A - PROFECIAS DE CRISTO EM GÊNESIS

(Continuação)

Extraído do livro "Personalidade em Gênesis", NAISMITH, JAMES , Edições Cristãs, Ourinhos, São Paulo com notas, acréscimos e supressões pelo Pr José Antônio Corrêa.

 

 Pr. José Antônio Corrêa

 

INTRODUÇÃO:

1. Vimos na semana passada algumas profecias sobre a Pessoa de Cristo no Livro de Gênesis. Foram elas:

a. O "Descendente da Mulher", Gn 3.15, "E porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar". Vimos que na "plenitude dos tempos", de acordo com a descrição de Paulo, "...Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, 5 Para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos", Gl 4.4-5.

b. A "Descendência de Abraão", Gn 2.2-2, "2 E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei e engrandecerei o teu nome; e tu serás uma bênção. 3 E abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão benditas todas as famílias da terra". No dizer de Paulo, esta "descendência" de Abraão, não foi somente a nação de Israel, mas todo o povo de Deus, inclui a Igreja de Cristo que somos nós. Ele diz: "todos os que são da fé, são filhos de Abraão", Gl 3.7, "Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão".

2. Hoje queremos dar continuidade ao estudo das profecias aplicadas a Cristo em todo o Livro de Gênesis. Vejamos mais duas delas:

 

C. GÊNESIS 22.8 - O CORDEIRO DE DEUS

1. Gn 22.7-8, "7 Então falou Isaque a Abraão seu pai, e disse: Meu pai! E ele disse: Eis-me aqui, meu filho! E ele disse: Eis aqui o fogo e a lenha, mas onde está o cordeiro para o holocausto? 8 E disse Abraão: Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto, meu filho. Assim caminharam ambos juntos".

2. Todos nós conhecemos esta parte tão significativa da História de Abraão, quando Deus lhe pediu o seu único filho, Isaque em sacrifício. Sem questionar, Abraão subiu ao monte de Moriá, lugar este designado por Deus e fez os preparativos para consumar o sacrifício. O momento crucial foi quando Isaque lhe perguntou: "...onde está o cordeiro para o sacrifício?", Gn 22.7.

3. Na resposta de Abraão à pergunta de Isaque, "Deus proverá para si o cordeiro para o holocausto", Gn 22.8, não foi tencionada dar uma profecia para um futuro distante, mas foi uma expressão de fé, clara e simples da sua confiança em Deus, que providencia o animal para o sacrifício em quaisquer circunstâncias.

4. Porém, como muitos profetas do Velho Testamento, ele estava afirmando mais do que sabia quando disse: "Deus proverá para si, o cordeiro para o holocausto". Veja como Pedro descreve a fala profética: 1 Pe 1.10-12, "10 Foi a respeito desta salvação que os profetas indagaram e inquiriram, os quais profetizaram acerca da graça a vós outros destinada, 11 investigando, atentamente, qual a ocasião ou quais as circunstâncias oportunas, indicadas pelo Espírito de Cristo, que neles estava, ao dar de antemão testemunho sobre os sofrimentos referentes a Cristo e sobre as glórias que os seguiriam".

5. Sua predição certamente foi cumprida no Monte Moriá na provisão de um cordeiro preso pelos chifres entre os arbustos, quando Abraão erguia o cutelo (facão), para imolar Isaque, Gn 22.13, "Tendo Abraão erguido os olhos, viu atrás de si um carneiro preso pelos chifres entre os arbustos; tomou Abraão o carneiro e o ofereceu em holocausto, em lugar de seu filho".

6. Porém, passaram-se centenas de anos até que finalmente a palavra profética foi cumprida, possivelmente no mesmo Monte. Devemos lembrar que a tradição judaica tem identificado o monte Moriá com Jerusalém. Se isto é verdade, "um dos montes" poderia muito bem ter sido o Calvário, monte onde o nosso Senhor foi crucificado, Lc 23:33, "Quando chegaram ao lugar chamado Calvário, ali o crucificaram, bem como aos malfeitores, um à direita, outro à esquerda".

7. Foi João Batista, um profeta que exerceu seu ministério no período de transição entre a Lei (VT) e a graça (NT) que identificou Jesus como "o Cordeiro", às margens do Jordão quando disse: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.", Jo 1.29. Ver também o Vs. 36, "e, vendo Jesus passar, disse: Eis o Cordeiro de Deus!"

