COMUNHÃO.
Pr. José Antônio Corrêa
DEFINIÇÕES DE COMUNHÃO:
1.
AURÉLIO: Conjunto daqueles que comungam os mesmos ideais, crenças ou
opiniões; comunidade.
2. O NOVO DICIONÁRIO DA BÍBLIA:
a.
O termo tem sua origem na raiz grega "koin" - Koin, donde
temos "koinonia" - koinonia, termo este traduzido para nossa
língua como "comunhão", "participação",
"contribuição", "algo comum entre duas ou mais pessoas".
b.
A conotação fundamental da raiz "koin", é a de "partilhar
alguma coisa com alguém". Pode também ser o termo usado, como a "disposição
para compartilhar de algo" ; e daí se deriva a tradução "generosidade".
c.
Porém a idéia mais comum encontrada na Palavra de Deus é a idéia de "compartilhar":
At 2.42, "e perseveravam na doutrina dos
apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações".
I JO 1.3, "sim, o que vimos e ouvimos,
isso vos anunciamos, para que vós também tenhais comunhão conosco; e a nossa
comunhão é com o Pai, e com seu Filho Jesus Cristo".
Gl 2.9, "e quando conheceram a graça que me fora
dada, Tiago, Cefas e João, que pareciam ser as colunas, deram a mim e a Barnabé
as destras de comunhão, para que nós fôssemos aos gentios, e eles à
circuncisão."
I - ASPECTOS DA COMUNHÃO.
1.
Ela abrange nosso relacionamento com o Deus Trino.
1.1
Comunhão com Deus: A comunhão com Deus deve ser buscada como algo de muita
importância para que possamos levar uma vida reta diante dele e também diante
deste mundo. Sem a comunhão com o Senhor jamais poderemos desenvolver nossa
comunhão com nossos irmãos. Temos na Palavra de Deus Alguns exemplos:
a.
Enoque, Gn 5.22-24, "22 Andou Enoque com Deus, depois que gerou
a Matusalém, trezentos anos; e gerou filhos e filhas. 23 Todos os dias
de Enoque foram trezentos e sessenta e cinco anos; 24 Enoque andou com
Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus o tomou".
A
expressão "andou Enoque com Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus o
tomou", nos sugere a verdade que Enoque desfrutou tamanha comunhão com
o Senhor, que foi arrebatado corporalmente, sem passar pela morte física. A
Carta aos Hebreus atribui a sua translação à sua extraordinária fé, Hb 11.5,
"Pela fé Enoque foi trasladado para não ver a morte; e não foi achado,
porque Deus o trasladara; pois antes da sua trasladação alcançou testemunho de
que agradara a Deus".
b.
Noé, Gn 6.9, "Estas são as gerações de Noé. Era homem justo e
perfeito em suas gerações, e andava com Deus".
Temos
aqui em Noé a mesma expressão usada com referência a Enoque: "e andava
com Deus". É provável que Noé conquistou esta comunhão invejável com o
Senhor, porque era "justo e perfeito". Isto não quer dizer que
Noé era impecável, mas que era um homem que procurava a retidão e a integridade
diante de Deus.
c.
Josias, 2Rs 23.3, "Então o rei, pondo-se em pé junto à coluna, fez um
pacto perante o Senhor, de andar com o Senhor, e guardar os seus
mandamentos, os seus testemunhos e os seus estatutos, de todo o coração e de
toda a alma, confirmando as palavras deste pacto, que estavam escritas naquele
livro; e todo o povo esteve por este pacto".
Temos
no texto uma expressão semelhante às expressões usadas pela Palavra com
referência a Enoque e a Noé: "Josias... fez um pacto perante o Senhor,
de andar com o Senhor...". Como as expressões anteriores, tal
expressão alude a uma maneira de mantermos uma comunhão com o Senhor, de
buscarmos intimidade com Ele.
1.2.
Comunhão com Cristo:
a.
Somos chamados à comunhão com Jesus Cristo, 1Co 1.9, "9
Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu Filho Jesus
Cristo nosso Senhor."
Ao
nascermos de novo pela fé em Cristo, fomos chamados a manter uma comunhão com
Jesus, o que significa que agora podemos de uma certa "intimidade"
com Ele.
b.
