AS CHAVES DO REINO DE DEUS II
MT 5.7-12
Pr. José Antônio Corrêa
INTRODUÇÃO:
1. No estudo
anterior enfatizamos o fato de que Jesus nunca pregou, ou ensinou qualquer
princípio de vida que Ele mesmo não tenha praticado, que não tenha vivido. Tudo
quanto ensinou, Jesus viveu na prática. Falamos sobre as chamadas três
primeiras "Bem Aventuranças":
a) Falamos
acerca dos humildes de espírito, que são aqueles que são isentos do orgulho e
da arrogância, com os quais Deus mantém um relacionamento íntimo. No texto de Isaías
57.15, podemos ver que embora Deus habite nas alturas, também habita com o
contrito e humilde: "Porque assim diz o Alto e o Excelso, que habita na
eternidade e cujo nome é santo: Num alto e santo lugar habito, e também com o
contrito e humilde de espírito, para vivificar o espírito dos humildes, e para
vivificar o coração dos contritos".
b) Falamos
também acerca dos que choram, que são os que tem seus corações quebrantados
pela Palavra de Deus, e estão dispostos a chorar seus pecados, suas fraquezas
de maneira não fingida, mas com sinceridade. Vimos que Esaú, mesmo chorando
amargamente não achou lugar de arrependimento diante de Deus, porque seu choro
não foi sincero, Hb 12.16, "e ninguém seja devasso, ou profano como
Esaú, que por uma simples refeição vendeu o seu direito de primogenitura".
c) Falamos
ainda sobre os mansos, que são aqueles que mesmo diante das pressões deste
mundo, não perdem sua paciência, mantendo sempre um espírito gentil. São os que
são contrários ao crente do tipo "pavio curto",
"explosivo", "temperamental". Aquele que é manso, é alguém
que foi "moldado" por Deus, de acordo com a imagem de Jesus.
2. Hoje
queremos continuar analisando mais algumas destas "Bem Aventuranças",
equiparando-as ao nosso dia-a-dia como filhos de Deus.
"VEJAMOS NESTA NOITE MAIS DUAS
QUALIDADES QUE PRECISAMOS TER, PARA SERMOS PARTICIPANTES DO REINO DE DEUS"
IV - PARA SERMOS PARTICIPANTES DO
REINO DE DEUS PRECISAMOS TER FOME E SEDE DE JUSTIÇA
Vs. 6, "Bem aventurados os que têm fome e
sede de justiça, porque eles serão fartos".
2. Conta-se
que certa vez um moço queria que Buda lhe ensinasse o caminho da salvação, o
que Buda lhe disse: "Se você almeja a salvação, você precisa buscá-la com
todas as forças, pois você só conseguirá aquilo que realmente deseja".
Evidentemente que Jesus, embora não reconheça Buda como sendo o profeta que
seus seguidores professam, certamente concordaria com sua declaração. Pois
Jesus mesmo disse que uma das chaves para se entrar no Reino de Deus é
justamente, "ter fome e sede dele". Nós conseguimos somente aquilo
que desejamos.
3. Sabemos
que a fome e a sede são instintos naturais para a sobrevivência do homem.
Quando uma pessoa fica doente, normalmente perde a vontade de comer, o que nos
traz uma sensação muito desagradável. Podemos dizer que até mesmo gostamos de
ter fome e sede e sentir o prazer em satisfazer este instinto natural. Da mesma
forma que sentimos fome e sede, tendo prazer em saciá-las, precisamos sentir
"fome e sede de Deus", para podermos nos saciar com a água viva e com
o pão do céu.
4. Jesus
procura nos mostrar através desta bem aventurança que antes de possuirmos Deus
e seu Reino, precisamos fazer dele o centro de nossa imaginação e busca. É
preciso ansiar por Deus. Alguns exemplos na Palavra de Deus:
a) Mt
22.37,
"Amarás o Senhor teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de
todo o teu entendimento". De acordo com este versículo da Palavra,
precisamos envolver todos os nossos sentimentos na busca de Deus. Jesus fala
que precisamos amá-lo:
a1) com todo o coração
(sede dos sentimentos mais profundos);
a2) e amá-lo também com
o entendimento (intelecto, ou faculdades mentais e de raciocínio do homem).
b) Mt
13.44,
"Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo,
que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e
compra aquele campo".
b1) Aqui encontramos um
homem que descobriu um tesouro escondido, e conhecendo o seu valor, não mediu
esforços para desprender de tudo quanto possuía para comprar aquele campo, e
ser o dono legítimo do tesouro. Assim também acontece conosco quando
descobrimos o valor do Reino de Deus. Precisamos renunciar tudo para possuí-lo.
b2) Veja o que Jesus
disse em Lc 14.33, "Assim, pois, qualquer de vós, que não renuncia
a tudo quanto tem, não pode ser meu discípulo".
c) Mt
13.45-46,
"45 Outrossim, o reino dos céus é semelhante ao
homem, negociante, que busca boas pérolas; 46 E, encontrando uma pérola de
grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha, e comprou-a". Novamente temos
aqui a idéia de que precisamos desprender de tudo, quando encontramos algo de
valor permanente, para possui-lo.
a) Sl
42.1-2,
"1 Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a
minha alma por ti, ó Deus!
