O ENCONTRO DE JESUS COM O JOVEM
RICO
Autor: Ronaldo Perini
Pr. José Antônio Corrêa
TÍTULO: O ENCONTRO DE JESUS COM O
JOVEM RICO
TEXTO: MARCOS 10.17-22
Jesus sai de uma acirrada discussão com os fariseus sobre o divórcio e se coloca
a caminho e logo atrás dele vem correndo um jovem, rico, que se atira de
joelhos aos pés do mestre e faz uma pergunta intrigante: "Bom mestre o que
farei de bom para herdar a vida eterna?". Essa realmente é uma pergunta
importante vinda de um jovem rico para quem a eternidade e os problemas da vida
estão tão distantes.
A resposta de Jesus é seca, dura, como que querendo acordar aquele jovem de um
sono. Jesus responde: "Porque me chamas bom, bom é apenas Deus",
"agora se quiseres entrar na vida eterna obedece aos mandamentos".
Aquele rapaz possuía uma vida integra. Ele não só conhecia aos mandamentos como
também desde criança observa a cada um deles.
Esse rapaz era um bom moço, orgulho de seus pais, honrava-os respeitava-os, era
um rapaz rico cuja fortuna foi adquirida pelo meio mais lícito possível, pois
nunca roubara nem cobiçara as coisas alheias.
O que Jesus desejava mostrar ao rapaz com a resposta que para alcançar a vida
eterna devia guardar os mandamentos? Estaria Jesus ensinando a salvação pelas
obras? Absolutamente que não! Jesus estava dando uma resposta judaica. Ele
respondeu como qualquer rabino judeu responderia. A resposta de Jesus deve ser
mais ou menos assim: Porque você me pergunta como herdar a vida eterna? Vocês
fariseus não vivem pregando que para se herdar a vida eterna basta guardar os
mandamentos? Então faz o que você ensina. Guarda os mandamentos e terás a vida
eterna.
Diante da resposta de Jesus o rapaz coloca todo o desespero e insegurança de
quem depende de suas obras para a salvação de sua alma mas que conhece
profundamente a própria natureza pecaminosa: "Tudo isso eu tenho feito
desde de pequeno mas não posso crer que seja suficiente"
Diante de tal desespero Jesus afirma ao rapaz que apenas uma coisa lhe faltava
para obter a vida eterna: "Vender tudo o que possuía e dar aos pobres e
depois seguir a Jesus". Com essas palavras Jesus encerra a conversa e o
encontro com esse jovem rico que sai sem entender nada. Como que uma riqueza
ganha honestamente pode interferir numa busca sincera pela eternidade? Não
seria suficiente viver do modo íntegro diante de Deus e dos homens? Parece-nos
que aquele jovem saiu desapontado.
O que fica para nós como lição desse encontro?
1. PESSOAS QUE APRESENTAM
INTEGRIDADE MORAL NÃO TÊM GARANTIDA A COERÊNCIA ESPIRITUAL
O jovem em questão era alguém de elevado caráter moral. Nem mesmo Jesus o
questiona quando ele se coloca como um rigoroso observador da Lei. Era um jovem
que havia aprendido o valor de uma tradição e seguia essa tradição com todas as
suas forças. Esse jovem guardou seu coração de muitos pecados de modo que era
tido como respeitável em sua sociedade e quem poderia dizer ao contrário?
Como esse jovem existem muitos. Pessoas íntegras ao extremo. Excelentes pais,
bons cônjuges, cidadãos exemplares, colaboradores do bem e da ordem. São
pessoas as quais olhamos e pensamos: "no céu deve ter um lugar reservado a
esse camarada!".
Embora existam pessoas com um caráter ilibado, sobre a qual não pese nenhuma
acusação capital, pessoas irrepreensíveis no que tange a moral, temos que
reconhecer que muitas vezes a irrepreensibilidade moral não reflete a coerência
espiritual. Se não vejamos: aquele jovem mesmo com todas aquelas qualidades,
quase merecendo a canonicidade, ainda assim não possuía um relacionamento com
Deus que lhe desse segurança de uma vida eterna ao lado desse mesmo Deus.
