2 - ILUSTRAÇÕES DE CRISTO EM GÊNESIS

Extraído do livro "Personalidade em Gênesis", NAISMITH, JAMES , Edições Cristãs, Ourinhos, São Paulo com notas, acréscimos e supressões pelo Pr José Antônio Corrêa.

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

III – MELQUISEDEQUE

 

INTRODUÇÃO:

 

1. Falando sobre Melquisedeque, um tipo notável de Cristo no Livro de Gênesis, vimos na semana passada, dois pontos de comparação:

a. Melquisedeque foi o único homem em todo o Velho Testamento que preencheu as funções de "Rei e Sacerdote", atributos vistos em Cristo no Novo Testamento. Como Rei Jesus é absoluto, "E no manto e na sua coxa tem escrito este nome: Rei dos reis, e Senhor dos senhores", Ap 19.16. Como Sacerdote, Jesus efetuou o único e perfeito sacrifício, Hb 10.12, "Mas este, havendo oferecido para sempre um único sacrifício pelos pecados, está assentado à destra de Deus".

b. Melquisedeque também é descrito como sendo "Rei de Justiça e Rei de Paz", Hb 7.2, o que mostra seu domínio sobre a justiça e a paz. Somente Cristo tem o perfeito domínio sobre "justiça e paz". É através da justiça perfeita que vem a paz ao coração do homem. Ele é o "Príncipe da Paz", Is 9.6, "....Seu nome será Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz".

2. Queremos continuar nesta noite observando mais alguns aspectos tipolólicos entre Melquisedeque e Cristo:

c. Pessoa.

c.1. Quando olhamos Hb 7.3, que se refere a Melquisedeque com sendo "...sem pai, sem mãe, sem genealogia; que não teve princípio de dias, nem fim de existência,...", notamos que esta passagem cria dificuldades para muitos estudiosos da Bíblia. A pergunta que surge é a seguinte: Será que Melquisedeque foi gerado por pais humanos, viveu e morreu, como um humano mortal? Uma vez quer não existe qualquer relatório destes detalhes de sua vida nas Escrituras, pode ser que este personagem seja um personagem equivalente ao "O Anjo do Senhor", descrito por muitos teólogos como sendo o Messias pré-encarnado.

c.2. Era importante para os sacerdotes "segundo a ordem de Arão" poder delinear, traçar sua ascendência. Eles eram "filhos de Levi", Hb 7.5, "Ora, os que dentre os filhos de Levi recebem o sacerdócio têm mandamento de recolher, de acordo com a lei, os dízimos do povo, ou seja, dos seus irmãos, embora tenham estes descendido de Abraão".

c.3. Porém Melquisedeque é mencionado sem ascendência recordada - "sem pai, sem mãe", portanto sem linhagem ou descendência, "sem genealogia". A questão da descendência, era uma questão fundamental dentro das tradições judaicas. Paulo em sua vida como fariseu se orgulhava, como um bom judeu, e de poder traçar sua descendência, Fp 3.5, "circuncidado ao oitavo dia, da linhagem de Israel, da tribo de Benjamim, hebreu de hebreus; quanto à lei, fariseu".

c.4. A este respeito, Melquisedeque é "feito semelhante ao Filho de Deus", mas não "Semelhante ao Filho do homem". Como homem, nosso Senhor foi gerado de uma mulher e teve mãe humana. Como Filho de Deus não teve nenhuma ascendência ou linhagem.

d. Eternidade.

d.1. Da mesma forma, a ausência de relatório acerca do "princípio de dias" e do "fim da existência" de Melquisedeque - mais um dos silêncios significativos das Escrituras – faz dele uma figura equiparada ao nosso grande Sumo Sacerdote, o Filho de Deus.

