NEEMIAS, O RESTAURADOR -

MANTENDO A RESTAURAÇÃO II

TEXTO: NE 9.1-37; 12.27-43; 13.1-30

 

Pr. José Antônio Corrêa

 

INTRODUÇÃO:

1. No capítulo anterior tivemos a oportunidade de ver algumas providências tomadas por Neemias para manter a restauração dos muros levantados. A primeira providência, envolvia a vigilância constante. O risco de um ataque iminente de seus inimigos fez com que ele organizasse um esquema de vigilância, de atenção, para detectar e desestabilizar qualquer tentativa de invasão. Ao mesmo tempo, levou o seu povo a um contato direto com a Palavra de Deus, para que eles pudessem mudar suas atitudes e comportamento. Por último instituiu algumas práticas de culto por eles abandonadas há muito tempo, como por exemplo, a comemoração da Festa dos Tabernáculos, em que os filhos de Israel habitavam em cabanas por sete dias, logo após o período das colheitas.

2. Todas estas providências se aplicam à nossa vida espiritual. Quando nossa vida é restaurada pelo Espírito Santo e queremos manter esta restauração, devemos permanecer sob vigilância, lendo e meditando na Palavra de Deus e jamais negligenciar a verdadeira prática de culto ao Senhor. Procedendo desta maneira, com certeza teremos condições de confrontar o inimigo que anda ao nosso derredor procurando ferozmente a quem possa engolir.

3. No presente capítulo vamos continuar considerando mais alguns requisitos básicos na manutenção de uma restauração diante do Senhor. A vitória de Neemias frente aos seus inimigos somente foi conquistada através muita dedicação e luta espiritual. Uma grande batalha é travada no reino do Espírito, quando como filhos de Deus, desejamos levar uma vida em Deus vitoriosa! Nenhum cristão alcançará proezas sem lutas! Além da oposição e da guerra travada contra nós pelo diabo e seus demônios, há outro fator que devemos considerar, ou seja, a guerra existente em nosso homem interior, onde combatem a carne e o espírito, "Porque a carne luta contra o Espírito, e o Espírito contra a carne; e estes se opõem um ao outro, para que não façais o que quereis", Gl 5.17. Diante destas considerações, queremos continuar descrevendo mais ALGUNS REQUISITOS PARA UMA RESTAURAÇÃO:

 

IV. RENOVANDO A CONFISSÃO E O ARREPENDIMENTO DE PECADOS

NE 9.1-4

"1 Ora, no dia vinte e quatro desse mês, se ajuntaram os filhos de Israel em jejum, vestidos de sacos e com terra sobre as cabeças. 2 E os da linhagem de Israel se apartaram de todos os estrangeiros, puseram-se em pé e confessaram os seus pecados e as iniquidades de seus pais. 3 E, levantando-se no seu lugar, leram no livro da lei do Senhor seu Deus, uma quarta parte do dia; e outra quarta parte fizeram confissão, e adoraram ao Senhor seu Deus. 4 Então Jesuá, Bani, Cadmiel, Sebanias, Buni, Serebias, Bani e Quenâni se puseram em pé sobre os degraus dos levitas, e clamaram em alta voz ao Senhor seu Deus".

1. Muitos de nós acumulam pecados sem confissão no dia-a-dia. Acabamos por ser envolvidos numa ciranda diabólica, em que a nossa vida como crentes fica inoperante diante de Deus, indo por água a baixo todo esforço na manutenção de uma restauração. Quantas vezes comparecemos diante de Deus como compareciam os fariseus dos dias de Jesus, que praticavam um culto recheado de mentiras e hipocrisia. Por esta razão, o Senhor, usando uma profecia de Isaías (Is 29.13), os advertiu com severidade: "Este povo honra-me com os lábios; o seu coração, porém, está longe de mim", Mt 15.8. Não se muda este curso a não ser através de um verdadeiro reconhecimento de nossos pecados, num quebrantamento, mediante a ação e o poder do Espírito em nós.