8. Voltando para Abraão, entendemos que foi Deus que providenciou aquele Cordeiro; nenhum outro podia. Além disso, ele providenciou o Cordeiro para si mesmo - o perfeito holocausto que completamente o satisfez. Finalmente, ele verdadeiramente providenciou a si mesmo um Cordeiro, porque o Cordeiro de Deus de João 1.29, 36 é identificado com aquele que, em João 1.1, nos é apresentado como o Verbo - e o Verbo era Deus.

9. Para entendermos melhor a verdade de que Jesus é o "Cordeiro de Deus", precisamos recorrer a outras passagens do Novo Testamento:

a. 1 Co 5.7, "Lançai fora o velho fermento, para que sejais nova massa, como sois, de fato, sem fermento. Pois também Cristo, nosso Cordeiro pascal, foi imolado. Quando Paulo faz aqui uma referência ao "Cordeiro Pascal", estava lançando mão de uma figura a qual os crentes de origem judaica estava acostumados. Estava comparando o cordeiro que era sacrificado durante a Páscoa, com o "Cordeiro" que foi sacrificado no Calvário (Jesus Cristo), cujo sacrifício foi para remoção de nossos pecados. A palavra imolar (grego – "yuw" - Thuo), significa "sacrificar", "matar a vítima destinada ao sacrifício". Jesus Cristo foi separado e destinado ao sacrifício, antes da fundação do mundo, I Pe 1.20, "...conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo".

b. 1 Pe 1.18-20, "18 sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, 19 mas pelo precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo, 20 conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo, porém manifestado no fim dos tempos, por amor de vós". Falando sobre o sacrifício de Cristo, Pedro nos informa sobre a sua preciosidade que é maior do que valores monetários representados pelo ouro, prata, ou pedras preciosas.

c. Ap 5.11-12, "11 Vi e ouvi uma voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos, cujo número era de milhões de milhões e milhares de milhares, 12 proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor". Nesta passagem vemos a glorificação de Cristo, onde Ele ocupa lugar de destaque e recebe adoração de todas as criaturas celestiais.

d. Ap 22:14, "Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas". Aqui, João destaca o fato de que são "bem aventurados" aqueles que passaram pelo processo de "lavagem" de seus pecados através do sangue do Cordeiro. Assim como o sangue do cordeiro sacrificial era derramado pela purificação dos pecados no Velho Testamento, o sangue do Cordeiro de Deus foi derramado, uma vez para sempre, para que pudéssemos receber a purificação de nossos pecados, 1 Jo 1.7, "Se, porém, andarmos na luz, como ele está na luz, mantemos comunhão uns com os outros, e o sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo pecado".

10. Sem dúvida alguma, o cordeiro previsto por Abraão quando estava para sacrificar seu filho Isaque, era uma figura do Cordeiro de Deus!

 

D - GÊNESIS 49.9-10 – SILÓ, LEÃO, SOBERANO

"9 Judá é leãozinho; da presa subiste, filho meu. Encurva-se e deita-se como leão e como leoa; quem o despertará? 10 O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até que venha Siló; e a ele obedecerão os povos".

1. Este capítulo é a narrativa das bênçãos proféticas do velho e cansado Jacó aos seus filhos. Algumas profecias notáveis são incluídas, mas nenhuma como aquela associada com Jacó, de quem veio o nosso Senhor, Hb 7.14, "pois é evidente que nosso Senhor procedeu de Judá, tribo à qual Moisés nunca atribuiu sacerdotes". De acordo com esta verdade, Jesus é sacerdote de uma linhagem diferente da linhagem levítica, da qual descendiam todos os sacerdotes segundo à Lei Mosaica. Em outras palavras sua descendência veio de Judá e não de Levi, como poderia se esperar.

2. É por esta razão que Jesus é chamado "o Leão da tribo de Judá". A primeira menção deste título de Jesus está aqui em Gn 49.9 - "Judá é leãozinho; da presa subiste, filho meu. Encurva-se e deita-se como leão e como leoa; quem o despertará?" Embora o texto não seja claro com referência ao Messias como "leão", podemos deduzir esta verdade vendo-a de maneira figurativa. Esta verdade é bem clara em Ap 5.5: "Todavia, um dos anciãos me disse: Não chores; eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos".

a. Na qualidade de "Leão da Tribo", Ele é poderosíssimo, podendo realizar qualquer tarefa que lhe fosse determinada, incluindo a de ser o Cabeça de todos os homens. É por esta razão que Cristo é chamado de "Rei dos reis e Senhor dos Senhores", Ap 19.16, "Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES". Como "Leão", Jesus venceu a "águia" romana que ameaçava a sua Igreja. "Em IV Esdras 12.31, 32 (livro apócrifo) encerra uma reprimenda do Messias diretamente lançada contra o império romano. Ali o Messias é retratado sob a figura de um leão, que domina uma águia" (O Novo Testamento Interpretado, Champlin, Vol. VI, p. 453).

