COMPORTAMENTO DAS MULHERES CRISTÃS À LUZ DE

1 Tm 2:9-15

Jefferson Silva Souza

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

INTRODUÇÃO

Em 1Tm 2:9-15, o apóstolo Paulo admoesta um jovem evangelista chamado Timóteo como proceder em reuniões públicas, e em especial na participação das mulheres nos cultos cristãos. Timóteo era evangelista na cidade de Éfeso.

Existe alguma proibição nos escritos do apóstolo, referente a adoração feminina? Qual a implicação do aludido texto para dias contemporâneos? Na primeira parte do artigo será abarcado cuidadosamente o desenvolvimento sociocultural e econômico da referida comunidade, posteriormente será feita uma breve análise dos versículos bem como as palavras chaves e por fim, será apresentado o resumo e conclusão.

 

CONTEXTO HISTÓRICO DE ÉFESO

A cidade de Éfeso era a capital da Província Romana na Ásia, um grande centro comercial, religioso e político. Cidade portuária, situada próxima ao local do desembocamento dos rios Caister e Meandro, no mar Egeu.

Éfeso era conhecida internacionalmente como uma cidade muito religiosa (ainda que ao paganismo). Sua principal devoção era à deusa Diana, que por sua vez constituía a principal rotatividade de turistas, que provinham das mais diversas localidades do mundo – tanto por terra quanto por mar. Uma outra característica dos habitantes de Éfeso era a abundância de praticantes e simpatizantes da feitiçaria (At 19:19). A prostituição também tinha um papel fundamental no desenvolvimento econômico da cidade.

Com o propósito de reconstruir o templo de Diana, ouve uma mobilização quase que mundial. Reis de diversos países doaram as colunas do templo, muito ouro e presentes; as mulheres efésias por sua vez, venderam suas próprias jóias para arrecadar fundos.

O culto de adoração à deusa dos efésios, era dotado de grande organização e beleza. Dentre os que serviam no templo incluía muitos eunucos auxiliados por jovens virgens, sacerdotisas, carregadores do cetro real, guardas, acrobatas e músicos.

Uma das estátuas de adoração era de uma jovem sacerdotisa com longas tranças que caem sobre seus ombros, e madeixas lisas lhe escorrem pelas costas. Um dos meses do ano recebia o nome de Ártemis e era totalmente dedicado à sua adoração. Havia um cortejo, no mês de Ártemis, em que sua estátua percorria toda a cidade. Grandes coros cantavam e donzelas vestidas de ninfas acenando arco e flecha, executavam danças eróticas. Ao contrastar com os rituais religiosos pagãos da época (na cidade de Roma em especial), acredita-se ser esta adoração de igual conteúdo litúrgico. A seguir uma breve descrição deste ritual religioso:

Em um festival de sangue, os sacerdotes dançavam ao som de címbalos, de flautas e tambores, ao mesmo tempo em que se vergastavam nas costas com flagelos e se cortavam nos braços e nos ombros com facas afiadas. Após os sacerdotes noviços se terem emasculado com espadas sagradas, seu [sic] órgãos eram lançados contra a estátua da deusa, e então eram cuidadosamente embrulhados e sepultados.

No templo de Diana ainda possuíam cem sacerdotisas (prostitutas sagradas) chamadas "Melissae", que significa as abelhas, e cuja função era a mesma das sacerdotisas de Afrodite na cidade de Corinto. Todas as noites as Melissaes comercializavam seus corpos pelas casas da cidade de Éfeso.

Nos tempos bíblicos, o grau de significância social de uma mulher para outra variava muito; se solteira ou casada, com ou sem filhos, viúva ou noiva. No mundo grego, a atitude para com as mulheres, desde o desrespeito marcante para com a mulher ateniense (a educação é própria apenas para damas da corte), passando pela condição mais estimada da mulher dórica, até o alto respeito às mulheres em Esparta.

A mulher sempre deveria estar sujeita a um homem (pai, irmão ou marido). Seu valor e sua honra consistia em ter filhos, porém era vista como tendenciosa à idolatria. Uma mulher de respeito nunca estaria sozinha numa reunião pública, apenas as prostitutas sagradas e mulheres perdidas falavam em assembléias públicas.

As efésias eram deveras vaidosas. As adoradoras de Diana utilizavam os cabelos trançados e adornados por pérolas, prata, ouro e pedras preciosas. De igual forma, as vestimentas eram dispendiosas e eróticas.

 

TRANQUILIDADE NA ADORAÇÃO PÚBLICA

Após um estudo minucioso das culturas judaica e efésia, tornar-se-á possível compreender o real significado do aludido texto bíblico.

"Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso" (1Tm 2:9). É evidente a preocupação de Paulo não apenas à "moda" local na igreja cristã, mas a extravagância no vestuário e nos mais variados adornos. Torna-se relevante lembrar que estes adornos e penteados tornaram-se ponto de referência das adoradoras de Diana. Paulo no entanto, estava impondo uma separação distinta entre as professas seguidoras de Cristo e Diana.