Condição para que haja comunhão com Cristo: Receptividade espiritual, Ap.
3.20, "Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e
abrir a porta, entrarei em sua casa, e com ele cearei, e ele comigo".
Porém,
para podermos desfrutar desta comunhão gloriosa com o Senhor, é necessário
abrir a porta do nosso coração, permitindo desta maneira que Jesus venha nos
levar a desfrutar de sua companhia agradável.
1.3.
Comunhão com o Espírito Santo:
a.
II Co 13.13, "
A
"Comunhão do Espírito Santo", é como que algo necessário para
o Filho de Deus nesta nova vida em Cristo. O Espírito Santo é o Consolador, o
Ajudador, que nos foi enviado por Jesus é Ele é presença indiscutível no
coração daquele que nasceu novamente. Jesus nos garantia que Ele estaria para
sempre conosco, Jo 14.16, "E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará
outro Ajudador, para que fique convosco para sempre".
b.
Fp 2.1-2, "1 Portanto, se há alguma exortação em Cristo, se
alguma consolação de amor, se alguma comunhão do Espírito, se alguns
entranháveis afetos e compaixões, 2 completai o meu gozo, para que
tenhais o mesmo modo de pensar, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, pensando a
mesma coisa".
A
"comunhão do Espírito Santo", juntamente com a exortação em
Cristo e a consolação de amor, quando levada a sério, nos levar a desfrutar com
outros irmãos da mesma maneira de pensar, possuir o mesmo amor, tendo o mesmo
ânimo e pensar como os irmãos de uma mesma maneira.
2.1.
Sl 133 "1 Oh! quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em
união! 2 É como o óleo precioso sobre a cabeça, que desceu sobre a
barba, a barba de Aro, que desceu sobre a gola das suas vestes; 3 como o
orvalho de Hermom, que desce sobre os montes de Sião; porque ali o Senhor
ordenou a bênção, a vida para sempre".
O
salmista chama a "união de irmãos", como sendo algo "bom"
e "suave". Ela é comparada com o "óleo da
unção" que fora derramado sobre a cabeça de Arão. Isto nos leva a
entender que a unidade cristã traz unção e sem ela não pode haver unção.
2.2.
Sl 119.63, "Companheiro sou de todos os que te temem, e dos que
guardam os teus preceitos".
O
salmista Davi, tinha conhecimento de que somente no meio dos irmãos
verdadeiros, pode haver companheirismo, comunhão, unidade de propósitos. Os
valores mundanos existente em qualquer sociedade trazem divisões, contendas,
brigas, disputas, que não podem estar no meio do povo de Deus.
2.3.
At 2.42, "e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no
partir do pão e nas orações".
Para
que possamos desfrutar de uma verdadeira comunhão entre irmão é preciso buscar
a perseverança. Existe algo que precisamos cultivar e trabalhar, para sermos
unidos num só propósito.
2.4.
I Jo 1.7, "mas, se andarmos na luz, como ele na luz está, temos
comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus seu Filho nos purifica de todo
pecado".
A
comunhão de "uns com os outros", depende de nosso
relacionamento e comunhão com Cristo. Uma vez que estamos na luz, que é o
próprio Cristo, desta vivência na luz surge a comunhão.
II - BENEFÍCIOS DA COMUNHÃO.
1.
Ela traz unidade espiritual, Ef 4.3-6, "3 procurando
diligentemente guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz. 4 Há um
só corpo e um só Espírito, como também fostes chamados em uma só esperança da
vossa vocação; 5 um só Senhor, uma só fé, um só batismo; 6 um só
Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, e por todos e em todos".
Como
filhos de Deus, possuímos os mesmos valores, o que nos deveria levar a
preservar a "unidade do Espírito" que é, no dizer de Paulo, o "vínculo
da paz". Ou seja, devemos cultivar a verdadeira paz entre nós, uma vez
que possuímos o Espírito de Deus habitando em nós.
2.
