor o ascetismo (a
autonegação) na nova fé cristã. Romanos 14 ilustra muito bem a sua atitude.
Falando sobre a questão de comidas oferecidas aos ídolos e da observação de
dias, Paulo disse: "Eu estou persuadido no Senhor Jesus, que nenhuma
coisa é de si mesma impura, salvo para aquele que assim a considera; para esse
é impura…. Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e
paz, e alegria no Espírito Santo" (vv.14, 17). Enquanto isso, no
Concílio de Jerusalém, Pedro também lutou contra o legalismo judaico (At 15.7,
10).
Em
1 Coríntios 8-10, Paulo trata do mesmo assunto: "Portanto, quer comais,
quer bebais, ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de
Deus" (10.31).51 Colossenses 2.20 é muito forte:
Se morrestes com
Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos
sujeitais a ordenanças: Não manuseies isto, não proves aquilo, não toques
aqueloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens?… Tais coisas, com
efeito, têm aparência de sabedoria, como culto de si mesmo, e falsa humildade,
e rigor ascético; todavia, não têm valor algum contra a sensualidade.
Na
carta aos Gálatas, ele escreve: "Para a liberdade foi que Cristo nos
libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais de novo a jugo de
escravidão" (5.1). Na subseqüente lista das obras da carne
(5.19-21), encontramos somente atitudes e ações diretamente proibidas na lei
moral ou que implicam em uso exagerado de algo que é legítimo (como glutonarias).
Continuando
com o raciocínio de Paulo, poderíamos parafrasear Romanos 14.3,13-23:
Tomai o propósito de
não pordes tropeço ou escândalo ao vosso irmão... Nenhuma coisa é de si mesma
impura, salvo para aquele que assim a considera... Quem usa adornos,
para o senhor os usa, porque dá graças a Deus; e quem não usa adornos,
para o senhor não os usa, e dá graças a Deus. Porque o reino de Deus não
consiste de jóias, penteados, roupas chiques ou cosméticos, mas de
justiça, e paz, e alegria no Espirito Santo... Quem usa adornos não
despreze a que não usa; e a que não usa não julgue a que usa, porque Deus a
acolheu... Seguimos as coisas da paz e também as da edificação de uns para com
os outros. Não destruas a obra de Deus por causa dos seus adornos... É
bom não fazer qualquer coisa com que teu irmão venha a tropeçar (ou se ofender,
ou se enfraquecer)… Bem-aventurada é aquela que não se condena naquilo que
aprova. Mas aquela que tem dúvidas é condenada, se usar, porque o que
faz não provém de fé; e tudo o que não provém de fé é pecado.
B. A Capacidade Humana de Apreciar a Beleza é um Dom
Divino
Em
segundo lugar, não devemos nos esquecer nunca de que foi Deus quem nos deu a
capacidade de reconhecer, apreciar e desejar a beleza, como também de
criá-la,52 ainda que de maneira imperfeita e finita. Faz parte da imagem
de Deus em nós, distorcida pelo pecado, mas ainda existente nos seres que ele
criou. É através da beleza, da perfeição e da precisão de sua criação que ele
comunica a sua existência, personalidade e glória a nós, seres humanos (Salmo
19). E, apesar da nossa distorcida apreensão moral, ele continua nos dotando
com os cinco sentidos, com os quais podemos e devemos perceber e nos encantar
com a perfeição de cores e simetria, melodia e harmonia, fragrância e aroma,
leveza e maciez, sabor e doçura. Somente os seres humanos têm essas percepções.
Todas essas qualidades podem ser personificadas numa única mulher,
especialmente quando ela desenvolve os dois lados do seu ser – completando e
aperfeiçoando a sua formosura e elegância exterior com a graça e excelência do
seu espírito interior.
Também
faz parte da imagem de Deus em nós a rejeição inata, pelos nossos sentidos, das
coisas imperfeitas — desbotadas ou assimétricas, destoantes ou desarmoniosas,
malcheirosas ou sufocantes, grosseiras ou ásperas, insípidas ou amargas. A
imperfeição e deformação nunca foram obra nem desejo de Deus. São resultados do
pecado, do trabalho de Satanás no mundo. Ele nos mutilou não somente na alma,
mas também na nossa aparência. É raro não termos algo desproporcional, torto ou
até feio em nosso rosto ou corpo. E quando, porventura, nascemos e crescemos
belos, em pouco tempo o clima, as doenças, os vícios e a velhice começam a devastar
a nossa beleza . Alguém filosofou que "começamos a morrer no dia em que
nascemos." Por isso, em Eclesiastes 12, Salomão alerta os jovens quanto à
efemeridade da vida e à importância de dar valor ao seu relacionamento
espiritual, descrevendo de maneira inesquecível e marcante a triste
deterioração do corpo que acompanha o envelhecimento.
3. O valor da beleza na Bíblia
É
interessante notar que Deus inspirou Moisés a registrar que as esposas amadas pelos
três pais da fé — os patriarcas Abraão, Isaque e Jacó — foram todas lindas.
Sara era sobremaneira formosa ao ponto de ser cobiçada por reis, Rebeca mui
formosa de aparência e Raquel formosa de porte e de semblante (Gn
12.14; 24.16; 29.17). Enquanto isso, Lia tinha os olhos baços e a
diferença na beleza física é a única razão (registrada, pelo menos) para o fato
de que Jacó amou mais a Raquel do que a Lia — a quem até desprezou (Gn 29.17,
30, 31). Deus também deixou registrada a importância e o impacto que a
beleza física de mulheres, esposas e noivas teve nos reis, como Davi e Salomão
(1Sm 25.3; 2Sm 11.2; 1Rs 11; Ct 1.10). Tudo concorre para indicar que os
homens realmente refletem a capacidade divina de apreciar a harmonia e a
estética da beleza externa e, também, que tendem a procurar e apreciar
companheiras belas.53
Na
sua palavra, Deus usa o contraste entre a perfeição e a imperfeição física,
tanto a estética quanto a corpórea, para ilustrar não somente a miséria do
nosso pecado mas especialmente a beleza da nossa restauração espiritual. Já
vimos a passagem em Ezequiel 16 em que Deus descreve como ele vestiu e adornou
a mulher representando Judá, e como ele a deixou feia e nua por causa do seu
pecado. E Paulo foi divinamente inspirado, na sua carta aos Efésios, a
comparar a igreja que Cristo está preparando para si à maneira como muitas
mulheres sonham ser na sua aparência externa, e que muitos homens almejam
encontrar nas suas companheiras54 — "gloriosa, sem mácula, sem ruga,
nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito" (Ef 5.27).
