EU SOU A VIDEIRA VERDADEIRA
JO 15.1-5
Pr. José Antônio Corrêa
INTRODUÇÃO:
1.
No estudo passado tivemos a oportunidade de ver como Jesus, ao declarar-se o
"Caminho", "Verdade" e "Vida", se constitui no
único meio pelo qual o homem pode aproximar-se de Deus. Embora os homens
procurem apontar caminhos diferentes (religiões) que levam a Deus, sabemos
pelas Escrituras que o único caminho verdadeiro e seguro para conduzir o homem
à salvação e à vida eterna, é Jesus Cristo, o Filho de Deus. Lembrando o que
afirmou Pedro: "E em nenhum outro há salvação; porque debaixo do céu
nenhum outro nome há, dado entre os homens, em que devamos ser salvos", At
4.12. Sem Jesus, o homem está perdido, caminha sem direção e sem a verdade
de Deus. Está destinado à perdição eterna!
2.
Hoje estaremos finalizando a série "Eu Sou", com a última expressão
qualificativa aplicada pelo Filho de Deus, em seu ministério em favor dos
homens no Evangelho de João. Nosso estudo será desenvolvido a partir da
declaração "Eu sou a videira verdadeira". A videira era uma planta
muito conhecida dos contemporâneos de Cristo devido a sua grande utilidade. O
seu produto principal era a uva, de onde extraia o vinho, que se constituía
numa das principais fontes de alimentos do povo. É comum encontrarmos na
Palavra de Deus a expressão "pão e vinho", para referir-se à fartura
nas colheitas e à abundância de suprimentos. Como exemplo podemos ver Sl 4.7,
"Puseste no meu coração mais alegria do que a deles no tempo em que se
lhes multiplicam o trigo e o vinho".
I. COLOCANDO-SE COMO A VIDEIRA
VERDADEIRA, JESUS NOS RECEBE COMO RAMOS LEGÍTIMOS
1.
Ao olharmos para o livro de Gênesis, nos capítulos 1 e 2, iremos ver que o
Criador fez o homem "à sua imagem e semelhança", Gn 1.27,
"Criou, pois, Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e
mulher os criou". É certo, porém, que as palavras "imagem e semelhança",
não podem se referir à forma física do homem criado, uma vez que Deus é
Espírito (Jo 4.24), e espírito não é constituído de matéria. Então esta imagem
e semelhança só pode ser aplicada no sentido espiritual. Adão era semelhante a
Deus em seu espírito.
2.
Foi através do pecado e da queda que o homem perdeu esta semelhança com o
Criador, caindo nos laços da morte – maldição adquirida pela desobediência, Gn
3.19, "Do suor do teu rosto comerás o teu pão, até que tornes à terra,
porque dela foste tomado; porquanto és pó, e ao pó tornarás". As
expressões "...até que tornes à terra ... és pó e ao pó tornarás",
são uma referência clara à morte física, herança maldita deixada pelo pecado! A
partir de então, o vínculo com o Criador foi perdido e algo precisava ser feito
para a restauração do homem.
3.
Ainda no livro de Gênesis, o Senhor lança o fio-da-esperança, ao declarar:
"Porei inimizade entre ti e a mulher, e entre a tua descendência e a sua
descendência; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar", Gn
3.15. Temos aqui no dizer dos teólogos o "proto-evangelho", a
promessa divina de uma restauração futura do homem caído e perdido. Jesus, o
descendente de mulher (Gl 4.4), iria esmagar a cabeça da serpente, o diabo, que
foi o agente da queda. Deus cumpriu sua promessa ao enviar seu Filho ao mundo
em resgate do homem! No dizer do apóstolo Paulo, "...o qual se deu a si
mesmo em resgate por todos, para servir de testemunho a seu tempo", 1
Tm 2.6.
4.
