ESMÍRNA
AP 2.8-11
Pr. José Antônio Corrêa
"8
Ao anjo da igreja em Esmírna escreve: Estas coisas diz o primeiro e o último,
que esteve morto e tornou a viver: 9 Conheço a tua tribulação, a tua pobreza (mas
tu és rico) e a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus e não são,
sendo, antes, sinagoga de Satanás. 10 Não temas as coisas que tens de sofrer.
Eis que o diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes
postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e
dar-te-ei a coroa da vida. 11 Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às
igrejas: O vencedor de nenhum modo sofrerá dano da segunda morte".
INTRODUÇÃO:
a)
Ali foi erigido um templo à deusa Roma, uma vez que a cidade era aliada e fiel
à Roma. Era também o porto natural de antiga rota comercial que atravessava o
vale do Hermo, e seu interior era muito fértil. Atualmente a cidade chama-se Izmir,
e é a maior cidade da Turquia Asiática.
b)
O nome da cidade, Esmírna, significa "mirra", substância extraída de
uma planta por esmagamento. Esta substância era usada na fabricação de perfumes
e embalsamento de corpos. Um ponto importante a destacar é que os crentes de
Esmírna foram literalmente esmagados, tornando-se um cheiro de perfume suave
para Deus. A história da Igreja narrada por Eusébio em sua obra denominada
"História Eclesiástica", nos conta que foi em Esmírna que Policarpo,
um discípulo do Apóstolo João, e principal pastor da Igreja, foi martirizado no
ano de 159 d.C., sendo queimado vivo numa fogueira, porque recusava chamar os
seus irmãos em Cristo de hereges.
4.
O Evangelho provavelmente chegou a Esmírna, desde data bem recuada, presumivelmente
tendo vindo de Éfeso, quando Paulo lá esteve por dois anos, conforme nos
registra At 19.10: "Durou isto por espaço de dois anos, dando
ensejo a que todos os habitantes da Ásia ouvissem a palavra do Senhor, tanto
judeus como gregos". Vejamos a carta que Cristo endereçou a esta Igreja.
I - IDENTIFICAÇÃO
VS. 2.8
"Ao
anjo da igreja em Esmírna escreve: Estas coisas diz o primeiro e o último, que
esteve morto e tornou a viver"
1.
O Senhor se apresenta como sendo "o primeiro e o último, o que foi morto e
agora vive".
a.
Como "Primeiro e último", Cristo é a origem de todas as coisas.
Para Ele não existe passado, presente e futuro. Ele é o dono da eternidade, Ap
1.8, "Eu sou o Alfa e Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era
e que há de vir, o Todo-Poderoso".
b.
Como "morto que agora vive", Cristo passou a ser a esperança dos
mortos. Esta frase alude à ressurreição do Senhor, que é o tema central do
cristianismo , 1 Co 15.12-19, "12 Ora, se é corrente pregar-se que
Cristo ressuscitou dentre os mortos, como, pois, afirmam alguns dentre vós que
não há ressurreição de mortos? 13 E, se não há ressurreição de mortos, então,
Cristo não ressuscitou. 14 E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação,
e vã, a vossa fé; 15 e somos tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos
asseverado contra Deus que ele ressuscitou a Cristo, ao qual ele não
ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam. 16 Porque, se os mortos
não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. 17 E, se Cristo não
ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados. 18 E
ainda mais: os que dormiram em Cristo pereceram. 19 Se a nossa esperança em
Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os
homens".
Cristo
prometeu à sua Igreja, na qualidade de quem vive, e que foi a
"primícia" da vitoriosa ressurreição dos santos, que todos aqueles
que ressuscitarem segundo à sua imagem, irão participar de sua natureza e de
seus atributos na eternidade. Nossos corpos serão "incorruptíveis", 1
Co 15.53-57, "53 Porque é necessário que este corpo corruptível se
revista da incorruptibilidade, e que o corpo mortal se revista da imortalidade.
54 E, quando este corpo corruptível se revestir de incorruptibilidade, e o que
é mortal se revestir de imortalidade, então, se cumprirá a palavra que está
escrita: Tragada foi a morte pela vitória. 55 Onde está, ó morte, a tua
vitória? Onde está, ó morte, o teu aguilhão? 56 O aguilhão da morte é o pecado,
e a força do pecado é a lei. 57 Graças a Deus, que nos dá a vitória por
intermédio de nosso Senhor Jesus Cristo".
2.
Cristo está ciente do sofrimento da Igreja, e está perfeitamente qualificado
para confortá-los e lhes trazer conhecimento certo de primeira mão.
II - LOUVOR E CONFORTO
VS. 2.9-10a.
"9
Conheço a tua tribulação, a tua pobreza (mas tu és rico) e a blasfêmia dos que
a si mesmos se declaram judeus e não são, sendo, antes, sinagoga de Satanás. 10
Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o diabo está para lançar em
prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de
dez dias...".
1.
Cristo conhece a tribulação deles. A palavra "tribulação", vem
do grego "yliqiv" – thlipsis e significa "pressão",
"aperto", "aflição", "pressão vinda de fora para
dentro e que ameaça destruir". Nas páginas do Novo Testamento, a palavra
tem o sentido de "perseguição", onde aqueles que nos odeiam procuram
nos atingir. Um exemplo disto temos em At 13.49-52: "49 E
divulgava-se a palavra do Senhor por toda aquela região. 50 Mas os judeus
instigaram as mulheres piedosas de alta posição e os principais da cidade e
levantaram perseguição contra Paulo e Barnabé, expulsando-os do seu território.
51 E estes, sacudindo contra aqueles o pó dos pés, partiram para Icônio. 52 Os
discípulos, porém, transbordavam de alegria e do Espírito Santo". A Igreja
de Esmírna vivia uma grande perseguição movida por Domiciano, que pela sua
crueldade contra os cristãos, foi chamado de "Segundo Nero".
