CONTAMINAÇÃO – ESTUDO PARA JOVENS

DN 1.8

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

Texto: "Resolveu Daniel, firmemente, não contaminar-se com as finas iguarias do rei, nem com o vinho que ele bebia; então, pediu ao chefe dos eunucos que lhe permitisse não contaminar-se".

 

INTRODUÇÃO:

1. A palavra "contaminar-se", vem do termo hebraico "lag" - ga'al e significa "poluir-se", "manchar-se", "sujar-se", "profanar". A palavra lag era usada no antigo Testamento para referir-se, descrever, a pessoa desqualificada para cultuar a Deus em virtude do pecado. Um exemplo disto, é o do sacerdote que precisava passar por rituais de purificação para poder entrar na presença de Deus. Quando estudamos o Tabernáculo no deserto, podemos observar que havia uma pia de bronze onde os sacerdotes precisavam lavar-se, para se tornarem espiritualmente puros, Êx 30.20, "18 Farás também uma bacia de bronze com o seu suporte de bronze, para lavar. Pô-la-ás entre a tenda da congregação e o altar e deitarás água nela. 19 Nela, Arão e seus filhos lavarão as mãos e os pés. 20 Quando entrarem na tenda da congregação, lavar-se-ão com água, para que não morram; ou quando se chegarem ao altar para ministrar, para acender a oferta queimada ao SENHOR".

2. Deus dava tanta importância às cerimônias de purificação, que aquele que não observasse o ritual, seria morto em Sua presença. Observe a frase: "...para que não morram", v. 20. Não que a água tenha a propriedade para limpar pecados, mas estava em evidência a obediência do sacerdote. Somente através da obediência a Deus é que estaremos qualificados para permanecer em Sua presença. No texto inicial, podemos notar que a tônica principal de Daniel não foi o simples fato dele recusar as comidas e as iguarias oferecidas na mesa do rei, mas a sua total obediência e submissão a Deus! Deus quer jovens que estejam dispostos a obedecê-lo num mundo pervertido e corrupto!

3. Hoje, como nos dias de Daniel, vivemos um mundo envolvido por elementos altamente "contaminados". Para que um jovem genuinamente cristão possa se manter puro frente às contaminações deste mundo, ele precisará buscar uma vida de oração, num contato direto e constante com a Palavra de Deus. Caso contrário, poderá ser envolvido pelos laços diabólicos e se tornará sujo, imundo e consequentemente desqualificado para servir a Deus e permanecer em Sua presença. Queremos ver nesta noite:

 

"A CONTAMINAÇÃO, E COMO MANTER UMA VIDA LIMPA NUM MUNDO ALTAMENTE CONTAMINADO"

 

VAMOS ABORDAR O TEMA FAZENDO DUAS PERGUNTAS:

 

I. O QUE TRAZ CONTAMINAÇÃO?

1. Em linhas gerais sabemos que o que contamina o homem é o pecado. Como já vimos em nossa introdução, vivemos num mundo altamente contaminado pelo pecado. Este mundo, com suas concupiscências de certa maneira procura nos envolver, nos enredar com seus laços pecaminosos. Paulo escrevendo aos Romanos fala claramente sobre as características do homem mundano: "23 e mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, bem como de aves, quadrúpedes e répteis. 24 Por isso, Deus entregou tais homens à imundícia, pelas concupiscências de seu próprio coração, para desonrarem o seu corpo entre si; 25 pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador, o qual é bendito eternamente. Amém! 26 Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames; porque até as mulheres mudaram o modo natural de suas relações íntimas por outro, contrário à natureza; 27 semelhantemente, os homens também, deixando o contato natural da mulher, se inflamaram mutuamente em sua sensualidade, cometendo torpeza, homens com homens, e recebendo, em si mesmos, a merecida punição do seu erro. 28 E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes, 29 cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade; possuídos de inveja, homicídio, contenda, dolo e malignidade; sendo difamadores, 30 caluniadores, aborrecidos de Deus, insolentes, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes aos pais, 31 insensatos, pérfidos, sem afeição natural e sem misericórdia", Rm 1.23-31.

