EU SOU O BOM PASTOR
JO 10.11-14
Pr. José Antônio Corrêa
INTRODUÇÃO:
1.
Vamos relembrar um pouco sobre o estudo anterior, onde vimos Jesus
declarando-se a Porta. Como a Porta, Jesus oferece acesso para aqueles que
buscam a vida de Deus, a salvação eterna – "se alguém entrar por mim ,
será salvo", v. 9. Ainda como a Porta, o Senhor dá plena liberdade
de escolha para o homem, que tanto pode aceitar, como rejeitar o plano de
salvação de Deus - "Se alguém entrar por mim ... entrará, e sairá...",
v. 9. Por último, vimos que como a Porta, o Mestre, oferece o verdadeiro
alimento espiritual para suas ovelhas - "Se alguém entrar por mim ...
achará pastagem", v. 9.
2.
Hoje estaremos vendo Jesus como o pastor das ovelhas. O pastor de ovelhas era
um personagem muito conhecido nos tempos bíblicos, isto porque a região da
Palestina, uma região agropastoril, favorecia a formação de rebanhos, tanto de
gado, como de ovelhas, sendo este último o mais comum. Todo israelita tinha
contato com pastores de ovelhas, e sabiam distinguir entre um pastor
verdadeiro, que se dedicava de corpo e alma ao rebanho, e o pastor mercenário,
que trabalhava na profissão apenas para obter rendimentos financeiros.
3.
É nesse contexto que observamos Jesus colocando-se como "O Bom Pastor".
Vejamos quais são as características envolvidas:
I. COMO BOM PASTOR, JESUS DEU A
VIDA PELAS SUAS OVELHAS
1.
Devemos observar de início a frase: "o bom pastor dá a sua vida pelas
ovelhas", v. 11. Muitos eram os perigos que rondavam o rebanho:
animais ferozes - lobos, leões, etc.; animais peçonhentos - cobras, escorpiões,
etc.; perigos naturais como, como por exemplo, os vegetais venenosos que podiam
intoxicar as ovelhas ao serem ingeridos; ladeiras, buracos, abismos, nos quais
o animal podia cair, além de vários outros perigos constantes.
2.
Em razão dos perigos mencionados, que se constituíam em constantes ameaças ao
rebanho, o pastor deveria dedicar-se extremamente. Em algumas ocasiões, quando
o perigo envolvia ataque de animais ferozes, ao defender suas ovelhas, o pastor
corria risco de vida. O "bom pastor" era capaz de até mesmo morrer em
defesa de uma pequena ovelha! É nesse contexto que Jesus declara: "Eu sou
o bom pastor que dá a vida pelas ovelhas". Sabemos que o Senhor viveu esta
declaração na prática quando ofereceu-se a si mesmo por nós! Senão, vejamos:
a)
Sua entrega profetizada, Mt 20.18-19, "18 Eis que subimos a
Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos principais sacerdotes e aos
escribas, e eles o condenarão à morte 19 e o entregarão aos gentios para que
dele escarneçam, e o açoitem e crucifiquem; e ao terceiro dia
ressuscitará". Jesus estava falando de sua última viagem para Jerusalém,
onde seu ministério terreno seria encerrado! Sabemos que em muitas outras
ocasiões o Senhor tinha ido à Jerusalém, mas com o objetivo de participar das
festividades judaicas, como a Festa da Páscoa, do Pentecoste, etc. Porém agora
ele descia para ser entregue aos religiosos e ser condenado à morte.
b)
Sua entrega foi causa de nossos pecados, Rm 4.25, "...o qual
foi entregue por causa das nossas transgressões, e ressuscitado para a nossa
justificação". Sabemos que o "salário do pecado é a morte", Rm
6.23; e de acordo com os princípios da Palavra de Deus, somente poderia
haver remissão de pecados através do sangue de uma vítima destinada ao
sacrifício, "...segundo a lei, se purificam com sangue; e sem derramamento
de sangue não há remissão", Hb 9.22. Cristo cumpriu os requisitos
legais, declarando-nos justos, remidos diante do Criador, Rm 5.1,
"Justificados, pois, pela fé, tenhamos paz com Deus, por nosso Senhor
Jesus Cristo".
