EU SOU A PORTA
JO 10.7-9
Pr. José Antônio Corrêa
INTRODUÇÃO:
1.
Relembrando um pouco sobre o estudo anterior: Vimos como Jesus, a partir da
metáfora da luz, se colocou como a "luz do mundo", mostrando a seus
discípulos que aqueles que o seguissem não andariam em trevas, mas seriam
guiados, protegidos pela luz divina. A vida seria gerada dentro deles, ao mesmo
tempo em que seriam, dali em diante depositários da luz de Deus, com a
responsabilidade de espalhar a luz àqueles que caminham sem Deus nas trevas
deste mundo. Com seu nascimento, Jesus iluminou aqueles que viviam "...na
região da sombra da morte", Mt 4.16.
2.
Hoje, estaremos falando sobre a metáfora da porta, também usada por Jesus para
falar de mais uma de suas qualificações pessoais acerca de si mesmo, usando a
expressão "Eu sou". Sabemos da grande utilidade da porta como
instrumento de acesso a lugares fechados. A palavra "porta", na
língua grega é "yura - thura", cujo significado é: "uma
entrada", "lugar de passagem", "abertura de acesso".
3.
Pense numa casa sem portas! Haveria sentido? Ou mentalize
um curral de ovelhas totalmente fechado, sem qualquer abertura por onde os
animais pudessem entrar e sair. Somente alguém fora de si construiria locais
fechados, sem portas. Ao declarar-se a "porta", Jesus fornece acesso,
liberdade, abrigo, entre outras coisas. Vejamos alguns pontos relacionados a
Jesus como sendo a porta:
I. SENDO A "PORTA", JESUS
SE COLOCA COMO ÚNICO RECURSO DE SALVAÇÃO ETERNA PARA O HOMEM
1.
Veja a expressão de Jesus: "Se alguém entrar por mim, será salvo...",
v.
2.
Ao buscarmos Jesus como sendo a "porta", ao entrarmos por Ele,
alcançamos a salvação e a libertação do poder do diabo. Sabemos que o homem sem
Deus está perdido pela sua condição de pecador e injusto perante o Criador:
"...como está escrito: Não há justo, nem sequer um...", Rm 3.10.
Em Rm 3.23 temos: "Porque todos pecaram e destituídos estão da
glória de Deus". Nesta condição, o homem caminha para a perdição eterna,
uma vez que o "salário do pecado (injustiça) é a morte...", Rm
6.23.
-
Uma parábola importante para ilustrar a presente verdade, é a Parábola da
Ovelha Perdida, Lc 15.4-7, "4 Qual de vós é o homem que, possuindo
cem ovelhas, e perdendo uma delas, não deixa as noventa e nove no deserto, e
não vai após a perdida até que a encontre? 5 E achando-a, põe-na sobre os
ombros, cheio de júbilo; 6 e chegando a casa, reúne os amigos e vizinhos e lhes
diz: Alegrai-vos comigo, porque achei a minha ovelha que se havia perdido. 7
Digo-vos que assim haverá maior alegria no céu por um pecador que se arrepende,
do que por noventa e nove justos que não necessitam de arrependimento".
Observe a "festa" ocasionada pelo encontro da ovelha extraviada!
Assim também, há uma grande festa nos céus quando um pecador reconhece o seu estado
de miserabilidade perante Deus, se arrepende e volta ao aprisco divino.
4.
Outras passagens bíblicas nos esclarecem ainda mais sobre esta verdade:
a)
Sobre Jesus:
-
Veio não para julgar, mas sim salvar, Jo 3.17, "Porque Deus
enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o
mundo fosse salvo por ele". Ver ainda Jo 12.47, "E, se alguém
ouvir as minhas palavras, e não as guardar, eu não o julgo; pois eu vim, não
para julgar o mundo, mas para salvar o mundo".
-
É o único meio de salvação, At 4.12, "E em nenhum outro há
salvação; porque debaixo do céu nenhum outro nome há, dado entre os homens, em
que devamos ser salvos". Ver ainda 1 Tm 2.5, "Porque há um só
Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem".
b)
Sobre a salvação:
c)
É concedida mediante a graça de Deus, At 15.11, "Mas cremos
que somos salvos pela graça do Senhor Jesus, do mesmo modo que eles
também". Ver também Ef 2.8, "Porque pela graça sois salvos,
por meio da fé, e isto não vem de vós, é dom de Deus".
d)
É através da fé, At 16.30-31, "30 e, tirando-os para fora,
disse: Senhores, que me é necessário fazer para me salvar? 31 Responderam eles:
Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa.".
e)
Exige arrependimento e conversão do homem, Lc 24.47, "...e
que em seu nome se pregasse o arrependimento para remissão dos pecados, a todas
as nações, começando por Jerusalém". Ver ainda At 3.19,
"Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos
pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério, da presença do Senhor.
5.
Muitos outros textos poderíamos citar para falar sobre a doutrina da salvação.