2. Pelo relato de Neemias, podemos notar que o povo agiu movido pelo Espírito de Deus, que os levou a uma verdadeira conversão de seus caminhos ímpios. Alguns destaques no texto são dignos de nota:

a) Humilharam-se, "...se ajuntaram os filhos de Israel em jejum, vestidos de sacos e com terra sobre as cabeças...", v. 1. A humilhação verdadeira diante do Senhor faz com que Ele se volte para nós. De acordo com o salmista, Deus se lembra de nós em nossa humilhação: "...que se lembrou de nós em nossa humilhação, porque a sua benignidade dura para sempre", Sl 136.23.

b) Confessaram seus pecados, "...puseram-se em pé e confessaram os seus pecados e as iniquidades de seus pais...", v. 2; "...outra quarta parte fizeram confissão...", v. 3. Reconhecer nossos pecados contra Deus e confessá-los é uma atitude sábia para mudar nossos caminhos. Não podemos fazer vista grossa, ignorando nossos pecados pois "o que encobre as suas transgressões nunca prosperará; mas o que as confessa e deixa, alcançará misericórdia", Pv 28.13.

c) Clamaram a Deus, "...e clamaram em alta voz ao Senhor seu Deus", v. 4. A palavra "clamar", nos leva a pensar num timbre de voz alterado. De acordo com o Dicionário Michaelis da Uol, clamar significa: "bradar", "gritar", "proferir em altas vozes", "vociferar", "suplicar", "implorar". Realmente este é o sentido da palavra hebraica "qez - za‘aq". Ao sabermos de nossa situação de miséria em razão de nossos pecados, devemos clamar por libertação, invocar por socorro diante do Senhor.

3. Com certeza, estes ingredientes nos mostram com clareza, uma nova atitude, um novo comportamento, uma verdadeira humilhação diante do Senhor, uma autêntica confissão de pecados presentes e passados e um grande clamor pela misericórdia divina. Diante desta grande disposição Deus não poderá deixar de agir. Assim o Senhor disse a Salomão: "...e se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se desviar dos seus maus caminhos, então eu ouvirei do céu, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra", 2 Cr 7.14.

4. A Palavra de Deus é rica em textos que falam sobre confissão de pecados, arrependimento, conversões, sempre coroados com a bênção divina. Olhemos alguns deles:

a) Jl 2.13, "E rasgai o vosso coração, e não as vossas vestes; e convertei-vos ao Senhor vosso Deus; porque ele é misericordioso e compassivo, tardio em irar-se e grande em benignidade, e se arrepende do mal".

b) Jn 3.10, "Viu Deus o que fizeram, como se converteram do seu mau caminho, e Deus se arrependeu do mal que tinha dito lhes faria, e não o fez".

c) At 3.19, "Arrependei-vos, pois, e convertei-vos, para que sejam apagados os vossos pecados, de sorte que venham os tempos de refrigério, da presença do Senhor".

5. Porém quando não há arrependimento, perecemos:

a) Galileus sacrificados por Herodes, Lc 13.1-3, "1 Ora, naquele mesmo tempo estavam presentes alguns que lhe falavam dos galileus cujo sangue Pilatos misturara com os sacrifícios deles. 2 Respondeu-lhes Jesus: Pensais vós que esses foram maiores pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas? 3 Não, eu vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis".

- O presente texto nos mostra algumas pessoas tentando recriminar certos galileus que foram assassinados por Pilatos de uma foram cruel, tendo Pilatos misturado o sangue deles com seus sacrifícios. Por terem morrido desta formam pensavam tais pessoas que esses galileus eram grandes pecadores. Porém vejam a colocação de Jesus: "...se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis".

b) Esaú, Hb 12.17, "Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção, foi rejeitado; porque não achou lugar de arrependimento, ainda que o buscou diligentemente com lágrimas".