Temos neste texto um descrição detalhada de como vive o homem sem Deus neste mundo, totalmente entregue às suas paixões pecaminosas. Em virtude de sua tendência ao pecado, este homem sem Deus, foi abandonado e entregue às suas próprias paixões lascivas. Duas frases no texto nos mostram como este homem está entregue e submerso em uma prática pecaminosa desenfreada: "Por causa disso, os entregou Deus a paixões infames...", v. 26 e "...o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes...", v. 28. Note que foi o próprio Deus quem os deixou nesta situação lastimável! O que é interessante aqui é que o homem mundano, abandonado a seu bel prazer, gosta deste tipo de vida! Sua busca se concentra nisto! Há uma preferência pelos valores puramente mundanos e carnais, o que não pode acontecer de maneira alguma com aquele que se torna filho de Deus através do sacrifício de Jesus. Se fomos libertos do pecado, como poderemos permanecer nele? Esta foi a advertência de Paulo aos romanos: "1 Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que abunde a graça? 2 De modo nenhum. Nós, que já morremos para o pecado, como viveremos ainda nele?, Rm 6.1-2.

2. Quando Paulo, escreve aos Efésios diz: "17 Isto, portanto, digo e no Senhor testifico que não mais andeis como também andam os gentios, na vaidade dos seus próprios pensamentos, 18 obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza do seu coração, 19 os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de impureza", Ef 4.17-19.

Observe neste texto a palavra "impureza", v. 19, que tem a ver com algo contaminado, deformado em suas características originais. Esta palavra é a palavra grega "akayarsia" – akatharsia, que tem como significado "sujeira física", "sujeira moral". A impureza é um das obras da carne citadas por Paulo em Gálatas, "Ora, as obras da carne são manifestas, as quais são: a prostituição, a impureza, a lascívia", Gl 5.19. Não é por acaso que a palavra impureza foi colocada entre duas palavras – "prostituição" e "lascívia" – que descrevem um comportamento sexual pecaminoso. A impureza aqui, certamente se refere a um comportamento sexual errado, distorcido que contamina aquele que assim procede. Aquele que faz sexo com uma prostituta se torna um só corpo com ela! Sobre este particular Paulo escreve aos coríntios: "15 Não sabeis vós que os vossos corpos são membros de Cristo? Tomarei pois os membros de Cristo, e os farei membros de uma meretriz? De modo nenhum. 16 Ou não sabeis que o que se une à meretriz, faz-se um corpo com ela? Porque, como foi dito, os dois serão uma só carne", 1 Co 6.15-16. Observe ainda que estes "gentios", no dizer de Paulo "...tendo tornado-se insensíveis (petrificados, duros), se entregaram à dissolução (corrupção, libertinagem)".

3. Não somente podemos ser contaminados pelas ações às quais nosso corpo pode ser exposto, mas também podemos ser contaminados pelos nossos pensamentos e intenções do coração, as quais nos levam também a ações pecaminosas. Veja o alerta do Senhor: "18 Mas o que sai da boca vem do coração, e é isso que contamina o homem. 19 Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias. 20 São estas as coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos não o contamina", Mt 15.18-20. E ainda Mt 5.28, "Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela".

Quando olhamos para o contexto de Mateus 15.18-20, iremos ver que os fariseus haviam levantado uma questão em torno das leis cerimoniais do Antigo Testamento. Eles haviam notado que os discípulos de Jesus estavam comendo sem lavar as mãos, de forma contrária aos princípios legais ensinados pelos escribas, "1 Então, vieram de Jerusalém a Jesus alguns fariseus e escribas e perguntaram: 2 Por que transgridem os teus discípulos a tradição dos anciãos? Pois não lavam as mãos, quando comem", vs. 1-2. Porém, Jesus, a partir desta discussão, procura ensinar seus discípulos que há uma contaminação muito pior do que o "não lavar-se". É contaminação que nos vem de dentro, do coração, dos maus pensamentos, quando somos assediados e dominados pelo pecado. É por esta razão que para se praticar o adultério não é necessário uma união física. Basta apenas "olhar para uma mulher" com cobiça, ou com intenção impura, já estará cometendo este pecado.

