CRISTO NO LIVRO DE GÊNESIS
Extraído do livro
"Personalidade em Gênesis", NAISMITH, JAMES , Edições Cristãs,
Ourinhos, São Paulo com notas, acréscimos e supressões pelo Pr José Antônio
Corrêa.
Pr. José Antônio Corrêa
Texto:
Gn 3.15, "E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua
semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o
calcanhar".
INTRODUÇÃO:
1.
Já foi dito, com toda razão, que, se "tirarmos Jesus do Livro dos Livros,
teremos um estojo sem jóia, um envelope sem carta, um andaime sem
superestrutura, uma moldura sem retrato". Tanto o Velho como o Novo
Testamentos são escuros ao leitor que não procura Cristo em todas as
Escrituras. Note a descrição de um poeta: "Eis o Livro cujas folhas
demonstram / Jesus, a Vida, a Verdade, o Caminho; / Leia-o com diligência e
cuidado / Pois O achará se examinar com carinho".
2.
Quando nos aproximamos da Palavra de Deus fazemos bem em orar: "Enquanto
olhamos para a rua Palavra, revela-te a nós, ó Senhor; / Que nas suas páginas
possamos ver / Que toda lição aponta ao Salvador.
3.
Em Jo 5.39 o Senhor Jesus apresenta-se a si mesmo como a chave para o
entendimento das Escrituras: "Examinai as Escrituras", disse ele,
"são elas que de mim testificam". Ele estava referindo-se, é claro,
ao Velho Testamento, que, embora não tão abertamente como o Novo, também fala
dele. Especialmente nesta ocasião, ele selecionou os escritos de Moisés - os
primeiros cinco livros da Bíblia. Entendemos assim, porque, ele continuou a
dizer mais adiante, "se, de fato, crêsseis em Moisés, também creríeis em
mim; porquanto ele escreveu a meu respeito", Jo 5.46.
4.
Foi com tristeza que Cleopas e seu companheiro anônimo fizeram sua viagem a
Emaús no primeiro dia da semana, depois da crucificação do seu Senhor, Lc
24.13-32. Enquanto conversavam acerca dos acontecimentos abaladores dos
dias anteriores , um estranho dirigiu-se a eles, escutou a sua história triste
e, então, os guiou pelo mais encantador estudo bíblico de todos os tempos:
"E, começando por Moisés, discorrendo por todos os profetas, expunha-lhes
o que a seu respeito constava em todas as Escrituras", v. 27.
a.
O professor era o Senhor mesmo; o assunto - ele; o livro escolar - "todas
as Escrituras", "começando por Moisés". Bem podemos compreender
como seus corações ardiam quando ele expunha as Escrituras, v. 32, e
abriu seus olhos, v. 31, para contemplá-lo e como de tão ansiosos não
perderam tempo em comunicar a sua emocionante experiência aos onze discípulos
em Jerusalém, Vs. 33-35.
b.
Enquanto estavam reunidos, "Jesus apareceu no meio deles", v. 36
e novamente ele lhes expôs do mesmo livro escolar - o mesmo assunto sublime -
"de Mim", v. 44. Assim, o seu entendimento foi esclarecido
"para compreenderem as Escrituras", v. 45.
c.
Em dias subseqüentes, a revelação que lhes foi dada pelo seu Senhor ressurreto
foi refletida na pregação e escritos de alguns destes homens e relatada nos
Atos e nas epístolas do Novo Testamento.
5.
Temos, portanto, a autoridade suprema do Filho de Deus, Jesus Cristo quando o
procuramos nos livros de Moisés - incluindo, é claro, o primeiro livro:
Gênesis. Embora não sejamos tão privilegiados a ponto de escutar a sua
exposição deste livro. Ele nos tem dado o seu Espírito para nos ensinar todas
as coisas, Jo 14.26, nos guiar em toda a verdade, Jo 16.13 e, em
particular, glorificá-lo e mostrá-lo a nós, Jo 16.14-15.
6.
Embora o seu nome neo-testamentário não seja mencionado em Gênesis, não é
difícil encontrar no livro muitas referências a ele. Não há nenhuma dúvida que,
junto com o Espírito Santo (e o Pai) ele é mencionado no primeiro versículo do
livro no nome plural, Deus - Elohim - que ocorre 32 vezes no primeiro capítulo
e freqüentemente através do livro. Semelhantemente, os nomes plurais nós e
nosso em trechos como Gn 1.26; 13.22; 11.7, parecem incluir
todas as três Pessoas da Divindade. Além disso, porém, o nosso Senhor mesmo
freqüentemente nos é apresentado através dos cinqüenta capítulos de Gênesis: 1
- Em Profecia; 2 - Em Ilustração; 3 - Em Pessoa.
