A Profecia e a Violência Bíblica
por Thomas Lee
Revista "Chamada da
Meia-Noite", janeiro de 2001
Pr. José Antônio Corrêa
Dois
advogados da Bavária (Alemanha) pediram recentemente a um ministro do governo alemão
para classificar a Bíblia como um livro perigoso para crianças, por causa do
seu conteúdo violento. "Ela prega o genocídio, o racismo, inimizade para
com os judeus, execuções terríveis de adúlteros e homossexuais, o assassinato
de seus próprios filhos e muitas outras coisas perversas", escreveram
Christian Sailer e Jeoachim Hetzel. Mais tarde, ambos também disseram que a
Palavra de Deus contém "passagens sangrentas e que violam os direitos
humanos". Eles querem que a Bíblia seja colocada na lista de livros
impróprios para crianças até que as passagens ofensivas sejam removidas. Quanta
intolerância desses liberais!
Uma
coisa está clara sobre esses advogados alemães: eles não entendem nada da
interpretação das idéias e dos ensinamentos da Bíblia. Se formos nos basear no
seu modo de pensar, todos os livros de história e a maioria dos artigos de
jornal também teriam de entrar nessa lista, caso fossem aplicados os mesmos
padrões. É claro que esse tipo de acusação é absurda, sendo fruto da lógica
politicamente correta levada ao extremo.
Não
obstante, durante anos tenho visto muitos cristãos que criam na Bíblia
abandonarem a fé, por acreditarem que a violência por si só é sempre um erro.
Muitos cristãos caíram por causa dessa linha de raciocínio liberal, que diz que
a violência é sempre errada. Se isso fosse verdade, teria faltado ética ao
próprio Deus.
Recentemente,
o filme "O Patriota" foi considerado impróprio para menores [nos
EUA], porque mostrava um menino tentando atirar num soldado inglês durante a
guerra pela independência dos Estados Unidos. Não há quase nenhum palavrão e
nenhuma cena de sexo no filme, mas por causa da visão liberal de que toda
violência é categoricamente algo ruim, o filme foi censurado.
Você
já parou para pensar: se Hollywood fizesse um filme fiel aos relatos da
Tribulação e da Segunda Vinda, esse filme seria um dos mais violentos da
história do cinema? Então, podemos nos perguntar: qual é a perspectiva bíblica
da violência e como ela se relaciona com a profecia?
A Bíblia e a violência
Não
estou dizendo que a violência é uma coisa boa. O que quero dizer é que, na
perspectiva bíblica, neste mundo caído, pode-se afirmar que existe a violência
"boa" e a "ruim". Creio que a Bíblia ensina que existe uma
violência que deve ser exercida contra o mal e que há também a violência ruim,
aquela praticada contra os inocentes.
A
violência surgiu por causa da queda do homem, através do ato de rebeldia de
Adão (Gênesis 3.1-18). Por causa daquele ato de desobediência, Deus amaldiçoou
Adão, Eva e a serpente [Satanás] (Gênesis 3.8-18). A maldição de Deus foi o
julgamento dos culpados por causa de sua rebelião. O julgamento normalmente
envolve algum tipo de violência.
Já
que Deus é justo, Ele não pode permitir que o pecado e a rebelião fiquem
impunes. Logo, quando a justiça de Deus encontra o pecado, o resultado é um
julgamento violento. O julgamento é necessário porque Deus é justo. Essa é a
violência justa, de Deus para o homem.
A
violência injusta é demonstrada pelo homem caído para com o seu semelhante,
sendo que ela é uma conseqüência da sua natureza caída e pecaminosa. Por
exemplo, violência ruim foi o resultado do ciúme que Caim teve de Abel, quando
o assassinou (Gênesis 4.3-15) com uma faca que era usada para os sacrifícios
(essa idéia está implícita na palavra grega usada em 1 João 3.12). Esse é o
tipo de violência ruim à qual devemos nos opor, já que ela é a expressão do
nosso pecado, da nossa rebelião contra Deus e Seus mandamentos.
As
coisas não ficaram melhores depois que Caim matou seu irmão. Ao invés disso,
elas degeneraram, gerando mais violência. Gênesis 6.11 nos diz que uma das
razões para o dilúvio nos dias de Noé foi que "a terra estava
corrompida à vista de Deus e cheia de violência".
