ISAQUE – CARACTERÍSTICAS DO
VERDADEIRO HOMEM DE DEUS
GN 26.1-35
Pr. José Antônio Corrêa
INTRODUÇÃO:
1.
Ao olharmos para a vida de Isaque, veremos nele um servo de Deus que procurou
obedecer ao Senhor em tudo. Porém, assim como outros patriarcas, ele teve em
sua vida falhas, erros, pecados que de uma certa maneira mancharam sua
existência terrena. Tais falhas aconteceram porque Isaque, como também todos os
homens, herdou a natureza pecaminosa de Adão. Embora, ele fosse falho, podemos
destacar em sua vida, algumas qualidades que o dignificaram como um verdadeiro
filho de Deus de sua época.
2.
O texto que lemos, nos mostra Deus falando a Isaque que não descesse ao Egito,
a grande potência daquele tempo, mas que ele saísse em peregrinação à terra de
Canaã. Ele saiu com a promessa de que o Senhor daria a posse daquela terra à
sua posteridade, promessa esta já feita a Abraão, em anos anteriores. Isaque
obedeceu a voz divina, porém ao peregrinar sobre a terra, precisou conviver com
a hostilidade dos filisteus, que também habitavam aquela região.
3.
Desta convivência hostil com os filisteus, podemos observar na vida de Isaque:
"ALGUMAS CARACTERÍSTICAS DO
VERDADEIRO HOMEM DE DEUS"
I. O HOMEM DE DEUS NÃO É ISENTO DE
DEFEITOS
VS. 7-11
"6
Assim habitou Isaque em Gerar. 7 Então os homens do lugar perguntaram-lhe
acerca de sua mulher, e ele respondeu: É minha irmã; porque temia dizer: É
minha mulher; para que porventura, dizia ele, não me matassem os homens daquele
lugar por amor de Rebeca; porque era ela formosa à vista. 8 Ora, depois que ele
se demorara ali muito tempo, Abimeleque, rei dos filisteus, olhou por uma
janela, e viu, e eis que Isaque estava brincando com Rebeca, sua mulher. 9
Então chamou Abimeleque a Isaque, e disse: Eis que na verdade é tua mulher;
como pois disseste: E minha irmã? Respondeu-lhe Isaque: Porque eu dizia: Para
que eu porventura não morra por sua causa. 10 Replicou Abimeleque: Que é isso
que nos fizeste? Facilmente se teria deitado alguém deste povo com tua mulher,
e tu terias trazido culpa sobre nós. 11 E Abimeleque ordenou a todo o povo,
dizendo: Qualquer que tocar neste homem ou em sua mulher, certamente
morrerá".
1.
Isaque, como todo servo de Deus, teve falhas em sua vida. Habitando no meio dos
filisteus, mentiu acerca de Rebeca sua mulher, dizendo que ela era sua irmã,
temeroso por sua própria vida, pois acreditava que se falasse a verdade,
aqueles homens o matariam para ficar com sua mulher. Porém sua trama foi
descoberta por Abimeleque, rei dos filisteus, que o repreendeu e ao mesmo tempo
deu uma ordem ao seu povo para que não tocassem em Rebeca.
2.
Este episódio em sua vida foi semelhante ao episódio ocorrido com Abraão e
Sara, seus pais, quando estiveram no Egito, Gn 12.11-13, "11 Quando
ele estava prestes a entrar no Egito, disse a Sarai, sua mulher: Ora, bem sei
que és mulher formosa à vista; 12 e acontecerá que, quando os egípcios te
virem, dirão: Esta é mulher dele. E me matarão a mim, mas a ti te guardarão em
vida. 13 Dize, peço-te, que és minha irmã, para que me vá bem por tua causa, e
que viva a minha alma em atenção a ti".
3.
