A CEIA DO SENHOR
Por Pr.
Luciano Subirá*
Pr. José
Antônio Corrêa
UMA INSTITUIÇÃO DE CRISTO
“... o Senhor Jesus, na noite em
que foi traído, tomou o pão, e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o
meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante
modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a
nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória
de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice,
anunciais a morte do Senhor até que ele venha". (1 Co 11:23-6)
Observando a expressão
"fazei isto", percebemos que se trata de uma ordem de Jesus. É um
imperativo, e fica ainda mais evidente ser uma ordenança para a Igreja, quando
Jesus repete a expressão "todas as vezes que..." mostrando que este
ato deveria ser parte da nossa prática cristã.
UM MEMORIAL
Lugar algum das Escrituras
mencionam o pão e o vinho se tornando literalmente o corpo e o sangue do Senhor
na hora em que o partilhamos. Pelo contrário, Jesus deixa claro o caráter
simbólico do ato ao dizer: "fazei isto em memória de mim".
A ceia do Senhor é um momento de
recordação do que ele fez por nós ao morrer na cruz para a remissão dos nossos
pecados. Quando a celebramos, estamos anunciando a morte do Senhor Jesus até
que Ele volte! Os elementos são, portanto, figurativos, e não literais.
UM RITUAL DE ALIANÇA
Os orientais davam muito valor às
alianças, e as respeitavam. Quando Jesus institui exatamente o pão e o vinho
como os elementos da ceia, ele sabia exatamente o quê estava fazendo. Para os
judeus, o pão e vinho faziam parte de um ritual de aliança de sangue, o mais
alto nível de aliança a que alguém poderia se submeter.
Ao contrair uma aliança deste
nível, as duas partes estavam declarando que misturavam suas vidas e tudo o que
era de um passava a ser de outro e vice-versa; por isso Jesus declarou na ceia
que o cálice era a aliança NO SEU SANGUE, estabelecendo com isso, na ceia, um
ritual de aliança.
No Velho Testamento vemos Abraão
indo ao encontro de Melquisedeque, sacerdote do Deus altíssimo, e levando pão e
vinho. O que era isto? Um ritual de aliança.
Quando ceamos, estamos
reconhecendo que realmente estamos aliançados com Cristo, e que nossas vidas
estão misturadas, fundidas uma na outra (1 Co 6:17).
Jesus deixou bem claro aos que o
seguiam que não bastava apenas simpatizar-se com ele ou segui-lo pelos milagres
que operava, mas que era necessário aliança, e aliança no mais elevado e
sagrado nível que os judeus conheciam: a aliança de sangue.
Muitos não compreendem isto por
não conhecer os costumes da época, mas era a este tipo de aliança que Jesus se
referia ao proferir estas palavras:
"Em verdade, em verdade vos
digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue,
não tendes vida em vós mesmos. Quem comer a minha carne e beber o meu sangue
tem a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia. Pois a minha carne é
verdadeira comida, e meu sangue é verdadeira bebida. Quem comer a minha carne e
beber o meu sangue, permanece em mim e eu nele". (João 6:53-56).
É óbvio que Jesus não falava
sobre comer a carne literalmente, mas sim sobre aliança, sobre mistura de vida;
isto fica claro quando o Mestre conclui dizendo que tal pessoa permaneceria
nele e ele nesta pessoa. Este texto também não fala diretamente da ceia, mas
sim da nossa aliança com Cristo; embora deixe claro qual é figura da ceia: um
ritual de aliança onde testemunhamos comunhão entre nós e o Senhor Jesus
Cristo.
UM TEMPO DE COMUNHÃO
No tempo apostólico as ceias eram
também chamadas de "ágapes" (ou "festas de amor" – Jd 12),
o que reflete parte de seu propósito. As ênfases na expressão "corpo"
que encontramos no ensino bíblico da ceia, reflete esta visão de unidade e
comunhão. A mesa é um lugar de comunhão em praticamente quase todas as culturas
e épocas, e a mesa do Senhor não deixa de ter também esta característica.
