2 - ILUSTRAÇÕES DE CRISTO EM GÊNESIS

Extraído do livro "Personalidade em Gênesis", NAISMITH, JAMES , Edições Cristãs, Ourinhos, São Paulo com notas, acréscimos e supressões pelo Pr José Antônio Corrêa.

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

JOSÉ

Leitura Gn 37

 

INTRODUÇÃO:

 

1. De todos os tipos de Cristo, no Velho Testamento, não há nenhum mais variado, mais completo e mais instrutivo do que José. Embora seja verdade que o Novo Testamento em nenhum lugar indica que José é verdadeiramente um tipo de Cristo - como é o caso de Adão, Melquisedeque e Isaque. Porém já foi dito com toda razão que "as analogias são demasiadamente numerosas para serem acidentais" (J. Sidlow Baxter). O escritor A. W. Pink certa vez enumerou mais de cem semelhanças com o Senhor Jesus.

2. A história de José pode ser resumida em duas expressões do Salmo 105.17, 21: "Ele enviou um homem.... constituiu-o senhor". Como é apropriada a aplicação destas palavras ao Senhor Jesus, que, "vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou...", Gl 4.4, e a quem ele "fez Senhor e Cristo", At 2.36! Temos uma declaração importante de José quando do encontro com seus irmãos: "Para conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós", Gn 45.5. Semelhantemente, Deus enviou "o Seu Filho unigênito ao mundo para vivermos por meio dele", 1 Jo 4:9, "Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele".

3. "Através do poço e da prisão, rumo ao palácio" - assim poderíamos resumir a história da vida de José. "Por meio da manjedoura e da cruz, rumo à coroa de glória" - pode igualmente descrever "os sofrimentos referentes a Cristo e... as glórias que os seguiram", 1 Pe 1.11.

4. A história de José exemplificou a mensagem significante dada pelo homem de Deus a Eli: "Os que Me honram, honrarei", 1 Sm 2.30. É claro que o supremo exemplo disso é o Senhor Jesus Cristo, que era o único que verdadeiramente podia afirmar:

a. "Eu faço sempre o que lhe agrada" (falando de Deus), Jo 8.29;

b. "Eu glorifiquei-te na terra" João 17.4;

c. E a quem Deus "ressuscitou dentre os mortos e lhe deu glória", 1 Pe 1.21.

5. Uma apresentação adequada das analogias entre José e o Senhor Jesus ocuparia muito tempo. Porém podemos destacar os seguintes pontos de comparação:

 

I – AMADO POR SEU PAI

1. "Ora, Israel amava mais a José que a todos os seus filhos, porque era filho da sua velhice; e fez-lhe uma túnica talar de mangas compridas.", Gn 37.3. Já vimos, quando estudamos as comparações entre Cristo e Isaque, que repetidamente no Novo Testamento através dos lábios do próprio Senhor, é declarado o amor de Deus, o Pai, para com seu "Filho amado", Ma 3.17; 17.5, "Este é o meu filho amado em quem eu me comprazo".

2. A provisão de uma túnica especial para José por seu pai era um sinal de honra especial e de distinção - como o foram as declarações feitas por Deus Pai, através de um céu aberto, do seu prazer no seu Filho. Verdadeiramente, "o Pai ama o Filho e todas as cousas tem confiado às Suas mãos", Jo 3.35.

3. Os sonhos de José, Gn 37.6-10 (Os "feixes" de seus irmãos que se inclinavam perante o seu; o sol, a lua e onze estrelas que se inclinavam perante ele). Estes sonhos eram, sem dúvida, as revelações de Deus para ele, a respeito de sua glória futura, quando seu pai e seus irmãos lhe reconheceriam esta glória.

a. Antes do seu nascimento, a grandeza futura da criancinha de Belém foi revelada por um mensageiro angélico, Lc 1.32, 33, "32 Este será grande e será chamado Filho do Altíssimo; Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi, seu pai; 33 ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim".

b. Na véspera de sua morte, o Senhor fez conhecer àqueles que o odiavam e que exigiram sua morte que um dia veriam a suprema glória e autoridade daquele que ora estavam rejeitando, Mt 26.64, "Respondeu-lhe Jesus: Tu o disseste; entretanto, eu vos declaro que, desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu".