Embora sendo religioso ao extremo, rigoroso em sua disciplina, esse jovem se
encontrava longe do amor de Deus. Deus para ele era apenas um juiz, um aferidor
de qualidade, o qual ele não tinha certeza de agradar.
Vejam como é fácil cair nessa armadilha. Desejar o céu, que é a morada de Deus,
sem ter um relacionamento pessoal e íntimo com ele que nos dê a segurança de
que esse relacionamento vai continuar por toda a eternidade.
O jovem foi muito sincero ao confessar que apesar de todas as suas qualidades
ainda se sentia inseguro quanto a sua salvação, por que ao contrário do jovem,
também podemos observar pessoas que possuem o mesmo caráter mas acham que
merecem o céu porque existem muitos piores do que ele. Pessoas que não tem um
relacionamento com Deus, mas acham que Deus vai ter que engoli-los porque eles
alcançaram o céu através de seus méritos. Que vã ilusão.
Por outro lado temos aqueles que pensam gozar de um relacionamento com Deus mas
não possuem qualquer qualidade moral, vivem se envolvendo nos mesmos pecados há
anos, confessam a Deus com a boca mas negam-lhe o poder pelas atitudes, porém
vivem se jactanciando de que vão para o céu.
Temos falado até aqui que integridade moral não é coerência espiritual e a
coerência espiritual nada mais é do que viver conforme o Deus que professamos
crer. É justamente aqui que vemos a incoerência espiritual do jovem, pois quem
deseja esse Deus deve confiar nele e não nas riquezas.
2. PESSOAS QUE DESEJAM A ETERNIDADE
PODEM FICAR APEGADAS ÀS COISAS TERRENAS
O jovem se mostrou muito interessado na vida eterna. Ele correu atrás de Jesus
e quando o encontrou se colocou de joelhos, essas atitudes são atitudes de
alguém que está interessado, buscando, procurando ansiosamente por algo. O que
este jovem procurava com tamanha avidez? Ele procurava o caminho do céu, a vida
eterna. Pode existir preocupação mais legítima do que esta? Creio que não. A
preocupação com a eternidade deve estar no coração de todas as pessoas, sejam
crianças, adolescentes, jovens, adultas e idosas. A eternidade está no coração
do homem.
Jesus viu que o coração daquele jovem ansiava pela eternidade. Mesmo jovem se
mostrava zeloso em guardar a Lei de Deus, mas Jesus também observou que faltava
alguma coisa para aquele jovem, apenas uma coisa: ele precisava vender todos os
seus bens e dá-los aos pobres. Ao ouvir esta afirmação de Jesus o jovem se
entristeceu o foi embora. Eram muitas as suas riquezas, desfazer-se delas era
desfazer-se de toda a sua vida.
Jesus
não era contra a riqueza, nem tão tem essa palavra como plano para todos os
seus seguidores, mas quando as riquezas tomam o lugar de Deus em nossas vidas
só há um jeito de exorcizar a avareza é distribuir nossas riquezas para que o
dinheiro não encontre o caminho de nosso coração.
As riquezas para aquele jovem era sua identificação, como já dissemos, perdê-la
seria como perder a própria vida. Prova disso é que os evangelhos o identificam
como "um jovem rico", ninguém sabe nem o nome dele. Sua riqueza era a
sua própria identidade.
Quando Jesus pede para que sejam vendidas as suas riquezas, ele quis mostrar
mais uma grande contradição na vida desse rapaz: "Como alguém pode estar
tão preocupado com a vida eterna e ao mesmo tempo tão apegado as coisas
terrenas?".
Meus queridos, essa mesma contradição, em menor ou maior grau, também é
encontrada em cada um de nós. Eu não duvido que todos tenhamos o céu como
grande alvo e esperança, mas também não duvido que são muitas as amarras que
nos prendem a essa vida. Claramente podemos perceber nesse jovem a avareza
reinando em seu coração a ponto de preferi-la do que ao céu.
Quantos
de nós também não enfrentamos a avareza dominando nossa generosidade de modo
que retemos nossa contribuição missionária, nosso dízimo, nossa ajuda ao
necessitado?
Quantos
de nós também não enfrentamos a avareza dominar nossa moral de modo que parte
do dinheiro que ganhamos é ilícito?