Mesmo que Isaque, ou Abraão tenham mentido para salvar a própria
"pele", Deus não compactuaria com eles. Sabemos que a mentira não
deve fazer parte da vida de um filho de Deus! A Bíblia em Jo 8.44,
afirma que quem mente é filho do Diabo, que é o pai da mentira: "Vós
tendes por pai o Diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele é
homicida desde o princípio, e nunca se firmou na verdade, porque nele não há
verdade; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio; porque é
mentiroso, e pai da mentira". Certamente Deus não se agradou de Isaque em
sua mentira! Porém, precisamos entender que um filho de Deus, pode ter falhas,
cometer pecados. Queremos percorrer alguns textos da Palavra de Deus que nos
advertem sobre o fato de que não somos impecáveis, sem erro:
a)
Rm 7.17-24, "17 Agora, porém, não sou mais eu que faço isto, mas o
pecado que habita em mim. 18 Porque eu sei que em mim, isto é, na minha carne,
não habita bem algum; com efeito o querer o bem está em mim, mas o efetuá-lo
não está. 19 Pois não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse
pratico. 20 Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que
habita em mim. 21 Acho então esta lei em mim, que, mesmo querendo eu fazer o
bem, o mal está comigo. 22 Porque, segundo o homem interior, tenho prazer na
lei de Deus; 23 mas vejo nos meus membros outra lei guerreando contra a lei do
meu entendimento, e me levando cativo à lei do pecado, que está nos meus
membros. 24 Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta
morte?".
-
O presente texto da Palavra de Deus nos mostra o apóstolo Paulo diante de um
grande dilema: conviver com sua natureza pecaminosa, carnal, e ao mesmo tempo
levar uma vida santificada para Deus. Ele nos mostra sua luta interna em querer
fazer o bem, mas uma força contrária, a natureza de Adão enraizada nele, o
arrastando para o mal. Seu pior inimigo, era ele próprio, sua carne! Enquanto
estamos neste mundo, precisamos travar uma tremenda luta contra nossas
tendências pecaminosas, porque como Paulo, o mal nos perseguirá. Em outro
texto, o grande apóstolo nos fala desta horrenda batalha entre a carne e o
espírito do homem, Gl 5.17, "Porque a carne luta contra o Espírito,
e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais
o que quereis".
-
Sabendo que carne é inimiga de Deus, pois Deus é Espírito, precisamos
"andar no Espírito", afastando continuamente estas inclinações de
nossa vida, para vivermos uma vida em Deus, Rm 8.13, "porque se
viverdes segundo a carne, haveis de morrer; mas, se pelo Espírito mortificardes
as obras do corpo, vivereis". A vida em Deus, deve ser "em
Espírito" e não "na carne"! Porém, não devemos nos surpreender
se em alguma ocasião nossa carne ressurgir e assumir o comando, nos causando
estragos irreparáveis. Precisamos caminhar a vida cristã com muito cuidado,
procurando estabelecer o domínio do espírito contra a carne!
b)
Jo 1.10, "Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo
mentiroso, e a sua palavra não está em nós".
-
Observe como João se inclui (ele usa o pronome na segunda pessoa –
"nós") entre aqueles que cometem pecado. Ora, João, como também Paulo
não estão usado de falsa modéstia, falando o que não é verdade, apenas para
darem a impressão que estão se igualando a nós. Eles falam de uma realidade que
de fato viviam, como nós também vivemos, ou seja "somos pecadores".
Todos nós, queiramos ou não, fomos atingidos pelo vírus do pecado herdado de
Adão, Rm 5.12, "Portanto, assim como por um só homem entrou o
pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os
homens, porquanto todos pecaram". Contudo, sabemos que aquele que passou
pela cruz de Cristo, teve seus pecados tratados, mas não a isenção absoluta de
pecar.
-
Ao analisar Jo 3.6, "Todo o que permanece nele não vive pecando;
todo o que vive pecando não o viu nem o conhece", e fazendo uma comparação
com o versículo citado (Jo 1.10), podemos achar que há entre estes dois textos
uma aparente contradição, sendo que, pode-se levantar a seguinte questão:
Crente peca, ou não peca? Porém, o que João nos ensina é que o filho de Deus,
embora esteja sujeito ao pecado e algumas vezes pode até mesmo pecar, o que não
pode acontecer é a prática habitual do pecado, uma vez que o verdadeiro cristão
passou pela regeneração e mesmo praticando o pecado acidentalmente, sua nova
natureza não tem mais prazer em pecar.
c)
Jo 1.9, "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para
nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça". Observe
novamente a partícula "nós", incluindo João entre aqueles que
precisam ter seus pecados tratados. Como crentes, ao pecarmos temos a quem
recorrer! Mediante a confissão, Jesus nos perdoa. Tal verdade nos mostra que
podemos até cair na prática do pecado, mas não podemos e nem precisamos
permanecer nele, uma vez que o antídoto contra o pecado já nos foi dado por
Deus, que é a confissão, mediante a qual somos purificados.