d.2. Notem que Jesus é:

d.2.1. O "Alfa e o Ômega", o "primeiro e o último", Ap 1.8, "Eu sou o Alfa e Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso". Ele "não teve princípio", não terá "fim". Alpha é a primeira letra do alfabeto grego; Ômega, a última letra. Quando Jesus declara que é o "Alpha e o Ômega", está dizendo que é o princípio e o fim de tudo o que existe.

d.2.2. Ele é descrito como sendo "de eternidade", Sl 90.2, "Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus". Ver também Mq 5.2, "E tu, Belém-Efrata, pequena demais para figurar como grupo de milhares de Judá, de ti me sairá o que há de reinar em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade". A palavra "eternidade", vem do grego "aion", e significa "perpetuidade", "existência contínua", "para sempre", "indefinido ou interminável", etc. Cristo tem sua existência perpétua, contínua.

- Também é descrito como sendo o "Pai da Eternidade", Is 9.6, "Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz". Uma das definições da palavra "pai" – grego "pathr" - pater, é: "aquele que gera, ou o originador ou transmissor de qualquer coisa". Notem que Jesus "gerou", "originou" a eternidade.

- Por esta razão Jesus podia afirmar: "Antes que Abraão existisse, Eu sou", Jo 8.58. Este texto nos fala da "eternidade passada", se é que podemos falar desta maneira com respeito à eternidade, ou seja em termos de passado, presente e futuro.

d.2.3. Além disso, Ele "não tem fim de existência". Ele existe "até à eternidade", Sl 90.2, "Antes que os montes nascessem e se formassem a terra e o mundo, de eternidade a eternidade, tu és Deus". (Versão Brasileira). Já aqui temos referência à "eternidade futura".

d.2.4. Outra expressão também significativa é a que aparece em Hb 7.3, é a expressão "permanece sacerdote para sempre": "...sem pai, sem mãe, sem genealogia; que não teve princípio de dias, nem fim de existência, entretanto, feito semelhante ao Filho de Deus, permanece sacerdote perpetuamente". Note que aqui Jesus "permanece sacerdote perpetuamente". Em Hb 7.24, descreve ainda que seu sacerdócio "continua para sempre": "...este, no entanto, porque continua para sempre, tem o seu sacerdócio imutável". A descrição de sua eternidade aqui é quanto ao seu ofício.

d.2.5. Já em Hb 7.25, Ele vive sempre: "Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles". A descrição de sua eternidade neste texto é quanto a sua vida.

d.2.6. Ele possui um "sacerdócio imutável", Hb 7.24, que não pode e não precisa ser transferido a outrem. A palavra grega original para "imutável", nos traz a idéia de "inviolável", "inalterável", "não sujeito a um sucessor".

d.2.7. Ele é "constituído... segundo o poder da vida indissolúvel", Hb 7.16, "constituído não conforme a lei de mandamento carnal, mas segundo o poder de vida indissolúvel". Já a palavra "indissolúvel", nos traz a idéia de algo "não sujeito a destruição".

e. Grandeza.

"Considerai, pois, como era grande esse", Hb 7.4. A superioridade de Melquisedeque sobre Abraão foi evidenciada de várias maneiras:

e.1. Pelo fato de Abraão lhe ter dado o dízimo dos despojos, Hb 7.4, "Considerai, pois, como era grande esse a quem Abraão, o patriarca, pagou o dízimo tirado dos melhores despojos". Ver ainda Gn 14.20, "...e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus adversários nas tuas mãos. E de tudo lhe deu Abrão o dízimo". Um dado importante aqui é mencionarmos que ao darmos nosso dízimo não o estamos dando ao Pastor, ou ao Tesoureiro da Igreja, mas estamos dando ao Senhor. A Bíblia menciona que os dízimos são do Senhor, Lv 23.17, "Das vossas moradas trareis dois pães para serem movidos; de duas dízimas de um efa de farinha serão; levedados se cozerão; são primícias ao SENHOR".

