I REIS 19.1-10
Pr. José Antônio Corrêa
"1 E Acabe fez saber a Jezabel tudo quanto Elias
havia feito, e como totalmente matara todos os profetas à espada. 2 Então
Jezabel mandou um mensageiro a Elias, a dizer-lhe: Assim me façam os deuses, e
outro tanto, se de certo amanhã a estas horas não puser a tua vida como a de um
deles. 3 O que vendo ele, se levantou e, para escapar com vida, se foi,
e chegando a Berseba, que é de Judá, deixou ali o seu servo. 4 Ele,
porém, foi ao deserto, caminho de um dia, e foi sentar-se debaixo de um zimbro;
e pediu para si a morte, e disse: Já basta, ó Senhor; toma agora a minha vida,
pois não sou melhor do que meus pais. 5 E deitou-se, e dormiu debaixo do
zimbro; e eis que então um anjo o tocou, e lhe disse: Levanta-te, come. 6
E olhou, e eis que à sua cabeceira estava um pão cozido sobre as brasas, e uma
botija de água; e comeu, e bebeu, e tornou a deitar-se. 7 E o anjo do
Senhor tornou segunda vez, e o tocou, e disse: Levanta-te e come, porque te
será muito longo o caminho. 8 Levantou-se, pois, e comeu e bebeu; e com
a força daquela comida caminhou quarenta dias e quarenta noites até Horebe, o
monte de Deus. 9 E ali entrou numa caverna e passou ali a noite; e eis
que a palavra do Senhor veio a ele, e lhe disse: Que fazes aqui Elias? 10
E ele disse: Tenho sido muito zeloso pelo Senhor Deus dos Exércitos, porque os
filhos de Israel deixaram a tua aliança, derrubaram os teus altares, e mataram
os teus profetas à espada, e só eu fiquei, e buscam a minha vida para ma
tirarem".
INTRODUÇÃO:
a. A Fuga. A fuga ocorre quando nos trancamos em nós
mesmos, nos isolamos e procuramos fugir do problema, ou ainda "fingimos",
ou "fazemos de conta" que o problema não existe. Vimos que
muitos servos de Deus tentaram a fuga diante de problemas aparentemente sem
solução. Um dos exemplos é o de Jacó, Gn 32.22-24, quando estava indo ao
encontro de seu irmão Esaú. Ele mandou seus familiares seguirem adiante,
enquanto ficou para traz, a fim de chorar seu problema diante do Senhor.
Felizmente, em sua fuga Jacó teve uma profunda experiência com Deus, que lhe
foi benéfica para o resto de sua vida.
b. O Desejo de morrer. O desejo de morrer ocorre quando
todos os nossos esforços para solução do problema se esgotaram e nos sentimos
sozinhos. A morte pode ser também um tipo de fuga. É aqui que pode haver a
ocorrência do suicídio (não crentes), ou a morte solicitada (pelos que são
crentes). Um exemplo de alguém que desejou morrer está em Jonas, Jonas, Jn
4.1-3. Depois dele pregar contra a sua própria vontade em Nínive, capital
da Assíria, deitou-se debaixo de uma aboboreira para descansar, cuja planta
morreu com a mesma rapidez com que nasceu. Isto foi fatal, trazendo-lhe a
vontade de morrer. Talvez seu desejo de morte foi em razão de seu
descontentamento pela conversão dos ninivitas.
2.
Hoje, queremos continuar nossas considerações sobre mais
"DUAS FASES NÍTIDAS DE UMA
CRISE". Vejamos quais são elas:
III - BAIXA AUTO-ESTIMA
Vs. 4, "Ele, porém, foi ao deserto, caminho de
um dia, e foi sentar-se debaixo de um zimbro; e pediu para si a morte, e disse:
Já basta, ó Senhor; toma agora a minha vida, pois não sou melhor do que meus
pais".
2.
Se por um lado, a vanglória, o orgulho, a soberba são condenadas na Palavra de
Deus, certamente que esta auto desvalorização forçada, não agrada em nada ao
Deus Criador. Deus quer que seus filhos sejam valorizados! Vejamos algumas
verdades que podem elevar nossa baixa autoestima:
a. Nós fomos criados à imagem e semelhança de Deus:
a.1. Gn 1.27, "E criou Deus o homem à sua imagem; à
imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou".
