ALEGRIA DO ESPÍRITO SANTO
Autoria desconhecida
Pr. José Antônio Corrêa
Texto Bíblico: Gálatas 5.22
O
apóstolo Paulo põe o paradoxo das possibilidades de vida em duas expressões: o
cristão não deve produzir as obras de carne, mas, antes, o fruto
do Espírito Santo. Ao colocar as manifestações da carne no plural, o
escritor bíblico quis deixar claro que elas são múltiplas e que o cristão não
se deixa escravizar por todas elas de uma só vez. Além disso, ele termina a
frase, acrescendo um "e coisas semelhantes a estas". Este
"etc." paulino mostra a amplitude das possibilidades no erro, diante
das quais devemos estar vigilantes. A lista não poderia mesmo ser limitada
porque a criatividade humana é ilimitada.
Quando
o apóstolo passa a dar como o cristão deve viver, ele usa a expressão
"fruto do Espírito" no singular. Cada arvore só da um tipo de fruto,
segundo a sua espécie. Esta ênfase paulina indica que essas virtudes não são
para ser escolhidas no balcão do Espírito Santo, mas que devem compor a bagagem
de todo cristão. O cristão não pode ser amoroso e triste, mas amoroso e alegre.
A árvore de quem vive no Espírito Santo deve dar este fruto: amor, alegria,
paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio
próprio. É um fruto só. Quando alista a última parte do fruto, Paulo não coloca
um "e", como a reforçar a unidade deste fruto.
Não
há hierarquia nesta relação. O amor não é mais importante que a mansidão. Amor
e mansidão são expressões do mesmo fruto. Não é fácil viver no Espírito. Por
isto, a Bíblia está sempre a nos orientar neste projeto de vida. O fruto do
Espírito é, portanto, integral, holístico. Eu não posso dizer: - Fidelidade é
comigo, mas não espere de mim domínio próprio.
Uma
bola de futebol sem um dos seus gomos não é uma bola de futebol. Não há uma
progressão nesta manifestação. O amor não é mais importante porque vem em
primeiro lugar. O domínio próprio não é menos valoroso porque vem por último.
Ambos, como os demais, são faces do mesmo fruto.
Ao
tratar, portanto, deste fruto, podemos começar por qualquer um dos lados.
Podemos começar pela alegria.
Na
perspectiva bíblica, a alegria é um fruto do Espírito, isto é, não é unta
virtude que nós possamos produzir, mas uma manifestação do Espírito Santo em
nós. A nossa participação consiste em permitir que o Espírito Santo a inocule
(introduza, enxerte) em nós e em cultivá-la por meio de uma vida de intimidade
com o Espírito Santo.
ALEGRIA COMO IMAGEM E SEMELHANÇA DE
DEUS
A
narrativa da criação do mundo (Gênesis 1) contém uma frase que se repete ao
termino de cada dia: "Viu Deus que isso era bom".
A
criação do mundo, peito por parte, deu prazer a Deus. No primeiro dia, Ele não
olhou para o que restava e se lamentou. Antes, Ele se alegrou no que já tinha
feito. Sua atitude é diferente de muitos de nós, pessimistas profissionais,
sempre a lamentar o que falta ser feito, como um peso incarregável.
Deus
é alegre. Ao relembrar a promessa divina ao seu povo, prestes a entrar na terra
prometida, Moisés afirmou: "O Senhor teu Deus te fará prosperar
grandemente em todas as obras das ruas mãos, no fruto do teu ventre e no fruto
dos teus animais e no fruto do teu solo, porquanto o Senhor tornará a alegrar-se
em ti para te fazer bem, como se alegrou em teus pais" (Dt 30.9).
Onde
Deus está, há honra e majestade mas também força e alegria (1 Cr
16.27). Na presença dEle, há plenitude de alegria (Sl 16).
Esta
marca do caráter de Deus é reafirmada por ocasião do batismo de Jesus Cristo
(Mt 3.17).
Jesus
disse que no céu há alegria quando um pecador se arrepende (Lc 15.7). O mesmo
Jesus informou a motivação a sua pregação: para que seus discípulos (os de
ontem e os de hoje) "tenham a minha alegria completa em si mesmos
(Jo 17.13).
Como
imagem e semelhança de Deus, nós devemos ser alegres. A propósito, a palavra alegria
(na forma substantiva, verbal e adjetivo), com seus sinônimos, aparece na
Bíblia aos milhares, na certeza que o coração alegre aformoseia o rosto; mas
pela dor do coração o espírito se abate (Pv 15.13).
Não
há contradição entre alegria e santidade. Nada mais estranho que um santo
triste. Um santo não pode ser triste. Por isto, nada mais estranho que o
retrato que geralmente se pinta de Jesus: rosto sério, face crispada, jeito de
poucos amigos. Será que, em Caná da Galileia, Jesus estava num canto da festa
ou estava participando dela? Pelo relato bíblico, sabemos que Jesus estava se
divertindo e chegou a providenciar mais vinho para que a festa prosseguisse.