4. Roupas práticas, ou bonitas também?
Existe,
portanto, na mente humana, a capacidade de imaginar e reconhecer a aparência
ideal, bela ou perfeita. A aparência agradável, porém, é atingível numa
infinita variedade de combinações por causa da criatividade do nosso Deus.
Visualizamos essa criatividade não somente nos seres humanos mas também no
resto da criação. É Jesus quem chama a nossa atenção para a beleza das flores
no campo, falando, curiosamente, sobre a nossa preocupação com o que vestimos
(Mt 6.28-30):
E por que andais
ansiosos quanto ao vestuário? Considerai como crescem os lírios do campo: eles
não trabalham nem fiam. Eu, contudo, vos afirmo que nem Salomão, em toda a sua
glória, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do
campo, que hoje existe e amanhã é lançada no forno, quanto mais a vós outros,
homens de pequena fé?
Jesus
diz que podemos confiar em Deus para providenciar tudo que precisamos,
inclusive as roupas. E ele nem nos leva a refletir sobre a utilidade dos nossos
trajes no sentido óbvio e esperado de proteção contra nudez, calor e
frio.55 Em vez disso, ele fala da beleza das flores – uma beleza tão
grande que tira o fôlego de qualquer um que realmente pára com o propósito de
olhá-las, tanto de perto quanto de longe. E ele nos pergunta quanto mais
não deveríamos esperar daquele que veste assim as flores que são tão
transitórias e tão insignificantes em termos de valor real.
Deus,
portanto, criou e permite a beleza do universo e da humanidade. Faz parte da
nossa natureza apreciá-la e querer estar na presença dela. Mas, muitas vezes,
nós não a temos por completo e nem temos acesso a todos os recursos necessários
para alcançá-la. Quando, porém, somos filhos de Deus, começamos a compreender
que não foi apenas a beleza externa que foi corrompida pelo pecado. O nosso
espírito — a nossa personalidade, o nosso caráter, as nossas atitudes — tudo
ficou horrivelmente desfigurado com a queda de Adão e Eva. Isso afetou os
nossos relacionamentos — tanto o vertical quanto os horizontais. A nossa
redenção, a nossa volta à perfeição, começa internamente quando confessamos
Jesus como nosso Salvador e Senhor. Deus espera que a nossa maior preocupação
agora seja com o desenvolvimento e a expressão do nosso lado espiritual – o
homem interior do coração demonstrando a sua piedade pelas boas
obras (1 Pe 3.4: 1 Tm 2.10). O crescimento espiritual faz com que, apesar
de sermos muito mais sensíveis à beleza que pode ser encontrada em tantas
coisas e seres que nos cercam, somos capazes de apreciá-la sem fazer questão de
tê-la. O ter e o aparecer não têm mais a mesma importância,
exceto quando nos são úteis em nosso serviço ao nosso precioso Deus. E o mais maravilhoso
de tudo é que ainda que a beleza externa humana não exista ou se desvaneça com
o passar do tempo, a beleza interna pode crescer e dar expressão agradável ao
corpo.
A. As Exortações de Paulo
Existia
muita oposição entre os gregos aos seguidores do "Caminho." Os gregos
que se mantinham através dos negócios que envolviam o culto aos ídolos se viam
ameaçados com a pregação da adoração a um único Deus (At 19.23-26). Os judeus
não queriam aceitar Jesus como o Messias e consideravam a pregação paulina como
blasfêmia.56 As mulheres romanas nas novas igrejas, estariam sendo
coagidas por seus conterrâneos a prestarem culto também ao imperador Nero.57 Em
meio a tantas dificuldades, quando muitas estavam sendo hostilizadas por suas
próprias famílias e comunidades, elas necessitavam desesperadamente de união
espiritual.
Em
vez disso, pode ser que Paulo estivesse notando que certas irmãs estavam
fazendo com que as outras se sentissem desprezadas. Já que elas estavam acostumadas
a se arrumar quando iam para algum lugar importante (acontecimento talvez raro
na vida de muitas delas), agora estavam querendo levar essa prática para as
reuniões semanais (e, às vezes, diárias) da igreja. Afinal, a sua fé agora era
a coisa principal nas suas vidas. Enquanto algumas tinham que usar roupas e
adereços bem simples por força de tradição ou de pobreza, outras estavam
chegando aos cultos totalmente "produzidas" conforme o estilo da
época, tendo gasto tempo e dinheiro, dos quais as outras não dispunham, com
seus penteados, roupas e jóias. Possivelmente, os cultos em alguns lugares
estavam começando a parecer desfiles de moda! E isso poderia levar àquela
acepção de pessoas tão condenada anteriormente pelo apóstolo Tiago quando ele
alertou contra a tendência que havia no ser humano de tratar com deferência
àquela pessoa que andava "com anéis de ouro nos dedos, em trajes de
luxo" e desprezar o "pobre andrajoso" que também havia entrado
para participar dos cultos (Tg 2.1-2). Em vez de gastarem os seus esforços na
demonstração de amor, bondade, generosidade e compaixão, algumas irmãs estariam
ficando orgulhosas, vaidosas, invejosas, insensíveis. Outras não respeitavam
mais a opinião dos seus familiares e irmãos com relação àquilo que seria decente
ou modesto. Não queriam abrir mão da vontade e prazer de ter status aos olhos
das pessoas que lhes cercavam. Estava sendo difícil compreender que a sua
liberdade cristã terminava logo que ela afetava o bem-estar de outras pessoas.