-
Esta verdade teológica indica que Deus em sua criação do homem colocou nele
algo de si mesmo. Os animais simplesmente foram criados; mas o homem, além de
ser criado, foi alvo do sopro de Deus em suas narinas, onde Ele nos outorgou o
seu espírito, Gn 2.7, "E formou o Senhor Deus o homem do pó da
terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente".
Esta imagem e semelhança é no sentido espiritual e não físico.
-
Quando Deus estava criando todas as coisas, em cada ato da criação, encontramos
a seguinte frase: "E viu Deus que eram bom", Gn 1.10, 12, 18.
Porém ao terminar a criação do homem, observamos que à frase foi adicionado o
advérbio, "muito", Gn 1.31, "E viu Deus tudo
quanto tinha feito, e eis que era muito bom". Esta frase denota
superioridade da criação do homem em relação às demais coisas criadas.
a.2. 1Co 11.7, "O homem, pois, não deve cobrir a
cabeça, porque é a imagem e glória de Deus, mas a mulher é a glória do
homem". Neste trecho temos a mesma ideia do Velho Testamento, uma vez que
Paulo afirma que o homem crente é a "imagem e glória de Deus".
Temos aqui duas figuras representativas:
-
"Imagem", vem do termo grego "eikwn" -
eikon", que indica "imagem", "semelhança".
Esta palavra era usada designar os ídolos de pedra, madeira, barro, que de
alguma maneira representavam os deuses pagãos, assim como a imagem dos
imperadores cunhada nas moedas de metal, ou outros objetos, representavam
aqueles imperadores. Ser a imagem de Cristo, significa compartilhar de sua
própria natureza.
-
"Glória de Deus". O vocábulo "glória", vem do
grego "doxa" - doxa, e quer indica "presença de
Deus", "manifestação de Deus". Quando Paulo nos diz que nós,
como filhos de Deus somos a "gloria de Deus", certamente ele
está nos dizendo da manifestação de Deus em nós através de seu espírito que em
nós habita, 1Co 3.16, "Não sabeis vós que sois o templo de Deus e
que o Espírito de Deus habita em vós?"
a.3. Rm 8.29, "Porque os que dantes conheceu também os
predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o
primogênito entre muitos irmãos". Temos aqui a expressão "conformes
a imagem", nos dá a ideia de uma "duplicata perfeita".
b. Nossa salvação custou o mais alto preço já visto, 1Pe 1.18-19, "18
Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes
resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos
pais, 19 Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro
imaculado e incontaminado".
b.1. Temos neste texto o preço que custou nossa redenção, e
este preço foi o preço da vida do Filho de Deus, cujo sangue foi derramado,
obedecendo os rituais impostos para remissão de pecados. No Velho Testamento, a
remissão de pecados era produzida derramando-se o sangue de bodes, carneiros,
bois, pombas, etc., sobre o altar dos sacrifícios. No Novo Testamento a
redenção do homem custou o derramamento do "sangue de Cristo".
b.2. Quando alguém está em poder de sequestradores,
normalmente o resgate exigido e pago, é em dinheiro. O homem foi sequestrado
pelo diabo envolvendo-o no pecado e desgraça. Para que o homem pudesse ser
liberto das mãos do diabo, Deus pagou um preço, que não foi calculado em prata,
ouro, ou dinheiro, mas foi o "sangue de seu próprio Filho", o
cordeiro imaculado. Devemos lembrar que a palavra "imaculado",
nos traz a ideia de "sem mácula", "sem mancha",
"sem defeito" e enfatiza a perfeita santidade e impecabilidade de
Cristo, que o qualificou para o seu ofício sacrificial.
c. Nossa alma tem mais valor do que o mundo todo, Mc
8.36-37,
"36 Pois, que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a
sua alma? 37 Ou, que daria o homem pelo resgate da sua alma?".
Jesus reconheceu nesta passagem o extremo valor da vida humana, que comparada a
tudo que existe neste mundo é muito mais valiosa, a tal ponto de que nada
adianta ao homem conquistar o mundo todo se em trocar tiver que perder sua
alma.