b. A expressão "Raiz de Davi", é uma expressão figurativa, e significa "descendência". Um texto profético sobre este assunto e que lança mais luz é o de Is 11.1, "1 Do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes, um renovo". Assim como o ramo de uma árvore procede de suas raízes, o Messias (Jesus Cristo), procederia de Jessé, pai de Davi, comparado aqui como "tronco" e "raiz" da geração da qual nasceria o Cristo. É por esta razão que Jesus é chamado nos evangelhos de "Filho de Davi", Mt 12:23, "E toda a multidão se admirava e dizia: É este, porventura, o Filho de Davi?"

3. Temos ainda em Gn 49, outro termo semelhante que é o termo "Siló" que aparece no versículo 10 – "O cetro não se arredará de Judá, nem o bastão de entre seus pés, até que venha Siló; e a ele obedecerão os povos". A palavra "Siló" significa "pacífico" ou "aquele que traz a paz" - referindo-se ao seu direito de reinar. A profecia parece indicar que a regra e lei estável não sairia de Judá até que o Soberano legítimo tomasse o cetro e estabelecesse a paz.

4. Um dos nomes dados ao Messias por Isaías e o nome "Príncipe da Paz", Is 9.6, "... o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz; A palavra "paz" vem do termo hebraico "Mwlv" - shalom, e tem como significado "bem-estar", "prosperidade", "segurança", "saúde", "tranqüilidade", "satisfação". O reino do Messias seria caracterizado por uma verdadeira paz.

5. O apóstolo Paulo menciona esta paz como elemento fundamental de nossa vida cristã e vínculo de nossa salvação em Cristo Jesus:

a. Rm 5.1, "Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo". Em razão de seus pecados o homem entrou em litígio com Deus, criando tensão em seu relacionamento com Ele. Através da "Justificação", que adquirimos por meio da fé, a "paz com Deus" novamente é estabelecida. Note que adquirimos "paz com Deus", que é a base para vivermos em harmonia no mundo em que vivemos. Evidentemente que a base para esta paz é cruz de Cristo, que nos trouxe a reconciliação com Deus, Cl 1.20, "... e que, havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele, reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus".

b. Rm 14.17, "Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo". Paulo menciona aqui que um dos caracteres do Reino de Deus não é comida, bebida ou qualquer satisfação carnal, mas a "justiça, paz e alegria", como atributos do Espírito Santo que agora vem morar no íntimo daquele que recebe o Reino. Note que a inserção dessa paz no íntimo do crente pelo Espírito Santo de Deus, permite que ele viva uma vida harmônica tanto com Deus, como também com os seus irmãos de fé e seus semelhantes, além de viver em paz com a sua própria alma.

c. Cl 3:15, "Seja a paz de Cristo o árbitro em vosso coração, à qual, também, fostes chamados em um só corpo; e sede agradecidos". A palavra "árbitro", vem do termo grego "brabeuw" - brabeuo, que traz o significado de "estabelecer regras", "decidir", "controlar", "determinar". Neste versículo Paulo nos mostra que é a paz de Cristo que deve estabelecer o controle de nossas atitudes interiores, para não tomarmos atitudes precipitadas, impensadas.

5. Não devemos nos esquecer que esta "paz de Cristo", estará em evidência num período muito importante da história humana, que é o milênio. Isaías faz menção a este período, onde a paz caracterizará inclusive a vida dos animais, Is 65:25, "O lobo e o cordeiro pastarão juntos, e o leão comerá palha como o boi; pó será a comida da serpente. Não se fará mal nem dano algum em todo o meu santo monte, diz o SENHOR".

 

CONCLUSÃO:

Vimos nesta noite, mas dois aspectos relacionados às profecias sobre Cristo no Livro de Gênesis. São eles:

1. Cordeiro de Deus, prefigurado naquele cordeiro preparado para ser sacrificado no lugar de Isaque. Cristo, o "Cordeiro de Deus", foi preparado para morrer em nosso lugar antes da fundação do mundo. João o reconheceu imediatamente, "Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo", Jo 1.29.

2. O Leão, o Siló. Como leão, Cristo é soberano sobre a terra e os céus. É o Senhor absoluto! Como Siló, ele é aquele que nos conduz através da paz verdadeira que caracteriza aquele que é nascido de novo. Como com o novo nascimento, o Espírito Santo de Deus vem habitar o crente, a paz entra com Ele, e passa a ser o árbitro de nossos corações.