E quantos de nós, mesmo desejando o céu, vivemos com a mente dominada pela
lascívia e impureza.
E quantos vivem a ambigüidade de desejar o céu mas guardar em seu coração o
ódio, rancor, ira e a falta de perdão?
Quantas e quantas vezes soltamos as asas de nossa imaginação tentando chegar ao
céu mas ficamos presos pelas amarras desse mundo?
Aquele jovem precisava vender suas propriedades e dividir suas riquezas com os
pobres, e nós, o que precisamos fazer? O que é que nos falta? Do que nós
precisamos abrir mão para seguirmos Jesus verdadeiramente tendo a certeza de
que realmente temos um lugar no céu?
Aquele jovem encerrou o diálogo e foi embora triste porque tinha muitas
riquezas e as amava demais para abandoná-las, eu espero que a nossa história
não termine assim nesta noite. Que estejamos dispostos a abrir mão de tudo o
que Jesus nos pedir (arrogância, ganância, orgulho, prepotência, avareza,
maledicência, lascívia, impureza, rancor, ódio, falta de perdão, mágoa, inveja,
ciúmes, contendas, malícia) para que realmente nada seja mais importante do que
o céu, para que nada venha ocupar o lugar de Deus em nossa vida.
3. PESSOAS PODEM SE UNIR A DEUS NÃO
POR SUA BONDADE, MAS PELA SUA UTILIDADE
Quando o jovem se aproximou de Jesus ele o chama de bom. Jesus responde que
somente Deus é bom. Será que de fato o jovem acreditava na bondade de Deus?
Infelizmente a bondade de Deus é muitas vezes reconhecida e proclamada, mas
poucas vezes vivida e experimentada. Desde a queda no Éden, a serpente vem
tentando mostrar que Deus não é tão bom assim, ele está sempre tentando nos
privar de algo. De lá para cá nossa visão da bondade de Deus ficou distorcida,
somente conseguimos entender a bondade de Deus quando ele não nos nega nada.
Basta Deus negar um de nossos desejos e toda a sua bondade é questionada.
Quando aquele jovem chegou a Jesus, numa linguagem moderna, ele já tinha feito
a vida, estava com a vida feita, burro na sombra, futuro garantido. Existiria
melhor hora para se preocupar com a eternidade? Aliás quase todas as pessoas
pensam que a hora de se preocuparem com o eterno, espiritual e religioso é
quando já conseguiram uma posição confortável na vida. Assim foi com o jovem.
Agora ele podia se aventurar pois tinha como se financiar, se qualquer coisa
desse errada, ele teria dinheiro suficiente para bancar qualquer situação
adversa. Quando ele se aproximou de Jesus ele tinha por trás uma garantia.
Agora quando Jesus mexeu nessa garantia o jovem desistiu da caminhada.
De fato Deus era bom para o jovem? Poderia ele se entregar aos seus cuidados?
Na verdade o jovem não acreditava na bondade de Deus e sim em sua utilidade.
Pensava o jovem que Deus não era tão bom a ponto de suprir os mínimos detalhes
de sua vida, mas era útil desde que era o único caminho que conhecia para a
eternidade.
Isto me faz pensar na quantidade de pessoas que suportam a vida cristã, aturam
a Igreja, toleram a Bíblia e seus ensinamentos não porque vêem nisso a bondade
de Deus e sim a utilidade desse caminho que conduz a vida eterna.
De fato, queremos o melhor de Deus mas não nos abandonamos em suas mãos e aos
seus cuidados, desejamos a vida eterna mas não abrimos mãos de nossos tesouros
aqui na terra, queremos viver nos céus com os irmãos mas nossas companhias na
terra são os ímpios que habitarão no inferno. Para muitas pessoas Deus é bom
porque é útil, mas quando não vemos em sua vontade uma utilidade que nos
favoreça não temos a menor dificuldade em dar as costas a Deus e seguir nosso
caminho até que uma outra utilidade comum nos uma com ele. Uma fé coerente é
uma fé de auto- abandono na bondade de Deus, que descansa nessa bondade. A
eternidade começa quando aceitamos descansar no amor e bondade de Deus.
Que Deus abençoe a sua Palavra!
Amém!