"Porém com boas obras (como é próprio às mulheres que professam ser piedosas)" (1Tm 2:10). Agora Paulo revela as boas obras como o melhor adorno para uma mulher. A caridade e a humildade eram características fortes dos cristãos, porém em Éfeso o individualismo e os adornos exagerados prevaleciam. O verdadeiro cristão deve vestir-se com bom gosto, ricos enfeites servem apenas para satisfação egoísta e desperdício do dinheiro que deveria ser utilizado na causa de Deus.

"A mulher aprenda em silêncio, com toda a submissão. E não permito que a mulher ensine, nem exerça autoridade de homem; esteja, porém, em silêncio" (1Tm 2:11-12). A palavra grega traduzida "em silêncio" pode significar "de maneira tranqüila". A mesma palavra também é utilizada em (1Tm 2:2) para definir tranqüilidade. É certo que algumas mulheres estavam perturbando os serviços religiosos por sua atitude barulhenta e até mesmo divisória.

Quando Paulo se refere "com toda submissão" (1Tm 2:11), certamente incluiu as viúvas mais novas que andavam de casa em casa [casas de culto] falando o que não deviam (1Tm 5:13). Muitas mulheres mal-orientadas e mal-informadas estavam assumindo posição de ensinadoras autoritárias. Algumas mulheres de Éfeso reivindicavam certa autoridade que não lhes pertenciam. Isto era em decorrência dos costumes pagãos das sacerdotisas de Diana. O objetivo do apóstolo Paulo não era ir contra as mulheres, mas defender a verdade. Se Paulo não houvesse tomado uma posição ríspida, teria comprometido o bom andamento da obra missionária na cidade.

Se fosse permitido às mulheres ensinarem, a igreja cristã seria vista como um ponto de encontro de mulheres perdidas e imorais (prostitutas sagradas).

"Porque, primeiro, foi formado Adão, depois, Eva. E Adão não foi iludido, mas a mulher, sendo enganada, caiu em transgressão" (1Tm 2:13-14). A seguir Paulo substancia seus argumentos na formação do ser humano. As efésias deveriam abandonar as atitudes de autoridade sobre os homens, pois a maneira em que Eva fora criada caracteriza a igualdade entre ambos. Antes de o pecado adentrar na Terra, a harmonia entre homem e mulher era tamanha que não se percebia uma ordem hierárquica. Tanto Adão quanto Eva erraram, porém a mulher tomou partido em afastar-se do seu marido, transgredindo assim as normas de Deus. Um dos resultados dessa transgressão é a desarmonia gerada através da submissão da mulher ao homem.

"Todavia, será preservada através de sua missão de mãe, se ela permanecer em fé, e amor, e santificação, com bom senso" (1Tm 2:15). Por este texto ser muito obscuro, várias interpretações têm-se dado a eles.

A interpretação que possui um maior respaldo, afirma que apesar das mulheres terem sido amaldiçoadas a um parto doloroso (Gn 3:16), estando sob o juízo divino por suas transgressões, ainda assim têm o privilégio da salvação. Porém, a sua esfera de redenção está condicionada ao cumprimento dos seus deveres familiares. Paralelamente devem ser aprimoradas as virtudes comuns da vida cristã: fé, amor, santidade e modéstia. "Se a obra da graça divina é eficaz na mulher, então ela será salva, tal e qual sucede no caso do homem" (ver Fp 2:12-13).

 

RESUMO E CONCLUSÃO

No decorrer deste artigo pôde-se analisar os pontos relevantes na cultura greco-judáica, da qual possibilita uma compreensão clara de 1Tm 2:9-15.

Paulo condena explicitamente a vaidade, o exagero nos adornos e vestimentas, bem como os cabelos trançados, mesmo porque era característica apenas de mulheres pagãs tais ornamentos. O verdadeiro adorno requerido por Deus é o amor ao próximo.

O propósito divino é que a mulher respeite e ame ao seu marido, e devido a uma necessidade natural de um líder no lar, que este o seja. Seria muito vergonhoso para os cristãos permitirem um pronunciamento público de uma mulher. Em Éfeso, apenas as prostitutas ou mulheres de baixa reputação o faziam. Paulo estava então, preservando o bom nome da igreja.

Na cultura ocidental atual não existem os mesmos conceitos que existia em Éfeso, portanto não é aplicável o silêncio por parte das mulheres nos cultos públicos. Ao contrário disso, a ordem do Mestre é clara "Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura" (Mc 16:15) (ver também Fp 4:2-3).

Quando o pecado adentrou na Terra, Adão e Eva tiveram o mesmo grau de culpa. A mulher porém, errou antecipadamente quando se afastou do seu marido. Em contradição com os ensinos rabínicos, o perdão e a salvação estão estendidos a todas as mulheres que cultivarem fé, amor, santificação e bom senso. A forma de se comprovar a veracidade do valor que Deus tem pelas mulheres é demonstrado através do dom da maternidade.

Com relação à participação das mulheres em reuniões públicas, não se deve procurar reproduzir o papel que desempenhavam no passado. Deve-se pelo contrário, perguntar qual é a posição delas em Cristo, e quais os dons e oportunidades que o Espírito Santo deu e dá às mulheres na igreja hoje.