c)
Sua Entrega foi motivada pelo amor, Gl 2.20, "Já estou
crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida
que agora vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se
entregou a si mesmo por mim". E não poderia ser diferente. Não fosse o
amor de Deus pelo pecador, seu Filho não teria sido entregue, Ef 2.4-5,
"4 Mas Deus, sendo rico em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos
amou, 5 estando nós ainda mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente
com Cristo". Observe a frase "...seu muito amor", que nos traz a
idéia de intensidade.
d)
Sua Entrega foi em oferta e sacrifício a Deus, Ef 5.2, "...e
andai em amor, como Cristo também vos amou, e se entregou a si mesmo por nós,
como oferta e sacrifício a Deus, em cheiro suave". A vítima escolhida
deveria ser sacrificada em "oferta e sacrifício a Deus". A fumaça que
subia quando o sacrifício era queimado sobre o altar era "cheiro
suave" ao Senhor, Lv 1.9, "...e o sacerdote queimará tudo isso
sobre o altar como holocausto, oferta queimada, de cheiro suave ao
Senhor". Quando Cristo foi pregado naquela cruz, o seu sacrifício subiu
aos céus em aroma agradável a Deus. A redenção do homem estava consumada!
3.
Sim, como o Bom Pastor, Jesus deu a sua vida por nós, numa demonstração de
profundo amor, 1 Jo 3.16, "Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu
a sua vida por nós". Não poderia de fato haver um amor maior do que este!
II. COMO BOM PASTOR, JESUS CUIDA DE
SUAS OVELHAS
1.
Em razão dos perigos já mencionados, muitas vezes as ovelhas se viam às voltas
com machucados provocados por quedas. Às vezes eram infestadas por espinhos,
carrapichos ou eram picadas por serpentes e outros animais peçonhentos, além de
sofrerem ferimentos ocasionados por ataques de animais ferozes. A ovelha
ferida, machucada, sangrando, necessitava de um cuidado especial do pastor!
Normalmente era acolhida com carinho até à cura completa!
2.
É nesse contexto que surge Jesus, o Bom Pastor! Quantas vezes, como filhos de
Deus somos machucados, feridos e precisamos de um ombro amigo para
acalentar-nos, nos dar afago. Embora, muitos irmãos sinceros possam nos acolher
nos momentos críticos, somente alguém especial, Jesus, o Bom Pastor, pode nos
dar o alívio imediato e seguro! É nos seus braços que encontramos proteção,
segurança, carinho! Vejamos como Deus nos promete o ombro amigo, o aconchego,
através de sua Palavra:
a)
Sl 42.11, "Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas
dentro de mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei, a ele que é o meu
socorro, e o meu Deus". Pelo teor de suas palavras, o salmista se mostra
amargurado, perturbado, abatido, transtornado! Mas, sua confiança no socorro do
Senhor, o impulsiona a louvá-lo, ainda que seja num futuro próximo e mesmo em
meio a tantas contrariedades. Há crentes que ao passagem pelas provações se
"encaramujam", trancam-se em si mesmos, retendo o louvor devido a
Deus. Nada deve nos impedir de louvar ao Senhor! Paulo nos diz: "Em tudo
dai graças", 1 Ts 5.18.
b)
Sl 46.1, "Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente
na angústia". O salmista reconhece, acima de qualquer coisa que Deus é o
seu refúgio e fortaleza para as horas incertas! A palavra "refúgio",
vem do hebraico "hoxm - machaceh" – "abrigo de perigos",
"esconderijo" e a palavra "fortaleza" é o hebraico "ze
- `oz" – "lugar alto", "fortificação". Aplicado os
significados destas palavras, queremos dizer que estando em Deus, estaremos
seguros, protegidos de toda e qualquer ameaça de nossos inimigos,
principalmente quando estamos debilitados pelos embates da vida! Ele é a nossa
fortificação, nosso abrigo seguro!
