AS CHAVES DO REINO DE DEUS III

MT 5.7-12

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

INTRODUÇÃO:

1. No domingo passado tivemos a oportunidade de ver mais duas das chamadas "Bem aventuranças":

a) Vimos que são bem aventurados aqueles que "tem fome e sede de Justiça". Isto equivale a gastar todos os esforços físicos e mentais na conquista do Reino de Deus. Para que o reino possa fazer parte de nossas vidas, no dizer de Davi, precisamos ansiar por ele, assim como a corça suspira pelas águas, Sl 42.1-2, "1 Assim como o cervo brama pelas correntes das águas, assim suspira a minha alma por ti, ó Deus! 2 A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?"

b) Vimos ainda que são bem aventurados os "misericordiosos". Com esta qualidade aprendemos a exercer compaixão pelos nossos irmãos e até mesmo pelos nossos inimigos. A palavra "compaixão", ou "misericórdia", tem a ver com o nosso íntimo, com a sede de nossas emoções. O nosso íntimo deve se mover quando alguém precisa de nós. É também através da compaixão que o perdão é exercitado, pois sem ela não há como perdoar alguém.

2. No presente estudo queremos abordar as três últimas "Bem Aventuranças". Vamos vê-las agora:

 

"AS TRÊS ÚLTIMAS QUALIDADES QUE PRECISAMOS TER, PARA SERMOS PARTICIPANTES DO REINO DE DEUS".

 

VI - PARA SERMOS PARTICIPANTES DO REINO DE DEUS PRECISAMOS SER LIMPOS DE CORAÇÃO

Vs. 8, "Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus".

1. A palavra "limpo", vem do termo grego "kayarov" – katharos e significa "livre de desejo corrupto", "inocente", "sincero", "puro", "sem culpa".

2. Esta qualidade tem a ver com a singeleza de mente, com o propósito sincero e puro. Vejam o que expõe Davi: "3 Quem subirá ao monte do Senhor, ou quem estará no seu lugar santo? 4 Aquele que é limpo de mãos e puro de coração, que não entrega a sua alma à vaidade, nem jura enganosamente", Sl 24.3-4. O Monte do Senhor, neste salmo, equivale ao local onde está a presença de Deus. Davi nos informa que para gozarmos da companhia divina, devemos estar com nosso coração totalmente limpo, purificado.

3. Os líderes do povo judeu falavam com insistência sobre a pureza cerimonial, a pureza da forma, a pureza da lei, etc.. Um exemplo disto pode ser visto quando eles repreenderam os discípulos de Jesus por estarem comendo sem lavar as mãos, Mt 15.1-2, 1 Então, vieram de Jerusalém a Jesus alguns fariseus e escribas e perguntaram: 2 Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos, quando comem".

Porém, Jesus nos mostra com esta "Bem Aventurança", e também em outros textos bíblicos, que Deus quer que o nosso coração, seja limpo, puro, e não que vivamos na prática de cerimoniais sem vida! O que o homem é, ele o é, em seu caráter, em seu íntimo. É por esta razão que Ele ensina que a fonte de contaminação vem de dentro do homem: "não é o que entra pela boca o que contamina o homem, mas o que sai da boca, isto, sim, contamina o homem", Mt 15.11. Então é aí, no interior do homem que o Espírito de Deus deve agir para fazer a faxina de nossas impurezas!

4. Devemos considerar o fato de que o caráter de alguém, só pode receber a purificação e ser mudado, transformado, pela ação do Espírito Santo. Sem esta ação divina a tendência é sobressair em nossa vida os desejos da carne (Gl 5.19-21). Vamos ver alguns pontos :

a) Pela conversão recebemos a imagem de Cristo em Nós, 2 Co 3.18, "Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor".

a1) A idéia de Paulo aqui é a de que somos "transfigurados", "transformados", para refletir a glória de Deus! A palavra grega usada é "metamorfow" (metamorphoo), e é a mesma palavra usada na "transfiguração de Jesus": "E foi transfigurado (metamorphoo) diante deles; o seu rosto resplandecia como o sol, e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz", Mt 17.2. Observe a tremenda glória refletida pelo Senhor!

a2) Esta transformação, ou transfiguração só pode ocorrer naquele que foi salvo por Cristo e é operada em nós pelo Espírito de Deus.

b) Quando nos tornamos filhos de Deus pela fé, recebemos a imagem de Cristo em nós, Rm 8.29, "Porque os que dantes conheceu também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos irmãos". Temos aqui o sentido semelhante de 2 Co 3.18. As palavras gregas usadas "summorfov" (summorphous) e "eikwn" (eikon) (conformes, imagem), nos trás a idéia de "duplicata perfeita". Dentro deste princípio, o crente se torna uma duplicata perfeita do Filho de Deus.

c) Neste processo de "transformação" operada em nós pelo Espírito de Deus, a sujeira advinda do pecado é faxinada, nos tornando limpos diante do Pai.

