2 - ILUSTRAÇÕES DE CRISTO EM GÊNESIS

Extraído do livro "Personalidade em Gênesis", NAISMITH, JAMES , Edições Cristãs, Ourinhos, São Paulo com notas, acréscimos e supressões pelo Pr José Antônio Corrêa.

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

INTRODUÇÃO:

1. Temos visto juntamente aos irmãos, algumas ilustrações sobre Cristo no Livro de Gênesis. Este modo de estudar a Bíblia é chamado de "tipologia". A tipologia é uma forma de estudo onde procuramos encontrar no Velho Testamento "tipos", de pessoas ou eventos que são claramente vistos no Novo Testamento. No caso aqui em particular estamos observando alguns "tipos" de Jesus no Livro de Gênesis.

2. Vimos na semana passada como Adão é um tipo "em contraste" com a pessoa de Cristo. Alguns contrastes foram por nós observados, e merecem aqui destaque:

a. Se através de Adão, veio a morte, através de Cristo veio a vida.

b. Se através de Adão, veio a condenação, através de Cristo veio a justificação.

c. Se através de Adão, veio o julgamento, através de Cristo veio a graça.

 

3. Nesta noite queremos continuar a descrição de mais alguns "tipos" de Cristo a partir no Livro de Gênesis:

 

II - ADÃO E EVA

1. Antes de deixar o estudo de Adão, não devemos deixar de mencionar Ef 5.30-32, 30 "porque somos membros do seu corpo. 31 Eis por que deixará o homem a seu pai e a sua mãe e se unirá à sua mulher, e se tornarão os dois uma só carne. 32 Grande é este mistério, mas eu me refiro a Cristo e à igreja".

a. Nesta passagem o Espírito Santo usa o relacionamento divinamente providenciado de Adão e Eva, sua noiva como uma ilustração do relacionamento entre Cristo e a sua noiva, a Igreja. Veja Gn 2.18, 21-24, "18 Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea. 21 Então, o SENHOR Deus fez cair pesado sono sobre o homem, e este adormeceu; tomou uma das suas costelas e fechou o lugar com carne. 22 E a costela que o SENHOR Deus tomara ao homem, transformou-a numa mulher e lha trouxe. 23 E disse o homem: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada. 24 Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne". O propósito de Deus para Adão foi que não ficasse sozinho, mas que tivesse "uma auxiliadora que lhe seja idônea".

b. Da mesma forma, O Espírito Santo tem planejado que Cristo seja completo em união eterna com sua noiva, a Igreja, "a plenitude (inteireza) daquele que a tudo enche em todas as coisas", Ef 1.22-23, "22 E pôs todas as coisas debaixo dos pés, e para ser o cabeça sobre todas as coisas, o deu à igreja, 23 a qual é o seu corpo, a plenitude daquele que a tudo enche em todas as coisas".

c. O "pesado sono" que Deus fez cair sobre Adão prefigurou o pesado sono da morte através do qual o nosso Senhor passou para obter sua noiva. Escrevendo aos Efésios Paulo nos fala qual foi a motivação de Cristo para conquistar sua Igreja, Ef 5.25-27, "25 Maridos, amai vossa mulher, como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, 26 para que a santificasse, tendo-a purificado por meio da lavagem de água pela palavra, 27 para a apresentar a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito".

 

III - MELQUISEDEQUE

1. Quem é Melquisedeque? Várias opiniões já foram expressas acerca do caráter aparentemente misterioso deste a quem conhecemos muito pouco e que apareceu repentinamente e brevemente no palco da história e que desapareceu tão repentinamente como apareceu. A descrição deste aparecimento e desaparecimento súbito, podemos ver em Gn 14.18-20, "18 Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo; 19 abençoou ele a Abrão e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e a terra; 20 e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos. E de tudo lhe deu Abrão o dízimo".

a. Estes versículos narram tudo que conhecemos de sua vida. Porém no Novo Testamento, mais explicitamente no Livro de Hebreus, lições preciosas são tiradas destes três versículos. O escritor da carta, gasta nada menos do que três capítulos para expor o significado deste personagem tão importante (Hb 5, 6 e 7).

b. Seu nome é mencionado apenas duas vezes no Velho Testamento. Uma vez em Gn 14.18, e outra vez em Sl 110.4. Porém, aparece nove vezes em Hebreus.

2. O Dr. G. Campbell Morgan, um profundo estudioso das Escrituras, expressou sua convicção sobre Melquisedeque através das seguintes palavras: "esta é a história de uma cristofania (manifestação de Cristo em algum lugar, acontecimento ou pessoa), aqui, como em outras ocasiões, foi concedido a um homem a aparência e o ministério de outro e este homem é o ‘Filho de Deus'".