4.
Por tudo isso, devemos entender que somos pecadores, mas pecadores redimidos.
Se pecarmos acidentalmente, temos nosso advogado, Jesus Cristo, que pelo seu
sangue e mediante nossa confissão nos traz imediata libertação, Jo 2.1,
"Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não pequeis; mas, se
alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo".
II. O HOMEM DE DEUS DEVE SER
PRUDENTE
VS. 12-14
"12
Isaque semeou naquela terra, e no mesmo ano colheu o cêntuplo; e o Senhor o
abençoou. 13 E engrandeceu-se o homem; e foi-se enriquecendo até que se tornou
mui poderoso; 14 e tinha possessões de rebanhos e de gado, e muita gente de
serviço; de modo que os filisteus o invejavam".
1.
Quando Isaque se estabeleceu naquela terra, nos diz o texto que "...semeou
... e no mesmo ano colheu o cêntuplo". Observe que Isaque poderia ter
comido as sementes que estavam em suas mãos, como muitos fazem. Mas não fez
isso. Antes, lançou a semente à terra e pôde colher em abundância. Temos aqui
uma lição de inteligência e ao mesmo tempo de prudência. O prudente é aquele
que se prepara para o amanhã e não aquele que vive apenas o hoje, Pv 6.6-8,
"6 Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos, e sê
sábio;
2.
Este princípio se aplica também ao terreno espiritual: "... pois tudo o
que o homem semear, isso também ceifará", Gl 6.7. Na verdade, a
abundância de nossa colheita será proporcional à quantidade de sementes
lançadas. Se na lavoura, a multiplicação da semente pode chegar ao cêntuplo, o
mesmo também se aplica às verdades espirituais. Deus nos abençoará na medida em
que semearmos. Observemos alguns textos abaixo:
a)
Mt 19.29, "E todo o que tiver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs,
ou pai, ou mãe, ou filhos, ou terras, por amor do meu nome, receberá cem vezes
tanto, e herdará a vida eterna". O presente texto faz alusão à proposta de
Jesus àqueles que são chamados para segui-LO. Certamente muitos dos seus
seguidores estavam preocupados com as perdas materiais que sofreriam por O
acompanharem. Diante da apreensão deles, o Senhor esclarece que não sofreriam
qualquer dano por tomarem a decisão de estarem com Ele. Pelo contrário, seriam
abençoados cem vezes mais sobre o que tivessem perdido. E ainda mais, teriam a
"vida eterna" garantida da eternidade!
b)
2Co 9.6, "Mas digo isto: Aquele que semeia pouco, pouco também
ceifará; e aquele que semeia em abundância, em abundância também ceifará".
Temos aqui o princípio da semeadura no Reino. A "abundância" da
colheita, ocorrerá, se houver "abundância" na semeadura. Muitos
crentes não são abençoados em sua vida espiritual e também na vida material,
porque são mesquinhos em sua contribuição para o Reino de Deus. Regulam tudo o
dão para Deus, e depois reclamam que a mão do Senhor está encolhida, Is 59.1,
"Eis que a mão do Senhor não está encolhida...".
c)
2Co 9.8-10, "8 E Deus é poderoso para fazer abundar em vós toda a
graça, a fim de que, tendo sempre, em tudo, toda a suficiência, abundeis em
toda boa obra; 9 conforme está escrito: Espalhou, deu aos pobres; a sua justiça
permanece para sempre. 10 Ora, aquele que dá a semente ao que semeia, e pão
para comer, também dará e multiplicará a vossa sementeira, e aumentará os
frutos da vossa justiça". Observe como funcionam os princípios do reino:
Quando abrimos nosso coração, Deus nos dará "ampla suficiência" em
tudo. Se é Ele quem nos dá a "semente" (o pouco que podemos
investir), também é Ele quem fará nossa "semeadura’ se multiplicar. O
mesquinho não entende esta verdade e por esta razão sofre as consequências de
seus atos. Simplesmente não pode desfrutar do melhor de Deus!
3.
Aquele que é prudente, faz como Isaque. Usa o que tem nas mãos como semente,
para colher abundantemente.
