A PALAVRA CRISTÃO SÉ É ENCONTRADA TRÊS VEZES NA BÍBLIA

At 11.26; 26.28; 1 Pe 4.16.

 

 Pr. José Antônio Corrêa

 

Introdução:

1. Olhando para os textos bíblicos lidos, podemos notar neles a incidência da palavra "cristão". Consultando qualquer dicionário de língua portuguesa, esta palavra significa: "Aquele que professa o cristianismo, ou que é sectário dele". Levando-se em conta o fato de que Jesus Cristo é o fundador do cristianismo, o cristão é por excelência alguém que segue os ensinos ministrados por ele.

2. Ser "cristão", é muito mais do que simplesmente possuir este nome. Implica em um compromisso com Cristo onde temos certas responsabilidades frente a este compromisso assumido. Quando desempenhamos bem o nosso papel de "cristão", estamos contribuindo para que a Palavra de Deus seja pregada e vidas sejam arrancadas das garras do Maligno. Quando desempenhamos mal o nosso papel, contribuímos para que vidas sejam escandalizadas, dificultando a propagação do Evangelho.

3. Nesta noite queremos dar um passeio sobre as passagens lidas, extraindo delas alguns conceitos ligados à palavra "cristão".

 

"QUEREMOS VER NESTA NOITE QUAIS SÃO OS CONCEITOS LIGADOS À PALAVRA CRISTÃO":

 

I - A PRIMEIRA VEZ QUE APARECE NA BÍBLIA A PALAVRA "CRISTÃO", ELA ESTÁ ASSOCIADA COM UMA TRANSFORMAÇÃO NO HOMEM, QUE SE TORNA SEMELHANTE A JESUS

At 11:26, "E sucedeu que todo um ano se reuniram naquela igreja, e ensinaram muita gente; e em Antioquia foram os discípulos, pela primeira vez, chamados cristãos".

1. No texto lido, podemos perceber que os discípulos foram apelidados de "cristãos", devido à semelhança que tinham com a pessoa e ensino de Jesus. É muito comum encontramos pessoas que só são conhecidas pelos seus apelidos, e quando são mencionados seus nomes verdadeiros, ninguém conhece de quem se trata. Normalmente um apelido é colocado devido a uma particularidade, da pessoa e quase sempre, com rara exceções, o apelido se parece com a pessoa que o recebe.

2. Neste caso citado por Lucas sobre o apelido dado a estes irmãos na cidade de Antioquia, pode-se ver que eles foram assim chamados devido a identificação que tinham com Cristo, o Mestre deles. Eles se pareciam tanto com Cristo que receberam o apelido de Cristãos. Pode até ser que este apelido foi-lhes dado de forma pejorativa, o que não tira dele o seu devido valor.

3. Olhando para os dias de hoje e para os chamados "cristãos", será que poderíamos notar esta mesma semelhança com o Senhor? Será que parecemos de fato com Cristo, ou nada que existe em nós trás esta identificação? Olhando para as Escrituras podemos ver que o alvo de Deus é que seus filhos sejam semelhantes a Jesus:

a. 2 Co 3.18, "Mas todos nós, com rosto descoberto, refletindo como um espelho a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória na mesma imagem, como pelo Espírito do Senhor".

- A palavra "transformados", poderia ser traduzida por "transfigurados", que equivale a uma modificação na forma de vida, e não apenas qualquer transformação exterior. Não se trata de uma mudança farisaica, mas uma transformação profunda atingindo as raízes de nosso ego. A mudança farisaica foi condenada por Jesus, Mt 23.25, "Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e de iniqüidade".

- Em Rm 12.2, temos uma expressão semelhante: "...transformai-vos pela renovação da vossa mente". A transformação e renovação aqui pretendida é de caráter espiritual, onde são reformadas tanto nossas faculdades mentais como também nossas faculdades espirituais. É algo que muda primeiramente nossa forma de pensar e depois gradativamente vai mudando nosso caráter, nosso comportamento, nos tornando semelhantes ao Senhor.

b. Ef 3.19, "E conhecer o amor de Cristo, que excede todo o entendimento, para que sejais cheios de toda a plenitude de Deus".

- A palavra "plenitude", vem do termo grego "plhrwma" - pleroma, e significa aqui a natureza divina com todos os seus atributos. Esta plenitude divina foi demonstrada por Cristo quando esteve sobre a terra, Cl 2.9, "Porque nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade".

- Paulo nos mostra que como filhos de Deus e cristãos verdadeiros, precisamos estar "cheios de toda a plenitude de Deus", a qual nos tornará participantes da natureza divina, 2 Pe 1.4, "Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo".

4. Diante de tudo que vimos, perguntamos agora. Como temos sido como cristãos? Será que merecemos este nome por viver uma vida conforme os princípios da Palavra, ou o nome cristão não passa de um mero apelido?