4. A missão de José a seus irmãos, quando enviado por seu pai, certamente prefigura a missão do Filho Amado de Deus:

a. Gn 37.14, "Disse-lhe Israel: Vai, agora, e vê se vão bem teus irmãos e o rebanho; e traze-me notícias. Assim, o enviou do vale de Hebrom, e ele foi a Siquém",

b. Veja como Jesus se tornou o servo obediente, freqüentemente repetindo que fora enviado pelo Pai:

b.1. Jo 4.34, "Disse-lhes Jesus: A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra".

b.2 Jo 5.30, 36, "30 Eu nada posso fazer de mim mesmo; na forma por que ouço, julgo. O meu juízo é justo, porque não procuro a minha própria vontade, e sim a daquele que me enviou. 36 Mas eu tenho maior testemunho do que o de João; porque as obras que o Pai me confiou para que eu as realizasse, essas que eu faço testemunham a meu respeito de que o Pai me enviou".

b.3. Jo 6.39, 40, 44, "39 E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia. 40 De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. 44 Ninguém pode vir a mim se o Pai, que me enviou, não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia".

 

II – ODIADO POR SEUS IRMÃOS

1. A expressão "odiaram-no", aparece em Gn 37.8: "8 Então, lhe disseram seus irmãos: Reinarás, com efeito, sobre nós? E sobre nós dominarás realmente? E com isso tanto mais o odiavam, por causa dos seus sonhos e de suas palavras".

2. Existiram razões por seu ódio, mas nosso Senhor podia dizer:

a. Profeticamente: "São mais que os cabelos de minha cabeça os que, sem razão, me odeiam... Tornei-me estranho a meus irmãos e desconhecido aos filhos de minha mãe", Sl 69.4, 8;

b. Veja também João 15.18, 24, "18 Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós outros, me odiou a mim. 24 Se eu não tivesse feito entre eles tais obras, quais nenhum outro fez, pecado não teriam; mas, agora, não somente têm eles visto, mas também odiado, tanto a mim como a meu Pai".

2. Existe, porém, uma base semelhante para este ódio:

a. José atraiu sobre si o ódio porque contou a verdade acerca dos seus irmãos. "Trazia más notícias deles a seu pai", Gn 37.2.

b. Veja porém o que fala Jesus: "Procurais matar-me", disse Jesus, "a mim que vos tenho falado a verdade", Jo 8.40.

c. Em ambos os casos, a inveja foi a raiz do ódio, Gn 37.11, "Seus irmãos lhe tinham ciúmes; o pai, no entanto, considerava o caso consigo mesmo". Ver também Mt 27.18, "Porque sabia que, por inveja, o tinham entregado".

3. Note as evidências de ódio:

a. "Conspiraram contra ele para o matar", Gn 37.18. Compare com:

a.1. Mt 21.38, "Disseram entre si: este é o herdeiro... vamos matá-lo";

a.2. Mt 26.4, "Deliberaram prender Jesus, à traição, e matá-lo";

a.3.Mt 27.1, 20, 22, "1 Entraram em conselho contra Jesus, para o matarem. 20 Os principais sacerdotes e os anciãos persuadiram o povo a que... fizesse morrer Jesus. 22 Seja crucificado! responderam todos".

b. "Despiram-no da túnica" (símbolo de honra), Gn 37.23. Compare com:

b.1. Mt 27.28, "Despindo-o" (Versão Brasileira). Embora o Senhor Jesus tenha sido despido literalmente de suas roupas, incluindo evidentemente a túnica, Ele foi despido simbolicamente de sua honra por ser humilhado e entregue à vergonha e desonra da cruz como um criminoso, tendo que suportar as afrontas e a zombaria das suas criaturas até ao ponto de cuspirem nele, Mt 27.29, 30, "29 tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça e, na mão direita, um caniço; e, ajoelhando-se diante dele, o escarneciam, dizendo: Salve, rei dos judeus! 30 E, cuspindo nele, tomaram o caniço e davam-lhe com ele na cabeça".