III. O HOMEM DE DEUS DEVE SER
PACIFICADOR
VS. 14-22
"14
e tinha possessões de rebanhos e de gado, e muita gente de serviço; de modo que
os filisteus o invejavam. 15 Ora, todos os poços, que os servos de seu pai
tinham cavado nos dias de seu pai Abraão, os filisteus entulharam e encheram de
terra. 16 E Abimeleque disse a Isaque: Aparta-te de nós; porque muito mais
poderoso te tens feito do que nós. 17 Então Isaque partiu dali e, acampando no
vale de Gerar, lá habitou. 18 E Isaque tornou a cavar os poços que se haviam
cavado nos dias de Abraão seu pai, pois os filisteus os haviam entulhado depois
da morte de Abraão; e deu-lhes os nomes que seu pai lhes dera. 19 Cavaram,
pois, os servos de Isaque naquele vale, e acharam ali um poço de águas vivas.
20 E os pastores de Gerar contenderam com os pastores de Isaque, dizendo: Esta
água é nossa. E ele chamou ao poço Eseque, porque contenderam com ele. 21 Então
cavaram outro poço, pelo qual também contenderam; por isso chamou-lhe Sitna. 22
E partiu dali, e cavou ainda outro poço; por este não contenderam; pelo que
chamou-lhe Reobote, dizendo: Pois agora o Senhor nos deu largueza, e havemos de
crescer na terra".
1.
Ao fixar-se naquela terra e por ser um homem abençoado por Deus, agraciado com
muitos animais e com muita gente de serviço, Isaque despertou grande inveja nos
filisteus, que se voltariam contra ele em forma de retaliação. Seus inimigos
começaram a entulhar os poços de água, anteriormente construídos pelo seu pai
Abraão. Diante daquela situação conflituosa, o Rei dos filisteus, Abimeleque,
pediu que Isaque saísse do meio deles, pois achava que o centro da contenda
fosse Isaque e sua gente.
2.
Saindo dali, Isaque foi para o vale de Gerar, para lá habitar. Novos poços
foram cavados, dos quais surgiram "águas vivas", (v. 19), que poderia
ser uma referência à águas de excelente qualidade potável. Novamente, ressurge
nova contenda! Agora eram os pastores de Gerar contendendo com os pastores de
Isaque, que disputavam as águas encontradas. Sempre que um poço era cavado,
vinham seus inimigos e ficavam com a posse dele. Isaque se mudava para outro
lugar, novamente vinham seus inimigos e começava tudo de novo!
3.
O que podemos deduzir desta particularidade na vida de Isaque é o fato de que
ele não era contencioso, briguento. Pelo contrário, fugia das brigas e das
contendas! Em outras palavras, "levava o desaforo para casa"! Como
ele era diferente de muitos de nós! Há crentes que vivem em eternas disputas
dentro da igreja. Ora disputam por um cargo de liderança, ora por defenderem
"suas opiniões". Tais irmãos acabam sempre sendo o palco de eternas
divisões, discórdias e dissensões no meio do povo de Deus. A Palavra de Deus
nos adverte que precisamos ser pacificadores e não "discordantes",
"conscienciosos" e não contenciosos. Vejamos:
a)
Mt 5.9 "Bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão
chamados filhos de Deus". Estamos diante de uma qualidade imprescindível
para aquele que quer fazer parte do reino. O integrante do reino deve ser um
"pacificador". Esta palavra vem do grego "eirhnopoiov" –
eirenopoios (lembre-se que esta palavra é uma derivação de "eirhnh"
(eirene) – "paz") e tem como significado "promotor da paz".
Não significa somente fugir de discórdias e contendas, mas também detectar o
foco delas e jogar "água benta", pacificando irmãos em disputas,
criando um clima de amizade e união no meio do povo de Deus.
b)
Rm 12.18, "Se for possível, quanto depender de vós, tende paz com
todos os homens". É verdade que há situações onde a pacificação não
depende somente de nós. Podemos ser "agraciados" com um inimigo
gratuito, que nos odeia sem causa! Porém, o apóstolo Paulo é claro: "...
se depender de vós, tende paz...". Em quase todas as ocasiões de conflito,
se houvesse a aplicação do princípio aqui colocado, a paz reinaria rapidamente.
