RELACIONAMENTO DE DEUS CONOSCO
JUDAS 1.1
Pr. José Antônio Corrêa
"Judas, servo de Jesus Cristo, e
irmão de Tiago, aos chamados, amados em Deus Pai, e guardados em Jesus
Cristo"
INTRODUÇÃO:
1.
Todo livro do Novo Testamento foi dirigido a alguma pessoa ou a determinado
grupo de pessoas (igreja). Nenhuma autor escreveu apenas pelo gosto de
escrever! Ao escreverem, os autores, tinham em mente as necessidades daquele
grupo, ou pessoas, que muitas vezes precisavam de um encorajamento, uma exortação,
uma correção, uma palavra de ensino, etc. A partir da identificação do
problema, o material era produzido e encaminhado para os destinatários, que
tinham a incumbência de lê-lo, colocando em prática as verdades ali exaradas.
2.
Porém, não podemos nos esquecer de que este "material produzido", não
saia apenas da pena de seus escritores, mas eles contavam com a ajuda do alto,
a revelação e inspiração do Espírito de Deus, que lhes dava a devida
capacitação, 2 Pe 1.21, "Porque a profecia nunca foi produzida por
vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo
Espírito Santo". O Espírito de Deus falava e eles colocavam no papel, ou
melhor, no pergaminho as verdades a serem transmitidas!
3.
Foi assim com Judas ao produzir seu pequeno livro, que foi encaminhado a um
grupo de irmãos que vivia na iminência de um grande perigo – os falsos mestres.
Estes falsos líderes haviam se introduzido furtivamente na igreja de Deus e
estavam ameaçando a fé os eleitos. Judas escreveu seu livro no sentido de
ensiná-los a batalhar pela fé confiada aos santos. Seu objetivo é claro no
versículo 3: "Amados, enquanto eu empregava toda a diligência para
escrever-vos acerca da salvação que nos é comum, senti a necessidade de vos
escrever, exortando-vos a pelejar pela fé que de uma vez para sempre foi
entregue aos santos".
VEJAMOS QUAIS SÃO ELES
I. CHAMADOS
1.
Este termo vem do grego "klhtov - kletos" e significa
"convidados", "selecionados", "convocados".
2.
São aqueles que foram chamados para a salvação, mediante o sacrifício de Jesus
Cristo, o Filho de Deus. É evidente que a chamada divina para salvação envolve
todos os homens. Porém somente aqueles que atenderam o convite é que se
tornaram pela fé, os eleitos de Deus. Estes "chamados", no dizer de
Judas são aqueles que não apenas foram convidados, convocados pelo Senhor, mas
atenderam esta convocação e receberam a Palavra de Deus em seus corações.
3.
Paulo escrevendo aos crentes de Roma, nos informa que este chamado foi para
pertencermos a Cristo, que agora é o Senhor de nossas vidas, Rm 1.6,
"...entre os quais sois também vós chamados para serdes de Jesus
Cristo". Temos aqui uma relação de Senhor e servo. Hoje não pertencemos a
nós mesmos! Veja ainda o que o apóstolo nos fala em Rm 7.4: "Assim
também vós, meus irmãos, fostes mortos quanto à lei mediante o corpo de Cristo,
para pertencerdes a outro, àquele que ressurgiu dentre os mortos a fim de que
demos fruto para Deus".
4.
Um detalhe não menos significativo nos é transmitido por Paulo em Rm 1.7:
"... a todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados para serdes
santos: Graça a vós, e paz da parte de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus
Cristo".
a)
Observe que nossa chamada é para "sermos santos". Ou seja, ao
recebermos a salvação de Deus, em essência, adquirimos a posição de
"santos", sem qualquer processo de beatificação e sanção pelo Papa!
Temos como garantia a Palavra de Deus, não a garantia de qualquer mortal como
nós!
b)
Isto não quer dizer que não mais precisemos nos santificar! Somos santos em
nossa posição como filhos de Deus, mas enquanto estamos na terra, devemos
buscar a santificação, o crescimento cristão, tendo como objetivo atingir a
estatura de Cristo, Ef 4.13, "até que todos cheguemos à unidade da
fé e do pleno conhecimento do Filho de Deus, ao estado de homem feito, à medida
da estatura da plenitude de Cristo".
