Quando não há pedras suficientes!
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Por Peggy Smith
Fonseca
Pr. José Antônio Corrêa
As Pedras
Uma
das cenas mais comoventes do filme "Contador de Histórias" (Forest
Gump) foi quando Jenny, a namorada de Forest, voltou depois de longos anos
envolvida no submundo de drogas e os dois passaram pela barraca onde ela foi
criada... bem se pode dizer que ela foi criada. Porque ela sofreu todo tipo de
violência às mãos do pai. Quando ela vê a barraca, agora como adulta, ela fica
arrepiada e todas as lembranças da infância horrorosa voltam a mente. Ela
abaixa e pega uma pedra e a joga, com todas as forças, na direção da barraca.
Ela acerta uma janela que se desfaz em mil pedaços. Depois ela pega outra, e
depois outra. Ela joga todas as pedras perto dela e depois cai no chão
chorando. Forest disse a ela: "As vezes não há pedra suficiente".
Creio eu que ele quis dizer que às vezes o sofrimento é tanto, que nada há que
podemos fazer para aliviá-lo - que nem a vingança, nem toda nossa raiva resolve
a dor.
Concordo.
Quando sofremos, estamos magoados, nós queremos jogar todas as pedras do mundo
contra "aquela barraca" onde sofremos. Pode ser uma pessoa, uma
coisa, uma memória, mas como no caso de Jenny, nunca há pedra suficiente para
derrubar a barraca do sofrimento. De fato, o único resultado do esforço de
jogar pedras, é que caímos no chão chorando. Tem que haver uma outra solução...
Há
uma mulher na Bíblia que não encontrou pedra suficiente para sua dor. Ela não
tinha pedra nenhuma em suas mãos, mas se tivesse teria jogado milhares! Como é
a história?
Ela
está no deserto. Pode olhar para a direita - há areia. Pode olhar para a
esquerda - mais areia. Para frente, para trás, ao norte, ao sul, em todas as
direções, há areia. Aliás, pode olhar para cima e ver outra coisa - um sol
escaldante. Não há nuvem no céu, não há nada. Só o céu, o sol, a mulher, a
areia e um adolescente. Um adolescente deitado, com o rosto queimado pelo sol,
com lábios inchados. Um adolescente que está gemendo porque ele está morrendo
de sede. A mulher está afastada do seu filho, porque ela não tem coragem para
testemunhar a morte dele. Se ela tivesse lágrimas, ela estaria chorando, mas
nem tem como derramar uma lágrima. Ela também está ressecada. Debaixo do sol
tão cruel, ela tem um coração queimado, queimando de ódio. Ela olha para um
pequeno odre que está vazio e sente desespero total. Ela não sabe o que fazer
para salvar sua vida, nem a vida do filho.
Ela
está no deserto com um odre vazio e um filho morrendo de sede por causa de uma
injustiça tremenda. Para essa mulher não há pedra suficiente para derrubar a
barraca do sofrimento.
Conhecendo Agar
Vamos
abrir nossas Bíblias para estudar mais sobre a vida dessa mulher fascinante.
Nós a encontramos pela primeira vez no livro de Gênesis, capítulo 16, versículo
1. Vamos ler Gn 16. 1- 4
Agar
não era judia, não era cananeia. Ela era egípcia - mas estava morando muito
longe da sua terra, o Egito. Até seu nome tinha o significado de fugitivo ou
imigrante. Ela era uma mulher longe do seu povo e país, servindo a uma
estrangeira. Certamente Sarai adquiriu Agar durante sua viagem ao Egito. Não
sabemos se ela foi dada ou comprada, mas de qualquer forma ela era uma escrava.
Barriga de Aluguel
Sarai,
como qualquer mulher árabe sem filhos, não era uma mulher realizada porque ela
não tinha dado filhos ao marido. A situação dela era mais grave do que a
situação de uma mulher hoje em dia. Não existia a opção do bebê de proveta. Mas
existia uma outra opção - algo que achamos que é uma solução moderna, mas que
era muito comum nos dias de Sarai. A famosa barriga de aluguel. Sarai tomaria
emprestada a barriga de uma escrava. O filho que nascesse, seria contado como o
filho dela. Agar foi a escrava escolhida. Só que Agar não ganharia nada em
troca por sua participação nesse esquema. Ela dormiria com o marido da patroa.
Ficaria grávida. Daria a luz a um filho. E ela teria direito sobre nada. Nem
seu próprio corpo, nem a vida do filho. Legal para ela, heim?