3.
Cremos que outras coisas poderíamos mostrar para evidenciar o alto valor que
temos diante de Deus. Porém as verdades que vimos são mais do que suficientes
para termos a nossa autoestima valorizada. Não devemos permitir que as crises
que possam surgir venham prejudicar nossa imagem de Filhos de Deus.
IV - DESAPONTAMENTO
Vs. 10, "E ele disse: Tenho sido muito zeloso
pelo Senhor Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua
aliança, derrubaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada, e só
eu fiquei, e buscam a minha vida para ma tirarem".
1.
O desapontamento de Elias aqui é duplo: Estava desapontado com Deus, que
segundo ele, estava permitindo a sua perseguição pelos inimigos; também estava
desapontado com seu povo que o tinha deixado sozinho na observância dos
mandamentos do Senhor.
2.
Quantas vezes, nós também nos decepcionamos com nossos irmãos de fé, por algo
que fizeram a nós, como por exemplo um ato de ingratidão, uma traição. Uma
coisa que precisamos estar cientes é que os homens podem nos decepcionar, mas
Deus não pode nos causar qualquer desapontamento, ainda que Ele não aja de
conformidade com a nossa vontade.
3.
Para aqueles que estão decepcionados por qualquer motivo, temos algumas
recomendações:
a. Procure não confiar no homem:
a.1. Sl 20.7, "Uns confiam em carros e outros em
cavalos, mas nós faremos menção do nome do Senhor nosso Deus". Não devemos
confiar no homem, porque ele é falho, inconstante. O salmista mostra que muitos
reis podiam confiar em carros, cavalos e outros aparatos de guerra, ele porém,
como filho de Deus confiaria no Senhor.
a.2. Pv 25.29, "Como dente quebrado, e pé
desconjuntado, é a confiança no desleal, no tempo da angústia". De que me
vale um dente quebrado, ou um pé desconjuntado? Confiar no "homem
desleal", é o mesmo que confiar num dente quebrado para comer um
delicioso churrasco, ou num pé desconjuntado para jogar uma partida de futebol.
a.3. Jr 17.5-6, "5 Assim diz o Senhor: Maldito o
homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração
do Senhor! 6 Porque será como a tamargueira no deserto, e não verá
quando vem o bem; antes morará nos lugares secos do deserto, na terra salgada e
inabitável". Confiar no homem e apartar o coração do Senhor é estar
debaixo de maldição e ser comparado à tamargueira no deserto, que é obrigada a
viver sem água. O homem que assim procede "morará em lugares secos, numa
terra salgada e inabitável".
b. Confie somente em Deus:
b.1. Sl 9.10, "Em ti confiarão os que conhecem o teu
nome; porque tu, Senhor, nunca desamparaste os que te buscam". A confiança
no Senhor está no fato de que Ele, "nunca desampara aqueles que o
buscam".
b.2. Sl 118.8-9, "8 É melhor confiar no Senhor do
que confiar no homem. 9 É melhor confiar no Senhor do que confiar nos
príncipes". Até mesmo os príncipes podem ser falhos, mas Deus nunca falha.
b.3. Jr 17.7-8, "7 Bendito o homem que confia no
Senhor, e cuja confiança é o Senhor. 8 Porque será como a árvore
plantada junto às águas, que estende as suas raízes para o ribeiro, e não
receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde; e no ano de sequidão não
se afadiga, nem deixa de dar fruto". Diferentemente do homem que confia no
homem e torna-se maldito, habitando em terra salgada e árida, o homem que
confia no Senhor, será como a árvore plantada junto a ribeiros de águas, que
não sente o calor, fica viçosa o tempo todo, produzindo fruto a qualquer tempo.
Conclusão:
1.
Estaria você vivendo uma crise? Quais são as suas alternativas de escape? Pode
ser que você esteja fugindo de seu problema, para não encará-lo de frente, ou
esta crise esta te levando a desejar a morte, ou ainda te levando a um grande
desapontamento, deixando a tua autoestima em baixa.
2.
Uma coisa é certa! Você tem um Deus que é maior do que a tua crise! Confie nele
e saia vitorioso.