Paulo
queria que elas entendessem que havia tempo e lugar para tudo. Isso não
significava que as mulheres ricas tinham que andar com roupas de pobre ou
alisar os cabelos toda vez que iam aos cultos.58 Também não seriam
obrigadas a prender os cabelos e os vestidos com enfeites de qualidade
inferior. Simplesmente, era necessário que entendessem que elas tinham que
parar de ser vaidosas. Não deviam estar se preocupando com luxo e ostentação,
enquanto deixavam passar as oportunidades para servir a Deus e à comunidade
cristã com boas obras.
Da
mesma forma, as mulheres tinham que respeitar não somente as suas irmãs em
Cristo, mas também os irmãos presentes nos cultos, tanto os solteiros quanto os
casados ou viúvos. Tinham que vestir-se "em traje decente,…com
modéstia e bom senso" (1 Tm 2.9).59 Nada na sua aparência deveria
desviar o pensamento dos irmãos (nem dos pastores) nem causar-lhes desconforto
ou incômodo.
B. As Exortações de Pedro
Pedro,
por outro lado, falou especificamente às esposas, judias e gentias.
Algumas, com certeza, eram esposas ou filhas de pessoas que lidavam com
produtos para o adorno. É interessante observar que o conselho sobre o exagero
no adorno das esposas faz parte duma exortação sobre como "ganhar o seu
marido descrente para Cristo." Ele começou dizendo (1 Pe 3.1-2):
Mulheres, sede vós,
igualmente, submissas a vossos próprios maridos, para que, se alguns deles
ainda não obedecem à palavra, sejam ganhos, sem palavra alguma, por meio do
procedimento de suas esposas, ao observarem o vosso honesto comportamento cheio
de temor.
Para
muitas mulheres gentias, convivendo com a realidade da época em que era comum e
aceito um homem ter uma amante e freqüentar casas de prostituição,60 Pedro
estava abrindo (e não diminuindo) o leque de possibilidades para elas ganharem
os seus maridos, não somente para Cristo, mas também para si. Elas poderiam
aumentar ou completar a sua beleza, esforçando-se para adornar a sua
alma, sendo submissas aos maridos e tendo um comportamento honesto.
Ao desenvolver um espírito manso e tranqüilo no seu lidar diário com
esses homens, bons ou ruins, crentes ou descrentes, elas poderiam esperar em
Deus pelo resultado, sem temer perturbação alguma.
Todas
poderiam tirar ânimo de Sara, que fez isso quando seu marido, Abraão, resolveu
(duas vezes) não esperar em Deus e entregá-la aos caprichos de
homens perversos e pervertidos (Gn 12.10-20 e Gn 20).61 Pedro não ensinou
aqui que elas deveriam se descuidar da aparência e arriscar a perda do amor ou
do respeito dos seus maridos. Nada disso. Nem elas deveriam jogar fora os seus
vestidos bonitos e suas jóias, insistindo com seus maridos que não mais podiam
acompanhá-los aos jantares sociais. Elas ainda podiam e deviam enfeitar-se com
o propósito de agradar os seus esposos, mas não para se ostentar a despeito da opinião
deles. Pedro insistiu, não que o aspecto exterior devesse ser negligenciado,
mas que agora o desenvolvimento do seu caráter, e o agradar aos seus maridos,
deveria ser item prioritário nas suas vidas e fazer com que elas alcançassem
uma beleza mais completa, duradoura e satisfatória.
Pode
ter sido também que algumas mulheres estivessem enlouquecendo seus esposos com
a sua insistência em seguir a moda. Tinham que ter mais e mais dinheiro para
comprar novos tecidos e jóias e, em vez de cuidarem das suas casas e famílias,
gastavam seu tempo preparando e mantendo seus penteados e aparência. Seria
realmente difícil para um marido daquele tempo dormir ao lado duma mulher
tentando preservar um penteado igual a alguns que vemos nas estátuas da época!
Podemos imaginar algum marido irado se queixando a Pedro sobre a sua
experiência nesse sentido. Algumas simplesmente não estavam ligando mais para a
opinião dos seus cônjuges, talvez por achar que não tinham mais autoridade por
não serem crentes. Além disso, Pedro estava alertando-as de que as perseguições
já em andamento iriam aumentar (com as perseguições de Nero, ver 1 Pe 4.12-19).
Se elas se prendessem demais aos seus adornos e à sua posição social, não
estariam prontas para renunciar a tudo por amor a Deus, na hora da provação.
A. A Mulher Cristã Pode se Enfeitar
Concluímos,
então, que a Bíblia não apoia a proibição absoluta aos adornos femininos, nem
nas duas passagens em questão e nem em qualquer outro lugar. Vimos que existem outras
passagens que contêm comparações ou contrastes que necessitam receber uma
leitura alternativa por representarem expressões idiomáticas semíticas.
Examinamos as outras passagens sobre adornos e comprovamos que não contêm
condenação. Verificamos o repúdio bíblico ao ascetismo e ao legalismo.
Confirmamos que a apreciação do belo é algo que nos é dado por Deus. Percebemos
que uma proibição não é compatível com o espírito e o exemplo de Paulo e Pedro.
Assim sendo, podemos inferir que, nos textos principais examinados, realmente
estamos lidando com uma peculiaridade de expressão idiomática-cultural, no
contraste traçado entre os adornos exterior e interior, sem receio nenhum de
estarmos torcendo a intenção das palavras inspiradas dos apóstolos.