E
mais uma coisa. Por que você acha que Sarai escolheu Agar? Falta de opção?
Creio que não. Por Agar ser jovem e boa saúde? Certamente sim. Mas ... eu
também desconfio que Agar não deveria ter sido o que os jovens chamam de
"uma gata". Você acha que Sarai teria dado uma linda mulher para
dormir com seu próprio marido? É ruim! Olhe, eu sempre digo ao meu marido que
se eu morrer antes dele, ele pode e deve casar-se de novo. Mas não pode ser com
uma mulher muito jovem, nem muito bonita!!!!!!!!
Nós,
as mulheres, temos uma tendência ciumenta. Nenhuma mulher ofereceria uma mulher
que seria uma ameaça a ela mesma para dormir com seu marido. Então não posso
imaginar Agar como uma mulher culta nem bonita. Ela jamais seria competição
para Sarai. Por isso ela foi escolhida. Ela não seria um rival. E ela tinha que
estar consciente disso. Ele era simplesmente uma barriga - uma concubina. Ela
não passava de "um corpo" para servir a Sarai - mãos para lavar a
roupa e uma barriga para dar um filho. Como é que um ser humano pode tratar o
outro com tanto desprezo?
Se
esta história tem uma vítima, é Agar. Ninguém jamais perguntou: Agar, você
gostaria de ter um filho com Abrão? Abrão nunca "fez amor" com Agar.
Ele apenas possuiu o corpo de Agar. Isso é uma violência.
Por
sorte dela, ela engravidou. Finalmente nasceu o sol para ela. Ela tinha alguma
coisa que sua dona não tinha. Ela conseguiu o que Sarai, com toda sua beleza
não conseguiu. Acho sua reação mais que natural. Ela, no fim de contas, estava
com rei na barriga. Ela era superior à dona estéril. Era uma forma de jogar
pedras na barraca do sofrimento - Sarai!
A
Senhora Sara não tem filho, mas Agar tem. Ela, de repente, virou gente, pelo
menos na sua cabeça. Imagine Sara chamando Agar para amarrar sua sandália e
Agar encarando a chefe e dizendo: "Faça você mesmo!!!"
A Fuga de Agar
Só
faltava começar a 3ª guerra mundial. Vamos ler nos versículos 5-9 o que
aconteceu em seguida. Sarai, morrendo de ciúmes, inveja e raiva, reclama ao seu
marido e consegue a resposta que ela quer. Eu não acho que Sarai esperava
sentir essas coisas quando ela bolou seu plano original. Ela não imaginava que
o feitiço se viraria contra a feiticeira, mas aconteceu. E como qualquer pessoa
que começa a abusar das pessoas, cada passo mais pesado é mais fácil. Descer do
desrespeito para a crueldade é uma queda livre. E a esta altura do campeonato,
ela só faltava matar Agar. Imagino eu que Sarai gritou, reclamou, bateu - fez a
vida de Agar insuportável. Agar, em seu desespero, fugiu - começou a correr na
direção do Egito. Como qualquer mulher em apuros, ela procurou a casa da mamãe!
Mas
Agar não chegou até sua mãe. Ela encontrou outra pessoa no caminho. Ela
encontrou a quem? O anjo do Deus Eterno. E ele dá um conselho a ela.
"Jogue muitas pedras em Sarai. Ela merece"? Não. Mandou Agar voltar e
ser obediente. Será possível que Deus mandaria alguém voltar para o lugar do
sofrimento? Será que a fuga não seria uma solução muito melhor? Quantos de nós
não gostaríamos de jogar pedras às pessoas que provocaram nosso sofrimento?
Quantos
de nós quereríamos enfrentar face a face a aquela
pessoa que nos fez sofrer, e oferecer a outra face? Ou perdoar essa pessoa? E
até se submeter a ela? Foi Deus mesmo que deu esta ordem?
Esse
negócio está complicado. Jesus também disse que os perseguidos são bem
aventurados. Ele nos manda orar pelos inimigos. Ele nos ensina humildade e
perdão. O evangelho não tem nada a ver com bom senso, nem seguir nossos
próprios instintos. Deus exige algo bem mais difícil, algo bem maior do que
isso.
Deus
tinha um plano para Agar. O lugar dela não era no Egito com a sua família. Era
ao lado de Abrão com seu filho. Por isso, ela teria que ser a escrava de Sarai.
É duro. É duro mesmo entender que os planos de Deus nem sempre são nossos
planos.