Davi, como
pastor de ovelhas tinha experiência nesta área. Muitas vezes pode ver os
animais beberem a água das correntes com muita ansiedade. Precisamos ter também
esta "sede" pela Palavra de Deus.
b) Am
8.11,
"Eis que vêm dias, diz o Senhor Deus, em que enviarei fome sobre a terra;
não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do Senhor".
Aqui a
Escritura alude a um tempo em que os homens haverão de ter sede e fome não de
água e pão, mas das palavras do Senhor. Bendito há de ser este tempo, porém
pode chegar a hora em que mesmo buscando a palavra de Deus com ansiedade ela
não será encontrada. Hoje a situação do homem de modo geral é como descreve
Paul Earnhart:
"Espiritualmente
falando, os homens se parecem com corpos semimortos, mas eles teimosamente se
recusam a reconhecer a medonha falta de significado da vida sem Deus. Nem todos
os que estão numa "terra distante" têm a sanidade mental para
confessar, como o pródigo, que "morro de fome" (Lucas 15:17)!
Tais indivíduos continuam a procurar, insensatamente, alguma "casca"
melhor, para encher o vazio. Aqueles que "têm fome e sede de justiça"
resolveram enfrentar sua desesperada necessidade, pelo que ela é, e procurar o
alimento que a satisfaz"(1).
c) Ap
21.6,
"E disse-me mais: Está cumprido. Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o
fim. A quem quer que tiver sede, de graça lhe darei da fonte da água da
vida".
A água da
vida é oferecida gratuitamente àquele que desejá-la profundamente. Vivemos num
mundo onde temos que pagar por tudo. Pagamos pela luz elétrica, pelo gás, pela
água que bebemos, etc. Porém o custo para se ter a água viva é o fato de a
desejarmos ardentemente.
5. Se tua
alma não desejar profundamente o Deus Vivo, e a Sua Palavra, você não
encontrará a plena satisfação espiritual. Você não encontrará Deus, ainda que
tenha uma posição doutrinária e teológica correta, pois não se busca ao Senhor
com a mente, mas com o coração.
Em Jl
2.13, temos: "E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes, e
convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso, e compassivo,
e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal".
"Rasgar vestes", poderia equivaler ao ensino teológico. "Rasgar
coração", equivale ao ensino divino.
6. Lembremos
as palavras de Deus, "Bem aventurados os que têm fome e sede de justiça,
porque eles serão fartos".
V - PARA SERMOS PARTICIPANTES DO
REINO DE DEUS PRECISAMOS SER MISERICORDIOSOS
Vs. 7, "Bem-aventurados os misericordiosos,
porque eles alcançarão misericórdia".
1. As
palavras aqui empregadas por Jesus, certamente foram tomadas do Sl 18.25:
"Para com o benigno, te mostras benigno".
3. Como
filhos de Deus somos alvos da sua eterna misericórdia. Não somente necessitamos
da misericórdia de Deus, mas também precisamos exercê-la no trato com outras
pessoas. Deus mostra sua misericórdia para conosco, ainda que não haja qualquer
merecimento de nossa parte. Como povo de Deus devemos imitá-lo, exercendo
também misericórdia com relação àqueles que vivem à nossa volta. Novamente
citamos Paul Earnhart:
"A
misericórdia que Jesus elogia vem da percepção penetrante da necessidade
desesperada que a própria pessoa tem de misericórdia, não simplesmente a dos
homens, mas especialmente a de Deus. Esta é uma misericórdia que mostra compaixão
para com os desamparados (Lucas 10:37) e estende o perdão até mesmo
aquele que repete a ofensa (Mateus 18:21-22) Esta compaixão não é
inspirada pelas atraentes qualidades do ofensor (Como haveríamos de tratar o
"feio" pecador?), mas se eleva de nosso sentido de gratidão por
aquela misericórdia que Deus nos tem mostrado. Nós, também, não éramos
atraentes quando Deus enviou seu Filho para a cruz (Romanos 5:8). Os
cidadãos do reino do céu não esquecem suas tristes origens (Tito 3:1-5).