James Naismith falando sobre Melquisedeque apresenta posição diferente:

a. O escritor aos Hebreus afirma que ele foi "feito semelhante ao Filho de Deus", não que era o Filho de Deus, Hb 7.2-3, "2 para o qual também Abraão separou o dízimo de tudo (primeiramente se interpreta rei de justiça, depois também é rei de Salém, ou seja, rei de paz; 3 sem pai, sem mãe, sem genealogia; que não teve princípio de dias, nem fim de existência, entretanto, feito semelhante ao Filho de Deus), permanece sacerdote perpetuamente".

b. Parece, pois, que Melquisedeque foi um homem histórico, um rei e um sacerdote, que o Espírito Santo, por sua descrição dele na narrativa inspirada, tem feito parecido ao Filho de Deus. Com certeza, ele é um dos tipos mais notáveis do Senhor Jesus a ser encontrado no Velho Testamento. Mais do que isso, ele é apresentado como sendo uma das maiores personalidades, senão a maior, de todo o Velho Testamento, porque o escritor aos Hebreus prova conclusivamente que ele foi maior do que Abraão, o amigo de Deus e pai dos fiéis Hb 7.4-7, "4 Considerai, pois, como era grande esse a quem Abraão, o patriarca, pagou o dízimo tirado dos melhores despojos. 5 Ora, os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm mandamento de recolher, de acordo com a lei, os dízimos do povo, ou seja, dos seus irmãos, embora tenham estes descendido de Abraão; 6 entretanto, aquele cuja genealogia não se inclui entre eles recebeu dízimos de Abraão e abençoou o que tinha as promessas. 7 Evidentemente, é fora de qualquer dúvida que o inferior é abençoado pelo superior".

c. Porém a posição mais aceita é a de que Melquisedeque é um tipo perfeito de Cristo e é possível que seja o próprio Cristo.

3. Para entendermos melhor este encontro de Abraão com Melquisedeque precisamos recorrer a alguns fatos históricos de sua vida:

a. Pela sua estratégia e aptidão, Abraão ganhou uma vitória retumbante sobre os exércitos de quatro reis, liderados por Quedorlaomer, Gn 14.14-16, "14 Ouvindo Abrão que seu sobrinho estava preso, fez sair trezentos e dezoito homens dos mais capazes, nascidos em sua casa, e os perseguiu até Dã. 15 E, repartidos contra eles de noite, ele e os seus homens, feriu-os e os perseguiu até Hobá, que fica à esquerda de Damasco. 16 Trouxe de novo todos os bens, e também a Ló, seu sobrinho, os bens dele, e ainda as mulheres, e o povo".

b. Note que, antes disso, os exércitos de Quedorlaomer tinham vencido cinco reis, incluindo os reis de Sodoma e de Gomorra, tendo levado cativo a Ló, sobrinho de Abraão, assim como também suas possessões Gn 14.1-12, "1 Sucedeu naquele tempo que Anrafel, rei de Sinar, Arioque, rei de Elasar, Quedorlaomer, rei de Elão, e Tidal, rei de Goim, 2 fizeram guerra contra Bera, rei de Sodoma, contra Birsa, rei de Gomorra, contra Sinabe, rei de Admá, contra Semeber, rei de Zeboim, e contra o rei de Bela (esta é Zoar). 3 Todos estes se ajuntaram no vale de Sidim (que é o mar Salgado). 4 Doze anos serviram a Quedorlaomer, porém no décimo terceiro se rebelaram. 5 Ao décimo quarto ano, veio Quedorlaomer e os reis que estavam com ele e feriram aos refains em Asterote-Carnaim, e aos zuzins em Hã, e aos emins em Savé-Quiriataim, 6 e aos horeus no seu monte Seir, até El-Parã, que está junto ao deserto. 7 De volta passaram em En-Mispate (que é Cades) e feriram toda a terra dos amalequitas e dos amorreus, que habitavam em Hazazom-Tamar. 8 Então, saíram os reis de Sodoma, de Gomorra, de Admá, de Zeboim e de Bela (esta é Zoar) e se ordenaram e levantaram batalha contra eles no vale de Sidim, 9 contra Quedorlaomer, rei de Elão, contra Tidal, rei de Goim, contra Anrafel, rei de Sinar, contra Arioque, rei de Elasar: quatro reis contra cinco. 10 Ora, o vale de Sidim estava cheio de poços de betume; os reis de Sodoma e de Gomorra fugiram; alguns caíram neles, e os restantes fugiram para um monte. 11 Tomaram, pois, todos os bens de Sodoma e de Gomorra e todo o seu mantimento e se foram. 12 Apossaram-se também de Ló, filho do irmão de Abrão, que morava em Sodoma, e dos seus bens e partiram".

c. Na sua volta, após a batalha, um outro conflito seria enfrentado por Abraão. Seria visitado pelo rei de Sodoma, que lhe faria uma oferta atraente: "Dá-me as pessoas e os bens ficarão contigo", Gn 14.21. Qual seria a resposta de Abraão? Alguns detalhes são aqui interessantes:

c.1. Sodoma era uma cidade muito perversa, Gn 18.20, "Disse mais o SENHOR: Com efeito, o clamor de Sodoma e Gomorra tem-se multiplicado, e o seu pecado se tem agravado muito".

c.2. É descrita em Gn 13.10 "como a terra do Egito" e em Ap 11.8 como a "grande cidade que espiritualmente se chama Sodoma e Egito, onde também seu Senhor foi crucificado".

