COMPREENDENDO O PERDÃO
por Luciano Subirá
Pr. José
Antônio Corrêa
"Se,
pois, ao trazeres ao altar a tua oferta, ali te lembrares de que teu irmão tem
alguma cousa contra ti, deixa perante o altar a tua oferta, vai primeiro
reconciliar-te com teu irmão; e, então, voltando, faze a tua oferta", Mateus
5:23,24
A
maravilhosa bênção da reconciliação entre nós e Deus, exige que também a
pratiquemos para com nossos irmãos. À semelhança da cruz, também temos duas
linhas do fluir da reconciliação: a vertical (o homem com Deus) e a horizontal
(entre os homens). O mesmo perdão que recebemos de Deus deve ser praticado para
com nossos semelhantes.
Quem não perdoa não é perdoado
O
perdão (ou a falta dele) faz muita diferença na vida de alguém. A reconciliação
horizontal determina se a vertical que recebemos de Deus vai permanecer em
nossa vida ou não. A palavra de Deus é clara quanto ao fato de que se não
perdoarmos a quem nos ofende, então Deus também não nos perdoará. Foi Jesus
Cristo quem afirmou isto no ensino da oração do Pai-nosso: "Porque se
perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará;
se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos
perdoará as vossas ofensas", Mateus 6:14,15.
Deus
tem nos dado seu perdão gratuitamente, sem que o merecêssemos, e espera que
usemos do mesmo espírito misericordioso para com quem nos ofende. Se fluímos
com o Pai Celestial no mesmo espírito perdoador, permanecemos na reconciliação
alcançada pelo Senhor Jesus. Contudo, se nos negamos a perdoar, interrompemos o
fluxo da graça de Deus em nossa vida, e nossa reconciliação vertical é
comprometida pela ausência da horizontal. Cristo também nos advertiu com clareza
sobre isto em uma de suas parábolas (faladas num contexto que envolvia o
perdão):
"Por
isso o reino dos céus é semelhante a um rei, que resolveu ajustar contas com os
seus servos. E passando a fazê-lo, trouxeram-lhe um que devia dez mil talentos.
Não tendo ele, porém, com que pagar, ordenou o seu senhor que fosse vendido
ele, a mulher, os filhos e tudo quanto possuía, e que a dívida fosse paga.
Então o servo, prostrando-se reverente, rogou: Sê paciente comigo e tudo te
pagarei. E o senhor daquele servo, compadecendo-se, mandou-o embora, e
perdoou-lhe a dívida. Saindo, porém, aquele servo, encontrou um dos seus
conservos que lhe devia cem denários; e, agarrando-o, o sufocava, dizendo:
paga-me o que me deves. Então o seu conservo, caindo-lhe aos pés, lhe
implorava: Sê paciente comigo e te pagarei. Ele, entretanto, não quis; antes,
indo-se, o lançou na prisão, até que saldasse a dívida. Vendo os seus
companheiros o que havia se passado, entristeceram-se muito, e foram relatar ao
seu senhor tudo o que acontecera. Então seu senhor, chamando-o, lhe disse:
Servo malvado, perdoei-te aquela dívida toda porque me suplicaste; não devias
tu, igualmente, compadecer-te do teu conservo, como também eu me compadeci de
ti? E, indignando-se, o seu senhor o entregou aos verdugos, até que pagasse
toda a dívida. Assim também o meu Pai celeste vos fará, se do íntimo não
perdoardes cada um a seu irmão", Mateus 18:23-35.
O
significado desta ilustração dada por Jesus Cristo é muito forte. Temos um rei
e dois tipos de devedores. Se a parábola ilustra o reino de Deus, então o rei
figura o próprio Deus. O primeiro devedor tinha uma dívida impagável, enquanto
que a do segundo estava ao seu alcance. Não há como comparar a dívida de cada
um. Esta diferença revela a dimensão da dívida que cada um de nós tinha para
com Deus, e que, por ser impagável, estávamos destinados à prisão e escravidão
eterna. Contudo, sem que fizéssemos por merecer, Deus em sua bondade, nos
perdoou. Portanto, Ele espera que façamos o mesmo. O cristão que foi perdoado
de seus pecados e recusa-se a perdoar um irmão – seu conservo no evangelho –
terá seu perdão revogado.
Isto
é muito sério. As ofensas das pessoas contra a gente não são nada perto das
nossas ofensas que o Pai Celestial deixou de levar em conta. E a premissa
bíblica é de que se pudemos ser perdoados por Ele, então também devemos perdoar
a qualquer um que nos ofenda.
A falta de perdão é uma prisão
Quem
não perdoa, está preso. Lemos em Mateus 18:34: "E, indignando-se, o seu
senhor o entregou aos verdugos, até que pagasse toda a dívida". A palavra
verdugo significa "torturador". Além de preso, aquele homem seria
torturado como forma de punição. A prática do ministério nos revela que o que
Jesus falou em figura nesta parábola é uma realidade espiritual na vida de quem
não perdoa. Os demônios amarram a vida daqueles que retém o perdão. Suas
torturas aplicadas são as mais diversas: angústia e depressão, enfermidades,
debilidade física, etc.
