Mulher Gosta de Falar?
Série de Artigos para a Revista
Graça
Pr. José Antônio Corrêa
Na
cozinha da casa de minha mãe, eu e minhas irmãs conversávamos sobre o problema
que afetava uma de minhas filhas. Meu irmão, que é muito amigo nossos, ficou
por ali, escutando e dando uns palpites de vez em quando. Lá pelas tantas,
contudo, ele se despediu, dizendo: "Estou vendo que vocês ainda vão longe
com essa conversa. Eu vou dormir. Boa noite." E foi mesmo, enquanto nós
ainda fiamos por ali mais de duas horas. Fomos dormir de madrugada, sem que
nada tivesse sido resolvido, mas encorajadas pelo apoio que demos e recebemos
umas das outras.
Tem
sido assim em muitas situações que enfrentamos. Com essas conversas,
incompreensíveis para os homens da família, tecemos uma rede amiga e fraterna
de comunicação e comunhão que nos tem sustentado nas mais diversas
dificuldades.
As
mulheres gostam de falar, sim! Falam para se comunicar, para se ligar aos
outros, e, por isso mesmo, usam mais a linguagem do coração, dos sentimentos.
Os fatos em si são mais relevantes para elas se envoltas nas ondas de
sentimentos que provocam. Deus fez a nossa mente mais intuitiva e integrada em
suas funções para complementar bem a mente masculina — mais lógica, racional e
unilateral em seu funcionamento.
Sei
que gosto de falar, e sei também que isso é bom. Mas essa qualidade feminina
pode ser distorcida pelo meu pecado e me levar a falar demais, na hora
imprópria, e falar do que não deveria. Para evitar essa distorção, inspiro-me
no exemplo de uma mulher sábia, cujas palavras e silêncios muito me ensinaram
(e continuam ensinando) nos momentos de dúvida.
Maria,
mãe de Jesus, é mencionada diversas vezes no Evangelho de Lucas como uma mulher
que se calou nas horas mais emocionantes de sua vida. "E, vendo-o, ela
turbou-se muito com aquelas palavras, e considerava que saudação seria
esta" (Lucas 1:29). Diante da aparição de um anjo, o que você faria? Maria
analisou que saudação seria aquela. "Mas Maria guardava todas estas
coisas, conferindo-as em seu coração" (Lucas 2:19). "E sua mãe
guardava no seu coração todas estas coisas" (Lucas 2:51b). Maria tinha o
hábito de guardar as coisas em seu coração antes de falar sobre elas. E, por
pensar e meditar sobre os eventos de sua vida diante de Deus, ela pôde também
entoar um dos mais belos cânticos de louvor a Deus que a Escritura registra. Em
todo o ministério terreno de Jesus, ela esteve presente, atuante, envolvida,
nem sempre entendendo, mas sempre aprendendo, conferindo tudo em seu coração.
O
segredo de Maria é que ela conversava primeiro com Deus a respeito das coisas
que a perturbavam. Ele lhe dava a Sua perspectiva do que estava acontecendo.
Depois disso, ela podia usar as palavras sabiamente, falando ou calando.
O
apóstolo Pedro, que era casado, e cuja sogra convivia com a família, com
certeza devia estar ciente da nossa vocação para as palavras, pois advertiu as
esposas a conquistarem seus maridos para o Evangelho sem palavra alguma, apenas
agindo e esperando em Deus.
Essa
é a dificuldade! Não só no caso dos maridos descrentes, mas dos crentes também.
Gostamos de falar, de pregar para eles, disfarçada ou declaradamente. E o
fazemos porque desejamos o bem deles. Entretanto, somente quando Deus estiver
operando dentro de nós, dando-nos o espírito de mansidão e confiança Nele,
modificando e sustentando a nossa tendência natural de falar, é que nossas
palavras estarão revestidas do poder restaurador do Senhor, que nos dá palavras
de sabedoria e instrução em bondade (Provérbios 21:26).