- Esaú é um vivo exemplo de alguém que tenta "manipular" a graça de Deus, alguém que brinca com o pecado! Sua atitude nos mostra que o pecado deve ser tratado seriamente, sob o risco de perdermos a oportunidade para arrependimento.

c) Igreja de Éfeso, Ap 2.5, "Lembra-te, pois, donde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; e se não, brevemente virei a ti, e removerei do seu lugar o teu candeeiro, se não te arrependeres".

- A igreja de Éfeso permitiu que o esfriamento espiritual a abatesse e a lançasse num profundo abismo. Havia abandonado o "primeiro amor", v. 4. O conselho de Cristo é que ela se lembre de onde começou sua queda, se arrependa e volte urgentemente a praticar suas obras em amor diante de Deus. Quantos de nós vivemos enredados pelo pecado e mundanismo, onde o amor pela obra de Deus já se foi há muito tempo! Precisamos voltar ao primeiro amor!

6. Nada mais toca o coração de Deus do que uma alma humilhada, arrependida de seus pecados, disposta a mudar de vida. Davi provou o perdão e a misericórdia de Deus e pode exclamar com alegria: "O sacrifício aceitável a Deus é o espírito quebrantado; ao coração quebrantado e contrito não desprezarás, ó Deus", Sl 51.17. Ele já se expressara anteriormente assim: "Perto está o Senhor dos que têm o coração quebrantado, e salva os contritos de espírito", Sl 34.18.

 

V. MANTENDO UMA VERDADEIRA ADORAÇÃO A DEUS

NE 9.5-31

"E os levitas Jesuá, Cadmiel, Bani, Hasabnéias, Serebias, Hodias, Sebanias e Petaías disseram: Levantai-vos, bendizei ao Senhor vosso Deus de eternidade em eternidade. Bendito seja o teu glorioso nome, que está exaltado sobre toda benção e louvor", v. 5.

1. Certamente, esta é uma área que temos grandes dificuldades em nosso relacionamento com o Deus Criador. Talvez em razão do corre-corre de nosso dia-a-dia, do acúmulo de tarefas que nossa sociedade exige, do tempo que passa repentinamente, não nos detemos para um tempo suficiente de adoração em nossos cultos públicos ou pessoais. Mesmo quando estamos cultuando, parece que nossa mente compromissada, tão envolvida pelas coisas deste mundo, não se desativa, não se desliga, e perdemos o melhor da adoração e comunhão com o Senhor. A verdadeira adoração, como já vimos anteriormente só pode ser alcançada "em espírito e em verdade", Jo 4.23-24, e ela exige tempo, momentos de comunhão sem pressa. Como isto é quase impossível para nós! Porém, precisamos parar, arrumar tempo, para começar a aprender o que é adorar a Deus verdadeiramente.

2. No nosso texto em apreço, podemos perceber como o povo "parou" e um sentimento de adoração real desceu sobre eles abundantemente. Como isso:

a) Bendisseram a Deus, v. 5, "E os levitas Jesuá, Cadmiel, Bani, Hasabnéias, Serebias, Hodias, Sebanias e Petaías disseram: Levantai-vos, bendizei ao Senhor vosso Deus de eternidade em eternidade. Bendito seja o teu glorioso nome, que está exaltado sobre toda benção e louvor".

- Bendizer significa "dizer", "louvar", "dignificar". Precisamos aprender a expressar em palavras as qualificações do Deus Eterno. Em nossos momentos de adoração, devemos abrir nossos lábios para dizer que o Senhor é poderoso, criador, benigno, bondoso, santo, e tantas outros predicativos que elevam o Seu nome.

b) Reconheceram que Deus é poderoso em obras:

- Na criação, v. 6, "Tu, só tu, és Senhor; tu fizeste o céu e o céu dos céus, juntamente com todo o seu exército, a terra e tudo quanto nela existe, os mares e tudo quanto neles já, e tu os conservas a todos, e o exército do céu te adora". Enquanto que o cientista ateu procurar explicar a criação através de falsas teorias, nós reconhecemos tudo foi criado por Deus, "...porque nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele", Cl 1.16.