5.
Outro ponto ainda, é o fato de que fomos chamados para um determinado
propósito, Rm 8.28, "E sabemos que todas as coisas concorrem para o
bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu
propósito". Qual seria este "propósito" de Deus para nossas
vidas? Creio que o propósito principal de nossa vida como regenerados, é a
glorificação do nome de Jesus, vivendo uma vida de retidão, anunciando Sua
Palavra ao mundo pecador! Precisamos tornar o nome de Jesus conhecido por
outras pessoas, pregando com as nossas vidas e nossas palavras! Só assim
estaremos afinados com o propósito de Deus para nós!
6.
No dizer de Paulo, fomos também chamados para uma comunhão com o Senhor, 1
Co 1.8, "Fiel é Deus, pelo qual fostes chamados para a comunhão de seu
Filho Jesus Cristo nosso Senhor". Através de nossa chamada para salvação,
Deus quer se relacionar conosco pelo seu Espírito. Ele deseja estabelecer
conosco uma comunhão real, um relacionamento profundo, onde nossas vidas são
entrelaçadas ao Espírito Santo, que agora habita em nós, 1 Co 3.16,
"Não sabeis vós que sois santuário de Deus, e que o Espírito de Deus
habita em vós?"
7.
Sim, fomos chamados para um propósito específico. Cumpramos nosso chamado
divino!
II. AMADOS
2.
Somos amados de Deus, Rm 1.7, "...a todos os que estais em Roma,
amados de Deus...!" A grande verdade é que nós não merecemos o amor de
Deus em razão de nossa condição de pecadores. Porém, as Escrituras nos afirmam
que Deus nos amou independentemente de nossa condição de rebelião contra Ele, Rm
5.8, "Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter
Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores". Evidentemente hoje,
graças ao sangue de Cristo, somos pecadores redimidos! Contudo, Deus nos amou
imensamente quando ainda vivíamos debaixo da escravidão do pecado, antes desta
nova condição, desta transformação operada em nós pela Palavra e pelo Espírito
Santo em nós!
3.
Observamos que este amor divino foi demonstrado por Jesus durante seu
ministério terreno, Jo 13.1, "Antes da festa da páscoa, sabendo
Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, e havendo
amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim". É significativa a
expressão "amou-os até o fim". No momento em que Jesus antevia sua
morte sacrificial, seu amor pelos discípulos foi intensificado! Isto acontece
conosco quando vamos nos separar daqueles que amamos. Embora a partida de Jesus
fosse por tempo limitado, pois voltaria na pessoa do Espírito no dia de
Pentecoste, ele sofria com seus seguidores a dor da separação.
4.
O amor de Deus por nós deve criar um vínculo forte de relacionamento, Jo
15.9, "Como o Pai me amou, assim também eu vos amei; permanecei no meu
amor". Aqui Jesus demonstra o amor do Pai por Ele, o qual era também a
medida de seu amor pelos seus discípulos. Certamente é este vínculo de amor, o
motivo que nos impulsiona a permanecer no amor de Deus. Se temos a convicção do
amor de Jesus por nós, precisamos desenvolver as características deste
relacionamento de amor em nosso viver diário com os irmãos de fé. Só assim
estaremos arraigados, fundamentados, no amor de Deus!
5.
Precisamos estar sempre cientes de que foi o amor de Cristo pelos seus que o
levou a entregar-se ao sacrifício, Gl 2.20, "Já estou crucificado
com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora
vivo na carne, vivo-a na fé no filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a
si mesmo por mim". Observe o que Paulo fala: "...o qual me amou, e se
entregou ...por mim". Jamais alguém daria a vida por outro, a não ser por
amor verdadeiro! Veja Jo 10.15, "assim como o Pai me conhece e eu
conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas".
6.