4. Um outro exemplo de contaminação pode nos vir através do mau uso da língua, Tg 3.6, "A língua também é um fogo; sim, a língua, qual mundo de iniqüidade, colocada entre os nossos membros, contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, sendo por sua vez inflamada pelo inferno".

A língua quando mal usada pode nos trazer muitos transtornos! Lembre-se do dito popular: "O peixe morre pela boca", uma referência àquele que fala demais e fala o que não deve. A língua é o veículo de muitos pecados, como "maledicência’, "mentira", "calúnias", "difamações", "xingamentos", "palavras torpes", blasfêmias, etc., etc.. Ela, quase sempre nos coloca em grandes embaraços! Pode constituir-se para nós numa ferramenta de desgaste, de sofrimento, de contaminação. Observe que a língua tem a característica de "contaminar todo o corpo". Podemos também dizer que ela contamina outras vidas que nos cercam, espalhando o mal! É um instrumento de alta contaminação!

 

II. COMO ESCAPAR DAS CONTAMINAÇÕES QUE HÁ NO MUNDO?

1. Já vimos que são muitas as maneiras pelas quais podemos ser contaminados pelo pecado, e ao mesmo tempo nos tornarmos imprestáveis para Deus. Aquele que se deixa levar pela atração deste mundo e se envolve em práticas erradas, contamina-se, suja-se, e não poderá aproximar-se de Deus, pois Ele é Santo e não pode ter comunhão com a sujeira e o pecado. Não nos esqueçamos: Deus ama o pecador (deu a vida de seu Filho pelos pecadores), mas ao mesmo tempo, odeia o pecado! Veja em Isaías 1.13 a reação de Deus frente às práticas pecaminosas de seu povo, quando compareciam perante Ele para Lhe oferecer culto: "...... não posso suportar a iniqüidade e o ajuntamento solene!"

2. Diante disto, precisamos nos purificar, ou melhor dizendo, tratar com os nossos pecados! Sabemos que todo trato com o pecado envolve tanto o lado de Deus, como o lado do homem. Deus oferece sua graça a todo pecador – "Cristo morreu pelos nossos pecados", 1 Co 15.3; porém cabe a nós, pecadores, assumir uma posição de entrega ao Senhor, permitindo que Ele nos limpe e trate com os nossos pecados. Lembre-se "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça", 1 Jo 1.9. Observe neste texto a incidência da palavra "purificar". É o mesmo sentido que temos visto, ou seja o de "limpar", "varrer toda sujeira". Vamos ver qual deve ser o nosso procedimento neste tratamento com o pecado:

a) No conselho de Paulo a Timóteo, 2 Tm 2.19-22, "19 Todavia o firme fundamento de Deus permanece, tendo este selo: O Senhor conhece os seus, e: Aparte-se da injustiça todo aquele que profere o nome do Senhor. 20 Ora, numa grande casa, não somente há vasos de ouro e de prata, mas também de madeira e de barro; e uns, na verdade, para uso honroso, outros, porém, para uso desonroso. 21 Se, pois, alguém se purificar destas coisas, será vaso para honra, santificado e útil ao Senhor, preparado para toda boa obra. 22 Foge também das paixões da mocidade, e segue a justiça, a fé, o amor, a paz com os que, de coração puro, invocam o Senhor".

Aqui Paulo usa a figura do "vaso", que pode ser um instrumento tanto para honra, como para desonra, dependendo de sua beleza e/ou feiura e ainda de sua utilidade. Sabemos que o vaso é uma referência a cada um de nós. Dependendo da vida que levamos, podemos ser considerados vasos para honra, ou vasos para desonra. É por esta razão que Paulo aconselha Timóteo a purificar-se "destas coisas" e a santificar-se para o Senhor. Que "coisas" seriam estas? Paulo as chama de "paixões da mocidade". No original temos para "paixão" o termo "epiyumia" – epithumia, que quer dizer "concupiscência", "desejo para o que é proibido", "luxúria". É necessário abster-se destas práticas pecaminosas e enganosas, 1 Ts 4.3, "Porque esta é a vontade de Deus, a saber, a vossa santificação: que vos abstenhais da prostituição". Devemos fugir destes desejos impuros e lutar por uma vida de santidade na presença do Senhor!

b) Em nossa aproximação de Deus, Hb 10.22, "cheguemo-nos com verdadeiro coração, em inteira certeza de fé; tendo o coração purificado da má consciência, e o corpo lavado com água limpa".