- Em favor de seu povo, vs. 7-31, - A história foi relembrada desde a chamada de Abraão até a introdução em Canaã. Veja o v. 31, "Contudo pela tua grande misericórdia não os destruíste de todo, nem os abandonaste, porque és um Deus clemente e misericordioso". Deus não apenas dirige a história, mas se preocupa com a história de seu povo! Embora em muitas situações venhamos desagradar a Deus, Ele não nos abandona à nossa própria sorte, pelo contrário cuida de cada um de nós! Como nos diz o escritor da Carta aos Hebreus: "...não te deixarei, nem te desampararei", Hb 13.5.

3. No processo de adoração, precisamos aprender a dignificar a Deus com as palavras que saem de nossa boca. Vejamos como nos ensina a Palavra de Deus:

a) Bendizer pela consagração de bens pessoais, 1 Cr 29.10, "10 Pelo que Davi bendisse ao Senhor na presença de toda a congregação, dizendo: Bendito és tu, ó Senhor, Deus de nosso pai Israel, de eternidade em eternidade. 11 Tua é, ó Senhor, a grandeza, e o poder, e a glória, e a vitória, e a majestade, porque teu é tudo quanto há no céu e na terra; teu é, ó Senhor, o reino, e tu te exaltaste como chefe sobre todos".

- O apelo de Davi solicitando ofertas para a construção do templo, foi respondido positivamente pelo povo, o que foi motivo dele bendizer ao Senhor com palavras dignificantes.

b) Bendizer continuamente e perpetuamente, Sl 145.1, "Eu te exaltarei, ó Deus, rei meu; e bendirei o teu nome pelos séculos dos séculos".

- A expressão "pelos séculos dos séculos", tem a conotação de uma prática contínua, ininterrupta, para sempre.

c) Bendizer com expressão corporal, Sl 63.4, "Assim eu te bendirei enquanto viver; em teu nome levantarei as minhas mãos".

- Não devemos levantar as mãos apenas por levantar, mas fazer isso de coração aberto, expressando nossos sentimentos através de palavras de elogio.

e) Bendizer reconhecendo os atributos divinos, Dn 2.20, "Disse Daniel: Seja bendito o nome de Deus para todo o sempre, porque são dele a sabedoria e a força".

- Daniel poderia ter sido morto juntamente com todos os sábios da Babilônia, caso o sonho do rei não fosse revelado, juntamente com sua interpretação. Nesta situação de risco de vida, diante da revelação de Deus, Daniel reconhece a que verdadeira sabedoria e o poder são provenientes do Todo-Poderoso.

4. Devemos dedicar tempo em nossa devoção pessoal para com Deus, expressar em palavras nossos sentimentos. Quando de coração assim agimos, Deus se agrada de nós, derramando benesses a nosso favor. Grandes batalhas espirituais serão ganhas através do louvor e adoração a Deus! Utilizemos este recurso amplamente!

 

VI. RENOVANDO A ALIANÇA COM O SENHOR

NE 9.32-37; 10.1-39

"Contudo, por causa de tudo isso firmamos um pacto e o escrevemos; e selam-no os nossos príncipes, os nossos levitas e os nossos sacerdotes", Ne 9.37.

1. Como podemos ver no capítulo 9, os levitas, relembram em detalhes a história do povo de Israel, mostrando como Deus em todo o tempo esteve presente abençoando, cuidando, amparando e os conduzindo até aquele momento. No entanto, mesmo sendo abençoados grandemente pelo Senhor, o povo passou por diversas rebeliões, e nos dias de Neemias, a aliança com Deus estava totalmente esquecida, descaracterizada. Havia necessidade de uma renovação, de um novo propósito, onde o povo se propusesse à obediência aos mandamentos e ordenanças divinas e Deus continuasse a abençoá-los.