Olhando o v. 5, de João 15, "Eu sou a videira; vós sois as
varas", podemos entender que o homem agora, ao passar pela restauração,
volta a se relacionar intimamente com Deus. A imagem e semelhança perdida pelo
pecado, é restaurada! Deus está para o homem, assim como o ramo está para a
videira! Novamente, podemos dialogar com o Criador através da oração, assim
como Adão falava com Deus "na viração do dia", Gn 3.8,
"E, ouvindo a voz do Senhor Deus, que passeava no jardim à
tardinha...".
5.
Algo, porém, não podemos nos esquecer - o homem é dependente de Deus. O tronco
pode existir sem os ramos, mas jamais os ramos poderão existir sem o tronco. É
através do tronco que o alimento e a seiva chegam e mantém a vida nos ramos.
Outro detalhe importante é que o ramo é da mesma natureza da videira, uma vez
que ele dela se alimenta e através dela sobrevive. É por isto que Pedro fala:
"...para que por elas vos torneis participantes da natureza divina,
havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo", 1
Pe 1.4.
6.
Por recebermos em nós a "natureza divina" ao nos convertermos,
precisamos agora, viver como filhos de Deus. Precisamos apresentar diante do
mundo as características de nossa nova natureza. Devemos lembrar que nos
tornamos "participantes da natureza divina", ao escaparmos da
"...corrupção, que pela concupiscência há no mundo". Somos diferentes
daqueles que não passaram pelo novo nascimento. É triste quando vemos pessoas
que se dizem cristãs, apresentarem um comportamento não condizente com a vida
em Deus.
7.
Quando não tínhamos a graça de Deus em nós, um comportamento mundano,
pecaminoso, corrupto, era até mesmo justificável, 1 Co 6.9-11, "9
Não sabeis que os injustos não herdarão o reino de Deus? Não vos enganeis: nem
os devassos, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os
sodomitas, 10 nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbedos, nem os
maldizentes, nem os roubadores herdarão o reino de Deus. 11 E tais fostes
alguns de vós; mas fostes lavados, mas fostes santificados, mas fostes
justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso Deus".
Embora Paulo comece falando de nossa vida pregressa, anterior ao recebimento da
Palavra de Deus, no final da assustadora lista de pecados, ele afirma:
"...tais fostes alguns de vós...". Isto nos mostra que antes de
conhecermos a Cristo, levamos uma vida promíscua, porém, o apóstolo conclui:
"...mas fostes santificados, ... justificados em nome do Senhor Jesus
Cristo e no Espírito do nosso Deus".
8.
Sim somos hoje os ramos da videira, e precisamos viver a vida de Deus!
II. COLOCANDO-SE COMO A VIDEIRA
VERDADEIRA, JESUS CRIA CONDIÇÕES PARA FRUTIFICARMOS EM SEU REINO
1.
Embora em algumas plantas o fruto possa aparecer no tronco, como na
jabuticabeira, no mamoeiro, etc., o natural é que os ramos produzam frutos. Ao
alimentarem-se da seiva, através do tronco, os ramos recebem as condições
naturais para frutificação. O mesmo acontece conosco como ramos da Videira -
Jesus Cristo. Recebemos em nós a vida de Deus, criando-nos condições para a
devida frutificação no reino. Deus quer que seus filhos sejam produtivos!
Aquele que não produz precisa rever a sua posição de renascido!
2.
Contudo, para a produção de frutos seja satisfatória, precisamos observar
alguns detalhes importantes:
a)
Precisamos permitir o trabalhar de Deus em nós, v. 2, "...ele
a limpa, para que dê mais fruto". Assim como poda dos ramos defeituosos,
secos, doentes, ativa os ramos produtivos, para que produzam em maior escala,
devemos nos colocar diante de Deus, permitindo que sua Palavra nos corte,
limpando as arestas, para nos tornar mais produtivos. Não nos esqueçamos o fato
de que o verdadeiro discípulo deve permanecer sempre limpo, em condições de
frutificação - "vós já estais limpos pela palavra que vos tenho
falado", v. 3.
b)
Para que Deus possa trabalhar em nós na produção de abundantes frutos,
precisamos permanecer em Jesus, v. 4, "Permanecei em mim, e eu
permanecerei em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não
permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim". O
verbo "permanecer", vem do termo grego "menw - meno", com a
idéia de "manter", "ser segurado", "firmar-se".