A - PROFECIAS DE CRISTO EM
GÊNESIS
a)
Uma das provas mais convincentes da origem divina das Escrituras é o número de
profecias notáveis que elas contêm e que já foram cumpridas ao pé da letra,
centenas de anos depois. Algumas destas referem-se ao povo judaico, outras às
nações gentílicas; porém, as mais significantes e mais preciosas para o crente
são aquelas que acharam ou acharão seu cumprimento na primeira e na segunda
vinda do próprio Senhor.
b)
Começando como um corregozinho logo no início da Bíblia, estas profecias
parecem aumentar em força e freqüência através do Velho Testamento, tornando-se
como um córrego maior e finalmente aumentando para se tornar um grande rio,
correndo no meio dos livros proféticos. Podemos ligar este córrego à sua fonte
em Gênesis 3, no jardim do Éden, quando a hora mais escura da história humana
foi iluminada por um raio de uma profecia gloriosa.
I - O DESCENDENTE DA MULHER
Gn 3.15, "E porei inimizade entre ti e a
mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu
lhe ferirás o calcanhar".
1.
Neste versículo temos a primeira profecia na Bíblia, e ele é o embrião de toda
profecia. "Este texto", disse Martinho Lutero, "abraça e contém
dentro de si tudo que é nobre e glorioso que pode ser encontrado em qualquer
outra parte das Escrituras". Henry Law o descreve como "as primeiras
palavras de graça a um mundo perdido".
2.
Era Deus mesmo que falava. As palavras foram dirigidas à serpente, o agente
causador da tragédia da queda, ao introduzir o pecado na esfera da criatura de
Deus, o homem. O contexto (Vs. 14 e 15) foi o julgamento pronunciado por Deus
sobre a serpente visto que "fez isto". Este julgamento consistiu em:
a)
Amaldiçoar a serpente, v. 14, "Então o Senhor Deus disse à
serpente: Porquanto fizeste isto, maldita serás mais que toda a fera, e mais
que todos os animais do campo; sobre o teu ventre andarás, e pó comerás todos
os dias da tua vida".
b)
Ferir Satanás, v. 15, "E porei inimizade entre ti e a
mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu
lhe ferirás o calcanhar". Este ferimento na "cabeça da serpente"
(Satanás), seria realizado pelo descendente da mulher ("seu
descendente"). O versículo 15, evidentemente, prediz um grande conflito
("inimizade"), começando no jardim entre Satanás e a mulher,
continuando através dos séculos da história humana entre a semente de Satanás e
a semente da mulher e culminando num descendente especial da mulher.
-
Este fato é indicado na descrição muito pessoal e individual deste descendente
- "Este te ferirá a cabeça e tu lhe ferirás o calcanhar". Estas
palavras foram chamadas "O Protoevangelho" - a primeira pregação do
Evangelho e parece não haver nenhuma dúvida que a Pessoa acerca de quem Deus
Jeová estava falando não era outro a não ser o seu próprio Filho, Jesus Cristo.
-
Esta é, pois, a primeira profecia messiânica. Não podemos deixar de observar
que, na segunda parte do versículo, o conflito predito na primeira parte
estreita-se a dois indivíduos - "Este" (o Senhor Jesus) e
"tu" (Satanás).
3.
Na sua referência ao Senhor Jesus Cristo, esta profecia antecipa:
a)
Sua chegada como o descendente da mulher - uma referência clara à sua
humanidade (compare Gl 4.4-5, "4 Mas, vindo a plenitude dos tempos,
Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, 5 Para remir os
que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos").
Observe que a expressão "nascido de mulher" é uma alusão possível
nascimento virginal de Cristo, pois é o descendente da mulher e não do homem
que é mencionado.
b)
Sua Cruz. "Tu lhe ferirás o calcanhar". Isto foi cumprido
literalmente quando seus pés foram pregados ao madeiro; metaforicamente,
incluindo todos os sofrimentos físicos impostos pelos homens no Calvário e
espiritualmente. Isaías fala que "Ele foi traspassado pelas nossas
transgressões", Is 53.15.
c)
Sua Conquista - "Este te ferirá a cabeça".
-
Comparado com o ferimento do calcanhar - uma injúria menor - o ferimento da
cabeça é uma injúria capital, que foi imposta sobre Satanás como resultado da morte
e ressurreição do Senhor. "Por sua morte, destruiu" (tornou sem
poder, sem efeito), "aquele que tem o poder da morte, a saber, o
diabo", Hb 2.14, "E, visto como os filhos participam da carne
e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte
aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo".
-
Satanás foi ferido, embora não aniquilado, no Calvário. Ainda está ativo,
porém, é um inimigo derrotado e seu destino é certo. O efeito final do triunfo
do Calvário logo será visto. Veja o que Paulo fala quando escreve aos romanos:
"o Deus de paz em breve esmagará debaixo dos vossos pés a Satanás", Rm
16.20. No Livro de Apocalipse temos o fato de que Satanás "lançado no
lago de fogo para sempre", Ap 20.10, "E o diabo, que os enganava,
foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e
de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre.
-
"Ele, o vitorioso, terá a glória / Pois a luta, sozinho, travou. / Santos
triunfantes nenhuma honra querem / Pois, sozinho, a vitória conquistou".