O que acontece é justamente o contrário: muitos gostam de lançar "lenha ao
fogo", e a contenda se intensifica. Observe que Paulo não fala somente da
paz entre os irmãos, mas também da paz com "todos os homens", ou
seja, estão envolvidos também aqui, aqueles que não são convertidos, no meio
dos quais precisamos ser promotores da paz.
c)
Hb 12.14, "Segui a paz com todos, e a santificação, sem a qual
ninguém verá o Senhor". Temos aqui uma exortação do escritor da Carta aos
Hebreus, no sentido de que a paz deve ser "perseguida" a qualquer
custo. O verbo "seguir" é o termo grego "diwkw" – dioko,
que quer dizer "correr rapidamente para pegar uma pessoa ou coisa",
"buscar avidamente". Devemos buscar a paz a qualquer custo! Procurar
avidamente por ela! Note que a palavra paz é colocada junto com a palavra
santificação, onde o autor nos diz que "... sem a santificação ninguém
verá o Senhor". Não é isso sugestivo a nós?
4.
Sejamos pacificadores, promotores de paz não somente na igreja, mas também no
meio em que vivemos!
IV. O HOMEM DE DEUS DEVE POSSUIR
UMA VIDA CONTAGIANTE
VS. 26-31
"26
Então Abimeleque veio a ele de Gerar, com Auzate, seu amigo, e Ficol, o chefe
do seu exército. 27 E perguntou-lhes Isaque: Por que viestes ter comigo, visto
que me odiais, e me repelistes de vós? 28 Responderam eles: Temos visto
claramente que o Senhor é contigo, pelo que dissemos: Haja agora juramento
entre nós, entre nós e ti; e façamos um pacto contigo, 29 que não nos farás
mal, assim como nós não te havemos tocado, e te fizemos somente o bem, e te
deixamos ir em paz. Agora tu és o bendito do Senhor. 30 Então Isaque lhes deu
um banquete, e comeram e beberam. 31 E levantaram-se de manhã cedo e juraram de
parte a parte; depois Isaque os despediu, e eles se despediram dele em
paz".
1.
Depois de várias fugas de conflitos, Isaque foi procurado por Abimeleque,
Auzate seu amigo e Ficol, chefe de seu exército, o que causou certa estranheza
por parte de Isaque, que fez a Abimeleque uma pergunta obvia: "Porque
vieste ter comigo, visto que me odiais...?". A resposta do rei dos
filisteus foi: "Temos visto que o Senhor é contigo...". Abimeleque
propõe agora um acordo com Isaque: Dali para a frente eles seriam
"amigos".
2.
O que motivou Abimeleque a procurar Isaque? Foi pelo fato dele ter observado
que Isaque não era uma pessoa comum, mas que estava debaixo da proteção e da
guarda do Altíssimo. Quando vivemos a vida cristã verdadeiramente, seremos
notados por outras pessoas! Teremos uma fé contagiante, a ponto destas pessoas
quererem levar a vida que levamos. É o que podemos chamar de testemunho vivo e
ativo. Como filhos de Deus precisamos ser bênção para outros!
3.
Porém muitos crentes ao invés de possuir uma vida contagiante acabam por ter
uma vida repulsiva. Ao invés de atraírem pessoas para junto de si, empolgadas
em querer desfrutar da vida que levam, tornam-se pedras de tropeço! As
Escrituras nos mostram que como filhos de Deus devemos influenciar para o bem,
nunca para o mal. Vejamos algumas passagens:
a)
At 2.42-47, "42 e perseveravam na doutrina dos apóstolos e na
comunhão, no partir do pão e nas orações. 43 Em cada alma havia temor, e muitos
prodígios e sinais eram feitos pelos apóstolos. 44 Todos os que criam estavam
unidos e tinham tudo em comum. 45 E vendiam suas propriedades e bens e os
repartiam por todos, segundo a necessidade de cada um. 46 E, perseverando
unânimes todos os dias no templo, e partindo o pão em casa, comiam com alegria
e singeleza de coração, 47 louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E
cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo salvos".
-
Os irmãos da Igreja de Jerusalém tinham uma vida contagiante. Observe algumas
práticas comuns que certamente chamaram a atenção do povo da cidade: Praticavam
a doutrina dos apóstolos, participavam de ceias comunitárias, ajudavam os mais
pobres, eram unânimes em suas posições, havia entre eles grande alegria, os
sinais e prodígios estavam presentes em seus cultos a Deus, etc..