Devemos nos manter em Cristo, nos firmando cada dia mais na Palavra, tendo um
propósito firme de produzirmos frutos!
c)
Devemos ser conscientes de que só seremos produtivos através de graça de
Cristo em nós, v. 5, "...porque sem mim nada podeis
fazer". O grande problema de muitos que se dizem "filhos de
Deus", está no fato de que querem trabalhar apenas com suas próprias
forças. Devido à sua petulância, acham que são capazes de trabalhar no reino de
Deus, sem o poder do Espírito Santo (At 1.8). Certamente, Deus usa
nossas capacitações pessoais como intelecto, conhecimento, talentos, etc., mas,
se não dependermos de Jesus, de sua ação em nós, de nada adiantarão quaisquer dotes
pessoais de nossa parte. Tais dotes, servirão apenas como mera exibição, sem
qualquer fruto permanente!
3.
Conscientes dos detalhes acima expostos, estaremos em condições para
produzirmos com abundância no reino. Com certeza, Deus quer ver em nós uma
frutificação abundante, v. 8. "Nisto é glorificado meu Pai, que
deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos". Observe a frase:
"Nisto é glorificado meu Pai...". Ou seja, através da nossa
frutificação, o nome de Deus é glorificado! Percorrendo outros textos da
Escritura, podemos ver como Deus almeja frutificação de seus filhos.
A frutificação:
a)
É uma característica fundamental dos convertidos, Mt 13.23,
"Mas o que foi semeado em boa terra, este é o que ouve a palavra, e a
entende; e dá fruto, e um produz cem, outro sessenta, e outro trinta".
b)
É uma exigência de Deus, Rm 7.4, "Assim também vós, meus
irmãos, fostes mortos quanto à lei mediante o corpo de Cristo, para
pertencerdes a outro, àquele que ressurgiu dentre os mortos a fim de que demos
fruto para Deus".
c)
Está associada à sabedoria divina, Tg 3.17, "Mas a sabedoria
que vem do alto é, primeiramente, pura, depois pacífica, moderada, tratável,
cheia de misericórdia e de bons frutos, sem parcialidade, e sem hipocrisia".
d)
Não pode ser negligenciada sob o risco de perda da recompensa, 2 Jo 8,
"Olhai por vós mesmos, para que não percais o fruto do nosso trabalho,
antes recebeis plena recompensa".
4.
Precisamos viver de acordo com o conselho de Paulo aos colocenses, Cl 1.10,
"... para que possais andar de maneira digna do Senhor, agradando-lhe em
tudo, frutificando em toda boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus".
III. COLOCANDO-SE COMO VIDEIRA
VERDADEIRA, JESUS REJEITA RAMOS ESTRANHOS
1.
Um fato importante precisamos destacarmos aqui. Periodicamente a videira
precisa passar pelo processo da poda, que nada mais é do que a exclusão, o
corte, de ramos secos, doentes, improdutivos, etc. Se tais ramos não forem
removidos no tempo certo, poderão comprometer a produção de frutos. Cumpre ao
agricultor inspecionar, selecionar, quais os ramos que deverão ser cortados. No
ensino de Jesus neste capítulo, a videira é Jesus e o Pai é o Agricultor. É
Deus quem corta do rebanho vidas que não se converteram de fato, que não passaram
pelo novo nascimento (Jo 3.3).
2.
O critério de Deus para o corte, pode ser notado no v. 2: "Toda
vara em mim que não dá fruto, ele a corta...". Observe: o crente foi
chamado e salvo para produzir frutos! A falta de frutificação nos identificará
como não-renascidos, não-convertidos, e portanto, sujeitos à poda. O verdadeiro
crente, que agora possui dentro de si o Espírito Santo e a natureza de Deus,
não ficará improdutivo. Assim como a árvore frutífera não precisa esforçar-se
para apresentar frutos, o que acontece de forma natural, o verdadeiro filho de
Deus também não precisa de quaisquer esforços ou artifícios para ser produtivo
no reino. Basta a ele viver a vida de Deus, que os frutos serão uma
conseqüência!