Porém, julgamos que os apresentados são suficientes para mostrar o plano de
Deus em buscar e salvar perdido. Quem entra pela porta do aprisco, Jesus, é salvo!
II. SENDO A " PORTA",
JESUS CONCEDE A LIBERDADE DE IR E VIR PARA O HOMEM
1.
Perante o Criador, o homem tem livre-arbítrio. Olhando com atenção para a frase
"Se alguém entrar por mim ... entrará, e sairá...", v. 9, nos
deparamos com as palavras "entrará e sairá", o que nos sugere que
temos liberdade para receber a salvação de Deus, como também de recusá-la. Deus
não criou o homem como um "robô" movido a controle remoto, mas com
liberdade de escolha! Porém, assim como temos liberdade para escolher entre
aceitar ou recusar a vida de Deus, temos também responsabilidade para arcar com
nossos atos contrários à vontade soberana do Deus Eterno, bem como com suas
conseqüências!
2.
Este conceito de livre-arbítrio já é visto no Velho Testamento, onde Deus dá liberdade
de escolha ao homem em questões cruciais:
a)
Escolha entre a vida e o bem, a morte e o mal, "Vê que hoje te pus
diante de ti a vida e o bem, a morte e o mal", Dt 30.15. O povo
deveriam optar pela vida e o bem para receber o melhor de Deus. Poderia também
fazer opção pelo mal e a morte, e amargar o desastre da escolha.
b)
Escolha entre a vida e a morte, a bênção e a maldição, "O céu e a
terra tomo hoje por testemunhas contra ti de que te pus diante de ti a vida e a
morte, a bênção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e a tua
descendência", Dt 30.19. Como no versículo acima, a morte e a vida
são colocadas num paralelo entre a bênção e a maldição, alvos de escolha pelo
povo. Dependendo do rumo que tomassem, poderiam ser abençoados, ou
amaldiçoados.
c)
Escolha entre Deus e os deuses falsos, "Mas, se vos parece mal o
servirdes ao Senhor, escolhei hoje a quem haveis de servir; se aos deuses a
quem serviram vossos pais, que estavam além do Rio, ou aos deuses dos amorreus,
em cuja terra habitais. Porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor", Js
24.15. O povo havia tomado posse da terra, e Josué sabia da preferência de
alguns deles pela adoração de deuses cananitas. A opção para escolha fica a
critério do povo. Porém Josué é claro em sua tomada de posição: "Eu e a
minha casa serviremos ao Senhor".
d)
A opção de Moisés, "24 Pela fé Moisés, sendo já homem, recusou ser
chamado filho da filha de Faraó, 25 escolhendo antes ser maltratado com o povo
de Deus do que ter por algum tempo o gozo do pecado, 26 tendo por maiores
riquezas o opróbrio de Cristo do que os tesouros do Egito; porque tinha em
vista a recompensa", Hb 11.24-26. Observe que, embora Deus tivesse
preparado Moisés desde o seu nascimento para ser o libertador de seu povo da
escravidão egípcia, ele não foi forçado a deixar Egito e suas riquezas para
servir a Deus. Pelo contrário, ele o fez de livre e espontânea vontade!
3.
Deixando um pouco o conceito de livre-arbítrio do Velho Testamento, onde o povo
podia escolher entre vida e morte, entre bênção e maldição, entre o
Deus-Poderoso e outros deuses, voltemos ao Novo Testamento, onde a idéia da
liberdade de escolha pelo homem é mais abrangente, senão vejamos:
a)
Perder ou salvar a vida, "...pois, quem quiser salvar a sua vida
por amor de mim perdê-la-á; mas quem perder a sua vida por amor de mim,
achá-la-á", Mt 16.25. A liberdade de escolha entre salvar ou perder
a vida está em nossas mãos! É evidente que aqui Jesus está falando, não de
perder a vida física no sentido de morte física, mas perder a vida mundana,
para ter a vida de Deus!
b)
Crer ou não crer, "Quem crer e for batizado será salvo; mas quem
não crer será condenado", Mc 16.16. É pela fé que recebemos a
salvação! Mas, é pela falta de fé no Filho de Deus que podemos receber a
condenação. O ter fé, ou não ter fé, é do homem! Ou cremos, ou não cremos!
c)
Receber ou rejeitar, "11 Veio para o que era seu, e os seus não o
receberam. 12 Mas, a todos quantos o receberam, aos que crêem no seu nome,
deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus", Jo 1.11-
d)
Luz e trevas, "E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os
homens amaram antes as trevas que a luz, porque as suas obras eram más", Jo
3.19. Observe que o contexto deste versículo nos fala de fé, ou descrença
em Jesus (Jo 3.17-18). Quem crer não é julgado, mas quem não crer recebe
condenação, juízo! Qual é a razão de muitos não crerem? É porque amam
intensivamente o mundo (trevas) em detrimento da vida em Deus (luz).
4.