Uma das críticas que os raivosos e entristecidos fariseus faziam ao Senhor
Jesus foi a seguinte: "Eis ai um comilão e bebedor de vinho, amigo de
publicanos e pecadores" (Mt 11.19). Ele não era um glutão ou um beberrão,
mas comia e bebia com os que vinham a Ele, o que contrariava a idéia de uma
religião séria, pesada e triste, A religião cristã, infelizmente, está mais
para os fariseus do que para Jesus.
Precisamos
recuperar o hedonismo cristão, com uma teologia e uma atitude que condenem a
alegria superficial, mas reforcem a alegria no Espírito Santo, presente em
todas as áreas da nossa vida.
Assim,
portanto, nosso culto deve ser alegre, nunca um funeral. Nem a celebração da
Ceia do Senhor pode se parecer com um funeral, porque, se é celebrada em
memória, ela o é em memória dAquele que vem. A Ceia do Senhor é, portanto, um
memorial de esperança, não de morre.
Devemos
adorar a Deus com a mesma atitude do poeta bíblico: "Irei ao altar de
Deus, a Deus, que é a minha grande alegria e ao som da harpa te
louvarei, oh Deus, Deus meu (Sl 43.4).
Nossa
vida precisa estar enxertada da alegria que vem de Deus. Depois de uma
experiência de culto, Esdras e Neemias abençoaram o povo, mandando-o para casa,
com a seguinte recomendação, válida para hoje: "Ide, comei as gorduras,
bebei as doçuras e enviai porções aos que não têm nada preparado para si:
porque este dia é consagrado ao nosso Senhor (Ne 8.10a).
Alguns
justificam a sua tristeza com os problemas dos outros. Como posso ser alegre,
se há pessoas famintas. Esdras e Neemias respondem: "levem porções aos que
não têm nada e festejem". A alegria não precisa ser alienada e alienadora.
PARA UM HEDONISMO DO ESPÍRITO SANTO
No
hedonismo cristão, a alegria decorre da habitação do Espírito Santo em nós.
Portanto, não é uma marca que nós produzimos, mas uma manifestação do
Espírito em nós e por meio de nós. É verdade plena que o reino de Deus
não consiste no comer e no beber, mas na justiça, na paz, e na alegria no
Espírito Santo (Rm 1417), mas também é verdade que a justiça, a paz e a alegria
no Espírito Santo devem acontecer em ações concretas e mesmo festivas. Afinal,
como ensina a Bíblia, "nenhuma coisa melhor tem o homem debaixo do sol do
que comer, beber e alegrar-se; porque isso o acompanhará no seu trabalho nos
dias da sua vida que Deus lhe dá debaixo do sol" (Ec 8.15).
Deixe o Espírito Santo inocular
alegria em você
Quando
o Espírito Santo convenceu você do seu pecado, e do juízo merecido; quando
Jesus Cristo perdoou o seu pecado; quando o Pai escreveu seu nome no livro da
vida, você se tomou um filho pleno de Deus, que deve viver segundo a imagem e
semelhança da Trindade.
Não
há mais motivos para a tristeza. Afinal, a alegria do Senhor é a sua força (Ne
8.10) Abra, então, lugar para que a força alegre do Espírito tome conta da sua
vida e vá se expandindo dia a após dia. Quanto mais alegre você for, mais santo
será.
A
alegria do Espírito é aquela que não precisa de um ambiente festivo para se
manifestar e muito menos de nenhum tipo de estimulante químico. Nutrido pelo
Espírito, quando você for a uma festa, não vá buscar alegria; vá levar.
Cultive a alegria no Espírito Santo
Com
uma licença poética, para fins de comparação, podemos falar no Espírito Santo
em nós como uma planta. Para que esta planta dê fruto, precisa de água, ar e
espaço. Lamentavelmente, há muito Espírito Santo amassado e abafado, ao ponto
de ser extinto em suas conseqüências práticas na vida de muitos cristãos.
Cultivamos
o Espírito, quando buscamos viver em intimidade com Ele. Essa é uma
possibilidade concreta, e não apenas uma afirmação poética. Se o Espírito
estiver em nós, seu fruto vai nascer na árvore da nossa vida.
Permita que a alegria do Espírito
Santo se expresse claramente em você e por você
A
alegria se expressa em várias formas em nossas vidas. Uma de suas manifestações
é a chamada alegria interior, ponto de início de outras manifestações. Não nós
preocupemos em saber se nós ou alguma pessoa está com esta alegria. Ela sai de
dentro. É como a tristeza. Uma pessoa triste não precisa dizer que está triste;
está na sua cara. Basta que a observemos.