UM ATO DE CONSEQÜÊNCIAS ESPIRITUAIS
Na epístola de Paulo aos
coríntios, fica claro que a Ceia do Senhor tem conseqüências espirituais; ela
será sempre um momento de benção ou de maldição para os que dela participam.
BENÇÃO:
"Porventura o cálice da
benção que abençoamos não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos
não é a comunhão do corpo de Cristo?" (1 Co 10:16).
Observe o termo "cálice da
benção". Isto não é figurado, é real. A Ceia do Senhor traz bênçãos
espirituais sobre aqueles que dela participam.
Um outro termo empregado neste
versículo, que nos revela algo importante, é "comunhão"; quando
ceamos, estamos pela fé acionando um poderoso princípio, temos comunhão com o
sangue e com o corpo de Cristo! O que isto significa?
Quando derramou seu sangue, Jesus
o fez para a remissão de nossos pecados, logo, ao comungarmos o sangue, estamos
provando que tipo de bênçãos? A purificação, e também a proteção, pois o diabo
não pode transpor o poder do sangue para nos tocar (Êx 12:23, Ap 12:12).
E o que significa ter comunhão
com o corpo? O corpo de Jesus foi moído porque ele tomou sobre si nossas
enfermidades, e as nossas dores carregou sobre si, e pelas suas feridas fomos
sarados (Is 53:4, 5).
A obra redentora de Cristo nos
proporciona cura física, e na Ceia do Senhor é um momento onde podemos provar a
benção da saúde a da cura. Muitos estavam fracos e doentes na igreja de Corinto
por não discernirem o corpo do Senhor na Ceia.
Ao falar sobre comungarem com o
corpo do Senhor, Paulo se referia não apenas ao corpo do Cristo crucificado por
meio do qual somos sarados, mas também ao corpo ressurreto, no qual habita toda
a plenitude da divindade e é fonte de vida aos que com ele comungam.
A Ceia do Senhor deve ser um
momento especial de comunhão, reflexão, devoção, fé, e adoração. Tudo deve ser
feito de coração e com reverência, pois é um ato de conseqüências espirituais.
MALDIÇÃO:
A Bíblia não usa especificamente
esta palavra, mas mostra que a maldição pode vir como um juízo de Deus para
quem desonra a Ceia do Senhor. Depois de ter dito que ao participar da mesa do
Senhor a pessoa está anunciando a morte de Jesus até que ele venha, Paulo,
inspirado pelo Espírito Santo, traz a seguinte advertência:
"Por isso, aquele que comer
o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente, será réu do corpo e do sangue
do Senhor. Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do
cálice, pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. Eis a razão porque há entre vós muitos fracos e doentes, e não
poucos que dormem. Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos
julgados. Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não
sermos condenados com o mundo". (1 Co 11:27-32).
Para muitas pessoas, a Ceia é
algo que as amedronta; preferem não participar dela quando não se sentem
dignas, para não serem julgadas. Mas veja que a Bíblia não nos manda deixar de
tomar, e sim fazer um auto-exame antes, pois se houver necessidade de acerto
devemos fazê-lo o mais depressa possível (1 Jo 1:9).
Deixar de participar da mesa do
Senhor é desonrá-la também! Devemos ansiar pelo momento em que dela
partilharemos, e não evitá-la. Mas há aqueles que querem fingir que estão bem,
e participam sem escrúpulo algum do que é sagrado; para estes, não tardará o
juízo.
Participar da mesa do Senhor tem
conseqüências espirituais; ou o cristão é abençoado ou é amaldiçoado. Não há
meio termo; a refeição não é apenas um simbolismo; não se participa da Ceia do
Senhor como se participa de uma cerimônia qualquer, pois é um momento
santificado por Deus e de implicações no reino espiritual.