2. É muito fácil para nós nos esquecermos de bênçãos passadas, procurando ignorar momentos em que a ação de Deus em nosso favor foi abundante! Ou, pelo menos, fazemos de conta que nada de extraordinário nos aconteceu e vivemos uma vida espiritual à deriva, açoitados de um lado para outro por ventos mundanos, egoístas, materialistas. Não podemos esquecer que ao entregarmos nossa vida a Jesus, firmamos com Ele uma aliança que teve como ingrediente principal o sangue do Cordeiro imaculado. No dizer de Pedro "...não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver... ...mas com precioso sangue, como de um cordeiro sem defeito e sem mancha, o sangue de Cristo", 1Pe 1.18-19. Este foi o custo do pacto de Deus conosco! Se a lembrança desta aliança está desgastada e vivemos aleatoriamente nossa vida cristã, se faz necessária a renovação. Como podemos agir?

a) Voltando nosso olhar para a cruz do Senhor, Gl 6.14, "Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo".

- Muitas vezes nossos olhares se voltam para a cruz, apenas no dia da Ceia, ou quando ouvimos uma mensagem acerca da crucificação de Cristo. Contudo, deveríamos nos lembrar do precioso sacrifício todos os dias. Talvez seja esta a razão de nossa visão míope da obra redentora do Salvador!

b) Reconhecendo o amor de Deus, 1 Jo 4.9, "Nisto se manifestou o amor de Deus para conosco: em que Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por meio dele vivamos".

- É certo que temos um conhecimento mental pelas Escrituras do amor que Deus demonstrou ao enviar seu Filho como nosso substituto. Contudo, ao analisarmos nossa vida como súditos do Reino, entendemos que falta em nós aquela disposição para reconhecer o amor eterno de Deus para conosco.

c) Renovando o nosso amor a Deus, Lc 10.27, "...Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo".

- Renovar nosso amor a Deus, significa assumir uma atitude que O agrade em tudo. Quando amamos, queremos agradar de todas as formas e maneiras a pessoa que é objeto de nosso amor. Porque não agimos assim com Deus? Pela maneira como fazemos nossa escala de valores, é que sabemos o real lugar que Deus ocupa em nossa vida. Não será o momento de corrigirmos nossas atitudes? Observe que o amor a Deus deve ser demonstrado com tudo o que somos e tudo o que temos!

d) Tendo uma nova disposição para obedecer, 1Pe 1.2, "...eleitos segundo a presciência de Deus Pai, na santificação do Espírito, para a obediência e aspersão do sangue de Jesus Cristo".

- A obediência é um sério problema para muitos cristãos! Dizemos obedecer a Deus, mas quando temos que mostrar isso na prática, percebemos o quanto somos devedores! Não podemos perder de vista que fomos "eleitos" para a obediência, e quando trilhamos os caminhos da desobediência, ficamos mais parecidos com os filhos do mundo, do que com os filhos de Deus. Devemos saber que éramos "filhos desobedientes", quando ainda não conhecíamos a graça de Deus, e estávamos debaixo da ira divina, "...pelas quais coisas vem a ira de Deus sobre os filhos da desobediência", Cl 3.6. Porém agora nossa qualificação foi mudada para "filhos obedientes", 1Pe 1.14. Vivamos como tal!

3. Se nossa aliança com Deus está desgastada, devemos ser conscientes de que a culta é nossa, nunca de Deus. Deus jamais falha em cumprir sua parte! Nós somos infiéis. Deus, porém, é fiel. Como nos diz a Palavra de Deus: "se somos infiéis, ele permanece fiel; porque não pode negar-se a si mesmo", 2Tm 2.13. A fidelidade de Deus para com seu povo, é motivo mais do que suficiente para refletirmos, voltarmos atrás, abraçarmos com firmeza a aliança do Calvário!