Mas
Agar demonstrou um coração sensível às ordens do Eterno. E ela voltou à dona
cruel e injusta.
A Teofania
Isso,
porém, não aconteceu antes de ela perceber que tinha tido um encontro com o
Deus vivo. Leiamos os versículos 10-11; 13-14.
A
mulher pagã tinha uma experiência que a mulher de Abrão jamais teve. Ela
conversou com Deus. Deus escutou o grito do sofrimento. Ela não tinha que jogar
pedras porque ela encontrou Deus e ela tomou o sofrimento dela. Ela fica tão
impressionada que ela deu o nome de Ismael ao filho, um nome que quer dizer
Deus escuta. Sarai não escuta. Abrão não escuta. Mas Deus escuta.
E
Agar também recebeu uma promessa. Sarai não recebeu uma promessa. Sarai não
conversou com Deus. Agar é a primeira e uma das únicas mulheres da Bíblia, a
conversar diretamente com Deus e receber uma promessa dele. Deus ouviu uma
mulher imigrante, fugitiva, escrava, sofredora. E Deus respondeu. E fará menos
para você? Se ele tirou a pedra da mão de Agar, fará o mesmo por você - por
nós.
Deus
nos vê. Tanto que Agar deu o nome de El-Rói a Deus. (Aquele que me vê) Qual
outra mulher teve intimidade suficiente para dar um nome a Deus? De fato, ela é
a única pessoa do V.T. a dar um nome a Deus. E ao dar este nome a Deus, ela não
está dizendo que Deus me vê neste lugar, neste momento. Ele está afirmando que
Deus sempre a vê.
Para
ela, a concepção de Deus onisciente, que vê e ouve tudo, não era uma coisa
ruim, para dar medo ou um castigo. Ela não tinha nada para esconder de Deus. De
fato era um consolo para ela sentir a presença de Deus em qualquer situação. Ao
dar este nome a Deus, ela está declarando sua fé e oferecendo louvor a Deus.
Ela se esqueceu de si mesma e encontrou o verdadeiro Deus. No momento do nosso
sofrimento, vamos deixar cair as pedras e buscar o Deus Vivo que nos verá e
escutará as nossas reclamações. Agar, que tinha tudo para perder, está ganhando
um filho e um relacionamento com um Deus, que até agora era-lhe totalmente
desconhecido. Há pouco tempo alguém me enviou algumas cartas originalmente
dirigidas a Deus, escritas por um grupo de crianças. Uma menina escreveu assim:
"Ó Deus, depois que eu conheci o Senhor, jamais me senti só. Por que mais
pessoas não tomam conhecimento do Senhor para que possam, também se sentir tão
seguras?" Talvez porque estão ocupados jogando pedras??????????
A Noite Escura
Agar,
então, passou 15 ou 17 anos de paz, alegria, segurança e pelo jeito obediência
a Sarai, ou agora Sara. E aí aconteceu o evento do ano. O evento que a deixou
tremendo nas bases e mais uma vez encheu sua mão de pedras para serem jogadas.
Que
que foi este acontecimento? Uma festa. Uma simples festa. Durante estes 15 ou
17 anos, tinha nascido o filho legítimo de Abrão - Isaque. Ao fazer 3 anos
(mais ou menos, de verdade quando ele foi desmamado), os pais de Isaque - Sara
e Abraão, deram uma festa para ele. No dia dessa festa, aconteceu mais uma
desgraça na vida de Agar. Vamos ler no capítulo 21: 9-10.
É
muito ódio para uma mulher, não é? Muito veneno mesmo. Nem consegue pronunciar
o nome de Ismael. A tradução que eu li disse que Ismael estava brincando com
Isaque. Eu sempre achei a reação de Sara muito exagerada para uma simples
brincadeira. Mas descobri que a palavra pode ser traduzida "brincava"
ou "zombava" ou "ria de". Em outras palavras Ismael estava
brincando com uma certa maldade. Um adolescente é bem capaz disso. A reação de
Sara, supermãe, não é uma surpresa, então. E quando Sara se sente ameaçada, sai
de perto! Ela não leva desafora para casa. Ela resolve a situação e agora.
Aí
chegamos à situação que descrevi no início. Vamos ler os versículos 14-16 para
ver o que a Bíblia diz que aconteceu com Agar e Ismael. Agar nem teve tempo de
reagir. Ela ficou tonta com a rapidez dos acontecimentos. Vocês podem ler esta
história e não ficarem comovido? O próprio pai manda o filho de 15 anos, junto
com a mãe ao deserto - sem rumo- com um odrezinho de água por causa de um
ataque de ciúmes da mulher. E Agar é obrigada a ver o filho morrer perante seus
próprios olhos. Abraão trata essa mulher e o filho como se fossem mendigos,
cachorros. Como é que pode?