2.
O Senhor também conhece a pobreza deles. Eles eram pobres, não porque
eram preguiçosos e não trabalhavam, mas porque seus bens haviam sido
confiscados ou destruídos, pelas perseguições que sofriam. Muitos eram presos e
a simples sobrevivência física tornou-se um problema, pela falta de alimentos.
Em Hb 10.34, temos um exemplo de como os filhos de Deus podem sofrer a
perda de seus bens por amor ao Senhor: "Porque não somente vos
compadecestes dos encarcerados, como também aceitastes com alegria o espólio
dos vossos bens, tendo ciência de possuirdes vós mesmos patrimônio superior e
durável". Porém este tipo de pobreza nos torna ricos. É desta forma que
Cristo nos vê, Pv 19.1, "Melhor é o pobre que anda na sua
integridade do que o perverso de lábios e tolo".
3.
Ele conhece a blasfêmia dos que se dizem Judeus, mas não o são, mas são
"Sinagoga de Satanás". Aqui provavelmente há uma referência aos
judeus que cederam às pressões do culto ao imperador, para não perderem seus
bens. Ainda mais, aliavam-se aos romanos na perseguição contra os cristãos:
Dois pontos em relação a estes judeus:
a)
Tornaram-se blasfemadores do nome de Cristo e de seus discípulos;
b)
Tornaram-se "Sinagoga de Satanás", sendo totalmente dominados pelo
Diabo, para perseguir a Igreja de Deus. Não eram judeus no verdadeiro sentido
da palavra, Rm 9.6-8, "6 E não pensemos que a palavra de Deus haja
falhado, porque nem todos os de Israel são, de fato, israelitas; 7 nem por
serem descendentes de Abraão são todos seus filhos; mas: Em Isaque será chamada
a tua descendência. 8 Isto é, estes filhos de Deus não são propriamente os da
carne, mas devem ser considerados como descendência os filhos da
promessa".
4.
É importante observarmos no v. 10, que Jesus não promete tirá-los das
dificuldades e apertos, mas anuncia-lhes que está próximo um dilúvio de
sofrimentos e tentações, que visará fazer com que eles neguem a fé. Serão
tentados por uma forte pressão externa durante dez dias. Cristo não se oferece
para livrá-los daquelas dificuldades, porque vencer dificuldades é o meio
apropriado para construir e consolidar o caráter forte, Tg 1.2-4,
"2 Meus irmãos, tende por motivo de toda alegria o passardes por várias
provações, 3 sabendo que a provação da vossa fé, uma vez confirmada, produz
perseverança. 4 Ora, a perseverança deve ter ação completa, para que sejais
perfeitos e íntegros, em nada deficientes".
III - PROMESSA
VS. 2.10a, 11b.
"Sê
fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. 11 Quem tem ouvidos, ouça o que
o Espírito diz às igrejas: O vencedor de nenhum modo sofrerá dano da segunda
morte...".
a)
Ainda que fossem mortos, a "Coroa da Vida", lhes estava preparada.
Devemos lembrar que nome desta cidade, como vimos anteriormente, significa
"mirra", uma substância usada na fabricação de perfumes e em
embalsamentos. A mirra foi uma das substâncias usadas no sepultamento de Jesus,
Jo 19.38-40, "38 Depois disto, José de Arimateia, que era discípulo
de Jesus, ainda que ocultamente pelo receio que tinha dos judeus, rogou a
Pilatos lhe permitisse tirar o corpo de Jesus. Pilatos lho permitiu. Então, foi
José de Arimateia e retirou o corpo de Jesus. 39 E também Nicodemos, aquele que
anteriormente viera ter com Jesus à noite, foi, levando cerca de cem libras de
um composto de mirra e aloés. 40 Tomaram, pois, o corpo de Jesus e o envolveram
em lençóis com os aromas, como é de uso entre os judeus na preparação para o
sepulcro". A morte dos mártires, é uma fragrância que toma conta da Casa
Inteira de Deus. A morte por martírio traria para eles a "Coroa da
Vida", prêmio especial para este tipo de sacrifício. Os corredores
olímpicos vencedores, ganhavam a "Coroa de Louros"; Os mártires do Reino,
também vencedores, ganham a "Coroa da Vida".
b.
Não seriam alcançados pela "Segunda Morte". Os descrentes
quando morrem, encontrarão uma segunda morte, Ap 20.14-15, "14
Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a
segunda morte, o lago de fogo. 15 E, se alguém não foi achado inscrito no Livro
da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo". O crente quando
morre, encontra a vida eterna, "E irão estes para o castigo eterno, porém
os justos, para a vida eterna.", Mt 25.46.
Em
Ap 21.1-
IV - AVISO
VS. 2.11a.
"Quem
tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas...".
1.
Aqui, como em outras cartas, o aviso é quanto ao perigo da "apatia
espiritual", que ronda as Igrejas de Deus. É preciso ter os ouvidos
espirituais bem sensíveis ao Espírito Santo de Deus.
CONCLUSÃO:
1.
Cristo está atento às nossas dificuldades:
a.
Ele conhece sua pobreza física e diz que tu és rico,
b.
Ele conhece a tua tribulação e sofrimento,
c.
Ele conhece teus inimigos, que muitas vezes são como a "Sinagoga de
Satanás".
2.
Ele te dá duas promessas:
a.
Fidelidade até à morte - Coroa da Vida,
b.
Quem vencer - Não será atingido pela "Segunda Morte".
Esboço extraído do Livro "A Mensagem do
Apocalipse" de Ray Summers, com notas acréscimos e supressões pelo Pr.
José Antônio Corrêa.