 

II - A SEGUNDA VEZ QUE APARECE NA BÍBLIA A PALAVRA "CRISTÃO", ELA ESTÁ ASSOCIADA COM UMA PERSUASÃO

At 26:28, "E disse Agripa a Paulo: Por pouco me queres persuadir a que me faça cristão!"

1. Se analisarmos o contexto do versículo lido, podemos ver que ele trata de uma conversa que Paulo teve com o Imperador Agripa, onde Paulo defende com muita coragem e sabedoria a sua fé cristã. Foi uma conversa tão convincente, que Agripa quase foi induzido a ser tornar um cristão.

2. Como cristão, perguntamos agora: Qual tem sido o nosso poder de persuasão quando estamos pregando a Palavra de Deus aos nossos semelhantes? Ou será que a nossa palavra não convence nem a nós mesmos? Queridos irmãos precisamos pregar um Evangelho que saia do fundo de nosso coração, se queremos que aqueles que nos ouvem acreditem em nós. Temos o exemplo de Spurgeon, que quando interrogado por jovens pastores sobre o poder convincente de sua pregação, declarou-lhes: "Quando vocês forem pregar, preguem com todas as suas forças mentais, físicas, emocionais e espirituais, que o resultado certamente virá".

3. Para que o Evangelho seja o "Poder de Deus para salvação de todo aquele que crê", Rm 1.16, é preciso que ele seja primeiramente "poder" em nossas vidas como cristãos autênticos. Vejamos alguns textos na Palavra de Deus:

a. At 4.13, "Então eles, vendo a ousadia de Pedro e João, e informados de que eram homens sem letras e indoutos, maravilharam-se e reconheceram que eles haviam estado com Jesus". Pedro e João haviam curado um coxo de nascença que vivia sentado à porta do tempo. Tal milagre desencadeou uma pregação ousada da Palavra por Pedro a tal ponto que seus ouvintes, não tiveram dúvidas de que eles "haviam estado com Jesus". Para que possamos pregar de uma forma ousada, necessitamos primeiramente de uma experiência com Jesus.

b. At 28.23, "E, havendo-lhe eles assinalado um dia, muitos foram ter com ele à pousada, aos quais declarava com bom testemunho o reino de Deus, e procurava persuadi-los à fé em Jesus, tanto pela lei de Moisés como pelos profetas, desde a manhã até à tarde". No presente texto, encontramos o apóstolo Paulo preso, mas podendo usar sua liberdade para determinados fins. Ele usa esta liberdade para persuadir seus compatriotas judeus sobre a Palavra de Deus, pregando ousadamente a eles "desde a manhã até à tarde".

c. I Ts 2.2, "Mas, mesmo depois de termos antes padecido, e sido agravados em Filipos, como sabeis, tornamo-nos ousados em nosso Deus, para vos falar o evangelho de Deus com grande combate". Qual era o poder que Paulo tinha, uma vez que, mesmo depois de sofrer intensa perseguição por causa da pregação da Palavra em Filipos, vem para Tessalônica e prega ainda com mais ousadia, a Palavra do Senhor? Não resta dúvidas, Paulo era convicto do que falava, em virtude de sua experiência real com o Senhor.

4. Se queremos ser ousados, brilhantes e vitoriosos em nossa pregação precisamos viver o que pregamos. Só assim fazemos juz ao nome de cristão.

 

III - A TERCEIRA VEZ QUE APARECE NA BÍBLIA A PALAVRA "CRISTÃO", ELA ESTÁ ASSOCIADA COM O SOFRIMENTO

2 Pe 4.16, "Mas, se padece como cristão, não se envergonhe, antes glorifique a Deus nesta parte".

1. Ser cristão autêntico, não é ser membro honorário da malfadada "teologia da prosperidade", que afirma que o crente sofre se ele quiser, pois Deus quer que seus filhos sejam "felizes para sempre", mesmo habitando neste mundo mal e perverso.

2. Jamais Cristo prometeu a seus seguidores a ausência de sofrimentos, pelo contrário, sempre alertou que os filhos de Deus seriam confrontados pelos poderes satânicos e pelos poderes deste mundo:

a. Mt 10.34-39, "34 Não cuideis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer paz, mas espada; 35 Porque eu vim pôr em dissensão o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra; 36 E assim os inimigos do homem serão os seus familiares. 37 Quem ama o pai ou a mãe mais do que a mim não é digno de mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a mim não é digno de mim. 38 E quem não toma a sua cruz, e não segue após mim, não é digno de mim. 39 Quem achar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a sua vida, por amor de mim, achá-la-á".