Quando
a comida e a água acabaram, eu acho que as duas mãos de Agar estavam cheias.
Prontas para jogar pedras em Abraão, Sara, Isaque e até em Deus. O sofrimento
dela não foi merecido. Ela estava sem solução.
O Odre e o Poço
Mais
uma vez, vem Deus para tirar as pedras da mão de Agar. Vamos ler nos versículos
17-19 o que Deus fez: A primeira coisa que Deus faz é conversar com ela. Ele
pergunta o que está acontecendo. É óbvio que ele sabe. Mas ela precisa parar e
pensar. Ela precisa lembrar como isso é parecido com o que já aconteceu com
ela. Se Deus cuidou dela no passado, ele cuidará dela agora também. Através
dessa conversa, Deus se revelou. Está dizendo: "Estou aqui - estou
presente. Eu estava com você quando sofreu no deserto 15 anos atrás, e estou com
você agora". Pode ser que você também se sinta como num deserto, que está
sozinho, mas pode ter certeza que Deus virá a você e perguntará: "O que há
de errado? Eu estou aqui." E com esta promessa, quem precisa de qualquer
pedra na mão?
Em
segundo lugar, ele coloca uma outra coisa na mão de Agar. Ele tira as pedras e
coloca o filho em suas mãos. Deus dá algo para ela fazer. Em seu desespero Agar
tinha abandonada seu filho. Como da outra vez quando ele a mandou voltar ao seu
posto ao lado de Sarai. Agora o lugar dela é ao lado do filho. Não podemos
abandonar tudo, retirar-nos do mundo quando estamos sofrendo. Não gostamos
muito das palavras "responsabilidade" "obrigação" hoje em
dia. Vivemos na época do culto ao "EU". Achamos que devemos ter
licença para curtir nossa dor, de cuidar de si mesmo, sempre em primeiro lugar!
Mas Deus manda Agar tirar seus olhos do próprio sofrimento e cuidar do filho.
Como
Agar pode cuidar de Ismael? O odre está vazio? Será que Deus encheu o odre?
Não! Ele abriu os olhos de Agar. Sempre houve água ali perto dela. O poço já
estava naquele lugar. Ela estava cega. Ela não enxergava a solução dos
problemas. Mas Deus sabia. Há vezes quando tudo que precisamos está bem perto,
mas choramos em desespero, sem poder ver "o poço", e até morremos de
sede com água ao nosso lado. Deus não falou abracadabra e apareceu a água. Ele
simplesmente ajudou Agar a ver o que tinha ao seu redor. A raiva, o ódio, a
mágoa e o desespero cegaram os olhos da mulher.
Quando
podemos ver apenas o alvo das pedras que queremos jogar, não podemos ver o poço
de água, que é a solução. Abraão deu um pequeno odre de água para Agar.
Resolveu pouca coisa para ela. Quando buscamos apoio e soluções com outras
fontes (com Abraão), temos ajuda temporária. Apenas um odrezinho de água. Mas
com Deus, Agar achou um poço de água. A solução definitiva. Qual é a verdadeira
fonte em sua vida? João 7.37-38 diz: "Se alguém tem sede, venha a mim e
beba. Como dizem as Escrituras Sagradas. Rios de água da vida vão jorrar do
coração de quem crê em mim."
Há
muitos de vocês que estão fugindo de problemas, que são rejeitados, sem
promessa, sem água, sem marido, sem rumo. São verdadeiras "Agares" na
vida. Pode ser que suas mãos estejam cheias de pedras. Pode ser que o Abrão de
sua vida lhe tenha dado apenas um odre de água. Eu gostaria de desafiá-los a
deixar Deus tirar essas pedras das suas mãos. Para qualquer Agar que esteja
ouvindo esta mensagem, quero dizer que Deus oferece a água da vida - um poço e
não um odre. Você nunca será rejeitada por ele. Não há pedra suficiente, neste
mundo, para aliviar sua dor. Mas ele nos disse: "Vinde a mim, todos os que
estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei" (Mt 11.28). Agora, com
suas pedras no chão, use-as para construir um altar. Encontre o Deus verdadeiro,
receba seu conforto e diga, com Agar: "Eu vi o Deus que me vê!"