A SEMENTE

GN 3.15

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

1. Haveria uma inimizade constante entre "a tua descendência e a sua descendência". A palavra "descendência", vem do hebraico zerah - "semente", que é o masculino. A inimizade é entre "o" semente da serpente e "o" semente da mulher. Por fim, o descendente da serpente feriria o calcanhar (morderia covardemente) do descendente da mulher mas este esmagaria o descendente da serpente. A interpretação messiânica deste teste se deu cedo e muitos intérpretes viram aqui a obra de Cristo (nascido de mulher, Gl 4.4), esmagando a cabeça (aniquilando o poder) da serpente. Seu poder seria aniquilado, Ap 20.3, 10(1).

2. "Entre a tua descendência (a descendência espiritual de Satanás, Jo 8.44; Ef 2.2) e seu descendente, lit., semente (aqueles que são da família de Deus). Este (lit., ele). Um indivíduo dentre a descendência da mulher, ou seja, Cristo, infligia um golpe mortal contra a cabeça de Satanás, ao passo que Satanás (tu) feriria o calcanhar de Cristo (fá-lo-ei sofrer)(2).

3. No meio de todas as aflições com que Deus puniu a falta da mulher, encontramos uma promessa consoladora, o gérmen de todas as promessas futuras. A humanidade está arruinada e diante de um novo programa de dores e aflições. Mas o Criador divisou um remédio que cortaria os efeitos do veneno mortal que acabara de ser inoculado na novel raça. Se Deus não tivesse um remédio tão eficaz, talvez, na sua infinita, bondade, tivesse desviado o plano do tentador. O Vs. 15 dá-nos o primeiro som do Evangelho, e tem por isso sido classificado como o "Proto-Evangelho". Da semente da mulher sairia um que esmagaria a cabeça da serpente. A tradução da Vulgata (Bíblia usada na Igreja Católica) dá a mulher como sendo quem esmagaria (ver cap. 12 de Apocalipse) a cabeça da serpente, mas tanto a tradução de Figueredo, como a Brasileira são fiéis ao original, onde se lê que não a mulher, mas a sua semente, esmagaria a cabeça da serpente. Alguns acham que esta profecia não se refere, tampouco, a Cristo somente, mas a todos os crentes nele.

Em certo sentido, é aplicável a toda nova criação, visto que, pelo poder de Cristo, estamos continuamente destruindo os planos da serpente, o maligno, mas quem cumpriu esta promessa e profecia foi Cristo. A linguagem deve entender-se de acordo com a terminologia bíblica. Prat pensa que a mulher aqui descrita é a Igreja, e em favor de sua teoria cita o cap. 12 de Apocalipse, em que a mulher, que estava para dar à luz, foi perseguida pelo Dragão, a antiga serpente; seu filho foi arrebatado para o céu, e a mulher fugiu para o deserto. Se este ponto de vista é correto, ainda fica de pé que foi a semente da mulher que, direta e indiretamente, esmagou a cabeça da serpente. Todo o poder da Igreja de Cristo dimana de Cristo mesmo, e não de nós, porque foi ele quem venceu a Satanás. Com esta presunção é que o papado desloca Cristo e coloca a Igreja como vencedora e mesmo salvadora, pois que, estar fora dela é estar perdido(3).

4. Aqui está o que se denomina de Proto-Evangelho, isto é, a primeira referência feita ao necessário Redentor, capaz de efetuar a purificação pelo pecado, bem como pagar a horrenda pena que este acarreta. Observe-se que o termo "descendente" encontra-se no singular, portanto, uma referência clara feita a certa pessoa (Cristo) descendente de Eva, e não a toda raça humana, Gl 3.16(4).

 

NOTAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

(1) Filho, Isaltino Gomes Coelho, "Revista Gênesis I", JUERP, Rio de Janeiro, p. 23.

(2) Ryrie, Charles Caldwell, Th.D., Ph.D., "A Bíblia Anotada", Editora Mundo Cristão", p. 11.

(3) Mesquita, Antônio Neves de, "Estudo do Livro de Gêneses", JUERP, Casa Publicadora Batista, Rio de Janeiro, p. 106-107.

(4) Shedd, Russel P., "A Bíblia Vida Nova", Sociedade Religiosa Edições Vida Nova, p. 9.