Ela traz unidade de propósitos, Fp 2.1-4, "1 Portanto, se há
alguma exortação em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão
do Espírito, se alguns entranháveis afetos e compaixões, 2 completai
o meu gozo, para que tenhais o mesmo modo de pensar, tendo o mesmo amor, o
mesmo ânimo, pensando a mesma coisa; 3 nada façais por contenda ou por
vanglória, mas com humildade cada um considere os outros superiores a si mesmo;
4 não olhe cada um somente para o que é seu, mas cada qual também para o
que é dos outros".
O
resultado da "comunhão do Espírito", não poderia deixar de ser
outro: "Gozo completo", "mesmo modo de pensar",
"mesmo amor", "mesmo ânimo". Quando estas
características forem traços de nossa personalidade como filhos de Deus,
poderemos dizer que estamos desfrutando da verdadeira comunhão entre irmãos.
3. Ela é um meio eficaz de testemunho:
a.
JO 17.20-21, "20 E rogo não somente por estes, mas também
por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim; 21 para que todos
sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles sejam um
em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste".
Muito
se fala em testemunhar de Jesus como Filho de Deus e Salvador do mundo e é
necessário que sejamos testemunhas do Senhor, At 1.8, "Mas
recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e ser-me-eis
testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, e até os
confins da terra". Porém, um meio eficaz de testemunho é vivermos na
unidade que nos é trazida pelo Espírito Santo de Deus. Esta unidade por si só,
falará alto aos incrédulo do amor de Deus que existe em nós. Quando a unidade é
substituída por brigas, contendas, discórdias, o mundo ao invés de reconhecer a
Palavra de Deus, fica, isto sim escandalizado e ao mesmo tempo improdutivo em
relação ao Evangelho de Deus.
b.
I Jo 1.3, "sim, o que vimos e ouvimos, isso vos anunciamos, para
que vós também tenhais comunhão conosco; e a nossa comunhão é com o Pai,
e com seu Filho Jesus Cristo".
João
evangelizava, usando o recurso da comunhão. Ele insistia no sentido de que os
irmãos receptores de sua mensagem, quando por ela tocados, fossem levados à
autêntica comunhão produzida em nós pelo Espírito e pela Palavra de Deus.
4.
Ela nos incentiva a exortação mútua:
a. Hb 10.25, "não abandonando a nossa congregação,
como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais,
quanto vedes que se vai aproximando aquele dia".
A
ausência de comunhão faz com que muitos irmãos deixem de freqüentar a Casa de
Deus e com isto acabam ficando longe da "admoestação", que é
comum no meio dos filhos de Deus, admoestação esta que nos corrige das más
atitudes, nos levando a viver uma vida cristã dentro dos moldes da Palavra do
Senhor. Para vivermos em comunhão, necessitamos de ser admoestados por irmãos
mais experientes, que certamente contribuirão para nosso enriquecimento
espiritual.
b. Cl 3.16, "A palavra de Cristo habite em vós
ricamente, em toda a sabedoria; ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros, com
salmos, hinos e cânticos espirituais, louvando a Deus com gratidão em vossos
corações".
Novamente
temos aqui a idéia de "ensino", e "Admoestação".
Quando a Palavra de Deus se torna prática em nossa vida diária, cresce a nossa
comunhão com Deus e com os irmãos, e ao mesmo tempo nos exortamos uns aos
outros com todos os recursos espirituais possíveis: "Salmos",
"hinos", "cânticos espirituais". Com isto somos levados
a louvar a Deus com gratidão em nossos corações.
III - IMPEDIMENTOS A COMUNHÃO.
1.
Carnalidade, que provoca divisões, I Co 3.1-4, "1 E eu, irmãos
não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a criancinhas
em Cristo. 2 Leite vos dei por alimento, e não comida sólida, porque não
a podíeis suportar; nem ainda agora podeis; 3 porquanto ainda sois
carnais; pois, havendo entre vós inveja e contendas, não sois porventura carnais,
e não estais andando segundo os homens? 4 Porque, dizendo um: Eu sou de
Paulo; e outro: Eu de Apolo; não sois apenas homens?"
Não
tenha dúvidas de que a carnalidade que é o pivô de "divisões",
"disputas", "discórdias". Ela é uma grande inimiga da
comunhão entre os filhos de Deus. Para não termos nossa comunhão frustrada,
dilacerada pela malfadada carnalidade, precisamos combatê-la com todas as
forças.