 

VII. INICIANDO UM PROCESSO DE CONSAGRAÇÃO

NE 12.27-43; 13.1-30

"27 Ora, na dedicação dos muros de Jerusalém buscaram os levitas de todos os lugares, para os trazerem a Jerusalém, a fim de celebrarem a dedicação com alegria e com ações de graças, e com canto, címbalos, alaúdes e harpas. 28 Ajuntaram-se os filhos dos cantores, tanto da campina dos arredores de Jerusalém, como das aldeias do netofatitas; 29 como também de Bete-Gilgal, e dos campos de Geba e Azmavete; pois os cantores tinham edificado para si aldeias ao redor de Jerusalém. 30 E os sacerdotes e os levitas se purificaram, e purificaram o povo, as portas e o muro", vs. 27-30.

1. A palavra "consagrar", vem dos termos "vdq - qadash" (hebraico) e "prosedreuw - prosedreuo" (grego), e ambas as palavras significam "santificar", "dedicar-se", "ser separado", "ser colocado à parte", "sagrado". Os muros estavam prontos, precisavam agora ser dedicados, consagrados a Deus. Uma grande cerimônia foi realizada, onde os levitas, os filhos dos cantores, instrumentistas, foram convocados para a grande festa de consagração. Antecedendo a cerimônia de consagração, uma grande purificação teve início, onde "...os sacerdotes e os levitas se purificaram, e purificaram o povo, as portas e o muro", v. 30. Ninguém poderá ser santificado se estiver manchado, sujo pelo pecado!

2. Certamente, não poderá haver qualquer consagração, sem que primeiro nossos pecados sejam tratados. De acordo com os rituais do Velho Testamento, as purificações normalmente eram realizadas através da água. Sabemos que a água simboliza a Palavra de Deus que nos purifica, nos limpa, tornando-nos aptos para entrar na presença de Deus. Quando Jesus lavou os pés de seus discípulos, numa lição de humildade, percebendo Pedro o valor daquela cerimônia, pediu ao Senhor que não somente lhe lavasse os pés, mas suas mãos e sua cabeça (Jo 13.1-9). Jesus, porém, lhe respondeu: "Aquele que se banhou não necessita de lavar senão os pés, pois no mais está todo limpo; e vós estais limpos...", v. 10. Mais adiante Ele completa: "Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado", Jo 15.3. Ao ingerirmos Palavra de Deus, somos limpos, purificados e qualificados a uma consagração a Deus!

3. Após o cerimonial de purificação, o povo de Neemias estava agora pronto para consagrar os muros e suas próprias vidas ao Senhor. Podemos ver esta consagração:

a) Na dedicação dos muros, Ne 12.27-43.

- Uma grande convocação foi realizada envolvendo os levitas de todos os lugares, cantores das campinas e arredores de Jerusalém, das aldeias, etc. Ordenou-se a purificação dos sacerdotes, levitas e o povo em geral, juntamente com as portas e os muros. Foram também convocados os príncipes de Judá. Dois grandes coros foram formados e saíram em procissão percorrendo a cidade até à Casa de Deus. Finalmente, ofereceram grandes sacrifícios em meio a muita festa, júbilo e alegria.

b) Ao estabelecerem sacerdotes e levitas, Ne 12.44-47; 13.10-14.

- O trabalho dos levitas e sacerdotes foi novamente organizado, com homens ocupando postos em todos os serviços no Templo. Foram restabelecidos os dízimos e as ofertas para sustento do Templo, da classe levítica e sacerdotal. Anteriormente os levitas e sacerdotes, haviam deixado o ministério do Tempo, em razão da falta de recursos, pela negligência do povo às contribuições.

c) Extirpando a estrangeirice – mundanismo, Ne 13.1-9, 23-29.