Certamente
não de violência justa, mas sim da violência reprovável dos homens, por causa
do seu pecado. A justiça de Deus foi expressa no dilúvio porque Sua perspectiva
era que a terra "...estava corrompida; porque todo ser vivente havia
corrompido o seu caminho na terra" (Gênesis 6.12). A resposta de Deus
foi: "...os farei perecer juntamente com terra" (Gênesis 12.13) –
um julgamento justo expresso no ato violento do dilúvio.
O
dilúvio não lavou a natureza pecaminosa da humanidade, nem seus atos
pecaminosos individuais. Já que a humanidade não poderia se autogovernar, Deus
instituiu o instrumento do governo civil, acompanhado da pena capital, com o
propósito de restringir a violência da humanidade (Gênesis 9.5-7), até que
Cristo retorne para reinar e governar pessoalmente durante o Milênio. Gênesis
9.6 diz: "Se alguém derramar o sangue do homem, pelo homem [isto é,
pela humanidade] se derramará o seu; porque Deus fez o homem segundo a sua
imagem ".
Assim
sendo, o ato violento da pena capital foi determinado por Deus para ser mediado
pelo governo civil como um tipo da violência justa. Deus implementou a pena
capital para o assassinato mesmo sabendo, em Sua onisciência, que o Seu único
Filho, o Senhor Jesus, seria assassinado no maior erro judiciário da história.
A crucificação de Cristo foi claramente um ato de violência ruim.
Profecia e violência
Qualquer
pessoa familiarizada com as profecias bíblicas sobre o final dos tempos entende
que as Escrituras retratam a violência global. A Tribulação, que durará sete
anos, será um tempo em que mais da metade da população do planeta irá morrer
(veja Apocalipse 6.8,8,15). Alguns irão morrer pela mão de outros homens
(Apocalipse 6.8), enquanto outros serão mortos por anjos (Apocalipse 9.15).
Entretanto, todo esse período de sete anos é chamado de tempo da "ira de
Deus" (veja Apocalipse 6.15-17; 14.10,19; 15.1,7; 16.1,19; 19.15).
Zacarias 13.8 ensina claramente que dois terços dos judeus também serão mortos
durante a Tribulação. Essa passagem não indica que porcentagem será destruída
por agentes humanos ou divinos. Os eventos da Tribulação são uma mera
preparação para o massacre que ocorrerá no Armagedom (Apocalipse 16.16; Joel
3.2,9-17), seguido pelo julgamento que nosso Senhor trará sobre o planeta Terra
(Mateus 24.29-31; Apocalipse 19.11-21). Inclusive, no intervalo de setenta e
cinco dias, entre a Segunda Vinda de Cristo e o início do Seu reino de mil anos
(Daniel 12.11-12), todo incrédulo que ficar na terra será julgado e destruído
(Mateus 13.40-43; 25.31-46).
Quando
tentamos entender o plano profético de Deus para o universo e para a terra,
deveria ficar claro que o julgamento de um Deus justo faz parte dele. Mas a
graça de Deus para com os Seus eleitos, em todos os tempos, está incluída em
todos os julgamentos relatados na Bíblia. O julgamento de Deus, que se dá
através da história, é expresso na forma de uma violência boa, ou seja, da
violência justa. Mas, por que é necessário que exista a violência proveniente
de Deus?
O mal não pode ser removido sem a
violência de Deus
Durante
anos tenho encontrado muitas pessoas que expressaram seu desejo de ver o mal e
a violência removidos do mundo. Essa preocupação se manifesta seguidamente em
forma da pergunta: "Por que Deus permite as guerras, o sofrimento e a
violência?" Tal questão demonstra como o mal e a violência são mal entendidos.
O
mal, a morte e a violência entraram no mundo como resultado do pecado do homem
(Romanos 5.12-21; 1 Coríntios 15.20-22). O mal entrou no universo por
intermédio de Satanás e de seus anjos caídos (Isaías 14.1-23; Ezequiel 28.1-19;
Apocalipse 12.4), e o homem optou por ele. O julgamento de Deus através de um
meio violento, a morte (e outros sofrimentos), é a única resposta que um Ser
verdadeiramente santo e justo poderia dar.