Devemos também entender que o amor de Deus por nós é independentemente de nosso
amor por Ele, 1 Jo 4.10, "Nisto está o amor: não em que nós
tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho como
propiciação pelos nossos pecados". Não foi uma atitude de amor de nossa
parte que levou Deus a nos amar intensamente, mas Ele nos amou primeiro quando
deu seu Filho por nós! Agora agradecidos, devemos devotar nosso amor a Deus! 1
Jo 4.19, "Nós amamos, porque ele nos amou primeiro".
7.
Somos amados de Deus. Retribuamos a Ele com nosso amor!
III. GUARDADOS
1.
No original grego temos a palavra "threw - tereo" que tem o seguinte
significado: "ser cuidado", "ser assistido",
"preservado", "ser protegido".
2.
Como já vimos na introdução de nosso estudo, os destinatários da carta de Judas
estavam sob as ameaças de falsos líderes, que haviam se introduzido no meio do
rebanho, ensinando coisas estranhas que corrompiam as verdades de Deus. Por
esta razão, aqueles irmãos precisavam ser protegidos pelo Senhor das ações
destes obreiros malignos. Tais elementos, entraram para a igreja sem qualquer
evidência de conversão. No dizer de Judas, estavam transformando em
"dissolução a graça de Deus", v.
3.
Quando heresias são ensinadas na Igreja, se não forem devidamente combatidas,
irão perverter a fé dos incautos, dos menos experientes. Diante de um quadro
perigoso como este, em que as heresias ameaçam deformar nossas principais
doutrinas, os crentes mais experientes precisam alertar a igreja, e convocar os
irmãos a "...batalharem, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi
entregue aos santos", v. 3. Porém, se a igreja não for guardada por
Deus da influência destes obreiros fraudulentos, carnais, libertinos, corre o
risco de acomodar em seu meio práticas contrárias e destrutivas aos ensinos da
Palavra.
4.
Além de Deus nos guardar das influências dos ensinos corrompidos, Ele também
nos guarda de toda e qualquer ameaça contra nós. Existem muitas formas do diabo
se levantar contra os filhos de Deus e os atacar com fúria! Não percamos de
vista que sua função é tirar fora de ação aqueles que trabalham na obra de
Deus. Podem ter certeza: ele cumpre sua tarefa direitinho! Cumpre-nos contar
com a guarda do Todo-Poderoso, e sermos revestidos do poder do alto, para
anular suas ações maléficas. Olhemos mais alguns textos bíblicos:
a)
É através do poder de Deus que somos guardados, 1 Pe 1.5,
"que pelo poder de Deus sois guardados, mediante a fé, para a salvação que
está preparada para se revelar no último tempo".
b)
Pelo poder de Deus somos também guardados de todo e qualquer tropeço, Jd
24, "Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar, e
apresentar-vos ante a sua glória imaculados e jubilosos".
c)
É a fidelidade do Senhor que faz com que sejamos guardados do maligno, 2
Ts 3.3, "Mas fiel é o Senhor, o qual vos confirmará e guardará do
maligno".
d)
Esta guarda é para todos os momentos, mas ela atinge seu ponto culminante
nas horas de extrema tribulação, Ap 3.10, "Porquanto guardaste
a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que
há de vir sobre o mundo inteiro, para pôr à prova os que habitam sobre a
terra".
5.
Que possamos confiar na guarda de Deus sobre nós! Não importa em que situação
nos encontremos. "O anjo do SENHOR acampa-se ao redor dos que o temem e os
livra", Sl 34.7.
CONCLUSÃO:
1.
Conforme vimos, Deus se relaciona conosco de três maneiras. Para Deus nós
somos:
a.
Chamados;
b.
Amados;
c.
Guardados.
2.
Precisamos corresponder à maneira de como Deus nos trata como filhos amados. Se
Deus nos chamou, nos amou e nos mantém debaixo de sua guarda protetora, cumpre
a nós nos entregarmos de uma maneira incondicional para o seu trabalho na
terra. Devemos nos colocar sob a orientação do Espírito Santo, dar testemunho
de vida cristã, levando a Palavra de Deus àqueles que ainda não desfrutam do
mesmo relacionamento que nós desfrutamos.