c. "O lançaram na cisterna", Gn 37:24.

c.1. Literalmente, nosso Senhor ficou "três dias e três noites no coração da terra", Mt 12.40. Figurativamente, ele profeticamente podia afirmar: "Estou atolado em profundo lamaçal que não dá pé", Sl 69.2a.

c.2. Não havia água na cisterna onde José foi lançado, porém, no mesmo versículo deste Salmo o Senhor acrescentou: "Estou nas profundezas das águas e a corrente me submerge", Sl 69.2b.

d. "O venderam por vinte siclos de prata", Gn 37.28. Compare com Mt 26.15: "Pagaram-lhe trinta moedas de prata". Veja a descrição de um poeta desconhecido:

d.1. "Trinta moedas de prata pelo Senhor da Vida deram. Trinta moedas de prata - um escravo qualquer valia. Inestimável era o valor daquele Santo. E não sabiam que seu sangue valia tanto!"

e. Eles o abandonaram, "Os mercadores midianitas... levaram José ao Egito", Gn 37.28. Compare com:

e.1. Jo 1.11, "Os seus não o receberam";

e.2. Mt 26.56, "Os discípulos todos, deixando-o, fugiram".

f. "Eles viram a angústia da alma" dele, Gn 42.21. Compare com:

f.1. Sl 22.6-21, "6 Mas eu sou verme e não homem; opróbrio dos homens e desprezado do povo. 7 Todos os que me vêem zombam de mim; afrouxam os lábios e meneiam a cabeça: 8 Confiou no SENHOR! Livre-o ele; salve-o, pois nele tem prazer. 9 Contudo, tu és quem me fez nascer; e me preservaste, estando eu ainda ao seio de minha mãe. 10 A ti me entreguei desde o meu nascimento; desde o ventre de minha mãe, tu és meu Deus. 11 Não te distancies de mim, porque a tribulação está próxima, e não há quem me acuda. 12 Muitos touros me cercam, fortes touros de Basã me rodeiam. 13 Contra mim abrem a boca, como faz o leão que despedaça e ruge. 14 Derramei-me como água, e todos os meus ossos se desconjuntaram; meu coração fez-se como cera, derreteu-se dentro de mim. 15 Secou-se o meu vigor, como um caco de barro, e a língua se me apega ao céu da boca; assim, me deitas no pó da morte. 16 Cães me cercam; uma súcia de malfeitores me rodeia; traspassaram-me as mãos e os pés. 17 Posso contar todos os meus ossos; eles me estão olhando e encarando em mim. 18 Repartem entre si as minhas vestes e sobre a minha túnica deitam sortes. 19 Tu, porém, SENHOR, não te afastes de mim; força minha, apressa-te em socorrer-me. 20 Livra a minha alma da espada, e, das presas do cão, a minha vida. 21 Salva-me das fauces do leão e dos chifres dos búfalos; sim, tu me respondes". Ver também Sl 69.1-21.

f.2. Mt 27.47-49, "47 E alguns dos que ali estavam, ouvindo isto, diziam: Ele chama por Elias. 48 E, logo, um deles correu a buscar uma esponja e, tendo-a embebido de vinagre e colocado na ponta de um caniço, deu-lhe a beber. 49 Os outros, porém, diziam: Deixa, vejamos se Elias vem salvá-lo." Veja a expressão profética que aparece no Sl 69.20, "Esperei por piedade, mas debalde; por consoladores e não os achei".

 

CONCLUSÃO:

 Da palavra desta noite podemos aplicar:

1. Muitos ainda hoje têm odiado e rejeitado a Cristo! Para outros Cristo tem sido motivo de escárnio, zombaria. Porém para muitos o sofrimento de Cristo cumpriu o objetivo de Deus em suas vidas. Fizeram dele seu Salvador e Senhor.

2. E você o que pensa de Cristo?

3. Não devemos nos esquecer que embora Cristo tenha sofrido o escárnio da Cruz, encontra-se hoje em lugar de destaque, de honra, ao lado do Pai e aguarda somente o momento em que há de voltar para julgar o mundo.