-
Ao observar esta vida comum, o povo da cidade foi tomado de uma grande simpatia
pela igreja, ao ponto de Lucas, o escritor de Atos, dizer: "...caindo na
graça de todo o povo. E cada dia acrescentava-lhes o Senhor os que iam sendo
salvos". Quando testemunhamos ativamente, o Espírito de Deus terá mais
liberdade para agir nos corações. Ganhar vidas para Deus não nos trará qualquer
esforço físico, mas será algo natural. É Deus quem estará trazendo as vidas ao
encontro da graça!
b)
Jo 17.22-23, "22 E eu lhes dei a glória que a mim me deste, para
que sejam um, como nós somos um; 23 eu neles, e tu em mim, para que eles sejam
perfeitos em unidade, a fim de que o mundo conheça que tu me enviaste, e que os
amaste a eles, assim como me amaste a mim".
-
Este trecho da Palavra de Deus está inserido na chamada "oração
sacerdotal" do Senhor. Nesta oração, Jesus manifesta intensa preocupação
com a vida futura de seus discípulos. Nos versículos citados, esta preocupação
do Senhor está envolvendo a questão da unidade, algo que seria para eles
crucial. Jesus sabia que se eles se mantivessem unidos, seriam alvos de
observação do mundo. Através da unidade e comunhão deles, o mundo chegaria ao
conhecimento de Deus.
-
Observe que Jesus fala de "perfeição na unidade", o que nos sugere uma
unidade sem hipocrisias, fingimentos, motivada essencialmente pelo amor, 1Pe
1.22, "Já que tendes purificado as vossas almas na obediência à
verdade, que leva ao amor fraternal não fingido, de coração amai-vos
ardentemente uns aos outros". O amor fraterno verdadeiro, leva à unidade e
consequentemente, nos torna alvos de observação do mundo. Observando esta
maneira de vida na igreja, muitos poderão chegar à aceitação da graça de Deus,
somando-se às fileiras da família divina.
4.
O nosso procedimento falará mais alto do que palavras. Viver é mais edificante
do que pregar!
V. O HOMEM DE DEUS DEVE DESFRUTAR
DE COMUNHÃO COM O SENHOR
VS. 2-5; 24-25
"2
E apareceu-lhe o Senhor e disse: Não desças ao Egito; habita na terra que eu te
disser; 3 peregrina nesta terra, e serei contigo e te abençoarei; porque a ti,
e aos que descenderem de ti, darei todas estas terras, e confirmarei o
juramento que fiz a Abraão teu pai; 4 e multiplicarei a tua descendência como
as estrelas do céu, e lhe darei todas estas terras; e por meio dela serão
benditas todas as nações da terra; 5 porquanto Abraão obedeceu à minha voz, e
guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis.
24 E apareceu-lhe o Senhor na mesma noite e disse: Eu sou o Deus de Abraão, teu
pai; não temas, porque eu sou contigo, e te abençoarei e multiplicarei a tua
descendência por amor do meu servo Abraão. 25 Isaque, pois, edificou ali um
altar e invocou o nome do Senhor; então armou ali a sua tenda, e os seus servos
cavaram um poço".
1.
Pelos versículos citados, podemos ver que Isaque desfrutava de uma intimidade
com o Senhor. Tanto no versículo 2, como também no versículo 24, nos diz a
Palavra de Deus que "o Senhor lhe apareceu". Isto nos fala de
relacionamento, intimidade! No Velho Testamento, Deus somente se manifestava à
pessoas que mantinham uma vida digna diante dEle. O mesmo ocorre hoje. Deus não
terá comunhão com alguém que não lhe seja obediente e submisso! Outro fator
também é que Deus jamais entrará em contato com o homem, sem que este deseje
recebê-lo. É por esta razão que o Espírito Santo somente pode habitar num
coração convertido e nunca em alguém ainda não provou a graça e a salvação de
Deus.
2.
Em virtude do corre-corre do mundo de hoje, muitos filhos de Deus estão
perdendo a bênção de uma intimidade com o Senhor. Para desfrutarmos de uma
perfeita comunhão com Deus, precisamos dar tempo a Ele. Muitas vezes há
necessidade de ficarmos horas e horas na presença de Deus, para que possamos
conhecê-LO mais profundamente! É verdade que O podemos conhecer pela sua
Palavra, onde sua vontade é revelada de forma clara! Porém é através da oração,
da comunhão, da experiência, que podemos conhecê-LO intimamente. Devemos sempre
lembrar que o conhecimento de Deus não é estático, mas dinâmico. Já dizia o
profeta: "Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor; a sua saída,
como a alva, é certa; e ele a nós virá como a chuva, como a chuva serôdia que
rega a terra", Os 6.3. Ou seja nosso conhecimento de Deus jamais
terá limites! É preciso conhecê-LO, e prosseguir nesta busca de conhecimento.