QUEM PARTICIPA
A Ceia, como ritual de aliança
que é, destina-se, portanto, aos que já se encontram em aliança com Cristo; ou
seja, aos que já nasceram de novo e estão em plena comunhão com Deus. Há
igrejas que só servem a Ceia para quem pertence ao seu rol de membros;
consideramos isto um grande erro, pois a Ceia do Senhor é para quem o serve de
todo coração, independentemente de tal pessoa congregar em nossa igreja local
ou não; se a pessoa faz parte do Corpo de Cristo na terra, então deve
participar da mesa.
Há ainda, aqueles que afirmam só
poder participar da Ceia do Senhor quem já se batizou nas águas, mas não há
sustentação bíblica para isto; desde o momento em que a pessoa se comprometeu
com Cristo em sua decisão ela já está dentro da aliança firmada por Jesus na
cruz. Entendemos que o novo convertido deva ser encaminhado para o batismo tão
logo seja possível.
Os critérios básicos são: estar
aliançado com Cristo, e com vida espiritual em ordem. Contudo, não proibimos
ninguém de participar, apenas ensinamos o que a Bíblia diz, para que cada
pessoa julgue-se a si mesma. Nem Judas Iscariotes, em pecado e endemoninhado
foi proibido por Jesus de participar da Ceia (Lc 22:3,21).
A instrução bíblica é que a
pessoa se examine a si mesma, e não que seja examinada pelos outros. Portanto
não examinamos ninguém, nem as proibimos, só instruímos. Se a pessoa insistir
em participar de forma indigna colherá o juízo divino.
ONDE ACONTECE
Não há um lugar determinado para
se realizar a Ceia, onde quer que estejam reunidos os cristãos ela poderá ser
feita.
No livro de Atos, lemos que o pão
era partido de casa em casa (Atos 2:46), o que nos deixa totalmente à
vontade em relação a celebrá-la nas células; mas Paulo ao usar as seguintes
palavras: "...quando vos reunis na igreja..." e "Se alguém tem
fome coma em casa..." (1 Co 11:18 e 34); revela que na cidade de
Corinto a Ceia era praticada também num local maior de reunião para toda a
igreja.
Portanto, como nos reunimos no
templo e nas casas, à semelhança dos dias do Novo Testamento, também praticamos
a Ceia do Senhor nos dois locais de reunião, sendo que a maior incidência se dá
no templo quando reunimos todo o corpo local.
QUANDO ACONTECE
Entendemos que não há uma
periodicidade definida pela Bíblia quanto à celebração da Ceia; Jesus apenas
disse: "...fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de
mim" (1 Co 11:25b).
Esta expressão "todas as
vezes que" nos dá liberdade de fazermos quando quisermos, mas sempre em
memória do Senhor Jesus Cristo.
Celebramos a Ceia mensalmente no
templo, e não temos periodicidade definida nas casas.
COMO É CELEBRADA
No templo ela é celebrada pelo
presbitério, que normalmente se serve dos diáconos para que ajudem na
distribuição; já nas células, ela é celebrada pelos líderes e auxiliares.
Encorajamos os líderes de célula
a utilizarem um só pão que deve ser partido na hora da Ceia, e um cálice a ser
dividido entre o grupo, como sinal de comunhão. Já no templo, devido à
quantidade de pessoas e ao tempo de reunião, não procedemos assim; o normal é
já servimos o pão cortado em pequenos pedaços e o suco de uva em pequenos
cálices individuais.
Na igreja primitiva, quando
celebrada nas casas, a Ceia do Senhor era também chamada de ágape ou festa de
amor. Os irmãos se reuniam para ter comunhão ao redor da mesa, onde tomavam
suas refeições juntos; e juntamente com as refeições celebravam a Santa Ceia.
Nas células é possível cearmos de maneira informal e festiva, e é o que
procuramos fazer.
*Luciano Subirá é o pastor sênior
da Comunidade Evangélica Alcance, em Irati/PR. É também o responsável pela Maná
Edições, entidade sem fins lucrativos que visa promover o ministério de ensino
ao Corpo de Cristo. Casado com Kelly, tem dois filhos: Israel e Lissa.