3. Um fato importante a ressaltar, é que só os limpos de coração, poderão subir o Santo Monte de Deus, e ver sua glória. O céu não é de todos! Mas é uma exclusividade daqueles que se deixaram tratar pela ação do Espírito de Deus e de sua Palavra no íntimo. Vejamos ainda mais dois textos:

a) 1 Jo 3.2, "Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos". No dizer de João, quando Cristo se manifestar nos tornaremos semelhantes a Ele. É neste tempo que a imagem de Cristo em nós se tornará mais evidente.

b) 2 Pe 1.4, "Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo". Pedro adianta aqui que nos tornamos participantes da divindade do Senhor.

4. Ser limpo de coração é uma imposição, sem a qual não se pode aproximar de Deus em sua glória plena. Veja o Comentário de Paul Earhart:

"A verdadeira visão de Deus não será concedida aos astutos e calculistas, que se dão a jogos desonestos; ou aos de mente dupla, que nunca podem completamente firmar ambos os pés no reino (Tiago 1:7-8), mas àqueles que são absolutamente honestos e sinceros de coração para com Deus. Eles verão a Deus (5:8), não como os judeus no Sinai, mas no pleno entendimento de um íntimo relacionamento com ele (João 3:3-5; 14:7-9). É uma velha questão, com uma velha resposta. "Quem", pergunta Davi, "subirá ao monte do Senhor? Quem há de permanecer no seu santo lugar? O que é limpo de mãos e puro de coração" (Salmo 24:3-4). Se você deseja ver a Deus com todo o seu coração, você verá"(1).

5. Deus nos proporciona condições para alcançarmos esta qualidade sem traumas. Renda-se ao Espírito Santo e à sua Palavra, que você receberá tal virtude.

 

VII - PARA SERMOS PARTICIPANTES DO REINO DE DEUS PRECISAMOS SER PACIFICADORES

Vs. 9, "Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus".

1. A palavra "pacificador", vem do termo grego "eirhnopoiov" – eirenopoios, e tem como significado "amar a paz", "ser promotor da paz".

2. Aqui, Jesus não está apenas se referindo àqueles que possuem uma sabedoria pacífica de acordo com Tg 3.17, "Mas a sabedoria que do alto vem é, primeiramente pura, depois pacífica, moderada, tratável, cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia". Também não está se referindo àqueles que aceitam a paz sem protesto, ou que preferem a paz do desacordo, nem os que têm paz na alma, ou amam a paz.

"Não se trata dos pacificadores, no sentido comum, o da mediação de disputas humanas, mas no mais alto sentido de trazer os homens à paz com Cristo (João 14:27) ... Os verdadeiros pacificadores são aqueles que, eles mesmos, estão em paz com Deus (Romanos 5:1) e com os homens (Romanos 12:18) e que pregam no mundo um evangelho de paz e reconciliação (Efésios 2:13-17)"(2).

3. Ele se refere, isto sim, àqueles que promovem ativamente a paz e procuram estabelecer a harmonia entre inimigos. O sentimento aqui demonstrado, é mais nobre do que o de Rm 12.18: "Se possível, quando depender de vós tendes paz com todos os homens".

4. Os "pacificadores", serão chamados "Filhos de Deus". Significa mais do que um reconhecimento. Está em evidência a realidade de ser alguém, um verdadeiro filho de Deus, Rm 8.16-17, "16 O mesmo Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus. 17 E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados".

Tal filiação implica em participarmos da herança dos santos. Somos herdeiros de Deus e coerdeiros com Cristo das mesmas promessas, Ef 1.13-14, "13 Em quem também vós estais, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação; e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa. 14 O qual é o penhor da nossa herança, para redenção da possessão adquirida, para louvor da sua glória".

5. Os rabinos judaicos, davam um grande valor aos pacificadores:

a) Hilel, um famoso rabino, contemporâneo de Jesus, se expressou: "Sê dos discípulos de Aarão, amando a paz, e seguindo a paz".

b) Aqueles que buscam a paz, amando seus inimigos, agem segundo o próprio Deus, e por esta razão, são filhos de Deus em sentido verdadeiro, Mt 5.43-45, "43 Ouvistes que foi dito: Amarás o teu próximo, e odiarás o teu inimigo. 44 Eu, porém, vos digo: Amai a vossos inimigos, bendizei os que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem; para que sejais filhos do vosso Pai que está nos céus; 45 Porque faz que o seu sol se levante sobre maus e bons, e a chuva desça sobre justos e injustos".