Porém, sabemos que o conhecimento pleno de Deus se dará apenas na eternidade, 1
Jo 3.2, "Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifesto o
que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos
semelhantes a ele; porque assim como é, o veremos".
3.
Como podemos conhecer ao Senhor de forma mais eficiente? Vejamos algumas
maneiras de conhecer a Deus nas Escrituras:
a)
Dando-LHE tempo, pela amizade, Jo 15.14, "Vós sois meus
amigos, se fizerdes o que eu vos mando". Devemos observar que a única
maneira de nos tornarmos "amigos de Deus", é através da obediência à
sua Palavra. Caso contrário, Deus não poderá compactuar-SE conosco. Lembrando
de Abraão, não podemos nos esquecer que ele foi chamado "o amigo de
Deus", Tg 2.23, "...e foi chamado amigo de Deus". Por quê Deus escolheu Abraão para ser seu amigo? Qual foi a
razão desta intimidade? Certamente foi em virtude de sua obediência irrestrita
ao Senhor e também pela sua disposição em estar em SUA presença.
b)
Através da oração e busca, Jr 29.13, "Buscar-me-eis, e me
achareis, quando me buscardes de todo o vosso coração". Em nossa busca a
Deus, deve haver um envolvimento espiritual. O "coração" para os
hebreus era a "parte mais interior do ser", "as entranhas",
"o centro das emoções", etc. É por esta razão que Jesus manda que
amemos a Deus de "...todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu
entendimento e de todas as tuas forças", Mc 12.30. Em nossa busca a
Deus devemos concentrar todo o nosso sentimento. Davi dizia: "Como o cervo
anseia pelas correntes das águas, assim a minha alma anseia por ti, ó
Deus!", Sl 42.1. Davi sabia como tocar o coração de Deus!
c)
Andando continuamente com Ele, Gn 5.24, "Enoque andou com
Deus; e não apareceu mais, porquanto Deus o tomou". Que exemplo brilhante
temos na vida de Enoque, que por desfrutar de uma grande intimidade com o
Senhor, não precisou passar pela morte física. Deus o tomou para si em uma de
suas caminhadas com Ele! "Andar com Deus", deve ser para o filho de
Deus uma prioridade! Devemos deixar tudo para ficar a sós com Deus! Muitas
vezes ocorre o inverso: Deixamos Deus para ficar com o "tudo", e
ainda depois queremos o "tudo" de Deus! Não precisamos dizer que nada
teremos!
CONCLUSÃO:
1.
Através da experiência de Isaque, vimos nesta noite como deve-se comportar um
verdadeiro filho de Deus diante de certas situações que nos vêm através de
nosso relacionamento com pessoas no mundo.
a)
Diante de Abimeleque, Isaque mentiu acerca de sua esposa Rebeca. Isto nos
mostra que somos falhos. Porém precisamos aprender a lidar com nossas falhas e
pecados diante de Deus!
b)
Quando teve oportunidade de plantar naquela terra, Isaque não titubeou, lançou
imediatamente a semente. Embora ele pudesse ter comido a semente que tinha em
suas mãos, sua prudência fez com que ele semeasse, e colhesse naquele anos o
cêntuplo. Devemos aprender os princípios espirituais da semeadura e da colheita
para sermos abençoados no reino de Deus!
c)
Diante da contenda surgida entre os homens de Isaque e os homens de Abimeleque,
vimos como Isaque se mostrou pacificador. Devemos não apenas procurar a paz,
mas também sermos promotores da paz entre vidas!
d)
Vimos como Isaque foi observado por Abimeleque. Sua vida foi uma inspiração para
aquele rei idólatra. Isto levou Abimeleque a querer fazer uma aliança com
Isaque. Como tem sido nosso testemunho como cristãos? Aqueles que não são
crentes gostam de estar perto de nós, ou somos intransigentes, repulsivos?
e)
Finalmente, vimos que Isaque mantinha uma comunhão irrestrita com o Senhor, que
lhe aparecia, conversava, etc. Temos nós audiência constante na presença de
Deus?
2.
Que a vida de Isaque seja para nós um estímulo que nos leve a viver como filhos
de Deus, falhos sim, mas vitoriosos!