NEEMIAS, O RESTAURADOR –

REQUISITOS PARA UMA RESTAURAÇÃO II

NE 2.11-18

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

INTRODUÇÃO:

1. No estudo anterior, tivemos o privilégio de acompanhar Neemias no palácio real da Pérsia, quando recebeu a notícia das reais condições de sua terra e de como Jerusalém, a cidade santa, estava completamente destruída e o povo de Deus vivendo em miséria estrema e opróbrio. Pudemos contemplar sua tristeza e sofrimento por ver a terra de seus pais abandonada nesta situação caótica. Em tais condições, Neemias se pôs a Jejuar e a clamar ao Deus do céu, esperando uma intervenção divina. Sua tristeza e descontentamento despertaram a curiosidade do rei Artaxerxes que o permitiu, voltar à sua terra para iniciar um processo de restauração.

2. Com o consentimento e ajuda do rei, Neemias parte, levando consigo cartas do rei para os governadores dalém do rio solicitando-lhes permissão para sua passagem, além de uma carta a Asafe, guarda da floresta pedindo-lhe a madeira necessária para a reconstrução.

 

HOJE QUEREMOS VER MAIS ALGUMAS VIRTUDES NA VIDA DE NEEMIAS, COMO REQUISITOS A UMA OBRA DE RESTAURAÇÃO

 

IV. QUEM ANSEIA POR UMA RESTAURAÇÃO, SABE GUARDAR SEGREDO EM MOMENTOS IMPORTANTES

NE 2.11-12, 16

“11 Cheguei, pois, a Jerusalém, e estive ali três dias. 12 Então de noite me levantei, eu e uns poucos homens comigo; e não declarei a ninguém o que o meu Deus pusera no coração para fazer por Jerusalém. Não havia comigo animal algum, senão aquele que eu montava”. 16 E não souberam os magistrados aonde eu fora nem o que eu fazia; pois até então eu não havia declarado coisa alguma, nem aos judeus, nem aos sacerdotes, nem aos nobres, nem aos magistrados, nem aos demais que faziam a obra”.

1. No v. 11, vimos que Neemias chegou à cidade sem muito alarde, certamente para não provocar a curiosidade de seus inimigos. Após três dias de aparente comodismo, ele se levanta, juntamente com “uns poucos homens”, v. 12 na intenção de percorrer a cidade, para conhecer a situação.

2. Um dado interessante podemos ver em seu relato, ou seja o fato dele estar guardando absoluto segredo sobre o que “Deus pusera no (seu) coração para fazer por Jerusalém”, v. 12. Para não despertar os indiscretos, Neemias levou consigo além dos “poucos homens”, apenas um animal – “aquele que eu montava”, v. 12. No v. 16, podemos ver que ele escondeu suas pretensões não apenas de seus irmãos de raça, mas até mesmo da classe governante – os magistrados, os sacerdotes, os nobres.

3. Como filhos de Deus, não podemos ficar papagaiando, falando demais, principalmente quando estamos na guarda de algum segredo importante para o reino. Como tem gente que fala demais, tagarela continuamente, comprometendo a obra de Deus. A Palavra de Deus nos alerta sobre o mau uso de nossa língua:

a) Aquele que fala demais, acaba ficando preso pelas suas próprias palavras, Pv 6.2, “...estás enredado pelos teus lábios; estás preso pelas palavras da tua boca”. Se observarmos o contexto deste versículo, iremos ver que ele tem a ver com aquele que fica por fiador de alguém, empenhando sua palavra. O verdadeiro crente ao empenhar sua palavra fica “preso” por ela. Muitos tentam dar um jeitinho para se safar de situações constrangedoras dizendo: “não foi com estas palavras”, “não foi assim que eu falei”. Porém seja a nossa palavra “Sim, sim; não, não; pois o que passa daí, vem do Maligno”, Mt 5.37. Se de fato tememos a Deus devemos honrar o que falamos. Por isso é melhor não falar.

b) Aquele que fala demais, erra mais, Pv 10.19, “Na multidão de palavras não falta transgressão; mas o que refreia os seus lábios é prudente”. A palavra transgressão vem do hebraico “evp (pesha)” – rebelião; desobediência; quebra de uma ordem, de um dever ou de uma lei. Em outras palavras, quando falamos demais desobedecemos, quebramos princípios, caímos na ilegalidade!