2.
Maledicência, que semeia contenda entre irmãos, Tg 3.1-6 "1
Meus irmãos, não sejais muitos de vós mestres, sabendo que receberemos um juízo
mais severo. 2 Pois todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não
tropeça em palavra, esse é homem perfeito, e capaz de refrear também todo o
corpo. 3 Ora, se pomos freios na boca dos cavalos, para que nos obedeçam,
então conseguimos dirigir todo o seu corpo. 4 Vede também os navios que,
embora tão grandes e levados por impetuosos ventos, com um pequenino leme se
voltam para onde quer o impulso do timoneiro. 5 Assim também a língua é
um pequeno membro, e se gaba de grandes coisas. Vede quão grande bosque um tão
pequeno fogo incendeia.
Quando
a Igreja permite que a maledicência substitua a amizade verdadeira, ela vai
destruindo, minando aos poucos a comunhão entre os crentes. Vimos no exemplo
acima como a língua pode provocar tanta destruição, quando descontrolada. Ela
bota fogo em tudo. Joga irmão contra irmão, julga premeditadamente, provoca
ciúmes e tantas outras coisas perniciosas aos irmãos.
3.
Orgulho, que exalta o "ego" e diminui o irmão, Fp 2.3-4 "3
nada façais por contenda ou por vanglória, mas com humildade cada um considere
os outros superiores a si mesmo; 4 não olhe cada um somente para o que é
seu, mas cada qual também para o que é dos outros".
Não
existe algo mais nojento e asqueroso do que orgulho. Ele leva a pessoa a pensar
só é si e a viver somente em torno de si mesma. Para o orgulhoso, todas as
pessoas são-lhe inferiores. Tudo o que o orgulhoso faz é para buscar "vanglória",
"exaltação própria". Não é preciso nem dizer que o orgulho
acaba sendo um grande inimigo da verdadeira amizade e união entre nós.
4.
Juízo temerário o irmão, Mt 7.1-5 "1 Não julgueis, para que não
sejais julgados. 2 Porque com o juízo com que julgais, sereis julgados;
e com a medida com que medis vos medirão a vós. 3 E por que vês o
argueiro no olho do teu irmão, e não reparas na trave que está no teu olho? 4
Ou como dirás a teu irmão: Deixa-me tirar o argueiro do teu olho, quando
tens a trave no teu? 5 Hipócrita! tira primeiro a trave do teu olho; e
então verás bem para tirar o argueiro do olho do teu irmão".
Para
vivermos bem entre nós, é necessário aprendermos a entender nossos irmãos.
Quando a crítica e o juízo ao irmão, assumem papel de destaque em nossos
relacionamentos, podemos notar que surge um clima de desconfiança, de falta de
respeito e consideração, gerando um clima de animosidade entre nós, o que acaba
destruindo a comunhão. Antes de julgarmos o irmão precisamos aprender a julgar
a nós mesmos, I Co 11.31-32, "31 Mas, se nós nos julgássemos
a nós mesmos, não seríamos julgados; 32 quando, porém, somos julgados
pelo Senhor, somos corrigidos, para não sermos condenados com o mundo".
CONCLUSÃO:
1.
Como vimos, a comunhão, o relacionamento entre irmãos, quando cultivados na
forma bíblica, trarão ao povo de Deus uma riqueza tremenda. Se queremos manter
comunhão com Deus, precisamos aprender a cultivar nossa comunhão com nossos
irmãos. Vamos testemunhar a outras vidas através de nossa unidade e comunhão.
2.
Precisamos estar atentos aos impedimentos da verdadeira comunhão (carnalidade,
maledicência, orgulho, juízo), e lutarmos no sentido de que tais barreiras
sejam quebradas, destruídas, para que possamos desfrutar do convívio real com
outros filhos de Deus, sem hipocrisia, sem fingimentos.
3.
Por fim vamos nos esforçar para viver a comunhão no sentido bíblico, colocando
o nosso irmão sempre numa posição superior a nossa, Fp 2.3-4, "3
nada façais por contenda ou por vanglória, mas com humildade cada um considere
os outros superiores a si mesmo; 4 não olhe cada um somente para o que é
seu, mas cada qual também para o que é dos outros".