B. A Beleza do Espírito Deve Ultrapassar a Beleza do
Corpo
Mas
não podemos nos empolgar demais com essa descoberta e esquecer que a parte mais
importante (o "especialmente" ou o "muito mais")
de ambos os versículos da controvérsia se encontra na outra metade. Há dois
tipos de adornos, sim. Estabelecemos que não podemos dizer que um tipo está
errado e o outro certo. Mas o contraste continua existindo, e
esse contraste é entre uma beleza exterior e uma beleza interior ou
entre um adorno inferior e um adorno muito superior. Todavia,
não é interditando o primeiro que iremos chegar à plena realização do segundo.
C. Equilibrando as Duas Belezas
O
nosso entendimento não deve, portanto, parar aqui, pois é exatamente esta
compreensão (que a beleza interior é infinitamente superior à exterior) que
torna uma comunidade cristã tão especial. Pessoas fisicamente feias ou
deformadas são sinceramente respeitadas e amadas por seu caráter, dons e
atitudes. Há lugar para todos. Não é preciso ser bonito, rico, elegantemente
vestido ou adornado para ter aceitação entre nós.
Por
outro lado, a beleza externa pode ser promovida e utilizada para glorificar a
Deus, sempre dentro do contexto das palavras de Pedro — com decência,
modéstia e bom senso. A beleza natural pode ser realçada, os defeitos
ocultados, as marcas do tempo atenuadas, as gorduras e celulites combatidas, as
roupas serem modernas, elegantes e combinadas. Mas quando a mulher que se diz
cristã gasta mais tempo, dinheiro e esforço com a sua aparência física de que
com o desenvolvimento do "fruto do espírito" (como a mansidão
e a tranqüilidade que Pedro cita), algo está muito errado!
D. O Desafio Continua
Agora
que conhecemos a situação das mulheres que receberam as orientações de Paulo e
de Pedro sobre os seus adornos, penso que podemos nos identificar muito
melhor com elas e aplicar as lições que elas tiveram que aprender às nossas
vidas também. Sentadas nos bancos das nossas igrejas brasileiras, há uma
diversidade igualmente grande de mulheres e moças. Somos pobres, ricas ou de
classe média... Somos analfabetas, letradas, empregadas, patroas,
profissionais, donas de casa... Somos solteiras, divorciadas, casadas,
viúvas... Somos morenas, indígenas, brancas, orientais... Somos nordestinas,
nortistas, paulistas, cariocas, gaúchas, estrangeiras... Algumas são crentes
novas, enquanto outras cresceram na fé. Várias têm que conviver com maridos ou
parentes descrentes. Juntas, temos oportunidades incríveis para mostrar e
sentir amor e tolerância de maneiras inéditas e preciosas.
Como
elas, vivemos numa sociedade onde há leis mas nem sempre a justiça está ao
alcance de todos. Podemos gastar o nosso tempo e dinheiro ajudando e aliviando
os irmãos que não conseguem aquilo que deveria ser seu direito. O nosso mundo,
como o delas, está cheio de oportunidades para servir a Deus. Bem presente em
nosso meio, também, está a falta de valorização da vida humana demonstrada na
violência nas ruas e nos lares das nossas cidades. Agora, como então,
precisamos nos engajar na pregação e no ensino das verdades bíblicas para que
possa ser revertida essa situação lamentável em nosso país, através de vidas
transformadas para a glória de Deus!
Do
mesmo modo, algumas pessoas que não tem nada a ver conosco, como as mulheres
romanas na Ásia Menor, ditam o corte dos nossos cabelos, o comprimento, a cor e
a marca das nossas roupas e até o formato aceitável das nossas bijuterias,
cintos e sapatos. Status, auto-estima e aceitação para muitas mulheres
estão diretamente ligados aos caprichos dessa minoria. Querem mandar em cada
pormenor do nosso visual, e fazem com que nós nos sintamos culpadas e
incompletas quando algo em nós ou em nossas filhas não está em conformidade com
os modismos da época. Da mesma forma que as asiáticas sob a pax romana,
estamos começando a gozar de estabilidade econômica, com uma crescente oferta
de produtos e serviços nacionais e importados destinados a melhorar o nosso
exterior.
E. O Nosso Desafio é Maior
Nem
tudo é igual, entretanto. Antigamente, não existiam os meios de comunicação dos
quais desfrutamos hoje em dia. Os convites e as oportunidades para o
embelezamento eram mais infrequentes. Atualmente, o fascínio com a aparência
externa é generalizado numa sociedade que maximiza a realização pessoal e a
"perfeição" do corpo humano duma maneira nunca vista antes. Somos
bombardeados por todos os lados. Até nas filas dos supermercados, os nossos
olhos caem nas capas das revistas e objetos colocados estrategicamente para nos
chamar a atenção. Somos convidados a partilhar dos segredos de beleza e da
forma física de alguma atriz ou personagem televisiva, ou a experimentar o mais
novo produto para disfarçar ou eliminar algo em nós que sabemos não ser
atraente. Confusas, corremos de um produto para outro, enchendo os nossos
armários com um sem número de frascos e potes rejeitados quando ainda quase
cheios, sem coragem de colocá-los no lixo, pois isso confirmaria a nossa
sensação de ter jogado dinheiro fora. Quando finalmente resolvemos comprar uma
roupa ou um sapato para a nossa filha, ficamos estarrecidas em saber um mês
depois que "ninguém mais usa isso, mãe!" É preciso, com certeza,
muita sabedoria (e oração) para estabelecer os limites entre o necessário e o
supérfluo e para saber quando, e o que, comprar ou fazer. Temos que ser cristãs
criteriosas, exercendo bem a liberdade de escolha pela qual Paulo tanto lutou.
F. Corpo e Alma – a Serviço do Criador da Beleza
Quando
realmente nos conscientizarmos de que existem valores superiores e que o nosso
tempo e dinheiro são preciosas dádivas de Deus, daremos menos importância
àqueles detalhes do nosso aspecto exterior que não podemos ou que talvez não
devemos modificar, seja por razões financeiras, circunstanciais ou espirituais.