II - A DESCENDÊNCIA DE ABRAÃO
Gn 22.18, "E em tua descendência serão benditas
todas as nações da terra; porquanto obedeceste à minha voz".
1.
Observemos a expressão: "Nela serão benditas todas as nações da
terra". Este é o ponto culminante de uma série de promessas feitas por
Deus a Abraão, no tempo de sua chamada em Ur:, Gn 12.2-3, "2 E
far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu
serás uma bênção. 3 E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te
amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra". Ver
também Gn 13.14-17; 15.5; 17.4-8.
a.
Todas estas promessas incluíram, não somente a bênção pessoal de Abraão, mas
também o surgimento de uma "descendência" para ele, e a bênção de
todas as famílias e nações da terra através desta descendência, uma referência
clara aos gentios.
b.
Os descendentes naturais de Abraão evidentemente estavam incluídos na
descendência e incluía nações e reis Gn 17.6, "E te farei frutificar
grandissimamente, e de ti farei nações, e reis sairão de ti". Duas figuras
são usadas, no Livro de Gênesis, para descrever a grandeza desta descendência:
-
"O pó da terra", Gn 13.16, "E farei a tua
descendência como o pó da terra; de maneira que se alguém puder contar o
pó da terra, também a tua descendência será contada".
-
"As estrelas do céu", Gn 15.5, "Então o levou
fora, e disse: Olha agora para os céus, e conta as estrelas, se as podes
contar. E disse-lhe: Assim será a tua descendência". Ver ainda Gn 22.17,
"Que deveras te abençoarei, e grandissimamente multiplicarei a tua
descendência como as estrelas dos céus, e como a areia que está na praia
do mar; e a tua descendência possuirá a porta dos seus inimigos".
2.
O Novo Testamento, porém, ensina que muito mais do isto está envolvido nestas
profecias; não somente os descendentes físicos de Abraão estavam incluídos, mas
também sua descendência espiritual, aqueles que andam nos passos de sua fé, os
gentios, Rm 4.12, "E fosse pai da circuncisão, daqueles que não
somente são da circuncisão, mas que também andam nas pisadas daquela fé que
teve nosso pai Abraão, que tivera na incircuncisão".
a.
Assim, a promessa é válida para toda a descendência dele, não somente os que
estavam no regime da lei, mas também para o que é da fé que teve Abraão. Note a
expressão "...Abraão é pai de todos nós", ocorrida em Rm 4.16,
"Portanto, é pela fé, para que seja segundo a graça, a fim de que a
promessa seja firme a toda a posteridade, não somente à que é da lei, mas também
à que é da fé que teve Abraão, o qual é pai de todos nós".
b.
Isto é confirmado em Gl 3.7-9, 29, "7 Sabei, pois, que os que são
da fé são filhos de Abraão. 8 Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de
justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo:
Todas as nações serão benditas em ti 9 De sorte que os que são da fé são
benditos com o crente Abraão. 29 E, se sois de Cristo, então sois descendência
de Abraão, e herdeiros conforme a promessa".
3.
Finalmente, em Gl 3.16 (um dos grandes "3.16" da Bíblia
- veja Jo 3.16; 1 João 3.16; 1 e 2 Tm 3.16 etc.) o
Espírito Santo, através do apóstolo Paulo afirma que, por usar o singular
descendência, em vez de escolher um substantivo que normalmente seria usado no
plural tal como filhos, Deus estava fazendo uma promessa muito específica:
"não... muitos; porém... um só": E ao teu descendente, que é Cristo.
-
Gl 3.16, "16 Ora, as promessas foram feitas a Abraão e à sua
descendência. Não diz: E às descendências, como falando de muitas, mas como de
uma só: E à tua descendência, que é Cristo ".
4.
Assim, ele, que é o Descendente da mulher, o Conquistador de Satanás é também o
Descendente de Abraão, o Abençoador dos homens. Além disso, ele é da
descendência de Davi, Rm 1.3, "Acerca de seu Filho, que nasceu da
descendência de Davi segundo a carne". É o Soberano do mundo inteiro.
CONCLUSÃO:
1.
Vimos nesta noite algumas profecias relacionadas a Cristo no Livro de Gênesis:
a.
O descendente da mulher, Gn 3.15, cujo cumprimento temos em Gl 4.4-5,
"4 Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de
mulher, nascido sob a lei, 5 Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de
recebermos a adoção de filhos".
b.
A descendência de Abraão, Gn 12.2-3, cujo cumprimento é descrito
em Gl 3.7-9, 29, "7 Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de
Abraão. 8 Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé
os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações
serão benditas em ti 9 De sorte que os que são da fé são benditos com o crente
Abraão. 29 E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros
conforme a promessa".
2.
Certamente que estas verdades se aplicam a nós, uma vez que Cristo veio para
formar um povo, do qual fazem parte todos aqueles que o receberam como Senhor e
Salvador. Para você fazer parte deste povo, é necessário recebê-lo, mediante a
fé. "Mas a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos
filhos de Deus, aos que crêem no seu nome", Jo 1.12.