c) Aquele que fala demais se torna num instrumento de ferir, Pv 12.18, “Há palrador cujas palavras ferem como espada; porém a língua dos sábios traz saúde”. O palrador é o indivíduo que tagarela, o “fala muito”. Quando não medimos o que falamos, sobram chicotadas para todos que convivem conosco. Acabamos por ferir, até mesmo as pessoas que amamos. Não precisamos dizer o quanto é difícil reconquistar uma pessoa ferida por palavras que foram atiradas ao vento por nós!

d) Aquele que fala demais atrai sobre si sofrimento, Pv 14.23, “Em todo trabalho há proveito; meras palavras, porém, só encaminham para a penúria”. Novamente temos uma palavra que precisa ser definida: penúria. Esta palavra tem a ver com “privação”, “miséria”, “pobreza”, “desgraça”. Quantas vezes por falar demais, alguém perde o emprego, perde privilégios, atraindo miséria financeira?

4. Para terminar este primeiro ponto, poderíamos, pela experiência que temos, dizer que quem fala demais não é alguém de confiança. Jamais declararíamos segredos, confissões, a pessoas que não sabem controlar sua língua. Neemias sabia o quanto precisava reter suas palavras para que a obra de restauração pudesse caminhar sem impedimentos. Precisamos aprender controlar nossas palavras, para não sermos aprisionados por elas, atraindo sobre nossa vida e sobre o trabalho de Deus desgastes desnecessários.

 

V. QUEM ANSEIA POR UMA RESTAURAÇÃO, NÃO SE LANÇA À OBRA ANTES DE FAZER UM INVENTÁRIO DA REAL SITUAÇÃO

NE 2.13-15

“13 Assim saí de noite pela porta do vale, até a fonte do dragão, e até a porta do monturo, e contemplei os muros de Jerusalém, que estavam demolidos, e as suas portas, que tinham sido consumidas pelo fogo. 14 E passei adiante até a porta da fonte, e à piscina do rei; porém não havia lugar por onde pudesse passar o animal que eu montava. 15 Ainda de noite subi pelo ribeiro, e contemplei o muro; e virando, entrei pela porta do vale, e assim voltei”.

1. Depois de três dias em Jerusalém, Neemias foi dirigido pelo Senhor a apanhar “uns poucos homens” e percorrer as ruínas da cidade, na intenção de fazer um levantamento minucioso de tudo o que estava destruído. Observe que ele saiu de noite - isto para não despertar suspeitas -, inspecionando as portas, os muros, a piscina do rei, etc. Em sua inspeção, Neemias se deteve em algo especial – o muro – “contemplei o muro”.

2. É evidente que toda a cidade estava arrasada! Não se sabia por onde começar o processo de restauração. Neste pequeno inventário, algo ficou patente para Neemias - a primeira coisa a ser restaurada, deveria ser o muro, até mesmo porque de nada adiantaria reedificar a cidade, ficando ela exposta! Com a reedificação do muro a cadeia de proteção estava pronta e outras ruínas poderiam ser restauradas.

3. Para restaurarmos ruínas em nossas vidas precisamos, acima de tudo, fazer um levantamento de nossas reais condições espirituais, para depois deixarmos o Espírito de Deus completar o serviço. Há necessidade de conhecermos onde e quando foi que começou o processo de destruição, quais foram as causas que contribuíram para nos atirar cada vez mais ao fundo do poço, não ignorando ainda, que por detrás de toda situação caótica está Satanás com sua influência maligna.

