O BARRO E O OLEIRO

Pelo Pr. João Soares da Fonseca com notas acréscimos e supressões pelo Pr. José Antônio Corrêa

Pr. José Antônio Corrêa

Texto: Is 64.8 "Mas agora, ó Senhor, tu és o nosso Pai; nós somos o barro, e tu o nosso oleiro; e todos nós obra das tuas mãos".

Introdução:

1. Uma das áreas que mais encontramos material no Novo Testamento é a área da Santificação, da consagração do filho de Deus. Em todas as cartas escritas, seja por Paulo, por Pedro ou por João, temos o ensino que o filho de Deus deve levar uma vida santificada. O escritor da Carta aos Hebreus chega a dizer que sem a santificação, é impossível ver ao Senhor: "Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor", Hb 12.14.

2. A santificação é um processo que começa quando somos alcançados pela graça salvadora de Jesus, mediante o seu sacrifício na cruz. Há necessidade de crescermos nesta área para sermos agradáveis e úteis para Deus. Somente desta maneira iremos andar no centro da vontade soberana do Senhor. Vejam o que Paulo fala aos romanos: "E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus", Rm 12.2.

- Aqui, o apóstolo Paulo nos fala de "transformação", de "mudança de mente", para que possamos entender a vontade de Deus para nossas vidas.

3. Há alguns anos atrás, o Pr. Antônio Abuchain escreveu um livro editado pela Editora Betânia, com o título "Barro Em Suas Mãos". Neste livro ele procurou mostrar aos seus leitores a importância de reconhecermos a necessidade de uma entrega ao Senhor sem reservas, isto se quisermos levar uma vida cristã que O agrade. Assim como o barro é manipulado pelo oleiro para que dele saia algo de valor, precisamos ser trabalhados por Deus, para sermos crentes de valor para o Reino.

4. Nesta noite queremos falar deste elemento básico na constituição do ser humano – o barro. A partir do barro, vamos expressar algumas analogias que servem como luva em nosso processo de santificação ao Senhor.

5. No texto de Isaías, podemos ver que somos como barro nas mãos do Senhor. "Vejamos algumas lições extraídas dessa bela metáfora":

I - O Barro Não Tem Valor

1. Destituído de importância, o barro não é objeto de disputas. Não há guerras entre as nações por causa do barro. Por causa do petróleo, sim. Por causa do ouro, sim. Mas barro? Barro não é raridade.

2. A causa de Jesus muito sofre por causa de nossas vaidades pessoais, quando, por exemplo, achamos que somos muita coisa. Paulo, o apóstolo, nos fala que a nossa glória não está em nós ou em nossas realizações pessoais, mas em Cristo: "Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor. Porque não é aprovado aquele que se recomenda a si mesmo", 2 Co 10.17,18.

3. Disse alguém: "Deus a todos fez do pó da terra; mas alguns pensam que foram feitos de porcelana". Calma, irmão, devagar com o andor: Você é de barro!

2. O Barro É Frágil

2. Diferente do ferro ou do bronze, o barro se espatifa à-toa. Facilmente os nossos projetos se desmoronam. Basta pequena pressão da vida para que os nossos sonhos se despedacem como a botija de Jeremias, Jr 19.10-11, "10 Então, quebrarás a botija à vista dos homens que foram contigo 11 e lhes dirás: Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Deste modo quebrarei eu este povo e esta cidade, como se quebra o vaso do oleiro, que não pode mais refazer-se, e os enterrarão em Tofete, porque não haverá outro lugar para os enterrar".

- Judá se achava auto-suficiente, e se afundava em seus pecados, porém Deus ordena a Jeremias que espatifasse uma botija de barro, que neste caso era uma representação da nação, que também seria quebrada, espatifada pela mão do Senhor. Assim há muitos filhos de Deus! Vivem como se nada lhes acontecesse. Porém se nós não nos quebrarmos, Deus certamente nos quebrará, nos moerá.

3. Na década de 70 havia uma canção popular, da qual não me lembro sua autoria que dizia: "Eu sou como o cristal bonito / Que se quebra quando cai".