c)
Sl 121.1-3, "1 Elevo os meus olhos para os montes; de onde me vem o
socorro? 2 O meu socorro vem do Senhor, que fez os céus e a terra. 3 Não
deixará vacilar o teu pé; aquele que te guarda não dormitará". Novamente,
vemos o salmista em apuros! Necessitava urgentemente de socorro! Certamente,
ele sabia que este socorro não poderia ser prestado por homem algum, por melhor
amigo que lhe fosse. Seu escape somente poderia chegar pelas vias divinas. Deus
iria guardá-lo e seus pés seriam firmados na rocha.
d)
Sl 40.17, "Eu, na verdade, sou pobre e necessitado, mas o Senhor
cuida de mim. Tu és o meu auxílio e o meu libertador; não te detenhas, ó Deus
meu". A situação não era diferente das situações anteriores. Sentia-se, o
salmista, "pobre", "necessitado". Porém, acima de tudo, sua
confiança em Deus, o fazia sentir-se seguro. Tinha certeza de que o cuidado de
Deus na hora certa se manifestaria em seu favor!
3.
Jesus é o Bom Pastor que cuida de uma maneira especial de cada um de nós. Nada
melhor expressa este cuidado do Senhor para com aqueles que se mantém fiéis, do
que as palavras de Pedro: "lançando sobre ele toda a vossa ansiedade,
porque ele tem cuidado de vós, 1 Pe 5.7. Não devemos viver na ansiedade!
Devemos descansar no cuidado divino!
III. COMO BOM PASTOR, JESUS CONHECE
SUAS OVELHAS E ELAS TAMBÉM O CONHECEM
1.
Considerando a expressão: "...conheço as minhas ovelhas, e elas me
conhecem", Jo 10.14, podemos deduzir que uma das principais
características do pastor de ovelhas, é ele conhece suas ovelhas, até mesmo
pelos seus próprios nomes. Em contrapartida suas ovelhas também o conhecem, e o
seguem, "Depois de conduzir para fora todas as que lhe pertencem, vai
adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz", Jo
10.4. Porém quando um estranho se aproxima, as ovelhas certamente não o
reconhecerão; fugirão dele ao ouvirem a sua voz, "...mas de modo algum
seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos
estranhos", Jo 10.5.
2.
Este é o tipo de relacionamento desenvolvido entre o verdadeiro pastor e suas
ovelhas. Há como que uma intimidade no tratamento, no cuidado! Pela maneira
como o pastor conduz o rebanho, receberá reciprocidade, um carinho especial dos
animais. Todo animal gosta de ser bem cuidado! Assim também acontece no
relacionamento de Jesus, o Bom Pastor, com suas ovelhas. Ele não somente nos
conhece, mas cuida de nós! Providencia os meios que para levemos uma vida de
paz na sua presença!
3.
Ao olharmos para a Palavra de Deus podemos ver muitos textos que nos falam
sobre o conhecimento que Deus tem de cada um de nós:
a)
Sl 139.1-4, "1 Senhor, tu me sondas, e me conheces. 2 Tu conheces o
meu sentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento. 3 Esquadrinhas
o meu andar, e o meu deitar, e conheces todos os meus caminhos. 4 Sem que haja
uma palavra na minha língua, eis que, ó Senhor, tudo conheces". O presente
texto não somente nos mostra o conhecimento de Deus acerca do homem, mas nos
mostra um conhecimento detalhista. Deus conhece o meu sentar, levantar; conhece
os meus pensamentos, os meus caminhos, sem que eu me expresse! Na verdade, o
Senhor penetra a profundezas de meu ser. O verbo "esquadrinhar", vem
do hebraico "hrz - zarah" – "peneirar",
"esparramar", "examinar com minúcia". É desta forma que
Deus nos sonda e nos conhece!
