SER MULHER
Por Rute Borges
Extraído da Revista Ultimato, ano
XXXV, nº 274, Jan/Fev 2002, Editora Ultimato
Pr. José
Antônio Corrêa
Quem
sou eu, mulher? Num contexto latino, patriarcal e sexista, como posso responder
à essa questão? Talvez fazendo um esforço para olhar não para o que as pessoas
ao meu redor me dizem, mas para o que Deus e suas Escrituras afirmam. Vejamos,
rapidamente, três importantes visões da mulher nas Escrituras.
Primeiro, a mulher é digna
Em
Gênesis vemos que homem e mulher foram criados à imagem e semelhança de Deus.
Ambos, então, são dotados de capacidade para pensar, discernir e criar. Ambos
temos valor e somos importantes para Deus, O relato da criação nos fala que,
depois de Deus ter criado homem e mulher, Ele olhou para o que havia feito e
viu que era muito bom (Gn 1.31). Como mulher, devo basear nisso a minha
auto-estima: fui feita por Deus à sua imagem e semelhança. Sou aceita e amada
por Ele. Não devo buscar me igualar a modelos masculinos para encontrar meu
espaço e ser valorizada. Sou feminina, criada assim, amada assim.
Segundo, a mulher é parceira
E
aqui buscamos o que Deus nos fala quanto à sua relação com o homem. E
buscamos o paradigma maior, que é o da criação. É de maneira poética que Adão
se expressa ao ver Eva pela primeira vez: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e
carne da minha carne: chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada (Gn
2.23). Adão fala de Eva como sua igual. Deus criou macho e fêmea. Criou seres
diferentes. Ainda que ambos tenham igual valor, é importante enfatizar a beleza
da diferença entre eles. Igualdade em valor e diferença na identidade: às vezes
um paradoxo que nos confunde.
Como
esses iguais e diferentes se relacionam? A expressão que Deus usa para designar
Eva em relação ao homem é auxiliadora idônea (Gn 2.18). Muitas vezes essa
expressão é mal interpretada e utilizada para legitimar uma posição inferior da
mulher em relação ao homem. Alguns dos argumentos usados são de que se a mulher
foi criada por causa o homem e para auxiliá-lo, ela fica automaticamente
subordinada a ele. Contudo, uma análise mais cuidadosa do uso do termo
"ajudadora" no Velho Testamento mostra que ele não indica uma pessoa
em papel secundário ou subordinado a alguém superior.
O
termo "auxiliadora" em 15 das 19 vezes em que é mencionado no Velho
Testamento, é usado em relação ao Deus que vai em socorro de seu povo
necessitado. Poderia, então, haver uma insinuação de que essa palavra sugira
uma superioridade ao reverso: a mulher superior ao homem. Ainda bem que esse
não é o caso, porque a expressão seguinte, "que lhe seja idônea",
remove essa possibilidade. Ajudadora digna é aquela concebida como sua
parceira, companheira e associada. Não poderia ser diferente, já que ela é
"osso dos meus ossos e carne da minha carne".
Com
a queda (Gn 3), rompe-se a relação harmoniosa entre homem e mulher. Inicia-se
uma guerra, em que ambos competem entre si, em que um quer exercer poder sobre
o outro, quer dominá-lo. Sofremos até hoje as conseqüências da queda. Mas essa
não é a palavra final nem o parâmetro que devemos seguir. Em Jesus, aquele que
olha tanto para o ideal da criação como para a redenção final, já não há
"judeu nem grego: escravo nem liberto: nem homem nem mulher" Gl
3.28).
Finalmente, a mulher é discípula
Na
relação de Jesus com as mulheres. vemos o quanto Ele as considerava importantes
em seu ministério. Temos o exemplo de Maria de Betânia, assentada aos pés de
Jesus, como um discípulo em relação ao seu mestre (Lc 10.38-42), atitude pouco
comum para mulheres naquele tempo. Temos também Marta, sua irmã, cuja confissão
teológica (Jo 11,27) equipara-se à confissão de Pedro (Mt 16.13-17). Entre
tantos outros exemplos, temos ainda Priscila e Áquila, mulher e marido,
trabalhando juntos na obra do Senhor, parceiros no ministério de ensino.
O
que Deus e sua Palavra dizem para mim, uma mulher? Com alegria, e apenas para
começar, ouço que sou digna, parceira e discípula. Com isso claro, sigo na
vida, nas relações e no caminho, aguardando novas aventuras e desafios, guiada
por Deus.
Rute Borges,
professora, estudou no All Nations Christian College. É casada e tem uma
filha.