4. Queridos, nossa fragilidade, no entanto, é a oportunidade de Deus. Eis como Paulo explica isso: "...não me gloriarei senão nas minhas fraquezas... e ele me disse: A minha graça te basta, porque o meu poder se aperfeiçoa na fraqueza. Por isso, de boa vontade antes me gloriarei nas minhas fraquezas, a fim de que repouse sobre mim o poder de Cristo", 2 Co 12.5,9.

- Deus quer trabalhar em nós, porém precisamos aprender que Ele não trabalha com gente ensimesmada, gente importante, gente "grande". Precisamos nos fazer "fracos", para então o poder de Deus me invada, me use de maneira extensiva. Quando olhamos para a Palavra "fraqueza", encontramos o termo grego "asyeneia" – astheneia, que significa "fragilidade", "fraqueza provocada por uma doença".

3. O Barro Não Tem Querer

1. Ainda através de Isaías o Senhor questiona: "...porventura dirá o barro ao que o formou: Que fazes?", Is 45.9. Seria absurdo admitir um oleiro consultando o barro sobre a forma que este deveria receber. Deus ensina uma poderosa e inesquecível lição a Jeremias, ordenando-lhe que vá à oficina do oleiro e observe bem o seu modo de trabalhar.

2. Veja um exemplo na instrução de Deus a Jeremias: "1 Palavra do SENHOR que veio a Jeremias, dizendo: 2 Dispõe-te, e desce à casa do oleiro, e lá ouvirás as minhas palavras. 3 Desci à casa do oleiro, e eis que ele estava entregue à sua obra sobre as rodas. 4 Como o vaso que o oleiro fazia de barro se lhe estragou na mão, tornou a fazer dele outro vaso, segundo bem lhe pareceu", Jr 18.1-4.

- Note que o oleiro estava construindo um vaso que lhe quebrou às mãos. Tornou ele a fazer do mesmo barro outro vaso " segundo bem lhe pareceu ". Devemos entender que ao barro não resta outra opção senão render-se à vontade soberana do artista que o manipula. Barro não faz birra. Barro não dá berro.

3. Devemos ser assim nas mãos de Deus! Não temos o direito de questionar os planos e os propósitos do Senhor em nossas vidas. Devemos a mesma disposição que tiveram os servos de Deus do passado:

a) Isaías: "Depois disto, ouvi a voz do Senhor, que dizia: A quem enviarei, e quem há de ir por nós? Disse eu: eis-me aqui, envia-me a mim", Is 6.8.

b) Maria: "Então, disse Maria: Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra", Lc 1.38.

c) Paulo: "Então, perguntei: que farei, Senhor? E o Senhor me disse: Levanta-te, entra em Damasco, pois ali te dirão acerca de tudo o que te é ordenado fazer", At 22.10.

4. Quando nos submetemos inteiramente ao Senhor somos abençoados!

4. (Mas) O Barro É a Matéria-Prima do Artista

1. É o artista quem resgata o barro da mediocridade. Nas mãos dele, o barro vira arte, é analisado, admirado, exibido em galerias e... fica valendo uma fortuna.

2. Paulo diz: "Temos porém este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não da nossa parte", 2 Co 5.7.

- Deus tem muitos tesouros para colocar em nós! Porém só fará isso se O permitirmos! Muitos filhos de Deus deixam de ser abençoados, porque permanecem com seus corações endurecidos à ação de Deus em sua vidas.

3. A parte b do verso usado como base da mensagem desta noite (Is 64.8) diz: "...e todos nós (somos) obra das tuas mãos".

- Amigo, deixe-se nas mãos do artista perfeito. Ele transformará o barro da sua vida numa obra de arte valiosa. Cante com o poeta:

"Eu quero ser, Senhor amado,

Como vaso nas mãos do oleiro.

Quebra minha vida

E faze-a de novo.

Eu quero ser, eu quero ser

Um vaso novo".

CONCLUSÃO:

1. Vimos nesta noite que como barro nas mãos de Deus:

a) Não temos o valor que atribuímos a nós mesmos. Só teremos o devido valor quando permitirmos Deus trabalhar em nós;

b) Somos frágeis, e dependemos de Deus para sermos fortes;

c) Não podemos ter vontade própria, mas devemos nos render à vontade de Deus;

d) Mas em contra partida, devemos ser a matéria prima trabalhada por Deus.

2. Vamos nos render ao Senhor, e permitir que Ele nos molde em uma peça de grande valor!