Logo,
para atender ao pedido dos críticos – "Deus não deve permitir o mal em Seu
universo" – requer-se que haja um julgamento violento, para que o mal seja
separado do bem. O pedido para que se remova o mal do universo é também uma
exigência para que venha o fim da história, quando Deus removerá o mal através
do Seu julgamento justo. É isso que o céu e o inferno representam: a separação
eterna entre o bem e o mal. Não haverá violência no céu, mas ela nunca cessará
no inferno. Paulo disse aos Tessalonicenses que eles poderiam descansar e não
deviam preocupar-se em buscar vingança contra aqueles que eram a fonte de suas "...perseguições
e tribulações" (2 Tessalonicenses 1.4). Por quê? Porque Deus irá tomar
conta do problema quando voltar para o julgamento. Note que Paulo diz: "se,
de fato, é justo para com Deus que ele dê em paga tribulação aos que vos
atribulam e a vós outros, que sois atribulados, alívio juntamente conosco,
quando do céu se manifestar o Senhor Jesus com os anjos do seu poder, em chama
de fogo, tomando vingança contra os que não conhecem Deus e contra os que não
obedecem ao evangelho de nosso Senhor Jesus. Estes sofrerão penalidade de
eterna destruição, banidos da face do Senhor e da glória do seu poder, quando
vier para ser glorificado nos seus santos e ser admirado em todos os que creram,
naquele dia (porquanto foi crido entre vós o nosso testemunho)" (2
Tessalonicenses 1.6-10).
Tal
declaração requer violência para que seja cumprida. Essa violência será boa e
justa porque desse modo serão corrigidos alguns dos erros da história. O Deus da
Bíblia é um Deus justo.
Conclusão
Certamente
todos nós já lemos uma história ou assistimos a um filme em que um indivíduo,
um grupo ou uma nação são oprimidos por um tirano ou um valentão. Num ponto
crucial da história, um herói chega para salvar a vítima e destrói o opressor.
Quando chega esse momento na trama, sempre há uma sensação de alívio e de
euforia porque o mocinho triunfou sobre o bandido, o bem sobre o mal, a justiça
sobre a injustiça. Isso é o que deverá acontecer no drama real da história humana.
Nosso Senhor retornará à terra, no ápice da tirania global de Satanás, do
Anticristo e do Falso Profeta; e os lançará no abismo e no lago de fogo
(Apocalipse 19.19-20.3). Espero que você esteja ao meu lado celebrando quando
esse evento violento ocorrer. Talvez o mundo incrédulo irá questionar essa
violência. Ainda assim, esse será um tempo em que Deus implementará na história
a Sua retidão e justiça.
Estou
convencido de que uma das razões porque muitos incrédulos se opõem à violência
é porque sentem, no fundo de sua alma, que são incrédulos e que violaram os
padrões de justiça de Deus. Essas pessoas sentem que, quando chegar a hora em
que Deus separará para sempre o bem do mal, serão elas mesmas que receberão o
julgamento violento de Deus. Logo, assim como Satanás, elas buscam estabelecer
um padrão artificial, pelo qual tentarão dizer ao Deus santo: "Isso não é
justo!" E, se isso não é justo, Deus não tem o direito de julgá-las.
Entretanto, suas consciências pesadas não serão a base legítima para condenar a
Deus e escusá-las, pois as Escrituras dizem que, no julgamento final, ninguém
poderá se esconder desse evento (Apocalipse 20.11) e toda boca se calará diante
dEle (Romanos 3.19). Todas as criaturas entenderão que o Deus da Bíblia é justo
e reto. Sendo assim, todos os Seus atos são justos e retos, mesmo os atos de
violência.
Mas
é maravilhoso sabermos que Ele já providenciou uma maneira de escaparmos do
julgamento violento de Deus. Ele fez isso através da morte violenta de Jesus na
cruz, para que todo aquele que nEle crer receba a vida eterna e não entre em
condenação. Essas são verdadeiras "boas novas" diante da realidade em
que vivemos.
Por
isso podemos acreditar que nem todo tipo de violência é ruim. Alguns tipos são
bons, conforme tem sido demonstrado na história atual e será revelado a todos
para que vejam e entendam como se dará a implementação do plano de Deus no
futuro. Maranata!