4. Normalmente, o portão de entrada para uma destruição interior é a nossa mente. Através dela sofremos a penetração das influências diabólicas e mundanas. É aí que o muro precisa ser erguido primeiro. Por isso precisamos:

a) Transformar nossa mente, através e um processo de renovação, Rm 12.2, “E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus”. Tanto a palavra “transformar”, como a palavra “renovação”, se referem a um processo de mudanças, de conversão. Para que possamos compreender e caminhar no centro da vontade de Deus, precisamos iniciar a restauração de nossa mente. É lógico que este processo é doloroso, quase que interminável, contudo se mantivermos nosso propósito, veremos o quanto poderemos colher!

b) Permitir que o Espírito de Deus cative nosso pensamento na obediência a Cristo, 2Co 10.5, “...derribando raciocínios e todo baluarte que se ergue contra o conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência a Cristo”. Permitir que Cristo cative, capture nossos pensamentos é outro lado do mesmo processo. Através de uma permissão de nossa parte, o Espírito Santo conduzirá nossa forma errada de pensar a Cristo, que por sua vez, transformará nossa mente, nos levando a ter pensamentos saudáveis!

c) Reaprender a pensar, pensando somente em coisas que edificam, Fp 4.8, “Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai”. Devemos exercitar nossa mente para pensar somente em coisas que nos edificam e que nos tornam agradáveis diante do Pai. É uma técnica que envolve substituição, ou seja através de um treinamento específico, substituiremos pensamentos ruins por pensarmos no que é verdadeiro, honesto, puro, etc..

5. Sabemos que é no coração que se alojam maldades, Mt 15.19, “Porque do coração procedem os maus pensamentos, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias”. Sabemos ainda que é do coração que procedem as “fontes da vida”, Pv 4.23, “Guarda com toda a diligência o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida”.

Eis uma grande razão para preservarmos nosso coração das influências perniciosas que chegam a ele pelos maus pensamentos!

Por isso, precisamos filtrar através de nossa mente o material que pode descer ao coração. Se nossa mente estiver aberta, sem guarda, sem qualquer proteção, já podemos prever o tipo de material danoso que certamente contaminará nosso interior. Porém com nossa mente protegida (com muros), restaurada, sem a influência de pensamentos malignos, danosos, nosso coração poderá ser alimentado, sem quaisquer restrições pelo melhor da Palavra de Deus!

 

VI. QUEM ANSEIA POR UMA RESTAURAÇÃO, TEM UMA PALAVRA DE ÂNIMO PARA AQUELES QUE ESTÃO SEM ESPERANÇA

NE 2.17-18

“17 Então eu lhes disse: Bem vedes vós o triste estado em que estamos, como Jerusalém está assolada, e as suas portas queimadas a fogo; vinde, pois, e edifiquemos o muro de Jerusalém, para que não estejamos mais em opróbrio. 18 Então lhes declarei como a mão do meu Deus me fora favorável, e bem assim as palavras que o rei me tinha dito. Eles disseram: Levantemo-nos, e edifiquemos. E fortaleceram as mãos para a boa obra”.

1. Vimos no parágrafo anterior como Neemias fez um levantamento de toda a situação da cidade, e constatou que seu estado era caótico. Este estado terrível fez com que o povo que ainda habitava a cidade perdesse todas as esperanças. Com certeza havia entre eles lamentação constante, lamúrias sem fim, ao lembrarem da cidade de outrora, famosa pelas suas belíssimas estruturas, porém agora em eternas ruínas. Ao olharem para os horizontes, não viam senão, nuvens negras, que desfaziam qualquer esperança de dias melhores!

2. Neemias foi sensível aos anseios de seu povo. Antes de qualquer processo de restauração, ele sabia que o povo precisava de uma palavra de ânimo, uma dose de coragem, para que pudessem sair do grande negativismo em que se encontravam! Foi assim que conclamou o povo - “...vinde, pois, e edifiquemos o muro de Jerusalém, para que não estejamos mais em opróbrio”, v. 17. Ele levou o povo a crer no impossível, a dizer-lhes que poderiam contar com a poderosa mão de Deus – “...lhes declarei como a mão do meu Deus me fora favorável”, v. 18.

3. Esta posição de Neemias fez com que o povo abatido, desanimado, sem esperanças, pudesse levantar a cabeça, lançando mãos à obra. Como diz a Palavra: “...fortaleceram as mãos para a boa obra”, v. 18. Estavam agora prontos para começarem o processo de reedificação. Os horizontes não mais mostravam nuvens negras, mas vislumbravam novas esperanças. O impossível se tornou possível, o inviável se tornou viável! Como nos faz bem uma palavra de encorajamento e ânimo!