Por
isto, quem está alegre espiritualmente canalizará seu contentamento para fora.
Nós experimentamos várias manifestações desta alegria, que não pode ser apenas,
como queria o filósofo Henri Bergson, apenas uma anestesia momentânea do
coração.
Uma
das expressões da alegria do Espírito Santo é um cântico. É impossível a um
crente alegre e feliz não manifestar sua alegria e felicidade sem cantar. Este
cântico pode ser até discreto, na forma de um cantarolar ou assoviar, mas será
cântico, mas não precisamos ser discretos sempre. Nossa experiência deve ser a
do salmista (Sl 30.11, 12).
Esta
é a sua história, ou você se esqueceu? Há cristãos mais tristes de quando não
eram cristãos. Há cristãos calados. O que está havendo com você? Há algo
profundamente errado com a sua vida. E a culpa não é de Deus. Cantemos louvores
a Deus.
Outra
manifestação de alegria em Cristo é o sorriso, que é diferente do riso. Num
livro recente, o psiconeurologista norte-americano Robert Provine lembra que o
sorriso é uma forma de comunicação visual, enquanto o riso é uma experiência
auditiva. Ambos são mais um meio de comunicação e socialização do que um
produto de humor. O sorriso se vê; o riso se ouve, mesmo no escuro. A
propósito, o estudo, desenvolvido a partir de 1.200 situações de riso, mostra
que as mulheres riem 20% a mais que os homens.
Devemos
rir, devemos sorrir. Lembremos que o sorriso/riso no Espírito não ri/sorri dos
outros, como se quem ri fosse superior àquele de quem ri; antes, o riso
no Espírito é um riso com os outros, pela alegria do encontro e do convívio.
Há
uma outra expressão de alegria que é o serviço. Os tristes não dão dízimo com
alegria. Os tristes não ajudam os outros com prazer. Os tristes não promovem a
causa da justiça. Como recomenda Paulo, a contribuição para a causa do Reino de
Deus deve ser feita com alegria, não com tristeza. Como ensina Jesus, o serviço
ao necessitado deve ser desenvolvido com prazer, como fez o chamado bom
samaritano. Como ensina a Bíblia: "a execução da justiça é motivo de
alegria para o justo" (Pv 21.15).
Viva com alegria, seja em gratidão
pelo que Ele já lhe fez, seja em esperança pelo que Ele ainda lhe fará
Diante
daquilo que Deus nos tem feito, somos gratos e a manifestação mais própria para
o sentimento de gratidão é a alegria. Quem é grato é alegre. O louvor, que é
uma expressão de alegria, é filho da gratidão.
Diante
da clara manifestação de Deus em nossas vidas, tendemos a nos encher de alegria
do Espírito.
Pode
ser, no entanto, que nós enchamos de nós mesmos, considerando-nos os
responsáveis pela abundância em que vivemos ou pela ausência de problemas. A
Bíblia condena este desvio com contundência em Deuteronômio 28.47-48.
Há muitos crentes cujo problema é a abundância de tudo. Têm tanto que se
afastam de Deus, fonte de nossa força; têm tanto que abafam a presença
do Espírito de Deus fonte de nossa alegria, e se deixam tomar pela tristeza.
No
entanto, há situações em que não é natural arrancar de nós mesmos um
riso ou mesmo um sorriso. Nossa alma se abate e se perturba (Sl 43.5). Como
cantar, quando nos parecemos com os judeus exilados, que perguntavam:
"junto aos rios de Babilônia, ali nos assentamos e nos pusemos a chorar,
recordando-nos de Sião. Nos salgueiros que há no meio dela penduramos as nossas
harpas, pois ali aqueles que nos levaram ativos nos pediam canções; e os que
nos atormentavam, que os alegrássemos, dizendo: Cantai- nos um dos cânticos de
Sião. Mas como entoaremos o cântico do Senhor em terra estrangeira?" (Sl
137.1-4).
O
mesmo salmista que pergunta: "Por que estás abatida, oh minha alma? e por
que te perturbas dentro de mim? é o mesmo que responde: Espera em Deus, pois
ainda o louvarei, a ele que é o meu socorro, e o meu Deus" (Sl 43.5).
Se
esta é a sua situação, permita que o Espírito Santo dê o Seu fruto na sua vida.
Louve-O assim mesmo, porque Ele é seu socorro e o seu Deus.
A
esperança faz que a alegria não dependa das circunstâncias.
CONCLUSÃO
Uma
pessoa cheia do Espírito é uma pessoa alegre. A alegria é uma das conseqüências
mais visíveis da plenitude do Espírito Santo em nós.
Que
se aplique integralmente a nós a descrição feita por Lucas acerca de alguns
primeiros cristãos: "os discípulos, porém, estavam cheios de alegria e do
Espírito Santo" (At 13.52). Se vivemos no Espírito, somos alegres.