b)
Jo 13.18, "Não falo de todos vós; eu conheço aqueles que escolhi;
mas para que se cumprisse a escritura: O que comia do meu pão, levantou contra
mim o seu calcanhar". Aqui, Jesus demonstra conhecer a trama da traição;
muito antes dela ocorrer, o Senhor conhecia o que se passava no coração do
traidor Judas Iscariotes. Enquanto ele maquinava entregá-lo aos religiosos,
nada escapava aos olhos de Jesus! Jo 13.10-11, "10 Declarou-lhe
Jesus: Quem já se banhou não necessita de lavar senão os pés; quanto ao mais,
está todo limpo. Ora, vós estais limpos, mas não todos. 11 Pois ele sabia quem
era o traidor. Foi por isso que disse: Nem todos estais limpos". Veja a
expressão: "...ele sabia quem era o traidor", o que demonstra o
controle que o Mestre tinha daquela situação.
c)
Ap 2.19, "Conheço as tuas obras, e o teu amor, e a tua fé, e o teu serviço,
e a tua perseverança, e sei que as tuas últimas obras são mais numerosas que as
primeiras". Como Igreja de Cristo, também estamos sendo observados! O
Senhor declara conhecer as obras, o amor, a fé, a perseverança, da Igreja de
Tiatira. Sabia até mesmo de sua tolerância para com uma falsa profetiza, que
agindo em seu meio, estava induzindo os filhos de Deus ao pecado, v. 20,
"Mas tenho contra ti que toleras a mulher Jezabel, que se diz profetisa;
ela ensina e seduz os meus servos a se prostituírem e a comerem das coisas
sacrificadas a ídolos". Como Igreja de Deus, devemos ser conscientes de
que nossos passos estão sendo observados pelo Senhor da Igreja!
4.
Da mesma forma que o Senhor nos conhece, precisamos também conhecê-lo, assim
como as ovelhas conhecem o seu pastor. Oséias nos fala de um conhecimento
progressivo de Deus, "Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor; a
sua saída, como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como a chuva
serôdia que rega a terra", Os 6.3. Não somente devemos conhecer a
Deus, mas também progredir neste conhecimento! Jamais conheceremos
completamente a Deus enquanto estivermos neste mundo. Porém há uma promessa de
que um dia o conheceremos como ele é, "Amados, agora somos filhos de Deus,
e ainda não é manifesto o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se
manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é, o veremos", 1
Jo 3.2. O verbo "ver" da expressão: "...porque assim como é,
o veremos", vem do grego "optanomai", que significa "permitir
ver o interior da pessoa, o seu ego".
5.
Sabendo que o Senhor nos conhece profundamente, precisamos agir de maneira a
não desagradá-lo, cientes de que ele vigia nossas ações. Mas também, ao mesmo
tempo, busquemos conhecê-lo através de sua Palavra e de uma intimidade com seu
Espírito Santo.
CONCLUSÃO:
1.
No presente estudo vimos que Jesus como Bom Pastor:
a)
Deu a vida pelas suas ovelhas;
b)
Cuida de seu rebanho;
c)
Conhece suas ovelhas individualmente.
2.
Olhando para o cuidado do Senhor conosco, precisamos dar-lhe reciprocidade.
Temos amado a Deus, agradecidos por tudo o que fez por nós? Temos buscado
conhecê-lo, através de uma leitura meditativa de sua Palavra, e de uma comunhão
como seu Espírito? Temos nos lançado à sua obra e à pregação de sua Palavra?
Quantas coisas precisamos corrigir! Temos o melhor de Deus e muitas vezes não
queremos dar-lhe o mínimo! Que aprendamos a amar a Deus com intensidade e a
viver uma vida que glorifique o seu nome.