Não conseguiremos mais passar horas a fio com cabeleireiros, manicuras ou em academias
lutando unicamente para embelezar o nosso corpo enquanto muitos sofrem e
morrem ao nosso redor. Mesmo assim, conseguiremos ser realmente lindas, felizes
e realizadas com o desenvolvimento do nosso "adorno" interior — mesmo
sendo imperfeitas, envelhecidas ou desgastadas externamente — se estivermos
estudando e vivendo de acordo com o manual que o Criador da beleza nos deu para
indicar e iluminar o caminho daqueles que o amam. Em contraste com muitas das
nossas irmãs do passado, temos à nossa disposição não somente a Bíblia inteira
como também acesso a inúmeras pessoas, cursos, livros e periódicos capazes de
nos facilitar o crescimento espiritual.
De
Paulo e Pedro aprendemos que não devemos deixar que haja luxo ou ostentação em
nossa aparência que possa afastar ou entristecer alguma irmã. Não vamos gastar
as nossas horas e economias para satisfazer apenas a nossa própria vaidade.
Devemos ser modestas e decentes e assim não iremos prejudicar ou
tentar os nossos colegas masculinos de trabalho ou de escola, ou os nossos
irmãos e pastores na igreja, evitando o vestir e adornar a nós mesmas com o
propósito de sermos "sexy" ou sensuais. Dediquemos os nossos corpos,
inteiramente, ao Deus que nos deu propósito de vida e valor intrínseco e
eterno. Usemos esses mesmos corpos para externar uma personalidade transformada
por ele, com todas as qualidades que uma filha dele pode ter. Sejamos
verdadeiras filhas de Sara (1 Pe 3.6), tendo o privilégio e a obrigação
de procurar e complementar duas belezas legítimas enquanto nos esforçamos para
cumprir a nossa missão terrena da melhor maneira possível, em gratidão àquele
que nos "chamou das trevas para sua maravilhosa luz" (1 Pe 2.11).
"Acaso
não sabeis que o vosso corpo é santuário do Espírito Santo, que está em vós, o
qual tendes da parte de Deus, e que não sois de vós mesmos? Porque fostes
comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo"
(1 Co 6.19-20).
English
Abstract
In this article, the
author deals with the two portions of Scripture (1Tm 2 and 1Pe 3) that seem to
specifically forbid external adornment for women. She points out the importance
of a proper interpretation of these passages since both exhortations are woven
into apostolic instructions as to the roles of men and women in worship and in the
home. Therefore, if Christians are led to believe that God does not really
forbid women to beautify their outward appearance (without scriptural
substantiation for this deduction) then the next logical conclusion is that God
perhaps does not mean what the texts appear to say about male leadership. Mrs.
Portela proceeds to review the places in Scripture where adornments appear,
pointing out their customary use by God´s servants and even by the Creator
himself when he wished to illustrate the extent of his love for his people.
Subsequently, she points out that in many places in Scripture, the inspired
writers and speakers used the usual Semitic manner of comparing and contrasting
in which a negative is used but not understood (v.g., Genesis 45.4,8 and Luke
14.12). This may be applied to the verses in debate so that the affirmations
become a contrast between an inferior and a superior adornment rather between
one that is forbidden and another that is acceptable. She continues by pointing
out that a specific prohibition of women’s adornment does not fit in with the
teachings of Paul and Peter, for they severely criticize and combat any form of
legalism or asceticism. Furthermore, she establishes that the capacity to
recognize, appreciate and desire beauty through the five senses continues to be
a gift from God. She concludes that the apostles were not prohibiting external
adornment but were warning against ostentation, immodesty and indecency. They
were encouraging a perspective which only those who love God can have, in which
the concern for the outward appearance becomes secondary to the development of
the much more lovely and enduring fruit of the spirit — the inner adornment —
of good works and considerate relationships, both within the home and in the
church.
NOTAS
2
2 Reis 9.30. Jezabel, mulher extremamente má, se pintou em volta dos olhos,
enfeitou a cabeça… e foi jogada da janela pelos seus próprios servos.
3
Exemplos: A. Maude Royden, The Church and Woman (Nova York: George H.
Doran, 1925?); Ruben Duffles Andrade, A Mulher na Igreja (São Paulo,
1995) – manuscrito não publicado; Zélia Fávero Maranhão, O Erro Monumental
da Igreja Cristã (São Paulo, 1994).
4
Os mesmos homens merecem tremendo respeito e a eterna gratidão de todos na
igreja cristã por seus esforços em outras áreas e até pelo desenvolvimento
correto da perspectiva bíblica sobre os papéis distintos do homem e da mulher
na igreja e no lar. Mas, ao tentar responder à amiga que solicitou o ponto de
vista bíblico sobre adornos, foi muito frustrante verificar, enquanto
pesquisava, que os comentaristas mais conceituados do passado (e alguns do
presente) nunca tentam explicar os textos considerando um possível interesse
feminino no assunto. Eles acatam as aparentes proibições friamente e depois
passam páginas inteiras explicando o significado de modéstia, decência
e, especialmente, submissão. Não preparam os pastores, que procuram
compreender as passagens pela leitura dos seus comentários, para responder às
"Priscilas" nas suas igrejas que são capazes de compreensões e
deduções teológicas e que perguntam, por exemplo, sobre as outras passagens que
falam sobre adornos. O tratamento antigo mais caridoso encontrado foi de Barnes
(1798-1870). Ver Albert Barnes, Barnes’ Notes on the Old and New Testaments:
Psalms (Grand Rapids: Baker Book House, 1964), 1135, 1415.
5
John Piper e Wayne Grudem, Homem e Mulher (São José dos Campos: Editora
Fiel, 1996), 14-19. Esse livro tem um excelente tratamento sobre a perspectiva
bíblica da masculinidade e da feminilidade, apontando também muitas coisas que
a masculinidade madura não devem significar.