- Para aquele que se converte a Deus, mediante Jesus, sua vida ao invés de gozar de ausência de conflitos, será pautada de constantes lutas, combates, muitas vezes, com elementos de sua própria família. Os inimigos do cristão, no dizer de Jesus, serão "seus próprios familiares". Para sermos bem sucedidos nesta batalha, o nosso amor a Deus deve estar acima de nosso amor familiar.

- Para seguir a Cristo, é necessário "tomar a cruz". Os romanos usavam a cruz para executar seus piores criminosos, e isto a tornou símbolo dos mais intensos sofrimentos. Aqui símbolo da cruz é usado por Jesus para demonstrar a seus seguidores o quão difícil e sofrível é o discipulado.

- Ser discípulo de Jesus pode implicar em perder até mesmo a própria vida em dois sentidos:

* No sentido de viver somente para Jesus, e não mais para os prazeres e glórias deste mundo, Gl 2.20, "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim".

* No sentido de morrer literalmente, como foi o caso de Estevão, At 7.59-60, "59 E apedrejaram a Estêvão que em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito. 60 E, pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. E, tendo dito isto, adormeceu".

b. Mt 24.9-10, "9 Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome. 10 Nesse tempo muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos outros se odiarão".

- Embora Jesus estivesse falando do tempo anterior à sua volta, podemos dizer que este trecho da Palavra de Deus pode ser aplicável a qualquer tempo da história, pois em qualquer tempo sempre houve intensos sofrimentos sobre os cristão verdadeiros.

- Veja os termos fortes que aparecem no texto: "atormentados", "matar-vos-ão", "odiados". Não precisamos ser mestres em teologia para deduzirmos que estes termos na prática não são nada agradáveis. Torna-se evidente que muitos filhos de Deus autênticos, serão atormentados, odiados e mortos em razão de sua fé.

- Note que a perseguição na sua forma mais intensa produz em muitos uma apostasia religiosa, levando o falso cristão não somente a abandonar sua fé, mas também a ser um traidor de seus próprios irmãos, aumentando ainda mais o sofrimento daqueles que são verdadeiros. Não existe coisa pior do que a traição, quando esta vem por alguém que amamos!

c. 2 Tm 3.10-12, "10 Tu, porém, tens seguido a minha doutrina, modo de viver, intenção, fé, longanimidade, amor, paciência, 11 Perseguições e aflições tais quais me aconteceram em Antioquia, em Icônio, e em Listra; quantas perseguições sofri, e o Senhor de todas me livrou; 12 E também todos os que piamente querem viver em Cristo Jesus padecerão perseguições".

- Na passagem lida, Paulo está transmitindo a Timóteo, futuro pastor, alguns princípios de vida (doutrina, modo de vida, intenção, fé, longanimidade, amor, paciência) que lhe seriam de vital importância em amadurecimento como homem de Deus.

- Porém, juntamente com estes princípios de vida, o apóstolo apresenta alguns relances da tremenda perseguição que lhe ocorreu, durante suas viagens missionárias. Muitas foram suas aflições em razão de seu amor e dedicação a Jesus.

- Porém, veja o que Paulo menciona: "Mas o Senhor me livrou de todas as perseguições". Se estamos fazendo a obra de Deus, certamente o Diabo procurará nos atingir, no entanto Deus é o nosso escape. As tribulações certamente virão, mas nós não podemos nos intimidar diante delas, pois nosso Deus certamente nos haverá de socorrer.

- Devemos estar convictos de que quem é sincero em sua fé, certamente sofrerá tribulações.

3. O nome "cristão", muitas vezes é sinônimo de tribulação e sofrimento. Jesus sofreu e nós também como seus seguidores, certamente sofreremos.

 

Conclusão:

1. Como "cristão", como temos sido? Temos demonstrado nossa fé através de uma transformação genuína em nossa vida e caráter? Estamos usando nossa influência para pregar de uma forma "ousada", a Palavra de Deus? Qual é a nossa reação diante das perseguições? Nos portamos como murmuradores, ou aceitamos as tribulações como forma de Deus tratar com nosso caráter? Veja o que Paulo diz aos romanos: "E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações; sabendo que a tribulação produz a paciência", Rm 5.3.

2. Como "cristãos", precisamos ser equiparados aos discípulos nos dias de Atos dos Apóstolos, quando lemos: "...Estes que têm alvoroçado o mundo, chegaram também aqui", At 17.6. Estas palavras foram ditas sobre Paulo e Silas na cidade de Tessalônica, e fazem referência ao comportamento deles que estavam alvoroçando o mundo por onde passavam.

3. Você tem causado "alvoroço", com sua vida em cristo? Ou a tua vida tem sido um desastre para muitos que se aproximam de Jesus? Lembre-se, para que possamos fazer juz ao nome de "cristão", precisamos levar uma vida que seja pautada pelo caráter e ensinos de Cristo.