3.
Porém, quanto àqueles que se dizem crentes, mas não o mostram através da
frutificação, a Palavra de Deus os julgará e serão cortados:
a)
Machado à raiz, Mt 3.10, "E já está posto o machado à raiz
das árvores; toda árvore, pois que não produz bom fruto, é cortada e lançada no
fogo". Neste texto, João Batista pregava contra os religiosos de seu tempo
que se gabavam em cima de uma religião hipócrita, de aparência. Seus atos não
eram correspondentes com sua pregação! Muita lei, muita fala, muitos colóquios!
Mas, a vida religiosa autêntica era deficiente e ficava a desejar. Por esta
razão o machado do juízo divino estava pronto para ser usado!
b)
Juízo exemplificado, Lucas 13.7, "Disse então ao viticultor:
Eis que há três anos venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho;
corta-a; para que ocupa ela ainda a terra inutilmente?" O enredo desta
história nos é mostrado no verso anterior (6). Certo homem possuía uma figueira
plantada em sua propriedade e por três anos consecutivos não encontrou nela
qualquer fruto, decidindo, então, cortá-la. Por conselho de seu empregado, sob
a promessa de estercá-la, numa última tentativa para fazê-la produzir, decidiu
esperar mais um ano. Caso neste último ano a figueira não produzisse seria
irremediavelmente cortada (9). Jesus queria ensinar a seus discípulos a
importância da frutificação para aqueles que são filhos de Deus. Sem
frutificação, cedo ou tarde ocorrerá o corte!
c)
Juízo na segunda vinda do Senhor, Jd 12-15 "12 Estes são os
escolhidos em vossos ágapes, quando se banqueteiam convosco, pastores que se
apascentam a si mesmos sem temor; são nuvens sem água, levadas pelos ventos;
são árvores sem folhas nem fruto, duas vezes mortas, desarraigadas; 13 ondas
furiosas do mar, espumando as suas próprias torpezas, estrelas errantes, para
as quais tem sido reservado para sempre o negrume das trevas. 14 Para estes
também profetizou Enoque, o sétimo depois de Adão, dizendo: Eis que veio o
Senhor com os seus milhares de santos, 15 para executar juízo sobre todos e convencer
a todos os ímpios de todas as obras de impiedade, que impiamente cometeram, e
de todas as duras palavras que ímpios pecadores contra ele proferiram".
-
Neste caso, Judas está denunciando os líderes religiosos falsos, que embora
sejam destaques no meio do povo de Deus, são como "...nuvens sem água,
levadas pelos ventos..." e "...árvores sem folhas nem fruto...".
Estas duas figuras são contundentes. As nuvens sem água para nada servem, a não
ser para alimentar a falsa esperança de que pode haver alguma chuva em tempo de
grande seca; as árvores sem folhas e sem fruto, não servem sequer para sombra
em dia de calor. Em outras palavras, são líderes que não têm a vida de Deus
neles. Judas é contundente: "Eis que veio o Senhor ... para executar
juízo...". Tais elementos corruptores do povo de Deus, não ficarão
impunes!
4.
Sim, Deus julgará e cortará aqueles que são improdutivos!
CONCLUSÃO:
1.
Ao declarar-se como a Videira Verdadeira, o Senhor Jesus:
a)
nos recebeu como ramos legítimos;
b)
criou condições para que sejamos produtivos;
c)
julgará os crentes falsos; serão cortados pelo juízo divino.
2.
Como filhos legítimos de Deus, devemos nos firmar cada dia em sua Palavra,
apresentando um viver condigno com a nossa posição! Devemos viver da vida
cristã como simplicidade e humildade, que os frutos da justiça certamente
aparecerão. Repetindo o conselho de Paulo aos colocenses devemos:
"...andar de maneira digna do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando
em toda boa obra, e crescendo no conhecimento de Deus", Cl 1.10.
Devemos ajuntar "...fruto para a vida eterna; para que o que semeia e o
que ceifa juntamente se regozijem", Jo 4.36.