6
Os homens devem ter consideração para com as mulheres, tratando-as com dignidade
como herdeiras da mesma graça (1 Pe 3.7).
7
Filo, As Leis Especiais, I, 201 (ênfase minha).
8
Talmude, Menahoth 43-44. Não temos certeza se os judeus já estavam
orando assim nessa época, mas a oração não destoa dos seus outros ensinamentos (extra
bíblicos) a respeito de mulheres.
9 "Temple,
Jerusalem," em The Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible (Grand
Rapids: Zondervan, 1975), V, 650.
10
"Potinhos e apetrechos para pintar o rosto, feitos de osso, marfim ou
metal, assim com espátulas para espalhar cosméticos" estão entre os
objetos mais encontrados nas escavações arqueológicas dessa época na Palestina,
evidência de que eram usados regularmente pelas mulheres judias. Ver Henri
Daniel-Rops, A Vida Diária nos Tempos de Jesus (São Paulo: Vida Nova,
1986), 197-198. No mesmo trecho, Daniel-Rops conta que no tratado Shabbath
do Talmude (c. 35 DC), a norma "mais desagradável para as mulheres
era com certeza aquela que impedia que trançassem, encrespassem ou pusessem
fitas e ornamentos no cabelo no dia de descanso" (adornar-se era
considerado "trabalho" – outra indicação de que era permitido em
outros dias e ocasiões).
11
Tertuliano, O Véu das Virgens, Cap. 12.
12
Cipriano, A Vestimenta das Virgens, Cap. 12. No Cap. 8, ele cita as
passagens em debate.
13
Jerônimo, Carta 54, 7.
14
Sem entrar em pormenores, partimos do ponto de vista de muitos expositores
conceituados (Hendriksen, Tenney, Machen, Ryrie, Lenski, Guthrie, Grudem…) de
que Pedro e Paulo foram os autores de 1 Pedro e 1 Timóteo. Também que Pedro
mandou a sua carta de Roma e que Paulo escreveu a sua para Timóteo talvez da
Macedônia, antes de ser preso e levado a Roma pela segunda vez. Isso explica
por que Lucas, no livro de Atos, não se refere à presença de Pedro em Roma e
por que Pedro não menciona Paulo juntamente com as saudações de Marcos (1 Pe
5.13).
15
1 Timóteo 1.3. Ver C.C. Ryrie, A Bíblia Anotada (São Paulo: Mundo
Cristão, 1994), 1515.
17
Além de ser cidadão romano era preciso, muitas vezes, ser rico, famoso ou
poderoso e viver agradando os caprichos dos governantes para poder ter os
direitos defendidos num tribunal. Até uma leitura superficial dos escritos de
Tácito e Suetônio impressiona pela quantidade de pessoas ilustres que foram
forçadas a se suicidar por Nero, inclusive o estadista e filosofo estóico
Sêneca (Tácito, Anais, V, 60-64).
18 Edith Hamilton, The
Roman Way to Western Civilization (Nova York: Mentor Books, 1959), 110-111.
"A
engenhosidade humana em inventar novos e mais divertidos tipos de carnificina
finalmente se esgotou e o único recurso que sobrou para agradar os espectadores
impacientes foi aumentar o número de participantes".
19
Suetônio, Doze Césares, VI, Nero, 38; Tácito, Anais, XV, 38-44.
20
De acordo com o historiador Eusébio, Pedro foi crucificado de cabeça para baixo
e Paulo decapitado. Zondervan Pictorial Encyclopedia, V. 4, "Paul,
the Apostle," 654; "Peter, Simon", 739.
21
Suetônio, Doze Césares: Nero, 30.
22
Não incluídas estavam a Lícia, a Panfília e a Cilícia. Encyclopaedia Britannica (Chicago:
Encyclopaedia Britannica, 1971), V. 2, "Asia Minor," 605.
23 Zondervan
Pictorial Encyclopedia, V. 1, "Asia," 364.
24 Funk &
Wagnalls New Encyclopedia (Nova York: Funk & Wagnalls, 1979), V. 20,
"Renaissance," 220. Hamilton diz (nos anos 30): "A nossa era mecânica e
industrial é a única realização que pode ser comparada às da Roma
durante os 2000 anos que se passaram." Roman Way, 151.
25
Como Homero e Heródoto, Esopo, Hipócrates e Galeno, Asclepíades, Pitágoras,
Hipodamus de Mileto, observação substanciada em extensa pesquisa da autora.
26
Exemplos: a Vênus de Milo, o Gaulês Moribundo e a Nike de
Samotrácia. Enciclopédia Britânica, V. 10, "Greek Art,"
848.
27
Eram o Templo de Ártemis em Éfeso, o Colosso de Rodes e o Mausoléu
de Halicarnasso. Funk & Wagnalls,
V. 21, "Seven Wonders of the Ancient World," 270.
28 Zondervan
Pictorial Encyclopedia, V. 3, "Lystra," 1015.
29 Zondervan
Pictorial Encyclopedia, V. 1, "Aquila and Priscilla," 232;
Michael Green, Evangelism in the Early Church (Grand Rapids: Eerdmans,
1970), 222-3.
30 Zondervan
Pictorial Encyclopedia, V. 1, "Apphia," 227; William Hendriksen, Colossians
and Philemon (Grand Rapids: Baker, 1964), 193.
31
Enciclopédia Britânica, V. 19, "Roman History: II. The
Empire," 536 cita a opinião do famoso historiador Edward Gibbon de que a
humanidade nunca foi mais feliz do que nesse período.
32 Zondervan
Pictorial Encyclopedia, V. 1, "Cloth," 893; V. 5, "Thyatira,"
743.
33
Funk & Wagnalls, V. 8, "Embroidery," 492.