e.2. Pelo fato de Abraão ser abençoado por ele. "É fora de qualquer dúvida que o inferior é abençoado pelo superior", Hb 7.6, 7, "6 entretanto, aquele cuja genealogia não se inclui entre eles recebeu dízimos de Abraão e abençoou o que tinha as promessas. 7 Evidentemente, é fora de qualquer dúvida que o inferior é abençoado pelo superior". Ver ainda Gn 14.19, "abençoou ele a Abrão e disse: Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, que possui os céus e a terra". Temos aqui o princípio bíblico de que a bênção verdadeira só pode vir de Deus. Só podemos abençoar verdadeiramente as pessoas, quando as abençoamos em nome do Senhor Jesus.

e.3. Esta superioridade deveria estender-se a todos os descendentes de Abraão, incluindo Levi e seus filhos, os sacerdotes, como maior deve ser aquele que recebe honras supremas dos homens e que dispensa bênção incomparável dos homens.

f. Provisão.

f.1. "Melquisedeque... trouxe pão e vinho", Gn 14.18, "Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; era sacerdote do Deus Altíssimo".

f.2. Se, porventura, Abraão sentisse falta ou arrependimento de ter recusado os bens oferecidos pelo rei de Sodoma, provisão divina em abundância lhe foi assegurada - "teu galardão será sobremodo grande", Gn 15.1

f.2. Estes elementos essenciais - comida e bebida - para sustentar a vida e apoiar Abraão em seu tempo de provação são símbolos sugestivos da provisão graciosa de nosso Senhor Jesus para o seu povo que se apropria dele pela fé, Jo 6.51, 53, 55, "51 Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém dele comer, viverá eternamente; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne. 53 Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: se não comerdes a carne do Filho do Homem e não beberdes o seu sangue, não tendes vida em vós mesmos. 55 Pois a minha carne é verdadeira comida, e o meu sangue é verdadeira bebida".

g. Proteção Divina.

g.1. Depois do acontecimento relatado em Gênesis 14, Abraão recebeu uma mensagem muito preciosa do Senhor, introduzida pelo primeiro "Não temas" da Bíblia, Gn 15.1, "Depois destes acontecimentos, veio a palavra do SENHOR a Abrão, numa visão, e disse: Não temas, Abrão, eu sou o teu escudo, e teu galardão será sobremodo grande". Notem que Abraão corria o risco de um reagrupamento dos reis derrotados e como homem poderia ser invadido pelo medo, daí a razão de Deus ter-lhe dito: "Não temas".

g.2. Deus se oferece para ser sua defesa: "Eu sou o teu escudo". A palavra escudo vem do hebraico "Ngm" - magen, e significa "proteção", "defesa".

g.2. Jesus é nossa fortaleza, nosso escudo.

 

CONCLUSÃO:

 

1. Com a palavra desta noite aprendemos que Melquisedeque é um tipo perfeito de Cristo pelas seguintes razões:

a. Assim como Melquisedeque é descrito como "não tendo pai, nem mãe", Jesus, Como Deus também não tem descendência terrena. Foi gerado pelo Espírito Santo no ventre de Maria, cumprindo as funções de um Salvador Perfeito, por quem somos salvos.

b. Assim como Melquisedeque é descrito como não tendo "princípio de dias, nem fim de existência", assim também Jesus é eterno, não tem começo nem fim. E Jesus quem nos garante a vida eterna.

c. Assim como Melquisedeque era "grande", por quem Abraão foi abençoado (o maior abençoa o menor) e a quem também deu o dízimo (o dízimo pertence a Deus), Jesus também é o Senhor absoluto a quem devemos prestar culto, honras, adoração, etc.

d. Assim como Melquisedeque "trouxe pão e vinho" que significam "subsistência", "provisão", Cristo também garante nossa provisão diária, nossa subsistência como seus servos.

2. O que temos a temer, visto que conhecemos aquele que é Sacerdote do Deus Altíssimo, sendo ele mesmo o possuidor do céu e da terra (Gn 14.18, 19, 22)?