c.3. Estas descrições a faziam uma ilustração bem apropriada do mundo de sua época e de seu rei - "o deus deste século", 2 Co 4.4, "nos quais o deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus".

d. Pela sua vitória, Abraão tinha o direito de guardar os bens ganhos na batalha. Porém, recusou-se comprometer-se com o rei de Sodoma e dele não aceitou nem um fio, nem uma correia de sandália. Como poderia agora ganhar esta nova batalha? Não por estratégia - pela qual venceu Quedorlaomer; nem pelo seu poder inerente. Ele tinha outro recurso.

d.1. Entre a batalha física com Quedorlaomer e a batalha espiritual com o rei de Sodoma, um acontecimento muito importante sucedeu - encontrou-se com Melquisedeque, "rei de Salém... sacerdote do Deus Altíssimo" (Vs. 18-20), que o fortificou em vista da sua reunião iminente com o rei de Sodoma.

d.2. A comunhão com o sacerdote de Deus deu-lhe o recurso espiritual para resistir ao rei de Sodoma, sem comprometer-se.

4. É uma ilustração proveitosa do ministério gracioso de nosso Sumo Sacerdote, o Senhor Jesus Cristo, que é "segundo a ordem de Melquisedeque" e que nos fortifica em nosso conflito com o diabo, o mundo e a carne!

5. Na história de Melquisedeque em Gênesis 14 e no comentário do Novo Testamento em Hebreus 7, podemos discernir alguns pontos duplos de semelhança entre Melquisedeque, o tipo, e Cristo, o antítipo:

a. Ofícios.

a.1. Melquisedeque combinou na sua pessoa os ofícios de rei de Salém e sacerdote do Deus Altíssimo, Hb 7.1, "Porque este Melquisedeque, rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, que saiu ao encontro de Abraão, quando voltava da matança dos reis, e o abençoou". Ver também Gn 14.18-19, "18 Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo; 19 abençoou ele a Abrão e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e a terra".

a.2 Entre o povo terrestre de Deus estes ofícios sempre foram mantidos separados. Quando Uzias, o rei, insistiu em fazer o serviço de sacerdote e "entrou no templo do Senhor para queimar incenso no altar do incenso" (2 Cr 26.16), o que era privilégio somente dos sacerdotes (v. 18), ele foi ferido com a lepra e "assim ficou leproso... até o dia da sua morte" (Vs. 19-21).

a.3. Porém, nosso Senhor "será revestido de glória; assentar-se-á no seu trono e dominará, e será sacerdote no seu trono e reinará perfeita união entre ambos os ofícios" (Zacarias 6.13). Esta união "Rei – Sacerdote", será também uma das características do povo remido de Deus, Ap 1.6, "E nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai; a ele glória e poder para todo o sempre. Amém".

b. Caráter.

b.1. O escritor aos Hebreus nos mostra a significação do nome Melquisedeque – "Rei de justiça e Rei de paz", Hb 7.2, "para o qual também Abraão separou o dízimo de tudo (primeiramente se interpreta rei de justiça, depois também é rei de Salém, ou seja, rei de paz". Estas características duplas - justiça e paz - ajuntam-se na pessoa de nosso Senhor e especialmente na obra do Calvário, onde "a justiça e a paz se beijaram", Sl 85.10.

b.2. A paz é o resultado da justiça. Isaías nos fala que "o efeito da justiça será paz...", Is 32.17. Seu reino vindouro, quando o Senhor Jesus praticará o sacerdócio de Melquisedeque e será o Rei - Sacerdote (o Salmo 110.4 prevê aquele dia do seu poder), será estabelecido em justiça e trará "abundância de paz", Sl 72.2, 3, 7, "2 Julgue ele com justiça o teu povo e os teus aflitos, com eqüidade. 3 Os montes trarão paz ao povo, também as colinas a trarão, com justiça. 7 Floresça em seus dias o justo, e haja abundância de paz até que cesse de haver lua".

b.3. O cumprimento deste entrelaçamento entre a justiça e a paz, temos em Rm 5.1, "Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo". A justiça divina nos declara "justificados", e daí entramos no pleno gozo da paz com Deus.

 

CONCLUSÃO:

1. Pudemos ver nesta noite como Melquisedeque é uma figura notável, perfeita do Filho de Deus. Dois pontos consideramos importantes e queremos ressaltá-los neste final:

a. Assim como Melquisedeque uniu as duas funções (Rei e Sacerdote), Cristo também é Rei e Sacerdote. No seu reino também seremos "reis e sacerdotes" e reinaremos com Cristo pela eternidade a dentre.

b. Assim como Melquisedeque é "Rei de Justiça e Rei da Paz", também Cristo cumpriu a Justiça de Deus trazendo paz a todos que se tornam pela fé, filhos de Deus. Novamente destacamos Rm 5.1, "Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo".

2. Diante disso você deve assumir uma posição, e ocupar outra, para desfrutar o melhor de Deus:

a. Receber a justificação pela fé, tornando-se filho de Deus.

b. Ocupar a posição de rei e sacerdote.