6. O discípulo autêntico do Reino, não é aquele que odeia, mas o que ama seus inimigos e promove a verdadeira paz.

 

VIII – COMO PARTICIPANTES DO REINO DE DEUS CERTAMENTE SEREMOS PERSEGUIDOS

Vs. 10, "Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus".

1. Esta é uma qualidade que ninguém gosta, uma vez que a perseguição traz dissabores. Ela mexe com os nossos sentimentos e muitas vezes vem acompanhada, até mesmo, com agressões físicas ou verbais.

2. "O Filho de Deus nunca procurou esconder de seus seguidores as realidades do sofrimento. Sua candura com aqueles que o procuraram entusiasticamente é notável. Ele insistiu para que eles, mesmo em seu ardor, calculassem a despesa (Mateus 8:19-20; Lucas 14:26-33). O Senhor não quer que sejam discípulos por ingenuidade. Ele não quer que choques inesperados destruam sua fé. Ele falou francamente, de modo que, quando seus discípulos sofressem, eles possam saber que isso é justamente como ele disse que haveria de ser e se encorajem com a certeza de que as promessas de glória de seu Mestre são igualmente seguras: "pois quem fez a promessa é fiel" (Hebreus 10:23)"(3).

3. Porém, se quisermos viver uma vida que agrade a Deus, onde o pecado é denunciado através de uma pregação ousada da Palavra de Deus, certamente ganharemos muitos inimigos que sem dúvida, se voltarão contra nós. A Palavra de Deus nos adverte quanto ao fato de que certamente teremos perseguições:

a) Sofreremos perseguições por causa do nome de Cristo, Mt 10.22, "E odiados de todos sereis por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim será salvo". Podemos observar que, a esta altura dos acontecimentos, Cristo já estava sendo odiado pelas autoridades religiosas em seu ministério terreno, sendo este ódio que os levaram a matar Jesus. Diante do que estava sofrendo, Jesus preveniu os seus discípulos de que eles também seriam odiados, por causa de seu nome. Ver ainda Mt 24.9, "Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome".

c) Sofreremos perseguições por levarmos uma vida piedosa, 2 Tm 3.12, "E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições". A palavra "piamente" ("eusebwv" (eusebos no grego), fala de uma característica daqueles que negam a impiedade e as paixões mundanas, vivendo retamente diante de Deus. Esta credencial é a principal razão do ódio do mundo, que se manifesta através de terríveis perseguições.

d) Sofreremos perseguições, porque outros filhos de Deus em tempos passados também sofreram, Hb 11.36-38, "36 E outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias e prisões. 37 Foram apedrejados, serrados, tentados, mortos ao fio da espada; andaram vestidos de peles de ovelhas e de cabras, desamparados, aflitos e maltratados 38 (Dos quais o mundo não era digno), errantes pelos desertos, e montes, e pelas covas e cavernas da terra". Aqui, o escritor da carta aos hebreus fala de exemplos vivos de filhos de Deus que enfrentaram naqueles dias as mais aterrorizantes formas de perseguição: apedrejados, serrados pelo meio, mortos pela espada, açoitados, presos, maltratados, etc.

4. Certamente que os verdadeiros filhos de Deus, estarão sendo sempre alvos da maldade do homem, que dominado pelo Diabo, não mede esforços para persegui-los, usando as mais diferentes formas de tortura, tanto mentais, como também físicas.

5. Quando estamos sofrendo estas provações, devemos lembrar que muitos irmãos espalhados pelo mundo também estão vivendo da mesma maneira, 1 Pe 5.9, "Ao qual resisti firmes na fé, sabendo que as mesmas aflições se cumprem entre os vossos irmãos no mundo".

 

CONCLUSÃO:

1. Vimos estas últimas Bem Aventuranças:

a) Os limpos de coração - condição de pertencer ao Reino.

b) Os pacificadores - qualidade dos Filhos de Deus.

c) Os perseguidos - Resultado de um viver em Deus.

2. Ressaltar estas qualidades e aplicá-las.

 

Notas

1. Earnhart, Paul, "O SERMÃO DA MONTANHA", Livro Online, publicado por "Denis Allan" em 1997, pág. 10.

2. idem, op. cit. pág. 13.

3. idem, op. cit. pág. 13.