Para nos aproximar de Deus, precisamos saber que não o faremos sem um tratamento com a sujeira de nossa vida pecaminosa. Há necessidade de uma purificação, uma limpeza. Neste trecho de Hebreus, a limpeza sugerida deve ser tanto interior (coração, consciência), como também exterior (corpo). A ação da Palavra de Deus (a água) juntamente com a ação do Espírito Santo, somadas à vontade humana, são elementos imprescindíveis para que esta limpeza ocorra e agrade ao Deus Santo. É dentro desta ótica que nos escreve Tiago: "Chegai-vos para Deus, e ele se chegará para vós. Limpai as mãos, pecadores; e, vós de espírito vacilante, purificai os corações", Tg 4.8. A aproximação a Deus através da Palavra, mediante o auxílio de seu Espírito, com o desejo de mudar, nos levará certamente à purificação, à limpeza tanto do corpo (mãos), como também da alma (coração).

c) Em nossa manutenção da vida cristã, 2 Pe 2.20, "Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo pelo pleno conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, ficam de novo envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior que o primeiro".

Há pessoas que até começam bem o viver cristão e por um certo tempo se mantêm limpos, puros, dando um bom testemunho. Porém com o passar do tempo, se deixam envolver pelos laços diabólicos e retrocedem! É deste tipo de crente que Pedro está falando. Note que o apóstolo diz que tais indivíduos já haviam "escapado das corrupções do mundo", contudo se deixaram envolver por elas novamente e foram "vencidos". Não é de se admirar que o estado destas pessoas se tornou bem pior do que quando ainda não tinham conhecimento da verdade de Deus. É por isso que se cumpre nestas vida o adágio popular: "Volta o cão ao seu vômito, e a porca lavada volta a revolver-se no lamaçal", v. 22. Não há coisa pior para o homem do que o retrocesso na vida cristã!

3. Porém algo não podemos nos esquecer: A purificação é somente para aqueles que são verdadeiros filhos de Deus, 1 Jo 3.3, "E todo o que nele tem esta esperança, purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro". Quem é de Deus, fará tudo para limpar-se! A esperança que está em nós, nos motivará a levar uma vida que de fato agrade ao Pai Celeste. É algo que levamos sem peso, pois dependeremos do poder do Espírito Santo e da ação da Palavra em nós, nos corrigindo, alertando, nos cortando profundamente, até que estejamos aptos para servir de maneira agradável ao Deus Eterno. Certamente, aquele que é verdadeiro procurará descobrir através da Escritura a vontade de Deus e a praticará sem questionamentos. Este cristão legítimo, estará atento ao dizer de Paulo: "E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus", Rm 12.3. Descobrir da vontade de Deus e obedecê-la é um desafio a todos nós que aspiramos as Jerusalém Celestial, onde não mais haverá impurezas, "E não entrará nela coisa alguma impura, nem o que pratica abominação ou mentira; mas somente os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro", Ap 21.7.

 

CONCLUSÃO:

1. Diante de tudo o que vimos, certamente precisamos levar uma vida limpa, purificada, santificada, pois sem isso não poderemos agradar a Deus, "Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor", Hb 12.14. Esta é uma exigência de Deus! Se queremos servi-LO, precisamos nos adequar aos princípios de Sua Palavra. Caso contrário estaremos tentando enganar a Deus, porém, sem qualquer sucesso. Algo porém é certo: estaremos, enganando a nós mesmos, Tg 1.22, "E sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos".

2. Vale a pena viver uma vida santificada, guardando-se das contaminações do mundo. Aquele que se deixa enredar pelas atrações mundanas, certamente não ficará sem a devida punição. Se agirmos displicentemente estaremos sujeitos à manifestação da ira divina, "Mas, segundo a tua dureza e teu coração impenitente, entesouras ira para ti no dia da ira e da revelação do justo juízo de Deus", Rm 2.5.

3. Vamos viver de maneira que agrademos a Deus!