Uma das maiores expressões deste tipo de misericórdia é o seu interesse sem
egoísmo por um mundo pecador e sem atrativos, mas perdido (Mateus 9:36-38).
Ela é uma força motora na pregação do evangelho."(2).
4. Vejamos
alguns textos em sua Palavra:
a) Cl
3.13,
"Suportando-vos uns aos outros, e perdoando-vos uns aos outros, se alguém
tiver queixa contra outro; assim como Cristo vos perdoou, assim fazei vós
também": Temos aqui dois pontos importantes:
a1) Devemos aprender a
"suportar" as fraquezas de nossos irmãos. Isto nos mostra que como
humanos somos imperfeitos. Admitindo esta imperfeição tanto em nós, como também
em nossos irmãos é que aprendemos a arte de suportar as falhas dos outros,
sabendo que também os outros precisam nos suportar.
a2) Somente suportando,
é que exercemos a arte maior registrada no versículo, que é o perdão. Não
poderemos perdoar, se não aprendermos a suportar. Devemos lembrar aqui que a
arte de exercer o perdão é uma exigência de Deus para seus filhos, Mt
6.14-15, "14 Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também
vosso Pai celestial vos perdoará a vós; 15 Se, porém, não perdoardes aos homens
as suas ofensas, também vosso Pai vos não perdoará as vossas ofensas".
b) Ef
4.32,
"Antes sede uns para com os outros benignos, misericordiosos, perdoando-vos
uns aos outros, como também Deus vos perdoou em Cristo". Aqui Paulo
menciona algumas virtudes que devem haver nos filhos de Deus, para que estes
possam executar o perdão sem traumas:
b1) O crente perdoador é
benigno "crhstov" - chrestos. Esta palavra traz a idéia de alguém que
é "gentil", "bondoso", "benévolo",
"amoroso". Devemos lembrar que a bondade é um dos frutos dos Espírito
descritos por Paulo em Gl 5.22-23, "22 Mas o fruto do Espírito é:
amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, 23
mansidão, domínio próprio. Contra estas coisas não há lei. 24 E os que são de
Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências".
b2) O crente perdoador é
misericordioso. Temos aqui a idéia de uma pessoa que possui o "coração
terno", pois a palavra no original "eusplagcnov" eusplagchnos),
embora seja usada para referir às "entranhas", às "vísceras
intestinais", também é usada para se referir ao coração, que é o órgão
símbolo de nossa natureza emocional íntima.
5. Na chamada
"Parábola do Credor Incompassivo", Mt 18.23-35, temos a lição
de que aqueles que são favorecidos pela misericórdia de Deus, têm a obrigação
de demonstrá-la em seu trato com outras pessoas, e se assim não procederem,
receberão um severo julgamento, Vs. 32-35, "32 Então o seu senhor,
chamando-o à sua presença, disse-lhe: Servo malvado, perdoei-te toda aquela
dívida, porque me suplicaste. 33 Não devias tu, igualmente, ter compaixão do teu
companheiro, como eu também tive misericórdia de ti? 34 E, indignado, o seu
senhor o entregou aos atormentadores, até que pagasse tudo o que devia. 35
Assim vos fará, também, meu Pai celestial, se do coração não perdoardes, cada
um a seu irmão, as suas ofensas".
6.
Finalmente vemos em Lc 6.35-36: "35 Amai, pois, a vossos inimigos,
e fazei bem, e emprestai, sem nada esperardes, e será grande o vosso galardão,
e sereis filhos do Altíssimo; porque ele é benigno até para com os ingratos e
maus. 36 Sede, pois, misericordiosos, como também vosso Pai é
misericordioso".
7. Portanto,
pesa sobre nós a responsabilidade de exercermos misericórdia sobre as pessoas
do nosso relacionamento ou quaisquer pessoas que forem alvos de nossa
misericórdia.
CONCLUSÃO:
1. Queremos
terminar a palavra desta noite fazendo duas perguntas importantes àqueles que
já são crentes:
a) Como Filho de Deus,
você tem sentido fome e sede da justiça de Deus? Em outras palavras, você tem
fome e sede de Deus e de sua Palavra?
b) Como está seu senso
de misericórdia? Você exerce misericórdia para com aqueles que vivem à tua
volta?
2. Aos que
ainda não crentes, queremos ressaltar que estas duas qualidades são
imprescindíveis para que você possa pertencer ao Reino de Deus. Você precisa
ter fome e sede da Palavra de Deus, além de abrir seu coração para a compaixão
e a misericórdia.
Notas:
1. Earnhart,
Paul, "O SERMÃO DA MONTANHA", Livro Online, publicado por "Denis
Allan" em 1997, pág. 9.
2. Idem,
pág. 12.