Muita
gente tem sofrido com a falta de perdão. Outro dia ouvi alguém dizendo que o
ressentimento é o mesmo que você tomar diariamente um pouco de veneno,
esperando que quem te magoou venha a morrer. A falta de perdão produz dano
maior em quem está ferido do que naquele que feriu. Por isso sempre digo a quem
precisa perdoar: - "Já não basta o primeiro sofrimento da ferida aberta,
então porque acrescentar um outro maior (a mágoa)"?
Alguns
acham que o perdão é um benefício para o ofensor. Porém, eu digo que o
benefício maior não é o que foi dado ao ofensor, mas sim o que o perdão produz
na vítima, naquele que está ferido. Sem perdão não há cura. A doença interior
só se complica, e a saúde espiritual, emocional e física da pessoa ressentida é
seriamente afetada.
Em
outra porção das Escrituras (onde o contexto dos versículos anteriores é o
perdão), vemos o Senhor Jesus nos advertindo do mesmo perigo: "Entra em
acordo sem demora com teu adversário, enquanto estás com ele a caminho, para
que o adversário não te entregue ao juiz, o juiz ao oficial de justiça, e sejas
recolhido à prisão. Em verdade te digo que não sairás dali, enquanto não
pagares o último centavo", Mateus 5:25,26.
Não
sei exatamente como é esta prisão, mas sei que Cristo não estava brincando
quando falou dela. A falta de perdão me prende e pode prender a vida de mais
alguém. Isto é um fato comprovado. Tenho presenciado gente que esteve presa por
tantos anos, e ao decidir perdoar foi imediatamente livre. Isto também pode
acontecer com você, basta decidir perdoar.
Seguindo o exemplo divino
Como
deve ser o perdão?
A
pessoa tem que pedir o perdão ou merecê-lo para poder ser perdoada?
Não.
Devemos perdoar como Deus nos perdoou: "Antes, sede uns para com os outros
benignos, compassivos, perdoando-vos uns aos outros, como também Deus em Cristo
vos perdoou", Efésios 4:32
O
texto bíblico diz que nosso perdão e reconciliação horizontal deve seguir o
exemplo da que Deus em Jesus praticou para conosco. Então, basta perguntar:
"Fizemos por merecer o perdão de Deus?" Não. Então nosso ofensor
também não precisa fazer por merecer. O perdão é um ato de misericórdia, de
compaixão. Nada tem a ver com merecimento. O apóstolo Paulo falou aos efésios
que o perdão é fruto de um coração compassivo e benigno. O perdão flui da
benignidade do nosso coração, e não por haver ou não benignidade no ofensor.
Jesus disse que se eu souber que alguém tem algo contra mim, devo procurá-lo
para tentar a reconciliação. Mesmo se tal pessoa não me procurar ou nem mesmo
quiser falar comigo, tenho que ter a iniciativa, tenho que tentar. Deus
ofereceu perdão gratuito a todos, independentemente de qualquer comportamento,
e Ele é nosso exemplo! PERDÃO SEM limites
Certa
ocasião, o apóstolo Pedro quis saber o limite de vezes que existe para perdoar
alguém. E foi surpreendido pela resposta que Cristo lhe deu: "Então Pedro,
aproximando-se, lhe perguntou: Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará
contra mim, que eu lhe perdoe? Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo
que até sete vezes, mas até setenta vezes sete", Mateus 18:21,22.
O
Senhor declarou que mesmo se alguém repetir sua ofensa contra mim por
quatrocentos e noventa vezes, ainda deve ser perdoado. Na verdade, os
comentaristas bíblicos em geral entendem que Jesus não estava se prendendo a
números, mas tentando remover o limite imposto na mente dos discípulos para
perdoar.
Fico
pensando o que seria de nós sem a misericórdia de Deus. Quantas vezes Deus já
nos perdoou? Quantas mais Ele vai nos perdoar? Se devemos perdoar como também
Deus em Cristo nos perdoou, então fica claro que não há limite de vezes para
perdoar!
Vantagem do diabo
Já
falamos que há uma prisão espiritual ocasionada por reter o perdão. E que
demônios se aproveitam desta situação. Agora queremos examinar um outro texto
bíblico que nos mostra nitidamente que a falta de perdão dá vantagem ao diabo:
"A quem perdoais alguma cousa, também eu perdôo; porque de fato o que
tenho perdoado, se alguma cousa tenho perdoado, por causa de vós o fiz na
presença de Cristo, para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, pois não
lhe ignoramos os desígnios", 2 Coríntios 2:10,11.
O
apóstolo Paulo revela que se deixamos de perdoar, quem vai se aproveitar da
situação é Satanás, o adversário de nossas almas. Disse ainda, que não ignorava
as maquinações do maligno. Em outras palavras, ele estava dizendo que
justamente por saber como o diabo age na falta de perdão, é que não podia
deixar de perdoar.