Uma da grandes dificuldades enfrentadas na restauração do povo foi a questão do casamento misto. Esta prática remontava aos dias de Balão, profeta mercenário, contratado por Balaque, rei de Moabe – nação inimiga de Israel, para corromper o povo de Deus (Números 22-25). Esta mistura, trouxe ao povo de Deus costumes errados, práticas pagãs, corrupção da linguagem, pecado, etc. Às duras penas, o povo teve que romper com o "elemento misto". Até mesmo locais construídos e frequentados por estes "elementos mistos", tiveram que ser purificados, e adequados novamente para o serviço de Deus.

d) Restabelecendo princípios, Ne 13.15-22.

- A lei acerca da guarda do Sábado não estava sendo observada. Através de uma conscientização, Neemias ordenou que as portas da cidade fossem fechadas no Sábado e somente abertas no dia seguinte, colocando guardas às portas da cidade, que não permitiam a entrada ou saída de mercadorias. Os levitas foram purificados, e o Sábado foi novamente santificado!

e) Reconhecendo a graça de Deus, Ne 13.30-31.

- Após as reformas e o ritual de consagração, Neemias concluiu seu livro de maneira maravilhosa com a seguinte frase: "Lembra-te de mim, Deus meu, para o meu bem", Ne 13.31. Esta frase aparece também nos vs. 14 e 22. Dizendo assim, Neemias não está manifestando sua preocupação com o fato de Deus se esquecer dele, como se isso fosse possível. Mas "lembrar" aqui nos sugere a ideia de concessão de bênçãos, da manifestação do favor de Deus. Temos em Isaías uma brilhante promessa de Deus em relação ao seu povo acerca desta verdade: "...pode uma mulher esquecer-se de seu filho de peito, de maneira que não se compadeça do filho do seu ventre? Mas ainda que esta se esquecesse, eu, todavia, não me esquecerei de ti", Is 49.15.

4. Uma verdadeira consagração jamais acontecerá se não estivermos dispostos a perder privilégios, deixar posições estáveis, renunciar coisas adquiridas, abandonar estrangeirices (mundanismo), etc.. Precisamos de uma grande limpeza, extirpando de nossa vidas o vil, o desnecessário, os embaraços, o pecado. Como nos alerta Hebreus 12.1: "Portanto, nós também, pois estamos rodeados de tão grande nuvem de testemunhas, deixemos todo embaraço, e o pecado que tão de perto nos rodeia, e corramos com perseverança a carreira que nos está proposta". Muitas vezes não estamos literalmente envolvidos com o pecado, mas mantemos uma certa proximidade, uma afinidade com ele, ignorando que a qualquer momento podemos ser envolvidos num caminho sem retorno, prejudicando a carreira que nos foi proposta pelo Senhor.

 

CONCLUSÃO:

1. Como vimos, no presente capítulo, a confissão de pecados, a adoração verdadeira, a renovação da aliança e a consagração de nossas vidas, são requisitos importantes para mantermos uma restauração. Todos estes requisitos precisam ser trabalhados e desenvolvidos por nós com seriedade, pois só assim seremos vitoriosos!

2. É verdade que nesta luta não estamos sozinhos. Podemos contar com a ajuda e o poder do Espírito Santo que nos aponta os caminhos a serem trilhados. Ele não somente nos convence do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8), mas também nos santifica. Sabemos que "...Deus vos escolheu desde o princípio para a santificação do espírito e a fé na verdade", 2Ts 2.13. Também é através do Espírito Santo que podemos adorar verdadeiramente a Deus. Já que a adoração é um ato espiritual (Jo 4.23-24), somente podemos agradar a Deus quando O adoramos, se nosso espírito estiver ligado ao Espírito Santo. Não podemos também negligenciar o fato de que estamos em aliança com Deus mediante o sangue de seu Filho. Sabendo que Deus é fiel e que honrará sua parte nesta aliança, devemos cuidar para não sermos infiéis descumprindo nossa parte, não levando uma vida de consagração no Seu altar.

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