Certamente, como homens, está em nossas mãos, o aceitar ou rejeitar o plano
divino de salvação!
III. SENDO A "PORTA",
JESUS FORNECE ACESSO DE ALIMENTO ESPIRITUAL AO HOMEM
1.
"Se alguém entrar por mim ... achará pastagem", v.
2.
Jesus é o pastor por excelência! Nada descreve melhor o seu amor e cuidado
pelas suas ovelhas do que o Salmo 23, que nos versos 1-2, trata de sua
provisão de alimentos ao rebanho, "1 O Senhor é o meu pastor; nada me
faltará. 2 Deitar-me faz em pastos verdejantes; guia-me mansamente a águas
tranqüilas". Observe que o salmista não somente fala da garantia de comida
– "pastos verdejantes", como também faz alusão à bebida – "águas
tranqüilas". Debaixo do cuidado do Senhor nossa fome e sede são saciadas!
"Nada nos faltará"!
3.
Não podemos deixar de mencionar um detalhe significativo a nós mostrado no
Evangelho de João, onde o nosso alimento espiritual é o próprio Senhor, Jo
6.57, "Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai,
assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim".
-
Veja no texto a expressão: "...quem de mim se alimenta, também viverá por
mim". Assim como ao comermos, os alimentos se transformam em sangue,
cabelo, unhas, etc., mantendo a vida do nosso corpo, ao nos alimentarmos de
Jesus, sua vida será produzida em nós e nos manterá espiritualmente vivos!
-
Daí, a importância da Ceia do Senhor, que deve ser realizada periodicamente
pela Igreja, não somente para lembrar a morte e o sofrimento do Senhor - seu
objetivo principal (1 Co 11.24-25), mas também - como objetivo
secundário, para ativar nossa memória sobre o fato de que diariamente
precisamos nos alimentar de Jesus, mantendo desta maneira nossa vida espiritual
em dia!
4.
Outro meio de alimentação espiritual é a própria palavra de Deus, que gera em
nós crescimento:
a)
Ela é "o puro leite espiritual", 1 Pe 2.2,
"...desejai como meninos recém-nascidos, o puro leite espiritual, a fim de
por ele crescerdes para a salvação". Ao recebermos a salvação de Deus, não
podemos ficar estáticos, bebês eternos! Urge que cresçamos! A ração necessária
para o nosso crescimento, não é outra a não ser a própria Palavra de Deus, lida
e absorvida por nós. No dizer de Jeremias a Palavra precisa ser
"comida", "Acharam-se as tuas palavras, e eu as comi; e as tuas
palavras eram para mim o gozo e alegria do meu coração; pois levo o teu nome, ó
Senhor Deus dos exércitos", Jr 15.16.
b)
Ela deve ser praticada, Hb 5.12-14, "12 Pois, com efeito,
quando devíeis ser mestres, atendendo ao tempo decorrido, necessitais de que se
vos torne a ensinar os princípios elementares dos oráculos de Deus, e vos
haveis feito tais que precisais de leite, e não de alimento sólido. 13 Ora,
qualquer que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, pois é
criança; 14 mas o alimento sólido é para os adultos, os quais têm, pela
prática, as faculdades exercitadas para discernir tanto o bem como o mal".
-
Fica claro, que no início de nossa vida em Deus, precisamos buscar o
conhecimento de sua Palavra para crescermos espiritualmente. O nosso
crescimento espiritual será proporcional ao tempo que nos dedicarmos à leitura,
oração e meditação nas Escrituras. Quem não agir assim, não crescerá na sua
vida em Deus!
-
Porém, no dizer do escritor da Carta aos Hebreus, não podemos ficar apenas nos
"...princípios elementares dos oráculos de Deus". Na verdade, ele nos
exorta a praticar o que estamos aprendendo através da meditação e leitura da
Palavra. "E sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes...", Tg
1.22. A palavra "cumpridores", vem do grego "poihthv -
poietes" que em algumas versões é traduzida por "praticantes", o
que nos sugere que a leitura bíblica sem a devida prática, não produz vida, não
gera crescimento! No dizer de Tiago estaremos apenas "...enganando-nos a
nós mesmos", Tg 1.22.
5.
Se quisermos crescer em nossa vida espiritual, não podemos negligenciar a
comunhão como o Senhor e a leitura meditativa em sua Palavra!
CONCLUSÃO:
1.
Hoje pudemos ver Jesus declarando ser a "Porta". Ao ser a
"Porta", Ele nos oferece:
a.
salvação
para a alma;
b.
liberdade
de escolha;
c.
e
alimentação espiritual.
2.
Outras idéias poderiam ainda ser discutidas, como por exemplo: a segurança de
estar em seu abrigo, seu amor acolhedor, etc. Porém, cremos que os princípios
aqui discutidos serão úteis para aqueles que desejam aprofundar-se no estudo
das Escrituras, objetivando o melhor proveito. Que Deus os abençoe ricamente!