Precisamos
entender que Deus não será engrandecido na falta de perdão. Que o ofendido não
lucra nada por não perdoar. Que até mesmo o ofensor pode estar espiritualmente
preso. O único que lucra com isso é o diabo, pois passa a ter autoridade na
vida de quem decide alimentar a ferida do ressentimento.
A
Bíblia nos ensina que não devemos dar lugar ao diabo (Ef.4:27). Diz ainda que
ele anda em nosso derredor rugindo como leão, buscando a quem possa tragar (1
Pe.5:8), e que devemos resisti-lo (Tg.4:7). Mas quando nos recusamos a perdoar,
estamos deliberadamente quebrando todos estes mandamentos.
Conselhos práticos
Para
aqueles que reconhecem que não há saída a não ser perdoar, mas que, por outro
lado, não é algo tão fácil de se fazer, quero oferecer alguns conselhos
práticos que serão de grande valia.
Primeiro,
o perdão não é um sentimento, é uma decisão e também uma atitude de fé. Já dissemos
que o perdão não é por merecimento, logo, não tenho motivação alguma em minhas
emoções a perdoar. Não me alegro por ter sido lesado, mas libero aquele que me
lesou por uma decisão racional. Portanto, o perdão não flui espontaneamente,
deve ser gerado no coração por levar em consideração aquilo que Deus fez por
mim e sua ordem de perdoar. As conseqüências da falta de perdão também devem
ser lembradas, para dar mais munição à razão do que à emoção.
É
preciso fé para perdoar. Certa ocasião quando Jesus ensinava seus discípulos a
perdoarem, foi interrompido por um pedido peculiar: "Acautelai-vos. Se teu
irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe. Se por
sete vezes no dia pecar contra ti, e sete vezes vier ter contigo, dizendo: Estou
arrependido, perdoa-lhe. Então disseram os apóstolos ao Senhor: Aumenta-nos a
fé", Lucas 17:3-5.
Naquele
instante os discípulos reconheceram que para praticar este nível de perdão
iriam precisar de mais fé. E Jesus parece ter concordado, pois nos versículos
seguintes lhes ensinou que a fé é como semente, quanto mais se exercita
(planta) mais ela cresce (se colhe).
É
necessário crer que Deus é justo e que Ele não nos pede mais do que aquilo que
podemos dar. Se Deus nos pediu que perdoássemos, Ele vai nos socorrer
dispensando sua graça no momento em que tivermos uma atitude de perdão.
Muitas
vezes o perdão precisa ser renovado. Depois de declarar alguém perdoado, o
diabo, que não quer perder seu domínio, vai tentar renovar a ferida. Em
Provérbios 17:9 as Escrituras Sagradas nos falam sobre encobrir a questão ou
renová-la. É preciso tomar uma decisão de esquecer o que houve, e renovar
somente o perdão. Cada vez que a dor tentar voltar, declare novamente seu
perdão. Ore abençoando seu ofensor. Lute contra a mágoa!
Algo
especial que vejo em Jesus na cruz é atitude de ver os ofensores como vítimas:
"Contudo Jesus dizia: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que
fazem", Lucas 23:34.
Em
vez de olhar para eles como quem merece punição e castigo, Jesus enxerga que
eles também eram vítimas. Aqueles homens estavam em cegueira e ignorância
espiritual, debaixo de influência maligna, sem nenhum discernimento de quem
estavam de fato matando. Eram vítimas de todo um sistema que os afastou de Deus
e da revelação das Escrituras. E ao reconhecer que ele é que eram vítimas, em
vez de alimentar dó de si mesmo (como nós faríamos), Jesus teve compaixão
deles.
Acredito
que este é um princípio para o perdão fluir livremente. Assim como Jesus o fez,
deixando exemplo, Estevão, o primeiro mártir do Cristianismo, também o fez:
"Então, ajoelhando-se, clamou em alta voz: Senhor, não lhes imputes este
pecado", Atos 7:60.
Quando
você começa a enxergar as misérias da vida espiritual de seu ofensor (ao menos
a que manifestou no momento de te ferir), e canaliza o amor de Deus por ele,
como você também necessita do amor divino ao se achegar arrependido em busca de
perdão, a coisa fica mais fácil.
Mensageiros do perdão
Paulo
declarou que Deus fez dele um ministro da reconciliação. Não só devemos perdoar
quem nos ofende, mas também devemos nos tornar "mensageiros" do
perdão: "Bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de
Deus", Mateus 5:9.
Diante
de nós surgirão situações em que podemos interferir. Mesmo que não seja você
quem esteja carregando a mágoa, você pode ser um pacificador, alguém que se
coloca entre duas partes para ajudar na reconciliação.
Muitos
de nós já nos deixamos ser usados pelo diabo para provocar intrigas e
discórdias entre outras pessoas, mas agora Deus deseja nos usar para semear o
perdão e a restauração dos relacionamentos quebrados.
Portanto,
seja perdoando ou promovendo o perdão, torne-se um pacificador, um promotor do
perdão!