4. Assim também acontece em nossa vida cristã. Muitas vezes nos vemos arrasados, dilacerados, arruinados, pelo peso que o diabo coloca sobre nossas vidas. É nesta hora que precisamos, não de uma palavra de recriminação, de repreensão, mas sim de uma palavra exortativa, que traga ânimo e novas esperanças ao coração. A Palavra de Deus nos fala do cuidado que devemos demonstrar para com aqueles estão em fraqueza e que muitas vezes jazem em ruínas:

a) Devemos acolhê-los, Rm 14.1, “Ora, ao que é fraco na fé, acolhei-o, mas não para condenar-lhe os escrúpulos”. Temos aqui a palavra “débil”, que vem do termo grego “asyenew (astheneo)”, que significa: “débil”, “ser fraco”, “estar sem força”, “sem energia”, “estar carente de recursos”, “indigente”, “pobre”, “estar debilitado”, “doente”. Pessoas que se encontram nesta situação, debilitadas em sua fé, precisam ser acolhidas por nós. Observe que a palavra “acolher”, significa “abrigar”, “refugiar”, “receber”. É desta forma que devemos tratar os enfraquecidos e não acusá-los, discriminá-los. Devemos saber que o diabo já lança sobre eles grande peso, tremendas acusações e não devemos nisto nos associar ao inimigo!

b) Devemos consolá-los e ampará-los, 1Ts 5.14, “Exortamo-vos também, irmãos, a que admoesteis os insubordinados, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos”. Além de amparar os “fracos”, como vimos no item anterior, devemos consolar os desanimados. A palavra “consolar”, tem a ver com “aliviar a aflição ou o sofrimento de” (Dic. Eletr. Michaelis). Alguém que está em profundo desânimo, precisa de uma palavra de carinho, de um aconchego, de amparo. Quando assim procedemos, tal pessoa se sentirá amada, estimada, sabendo que existe alguém que se importa com ela. Como isto levanta a pessoa!

c) Devemos tratá-los com mansidão, Gl 6.1, “Irmãos, se um homem chegar a ser surpreendido em algum delito, vós que sois espirituais corrigi o tal com espírito de mansidão; e olha por ti mesmo, para que também tu não sejas tentado”. Veja que Paulo não está nos ensinando a apoiar a falha, o pecado, uma vez que ele fala em “correção”. Porém esta correção (grego katartizw (katartizo) “preparar”, “equipar”, “colocar em ordem”, “arranjar”, “ajustar”), deve ser feita com mansidão e jamais com aspereza!

5. Quando tratamos de maneira coerente e sensata aqueles que estão debilitados, iremos despertar-lhes do erro, da sonolência espiritual e da apatia. O potencial adormecido em tais irmãos virá à tona! Ao invés de colocá-los para fora da missão, os ganhamos e estaremos assim engrossando as fileiras do reino. Em termos de restauração, precisamos aprender com Neemias a empreender esforços no sentido de levantar os abatidos, os debilitados, os enfraquecidos, os sem esperança, os marginalizados, não desprezando o potencial que certamente há neles!

 

CONCLUSÃO:

1. Temos muito a aprender com Neemias! Precisamos de uma restauração urgente! Porém, se não utilizarmos a inteligência demonstrada por este homem de Deus, certamente poderemos naufragar ainda na praia. Devemos guardar segredos importantes, revelando-os apenas no tempo oportuno, fazer um inventário de nossas reais condições e por onde começar o processo de restauração, além de animar os enfraquecidos com palavras exortativas.

2. Com certeza, agindo desta forma, estaremos criando condições para que uma restauração do povo de Deus seja real. Como igreja do Deus Vivo, não podemos viver na apatia, no desânimo, subjugados pelo inimigo. Precisamos de alguns Neemias, homens visionários, que gemem com dores de parto pela obra, dependentes do Espírito de Deus, e assim provaremos uma grande renovação, onde nossos princípios antiquados, tradicionalistas, ultrapassados, serão substituídos por princípios puramente divinos! Precisamos urgentemente de uma submissão incondicional ao Espírito de Deus, e ao invés de fazermos a obra de Deus do nosso jeito, devemos nos colocar à disposição do Senhor, assim como Paulo no caminho de Damasco – “que queres que eu faça?”, At 22.10.