34
O governador romano Pôncio Pilatos foi morar na Palestina acompanhado por sua
esposa (Mt 27.19) e Germânico, avô do imperador Nero, sempre esteve acompanhado
pela esposa (e filhos) em todas as suas campanhas militares, inclusive na Ásia
Menor (Tácito, Anais, Livro I, 40; Livro II, 54).
35
Algumas eram judias cristãs recém-chegadas após terem sofrido violentas
perseguições pelos seus conterrâneos na Palestina que rejeitavam a nova
"seita". Estavam tendo que conviver com línguas e costumes novos e
estranhos e, enquanto as mais velhas provavelmente zelavam pelas tradições
antigas, as mais novas estariam sendo tentadas a assimilar as novidades do seu
lar atual. Mas, como vimos (nota 10), elas tinham as suas roupas bonitas, jóias
e cosméticos.
36 Green, Evangelism
in the Early Church, 118-119.
37
Por exemplo: Êxodo 29 e Levítico 22.
38 Ralph Woodrow, Women’s
Adornment: What Does the Bible Really Say? (Riverside, CA: R. Woodrow,
1976), 17.
39 I. Howard
Marshall, The Gospel of Luke: A Commentary on the Greek Text, The New
International Greek Testament Commentary (Grand Rapids: Eerdmans, 1978), 583. Comentando uma outra
passagem (Lc 10.20), na qual Jesus falou aos setenta discípulos que voltaram
alegres porque os demônios estavam sendo expulsos por eles, dizendo "Alegrai-vos,
não porque os espíritos vos submetem, e, sim, porque os vossos nomes estão
arrolados nos céus," ele esclarece: "O que foi dito provavelmente
deve ser interpretado em termos de uma expressão idiomática semítica que
significa, ‘Não vos alegreis primariamente por que… mas muito mais por que…’
(ver ainda 12.4; 14.12; 23.28; Jr 7.22; Os 6.6; 1 Co 1.17; Mt 10.20; Mc 9.37;
Jo 7.16; 12.44)". Outro autor fala de semitismos no uso de
antônimos referindo-se a Mt 10.37 e Lc 14.26 — Walter C. Kaiser, Jr., Towards
Old Testament Ethics (Grand Rapids: Zondervan, 1983), 252. Podemos
considerar, portanto, que existem negativos de exclusão e negativos de priorização,
cuja identificação é extremamente importante para o correto entendimento do
texto.
40 Barnes, Notes
on the Old and New Testaments: Psalms, 90.
41
Na nossa própria experiência, como filha de pais holandeses radicados no Canadá
depois de adultos, temos verificado a persistência de construções gramaticais
características da língua holandesa no modo de expressar-se da geração
imigrante, ainda após trinta, quarenta ou até cinqüenta anos de familiaridade
com a língua inglesa, especialmente por aqueles que continuam convivendo nas
igrejas reformadas de origem holandesa.
42
H.D.M. Spence e Joseph S. Exell, eds., The Pulpit Commentary, V. 22
(Grand Rapids: Eerdmans, 1980), 129, comentam sobre 1 Pedro 3.3 dizendo que
Pedro estava utilizando um "hebraísmo comum". Woodrow, Women´s
Adornment, fala de "Hebrew idiom" — uma "expressão
idiomática hebraica." Preferimos a terminologia de Marshall (nota
14), que se refere a uma "expressão idiomática semítica," por
ser mais ampla, já que estamos tratando do hebraico e do aramaico.
43
Josué A. de Oliveira, A Mulher nos Planos de Deus (São Paulo: Cultura
Cristã, 1989), 96-123. Gordon D. Fee, Novo Comentário Bíblico Contemporâneo,
1 e 2 Timóteo, Tito (Deerfield, FL: Editora Vida, 1994), 81. "Há
grande agregado de evidências, tanto helenísticas quanto judaicas, que fazem os
‘vestidos dispendiosos’ das mulheres equivaler à leviandade sexual, ou à
insubordinação conjugal". Ele cita uma frase antiga: "Uma esposa que
gosta de adorno não é fiel." Sextus, 513.
44
Exemplo: J.N.D. Kelly, I e II Timóteo e Tito: Introdução e Comentário
(São Paulo: Vida Nova e Mundo Cristão, 1963), 69.
45 Ver Nota 3.
47 Simon J.
Kistemaker, New Testament Commentaries: Exposition of the Epistles of Peter
(Grand Rapids: Baker, 1987), 120. George H. Cramer, First and Second Peter
(Chicago: Moody Press, 1967), 47, e H. A. Ironside, Timothy, Titus and
Philemon (Neptune, NJ: Loizeux Bros, 1947), 66, e muitos outros,
especialmente os que comentam ao nível de leigos, declaram impossível a
proibição de adornos; também senhoras consagradas como Eugenia Price, De
Mulher para Mulher (São Paulo: Mundo Cristão, 1987), 69.
48 William
Hendriksen, I-II Timothy and Titus (Grand Rapids: Baker, 1972), 105-106.
49
Com uma exceção que pode ser explicada. No primeiro concílio eclesiástico da
igreja nascente (Atos 15), os apóstolos reunidos em Jerusalém incluem a abstenção
das coisas sacrificadas a ídolos, bem como do sangue e da carne de
animais sufocados nas suas orientações aos gentios recém-convertidos (v.
29). Paulo, posteriormente, partindo da realidade vivida nos países fora da
Palestina onde era extremamente difícil verificar se algo havia sido sacrificado
a ídolos antes de ser vendido, reavalia a situação e dá novas orientações (Rm
14). Van Groningen diz que essa passagem de Atos 15 representa "uma
aplicação temporária de uma verdade moral e perpétua a uma igreja numa situação
histórica específica e temporária". G. Van Groningen, The Sabbath Sunday Problem (Geelong, Australia:
Hilltop Press, 1968), 15.
51
Machen diz, "O problema básico da conduta cristã é como aplicar os
princípios elevados do evangelho à rotina da vida diária. Não é possível
resolver detalhadamente esse problema para homem nenhum, pois os detalhes da
vida são de uma variedade infindável; mas o método para a solução está em 1
Coríntios. J. Gresham Machen, The New Testament: An
Introduction to its Literature and History (Edimburgo: Banner of Truth,
1976), 132.
52 Hendriksen, I-II
Timothy and Titus, 106.
53
É verdade que houve complicações sérias nas vidas de todos eles por causa da
importância extremada dada à beleza externa, por eles ou pelos outros.
Não havia nesses casos a apreciação apropriada da beleza interior que
Paulo e Pedro tanto destacaram nos seus textos, e eles sofreram as
conseqüências. Destacamos, porém, que o homem não mudou, e que continua sendo
natural ele apreciar a beleza externa nas representantes do sexo feminino. Esse
fato se faz importante ao avaliarmos a legitimidade dos adornos femininos.
54
Por mais que homens crentes sejam consagrados a Deus e prontos para seguir a
sua liderança na escolha da sua esposa, é a minha opinião que não há dúvida que
eles primeiro olham as moças formosas de porte e de semblante (como Raquel em
Gn 29.17). Eu mesma tenho 99% de certeza que meu próprio marido (que já se
destacava pela fidelidade a Deus e que recebeu dele uma apreciação muito
especial pela ordem, lógica, simetria e beleza da criação) não teria procurado
conhecer e namorar uma estrangeira do outro lado do mundo se ela não lhe
chamasse primeiro a atenção pela aparência externa que Deus permitiu que
tivesse naquela época. (E o mesmo foi verdade para mim. É o Senhor Deus que vê
primeiro o coração, mas o homem enxerga primeiro o exterior – 1 Sm 16.7). Por
isso mesmo, nestes dias em que casamentos não são mais arranjados pelos pais,
penso que Deus dá todo direito às moças que querem encontrar um marido cristão
a se completarem e aperfeiçoarem com os adornos e cosméticos que lhes competem,
com bom senso e modéstia, não no sentido de enganar, iludir ou ludibriá-lo, mas
para que ele possa dar suficiente atenção a elas para perceber as suas outras
qualidades mais duradouras e mais valiosas.
55 Edith Schaeffer, Hidden
Art (Wheaton, Ill.: Tyndale House Publishers, 1977), 182-186. Edith Schaeffer foi
esposa e colaboradora do já falecido filosofo e teólogo Francis Schaeffer.
Depois de descrever, com detalhes minuciosos e lindos, seu prazer na grande
beleza e variedade de cores, texturas e formas das flores que conhece, ela
declara que é importante que o cristão viva estética, artística e
criativamente, representando nas suas roupas aquele que desenhou, criou e
vestiu as flores. Questiona se o Criador, que declara que seus filhos são ainda
mais importantes do que essas belas flores, os obriga a esperar e procurar
apenas roupas monótonas, sombrias ou feias das mãos dele.
56
Os judeus recém-convertidos devem ter sofrido muito com o preconceito e a
oposição dos seus familiares e amigos nas comunidades em que viviam. Basta
examinar com cuidado os relatos da primeira passagem de Paulo pelas cidades da
Ásia Menor. Foi expulso de Antioquia da Pisídia (At 13.50) e apedrejado tanto
em Icônio quanto em Listra (At 14.5, 19) por causa da oposição dos líderes
judaicos.
57
Trabalho dos "asiarcas" citados no mesmo capítulo (19.31). A sua
função principal era cuidar da adoração ao imperador e a Roma na província da
Ásia (Zondervan Pictorial Encyclopedia, V. 1, "Asiarchs,"
365).
58
Apesar de ser evidente que Paulo está falando especialmente sobre as mulheres
nos cultos, nota-se que aquilo que é contrastado ao adorno externo são as boas
obras (1 Tm 2.10), que seriam praticadas mais fora do que dentro da igreja
per se. Assim sendo, as orientações são mais amplas, ao nosso ver.
59
Hendriksen, I-II Timothy and Titus, 105-106 diz que "modéstia
indica um senso de vergonha, um recusar-se a ultrapassar os limites da
propriedade, uma reserva apropriada. Bom senso literalmente
significa sanidade mental … vestir-se com sensatez". Ele
argumenta contra a tradução com decência e sugere que a mais correta
seria em trajes de adorno (não por discordar que a decência
também seja requerida por Deus das mulheres cristãs, mas porque acredita que
Paulo estava alertando contra o exagero e não contra o adorno em si).
60
"Mantemos amantes para o nosso prazer, concubinas para o concubinato
diário, mas esposas nós temos para produzir filhos legitimamente e para ter uma
guardiã de confiança da nossa propriedade doméstica." O orador Demóstenes
em Contra Neaera em Athenaeus of Naucratis, The Deipnosophists, Book
XIII: Concerning Women (Loeb Classical Library, 1937). Internet:
http://user42.blue.aol.com/heliogabby/deipnon/deipnon.htm.
61
Não é disso, certamente, que a maioria dos homens se lembra quando pensa em
Abraão, mas é o que vem primeiro à mente de muitas mulheres quando pensam no
relacionamento de Sara com ele. Junta-se a isso o fato de o amor de Abraão por
Sara não ter feito com que ele se recusasse a dormir com Hagar (Gn 16.1-4) e
temos um prato cheio para qualquer estudo feminino contemporâneo sobre esse
casal patriarcal. Penso que esses acontecimentos e o registro da intervenção
divina livrando e abençoando a Sara após todos os três vinham (e vêm) à mente
das mulheres (até de homens crentes) que liam (e lêem) as palavras para esposas
de maridos que não obedecem à palavra. Em contrapartida, ninguém duvida
de que Sara se enfeitasse (nota 51) e assim o seu exemplo seria apenas no
segundo tipo de adorno – o adorno superior – o homem interior do coração.